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O Pequeno Buda (1993): Ensinamento, filosofia e descobrimento em filme que estrela Keanu Reaves como o Buda


Filme do diretor italiano Bernardo Bertolucci, "O Pequeno Buda" (1993), estrelando Keanu Reeves como Buda. Acompanhando a vida de uma família ocidental, do arquiteto Dean Conrad (Chris Isaak), e da professora de matemática Lisa Conrad (Bridget Fonda), eles tem um filho que os monges acreditam ser a reencarnação de seu mestre Lama Dorje. 






Monges tibetanos de um monastério no Butão são liderados por Norbu, estão a procura de uma criança que eles acreditam ser a reencarnação do grande budista Lama Dorje, conhecido como "anjo guardião", é dele que os monges acreditam que o menino americano chamado Jesse Conrad, filho de um arquiteto e de uma professora de matemática que vivem em Seattle. Os monges vem até lá para conhecer a criança, ao estilo dos "reis magos".




A criança americana fica fascinada com os monges e seu modo de vida, mas seus pais, Dean e Lisa desconfiam um pouco de toda essa ideia. Os monges querem levar Jesse para fazer testes no monastério junto com outras crianças de sua idade. Lá, ele conhece outras duas crianças que também acreditam ser a reencarnação do mestre, os nomes delas, Raju e Gita. 




De pouco em pouco, vemos ao decorrer do filme, que a mãe de Jesse e o Lama Norbu contam a história do Príncipe Siddhartha, lendo um livro que Lama Norbu tinha dado para Jesse sobre a vida de Siddhartha Gautama, que depois vira o mestre Buda. 


Ao sair para o mundo de fora dos palácios de Nepal, ele encontra aventuras, conhece profetas ascéticos (andarilhos), batalha com diversas forças do mal, como Mara (um demônio que representa o ego), e aprende as profundas verdades da natureza da vida, da consciência e da realidade. 


Por fim, Siddhartha percebi que o demônio era a representação de seu próprio ego. Ao decorrer ao demônio (si próprio), ele se torna o grande Buda. 






História por trás do filme e produção




Esse filme tem detalhes interessantes. Por exemplo, usaram como atores três monges tibetanos, como Rato Rinpoche que interpreta Abbot no monastério no Butão. O interessante é que os convidados ajudaram na composição da direção de arte do filme, descrevendo como ficaria os rituais passo a passo. Sogyal Rinpoche aparece interpretando o papel de Khenpo Tenzin, uma participação especial lembrada em um documentário chamado "Words of my Perfect Teacher" (Palavras do meu professor perfeito), onde tem até uma entrevista com o diretor do filme falando como foi trabalhar com o monge. 


A fotografia do filme brilha com a direção de fotografia do famoso Vittorio Storaro, nas cenas onde imaginamos o passado de Buda, essa técnica de luz que estimula a meditação mental através dos tons amarelos e laranja é muito utilizada para marcar a diferença de passado e presente. 


As cenas sobre Buda foram filmadas em 65 mm Todd-AO, enquanto o resto do filme foi filmado em 35 mm em formato de câmera anamórfica, que aperta as imagens na horizontal, permitindo capturar um campo de visão mais amplo na imagem. 


Esses detalhes de fotografia são importantes, pois são a própria essência da mensagem dupla que o filme passa, em uma parte vemos uma reflexão fruto da imaginação e da leitura de histórias clássicas, por outro lado, vemos um filme filmado como um "filme de televisão", com tons e reflexões leves que estimulam a nossa imaginação a entender o que Buda pode ensinar para vidas modernas e praticamente seculares e sem espiritualidade, como é a realidade da maioria das famílias na modernidade. O filme estimula essa reflexão sobre o que o mais antigo pode ensinar ao mais moderno. 


Jeremy Thomas (colaborador de Bertolucci), lembrou sobre fazer o filme: "era interessante fazer uma história sobre Siddhartha, e que era uma tentativa de mostrar a uma sociedade moderna o que o budismo tibetano podia significar para a sociedade ocidental após a expulsão do Tibet". Foi  um filme audaz por tal temática, pelo seu formato e conteúdo também, sendo filmado em Katmandu e Butão, e na cidade do Nepal de Bhaktapur.


Thomas formou uma amizade intensa com os monges tibetanos e passou a fazer filmes com os monges, como "The Cup (1999) e Travelers and Magicians (2003). A trilha sonora do filme foi composta toda pelo compositor japonês Ryuichi Sakamoto.


O famoso crítico Roger Ebert não gostou do filme, dizendo que em "O Último Imperador" a reflexão sobre a criança e o lugar histórico que ela ocupava (no caso, o último imperador da China), foi muito melhor explorada nesse filme. Mas vou discordar de Ebert aqui e dizer que esse filme se encaixa em um tipo de filme de gênero específico, como Lawrence da Arábia e filmes com essa pegada. 


Ou seja, até o caráter lento e aleatório do filme encaixa na forma ideológica da percepção de certo equilíbrio vindo da filosofia budista, por isso que o filme exige da pessoa certa elevação mental, certo desprendimento total, certo carácter de "não querer mudar tudo", mas sim de observar e atuar como uma forma de revolução interna, por isso até mesmo certo tédio e aleatoriedade é para mostrar esse carácter de "tempestade calma" que o filme te passa. 

A crítica do The New York Times apontou a influência da novela do escritor alemão Herman Hesse "Siddhartha". Outra crítica mencionou o fato do filme ser "inocente", construindo um olhar milagroso uma perspectiva de auto esclarecimento, tornando o filme de Bertolucci quase um "filme de Spielberg" que ele fez.



Crítica do filme

Navegamos nas águas da história, por quase 2500 anos de história da Índia, vemos a cidade de Kapilavasty, onde nasceu Sidartha, filho de Suddhodana, um rajá de Sakya, uma estirpe de casta guerreira. 


Durante a produção do filme, pelo fim, é feita uma tradição budista de quebra de mandala. Os ensinamentos do príncipe e projeta era de achar um caminho entre a tradição dos profetas ascéticos e a indulgência sensual, esse "caminho do meio" seria conquistado com equilíbrio e muita meditação. 


Na cidade de Kapilavastu, nasceu Sidartha, filho de Suddhodana, rajá de Sakya (um conselho ministerial oligárquico) no Nepal,  de casta guerreira nobre, cercado de riquezas, o pai de Sidartha escondia o sofrimento do povo aos seus olhos, mostrando apenas um mundo de beleza e paz aos seus olhos. Até que um dia, ele descobre as mazelas do mundo e percebe que precisa ir embora de casa, deixando família, esposa e o filho que acabara de ter. 


Passando quase 2 meses sem internet,  e na época sem nenhuma esperança de volta e trabalhando com isso, sinto que passei por esse momento de "reflexão na montanha" como o filme sugere. Contando a história de Sidartha Galthama (o Buda), podemos entender sobre a religião e os costumes uma gama de relações e simbioses. No filme, vemos a história de um garotinho que os monges budistas acreditam ser a reencarnação do antigo mestre deles. 


Os pais do garotinho, muito racionalistas e ocidentais pareciam apreciar, apesar de achar estranho essa "nova mentalidade" do filme que chega a conhecer os mosteiros no Himalaia com os monges.


 A outra parte do filme, acompanhamos a história de Buda, interpretado por Keanu Reaves e são iniciados nos primeiros momentos do profeta, primeiro com sua rejeição ao mundo perfeito autocrático de ser membro de uma família rica, no segundo passo, observou e se juntou aos ascetas, se tornando cultuado por eles, em um terceiro momento, foi alimentado por uma moça, e daí seus seguidores se rebelaram com ele, dizendo que ele tinha se corrompido. 


Em um terceiro momento, Buda chega a uma revelação, não é a "fuga do mundo" como falava Nisztche que faz o profeta, é a compreensão do todo para além do abismo, Buda descobriu que o equilíbrio entre todas coisas era a essência da felicidade, sendo um dos seus primeiros ensinamentos. É uma verdadeira viagem ao sentido da compressão de um do homens mais influentes da história, influenciando vertentes diferentes do budismo no mundo, como o zen budismo na China. 


Se o filme aborda a questão da falta de compreensão em relação aos budistas, fala um pouco sobre o zen budismo, com sua inserção sobre meditação e silêncio, como também oferendas, aí surge o costume do Buda gordo no arroz, sendo um costume muito mais popular do que registrados nos cânones dos budistas. 


Falar desse filme exige um respeito maior, um respeito que fala para montanhas e rios, que cala, espera e observa tudo ao redor. Subir uma montanha pode ser um exercício de isolamento e descrença, como pode ser uma atitude para sair e olhar para uma situação com um segundo olhar. Esse filme é assim, um convite a um olhar de crônica, onde caímos no ensinamento sem querer ou sem nenhuma pressão. 


O filme é bem reflexivo e me lembra muito o filme de Manoel de Oliveira posterior "Um filme falado", pelo carácter de louvor a reflexão e a narratológica histórica sobre o que seria legado histórico para os dias atuais, e no reflexo disso na percepção das novas gerações.


Comentários

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