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The Walking Dead: Daryl Dixon - "L'âme Perdue" (1X01): Análise e curiosidades do novo spin off que expande o universo da série da AMC


A chegada de Daryl Dixon à França desencadeia uma violenta cadeia de eventos que coloca em perigo um jovem no centro de um crescente movimento religioso. Daryl concorda em ajudar a proteger e guiar o menino para um local seguro em troca de ajuda para retornar à América


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Análise

Quem nunca foi dar um volta de moto e foi parar na França? Eu estou escrevendo uma análise completa do seriado principal de The Walking Dead, que eu fechei recentemente apesar de ter acompanha a série na estreia e nas 4 temporadas iniciais e depois ter me afastado. Como saiu o spin off do Daryl e apenas um episódio por enquanto, achei melhor primeiro analisar essa nova entrada no universo de TWD, para depois entregar a "big picture" na análise principal. 

De maneira bem resumida e sem spoiler, Walking Dead principal acabou encerrando com um gosto ruim na boca. Isso porque se esperava mais resolução em torno dos personagens e seus destinos. O problema, é que estabelecer um destino objetivo para um personagem em uma série de zumbis, significa matá-lo. Assim, o que vimos no finalzinho da série principal foi a reaparição de Rick e Michonne completamente descontextualizado dos acontecimentos do final, em algo que era uma promessa tipo: "O universo não acabou, terão spin off dos personagens principais para explicar as pontas soltas". O problema é criar mais pontas soltas ....

Assim, fica claro que o aconteceu foi que encerraram a série principal pois ela era um agrupamento de pessoas que começou a discordar dos rumos da série. Isso se refletiu no universo do elenco e da atuação da série, pois obviamente decisões de roteiro, destino e tramas foi totalmente decidido a certa altura pelos interesses de fora do universo da trama. Então certa altura era assim: tinha o Daryl, o Rick, a Michonne a Carol, o Negan e etc. Cada um tem sua base de fãs e quando ela é maior mais o personagem se torna impossível de ser tirado da série. Isso se reflete dentro da produção, com roteiristas, diretores e etc, focando em desenvolver os plots dos personagens que garantem a sua permanência da série através de algum tipo específico de plot. 


No início, Rick tinha muito fã então era imorrível. Depois, seus fãs foram caindo por entender que ele era um personagem ambíguo demais, e assim seu destino (apesar de não morrer como nos quadrinhos) foi ser tirado da série. 


Isso tirou um pouco a graça, uma vez que tudo parecia muito individualista dentro da série, onde cada um cuida do seu e manda o outro núcleo se ferrar, ficando vários problemas de continuidade. Então eles pensaram: "Já que tá todo mundo desunido mesmo, que tal cada um tocar sua série e a gente chamar tudo de universo Walking Dead?"


Isso também foi estimulado pelo seriado Fear The Walking Dead (que começou em 2015, ou seja, na 5° temporada do seriado principal) fazendo uma revisão, que em vários termos superou a série principal. Eles tiveram a coragem de mostrar o antes da pandemia de zumbis, e assim lentamente a sociedade se degradando. Mas na terceira o seriado já perdeu o gâs, afinal se chegou na fase onde tudo estava perdido como na série principal. A saída do ator Cliffs Curtis também deu uma esfriada na série, pois seu personagem Travis era o melhor desse spin off.

Tem também a Dead City, que em vários termos... é bizarra. Primeiro, pois em um spin off Negan e Maggie. Para quem não tá ligado (spoiler), Maggie tinha um relacionamento com Glenn, que foi executado a pauladas na frente de Maggie por Negan. Esse momento da série inclusive foi criticado como uma forma de exploração pornográfica da violência. E simplesmente nesse seriado eles vão conviver e ainda ter "ship moments"? Que loucura, galera...

O que nos leva ao seriado do Daryl. Eu brinquei com o lance da moto no início desse texto, pois foi essa a ultima vez que vimos Daryl na série principal, saindo de moto. E aí agora ele já tá no mar e em outro continente. 

Esse início de spin off diz muito sobre o universo Walking Dead. Primeiro, a tentativa de apagar que Daryl era, originalmente, um motoqueiro "white trash", cujo irmão inclusive era um fascistinha. Mas como os motoqueiros obviamente não vão concordar com as escolhas dessa série (e nem os fascistinhas), lentamente Daryl foi sendo suavizado, sendo colocado mais como um arqueiro do que um motoqueiro. 


A coisa do arqueiro inclusive é interessante, pois de uma habilidade simples com a arma, que ele nem usava antes do apocalypse zumbi, ele se tornou quase o arqueiro verde de tão fod* no manuseio da "ferramenta". Suas habilidades foram de cara comum para super herói. 

Então no spin off eles criaram essa "distância" de um continente do plot principal, para descartar elementos inconvenientes da série principal, por outro lado leva ele para um "novo lugar" justamente para ele se destacar como herói. 

Vemos um Daryl mais humildão, em um esforço realmente admirável do ator em continuar dando frescor a um personagem que ele já interpreta a mais de 10 anos. Os novos personagens e a sua temática de mitologia religiosa também são interessantes, pois trouxe uma carga histórica a temática da série que pode ir muito bem com os cenários de Europa. Vi takes muito bonitos de locais turísticos e históricos da França, que só pela sensação de "movimento" já valem a série.

Mas nem tudo são flores. A série aqui já demonstra problemas, principalmente em questão de criatividade e estrutura de plot. Digamos que parece que eles vão entregar tudo que queremos visualmente, pois justamente a qualidade do roteiro da série principal vai estar ausente. E se é um spin off, por quê não requentar plots já usados na série principal?

Então por exemplo, voltamos mais uma vez a plot de formação de sociedade x invasores. Existe a comunidade do convento e existe os bandidos locais, que estão focados mais na violência. A questão religiosa tanto protestante quanto católica e outras, já haviam sido exaustivamente exploradas na série principal, enquanto outras religiões quem tem mais haver com a temática dos "walkers", como a santeria, o vudu, a macumba, o hinduísmo e budismo, nunca foram abordados. Ou seja, como algo ocidental, vai preferir voltar 20x no cristianismo antes de falar de algo realmente novo (pois dá trabalho e pode ser criticado).

Outro detalhe, é que os fãs de The Last of Us tão acusando que o seriado vai ser plágio deles. Aí o produtor de Daryl Dixon disse que "nada haver". Ele estava certo: é pior que isso! A série vai ser crítica a Last of Us, pois enseja que o seriado da HBO/Warner escondeu o debate religioso para vender uma ideia cristã através de um foco total no cientificismo. Assim, em Last of Us tudo é científico, nada é "crença". Só que isso é se perder em uma crítica para garantir seu lugar de seriado de zumbi mais do que entregar algo novo. Há uma certa referência ao filme O Pequeno Buda (1993) nesse plot também.

Então, para concluir, diria que Daryl Dixon mudou tudo para manter tudo igual, igual ao que era em Walking Dead. Se eles mudaram o protagonismo, a estrutura, visual da série; parece ser para continuar entregando o óbvio em termos de trama de sobrevivência: o perigo externo, o nós contra eles e dificuldade em estabelecer prioridades e objetivos claros, uma vez que apenas se busca sobreviver em um contexto hostil. 


A série está sendo muito bem executada. Tem boa direção, tem o tom correto e agrada muito no visual dela. Mas depois da metade do episódio, já estava um pouco entediado. No final convenceu e dá para continuar assistindo. Mas ficou aquele gostinho de mais do mesmo que o seriado tem que trabalhar muito bem para remover, buscando focar na trama, no lado humano e na ótima atuação de seu protagonista para criar e inovar. Essa é a diferença entre fazer um spin off de uma temporada e criar uma nova série.

Só que apesar de achar que foi "quase lá", torço que a série cresça pois em termos de universo, começa muito melhor que a série principal e os dramas (de corno) de Rick, ou de como começou os outros spin offs da série, que capengaram muito em relação a esse.

Só uma coisa não fez sentido mesmo: se os novos zumbis, os "queimadores", queima a pele humana ao contato e zumbis passa o contagio através do contato sanguíneo direto, ao queimar o braço de alguém essa pessoa já não estaria contaminada com os restos genéticos do zumbi em sua ferida? Fica a reflexão para a mitologia da serie, pois criar uma nova categoria de zumbi foi ousado, mas pode ser um tiro pela culatra também. Aguardemos os próximos capítulos.




Curiosidades 


O título do episódio, "L'ame Perdue", é francês e significa "a alma perdida". Refere-se a Daryl se perdendo sozinho em um país estrangeiro.
Laurent especula que a população de França de 67 milhões em 2010 diminuiu para menos de 200.000 em 2023, ou 0,0029% da sua população original. Isso poderia ser uma referência à estatística de Robert Kirkman no Universo Comic de The Walking Dead de que havia 1 pessoa viva para cada 5.000 zumbis, tornando a população atual 0,0002% da população global em 2003, quando o mundo acabou no Universo Comic.

Havia 6,9 bilhões de pessoas em 2010, antes do fim do mundo no universo televisivo de The Walking Dead . Pelos cálculos de Laurent, a população global, em 2023, poderia ser de cerca de 2 milhões de pessoas.

Laurent prevê que serão necessárias 6 a 7 gerações para que a população original de França regresse. Se os cálculos de Laurent estiverem corretos, a população deverá retornar por volta de 2150.


História da série


A série foi anunciada em setembro de 2020 por Angela Kang e Scott M. Gimple. Reedus e Melissa McBride assinaram contrato para reprisar seus respectivos papéis na série de televisão. Em abril de 2022, McBride saiu da série por motivos logísticos, já que o show estava programado para ser filmado em meados de 2022 na Europa e não foi possível para McBride estar no show com esta configuração. A série foi retrabalhada como um projeto único de Daryl.

Dias depois, Kang havia deixado o papel de showrunner e foi substituído por David Zabel. O acordo teria sido fechado nas últimas semanas, antes da saída de McBride do programa. Em outubro, a série recebeu o título de Daryl Dixon. Em janeiro de 2023, foi anunciado que a série seria intitulada The Walking Dead: Daryl Dixon e estrearia no final de 2023. Em julho de 2023, antes do lançamento da primeira temporada, a série foi renovada para uma segunda temporada. Em setembro de 2020, Kang foi contratada como showrunner após ter dirigido as três temporadas finais de The Walking Dead. 

Em abril de 2022, Kang deixou o cargo devido a outros compromissos e Zabel assumiu o papel. Os roteiros já estavam sendo escritos nessa época, mas precisavam ser retrabalhados após a saída de McBride. 

Em setembro, em entrevista à Entertainment Weekly, Reedus explicou que a série estaria indo na direção oposta da série principal sendo uma história completamente diferente do que já vimos com Daryl. No mês seguinte, Reedus disse que haveria rostos familiares da série principal no spin-off. 
 
Em novembro de 2022, Clémence Poésy e Adam Nagaitis foram adicionados ao elenco principal. Em fevereiro de 2023, Anne Charrier, Eriq Ebanouey, Laïka Blanc-Francard, Romain Levi e Louis Puech Scigliuzzi foram anunciados como membros adicionais do elenco. O ator Jeffrey Dean Morgan indicou em um tweet em junho de 2023 que Melissa McBride retornará para interpretar Carol de alguma forma.

 
A filmagem principal foi feita em 2022, em Paris, França, e por isso a série não está sendo impactada pela greve. 


Comentários

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