A Ceia dos Acusados (The Thin Man, 1934): Do mesmo autor de "Falcão Maltês", filme mostra as aventuras do casal de detetives William Powell e Myrna Loy e seu passatempo de investigação

Filme da MGM, é um clássico dirigido por  W. S. Van Dyke. Baseado no livro de 1934 de Dashiell Hammett, "The Thin Man". O filme estrela William Powell e Myrna Loy, como o casal Nick e Nora Charles. Nick é um detetive aposentado que deixou sua carreira para casar com Nora. Eles desfrutam de festas de vários ciclos da sociedade, devido suas investigações mirabolantes juntos. O filme foi indicado para Melhor Filme no Oscar

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O filme fez muito sucesso e foi exibido como uma peça de teatro no rádio em uma longa transmissão na Lux Radio, em 1936, onde todos reprisaram seus papéis ao estilo rádio novela, enquanto Van Dyke (o diretor) era o narrador. O filme e as sequências foram conhecidos como a série "acusados" no Brasil.

Tem muitas curiosidades sobre a publicação do grande Daniel Hammett, a primeira vez que The Thin Man foi publicado foi em uma revista feminina chamada Redbook (uma importante revista de padrões e comportamentos femininos que ás vezes publicava novelas, que depois viraram o formato de radionovelas. 

O formato sério e noir, impactante e de vanguarda de O Falcão Maltês (uma novela cínica e fria sobre a profissão de detetive), se transformava em The Thin Man em apenas uma brincadeira de formato  muito engenhosa e moderna, era Hammett se revisitando sua antiga concepção de que as salas engomadas de jantar eram um lugar burocrático e de faz de contas onde se combinava os álibis e se falava mal dos outros quando parece que os assuntos de sala de jantar (femininos) importavam mais do que pareciam antes para ele, é uma forma do autor se revisitar. 

O próprio detetive era um homem grego que mudou seu nome de Charalambides para Nick Charles, marido de Nora e detetive aposentado. Vemos a estória do livro do ponto de vista dele, narrado por ele. Nora demonstrava no início do livro um interesse particular no passado de Nick, ainda mais quando um de seus clientes antigos parece ter desaparecido, enquanto a secretária Julia Wolf é encontrada morta com 4 tiros, os dois tem que começar a pensar quem que teria sido, segundo alguns, era culpa dos comunistas. Só de comentar essas palavras como algo comum, já gerava um imenso tabu no dia-a-dia americano, piorando isso depois do macarthismo que fez Hammett tanto sofrer depois. 

William Powell, por exemplo, já era conhecido por interpretar detetives em filmes como The Canary Murder Case (1929), onde interpretava Philo Vance, e no The Greene Murder Case (1929), 'The Benson Murder Case' (1930), 'Paramount on Parade' (1930), e 'The Kennel Murder Case' (1933). Inicialmente, o filme foi um sucesso, mas entrava na lista de filmes de menor expectadores, apesar de todas as sequências. Para ter uma ideia o filme demorou apenas 2 semanas para ser filmado, super rápido. 

Louis B. Mayer era contra Myrna Loy ser a Nora, eles dois foram escolhidos pelo filme de W.S. Van Dyke que queria usar estrelas do filme Manhattan Melodrama. O parceiro de investigações do casal é o cachorrinho Skippy, o Asta (o mesmo cachorrinho de Bring Up Baby). Dá para ver também que o cachorrinho famoso Asta não era um Schnauzer como no livro, mas o cachorro continua em duas sequências do filme. O filme custou $231,000 mil dólares, atingindo um lucro de $1.4 milhões, muito mais do que o filme custou. Myrna Loy aparentemente, foi mordida por Asta durante as filmagens.

Enquanto servia os convidados na festa de natal, o filme faz uma auto referência a carreira de Powell no filme "My Man Godfrey" quando ele canta a mesma música "For tomorrow may bring sorrow, so tonight let us be gay"

Outra curiosidade é que o relacionamento de Nick e Nora é baseado no relacionamento na vida real com a também escritora Lillian Hellman, com quem Dashiel (o autor) viveu junto entre idas e vindas. 

Lillian Hellman ao lado de Dashiell Hammett

No livro original, Jorgensen era Rosewater, por algum motivo isso foi mudado depois no filme por causa do selo do código Hay, apesar de ainda ter clima de pré code com algumas detalhes bem modernos, o filme já sofria dessa regulamentação. 

O filme era uma sensação nacional, começando a moda do gênero de detetives moderna, dessa vez contando com a presença das mulheres na narrativa em papel de destaque, Nora participa e também observa atentamente as investigações. Tem vários detalhes engraçados na narrativa, como o fato de vários personagens se comportarem de maneira rude e ignorante, falando errado, como também sendo anti comunistas.  

Um detalhe é que o " The Thin Man", o homem sombra não é o Nick Charles, mas o homem que Charles tinha inicialmente sido contratado para achar, o Clyde Wynant (descrito por Nick como um "thin man with white hair"). A direção do filme é de W. S. Van Dyke é em cortes rápidos e dinâmicos. 

O detetive é atraído para investigar o assassinado da filha do principal suspeito, a novela original, mostrava pouca descrição dos ambientes e um foco maior nos diálogos, deixando para a imaginação, o que imensamente adaptado de maneira intensamente performática por Dyke, o diretor do filme. O filme tem esse humor maior que no livro, onde o tom sério de Hammet acaba sempre prevalecendo. 

Esse humor negro, rápido e dinâmico precisa de malandragem, pois faz piadas em questão de segundos, ao estilo "O gordo e o magro" e dos irmãos Groucho Marx, mas dentro da temática de gênero de detetives que ainda não era consolidado na época. 

O tom do livro esconde coisas como abuso sexual e racismo e estética de sala de estar e mistério (algo que Hammet fez mais para abordar o lado feminino da vida), enquanto seu outro filme O Falcão Maltês (adaptação anterior de Hammet), sendo mais mais política e séria em temática e estilo. O Falcão Maltês tem uma temática definida, profissional e não muito doméstica, quer revelar a cultura da contravenção, extorsão do universo dos detetives e sua relação ambígua com a polícia e os clientes. 

Nesse filme, é como se o detetive já tivesse desistido e tivesse se casado, embora com isso,  não tivesse parado de investigar casos misteriosos. Outra curiosidade do backstage do filme é que teve vários filmes do casal já que o The Thin Man foi um sucesso, as pessoas achavam na época que os atores William Powell e Wyrna Loy eram casados na vida real, porque eram vários filmes em sequência onde eles reprisarem seus papeis. Eles chegaram a fazer par romântico, por exemplo, em cerca de 14 filmes! 

História por trás do filme

O roteiro do filme foi escrito por Albert Hackett e Frances Goodrich, um casal. Em 1934, o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme. O homônimo "the thin man" não é Nick Charles, mas o homem que Charles foi inicialmente contratado para encontrar - Clyde Wynant (no meio do filme, Charles descreve Wynant como um "homem sombra com cabelos brancos"). 

O apelido de "Thin Man" foi considerado por muitos telespectadores como uma referência a Nick Charles e, depois de um tempo, foi usado nos títulos das sequências como se se referisse a Charles. Foi seguido por cinco sequências de filmes com o casal. Como After the Thin Man (1936), Another Thin Man (1939), Shadow of the Thin Man(1941), The Thin Man Goes Home (1945), Song of the Thin Man (1947). 

Dorothy Wynant discute seu próximo casamento com seu pai Clyde. Ela fica surpresa que seu noivo saiba tudo sobre sua família, mas ainda queira se casar com ela. Mais tarde, seu pai descobre que sumiram títulos no valor de US$ 50 mil, destinados a servir de presente de casamento para sua filha. A única pessoa que sabe a combinação do cofre em que foram guardados é sua secretária, Julia. Quando ele confronta Julia sobre os títulos perdidos, ela confessa que os trocou e tem apenas US$ 25.000 sobrando. Ele ameaça chamar a polícia, a menos que ela consiga os outros US$ 25 mil.

Nick Charles é um detetive aposentado e já trabalhou para Clyde. Nick e sua esposa rica, Nora, moram em São Francisco, mas estão visitando Nova York no Natal, hospedados em uma suíte glamorosa que parece um apartamento no Hotel Normandie. 

Enquanto estava em Nova York, Nick é pressionado a voltar ao serviço por Dorothy, já que seu pai, o "Homem Magro" do título do filme, deveria ter partido em uma viagem secreta de negócios com a promessa de voltar para casa antes do casamento de sua filha, mas ele desapareceu misteriosamente. Ela convence Nick a aceitar o caso, com a ajuda de sua esposa socialite, que está ansiosa para vê-lo em ação. 

O que parece ser uma situação de pessoa desaparecida rapidamente se transforma em um caso de assassinato, quando Julia Wolf, ex-secretária e namorada de Clyde, é encontrada morta e as evidências apontam para Clyde como o principal suspeito. Dorothy se recusa a acreditar que seu pai seja culpado. Nick e o Police Lieutenant Guild visitam Nunheim, uma fonte frequente do tenente. 

A mãe de Dorothy Wynant, Mimi é uma mulher doida varrida e parece um retrato de mulheres vem malucas mesmo, ela era ex esposa de um antigo cliente de Nick.

Depois de ser pressionado por informações, Nunheim pede licença momentaneamente, apenas para escapar pela escada de incêndio. Ele marca um encontro com o assassino ainda não identificado (alguém cujo rosto ainda não foi mostrado) para cobrar dele US$ 5.000. Quando Nunheim chega, porém, ele leva quatro tiros imediatamente e é morto.

Seguindo um palpite, Nick logo visita a loja fechada de Wynant na calada da noite e desenterra um corpo esqueletizado, mas totalmente vestido, enterrado sob o chão. Na loja escura, o contador de Wynant, Tanner, aparece de repente. Depois disso, a polícia - para quem Nick ligou assim que encontrou o corpo  chega e conclui que Wynant cometeu os assassinatos de Julia e agora deste corpo recém-descoberto. 

Eles presumem que os restos mortais pertencem ao "Fat Man", igual no livro O Falcão Maltês - um inimigo de longa data de Wynant - por causa de suas roupas grandes com uma fivela de cinto com um "R" (de "Rosebreen", o sobrenome daquela figura notória). Mas Nick já resolveu o caso e logo convida todo o elenco de suspeitos para um elegante jantar.

Lá, conforme planejado, o assassino é exposto. Nick - que acompanhou o médico legista quando ele radiografou o corpo enterrado - teoriza que as roupas foram plantadas para esconder a verdadeira identidade do corpo, já que o raio X revelou estilhaços reveladores, provavelmente de um antigo ferimento de guerra, em uma perna, exatamente o mesmo ferimento que atormentou o "Homem Sombra": o desaparecido Wynant.

Nick deduz que o verdadeiro culpado assassinou Clyde assim que descobriu que o assassino estava desviando dele, e então o culpado assassinou sua própria cúmplice, Julia Wolf, porque ela sabia do assassinato de Clyde, e depois disso, ele assassinou Nunheim desde que ele tinha testemunhado O assassinato de Julia e o estava chantageando.

Nick revela mais de sua teoria aos convidados do jantar, ao estilo de uma Agatha Christie. Herbert MacCauley, advogado de Clyde, entra em pânico e tenta atirar em Nick. Nick dá um soco nele e declara que MacCauley é o assassino. Finalmente, Nick e Nora, junto com Dorothy e seu novo marido, Tommy, comemoram enquanto viajam em um trem luxuoso de volta à Califórnia. 

Nora, no beliche de baixo, quer dormir com Asta, mas Nick joga Asta no beliche de cima e se junta a Nora. Asta olha para o casal e cobre os olhos com a pata. Os casais querem ficar sozinhos no final do filme depois de todas as confusões silenciadas, mas não fica por aí. Esse filme virou uma verdadeira febre e criou tendência para outros longas que acompanham a história do mesmo casal de detetives. 

Um filme divertido, incrível, tem um humor "malandro" e rápido, que adiciona ainda mais dinâmica ao texto já brutal de Hammett. O carisma de Myrna e os maneirismos ligeiros de Powell entregam uma dinâmica de ouro clássica demais, uma verdadeira série de filmes icônica e que conta com uma série de participações especiais, em um dos filmes, Nora chega a ter um bebê, tem diversas novas estórias  e aventuras nesses filmes.