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Os Imigrantes: Análise do início e primeira geração da épica e clássica novela da televisão brasileira (Parte 2)


A saga dos três imigrantes continua no interior de São Paulo. Durante a fuga da fazenda, Alaor, que havia matado um italiano, se encontra com o capataz da fazenda, Onório. Os dois brigam. O primo Júlio pede Izabel em casamento. Ela aceita, fazendo a vontade do pai. Décio vai até a antiga senzala e promete terra a longa prazo para as famílias, os solteiros ficam no lugar onde era a senzala, e as famílias e crianças ficam nas casas da colônia

"Os Imigrantes" passa de segunda à sexta, às 20h, na TV Brasil e está disponível no Tv Brasil Play





Os imigrantes geram tensão junto as antigas famílias negras já assalariadas, que agora eram expulsas da antiga senzala com a chegada dos italianos. 


Por isso, que Alaor se revoltou e acabou matando o italiano. O patrão (dono da fazenda), diz para ele: "Agora que matou o italiano, vai ter que pagar". E aí ele dá um dia de cavalo para denunciá-lo para a polícia. 


A novela se passa em 1891, um ano depois da promulgação do primeiro Código Penal, em 1890, seguindo as novidades da criminologia da época (ou seja, era um código racista, lombrosiano), e que se insere na tentativa de respaldar a sociedade dentro de uma sociedade nova e republicana. 




O Capataz Onório (provavelmente antigo Capitão de Mato), agora é rendido por Alaor, mas ele tinha uma arma escondido e atira nele, o matando, deixando desesperada a sua família. 


A situação lembra a ideia clássica do "cpf cancelado", já que o Onório vai alegar legítima defesa em relação a morte de Alaor, mas não foi o que aconteceu. Ou seja, dava cadeia matar um imigrante (problemas com o movimento, com a embaixada italiana), mas não dava problema matar um homem negro (ainda mais como funcionário de um homem branco rico). 



Os italianos vão até a casa do senhor e o depoimento de todos é recolhido, e o primo se oferece como advogado do capataz. O patrão (Décio) fala que vai conversar com a sociedade de imigração e com a embaixada. 



O primo e o pai dele conversam com Décio quando as mulheres saem da mesa, sobre política. O primo mais jovem comenta que a república está sendo ruim para os negócios dos cafeicultores. Eles comentam que para atrair imigrantes para ao Brasil em termos de propaganda era difícil. Décio espera que cheguem  mais 10 famílias para a safra dele poder lucrar. Eles comentam que os argentinos conseguiam atrair mais imigrantes europeus, pois a propaganda contra o Brasil era que era um local endêmico e periférico, além de muito quente. Comentam também que tinha um navio de quarentena, cheio de imigrantes. 





Onório é perguntado pelo senhor mais velho sobre qual foi a luta usada por Alaor para matar o italiano. Ele responde que era a capoeira, e que um homem da Bahia tinha ensinado pela região a técnica. 

No trem da cidade, contam aos imigrantes que a ferrovia foi construída pelas ingleses, a rota de Santos até Jundiaí. Eles falam para os imigrantes que todo mundo quer arrumar um pedaço de terra no Brasil e exportar a preço de ouro. Os imigrantes se surpreendem quando sabem que o contrato que assinaram era de 2 anos. 





Décio reafirma a vontade de casar a filha. A mãe de Izabel e a cozinheira comentam que o primo Olavo bateu na mulher até ela morrer, o que faz a mãe ficar preocupada com o futuro da filha. Nessa parte, Izabel diz que aceita se casar, e repreendem Biá por dizer que "já era coisa certa". Temos a sensação de que o tratamento com Biá é muito racista, e aos poucos a novela vai abordar essa relação que lembra em muito Gilberto Freyre, onde Biá se refere a Décio como "padrinho". 


Onório comenta com Décio que chegou mais famílias de imigrantes, ele fala para o capataz que não quer nenhum imigrante que não seja italiano. Para ele, o espanhol não "gosta da terra". 

Aqui, já é organizado os arranjos de moradia. Com os homens solteiros ficando no local que era a senzala antiga, enquanto eles reformam e ajeitam o lugar.  Ele conta que Nino enfrentou um homem negro que lutava capoeira e que acabou morrendo.


O senhor mais velho comenta com Antonio de Sálvio que está há 3 anos no Brasil e que era de Sorrento, Itália. Ele disse que a doença tomou conta do navio onde veio, que seu filho ficou um tempo com ele, depois voltou e prometeu levar o pai um dia. Décio vai conversar com os trabalhadores, e pergunta ao espanhol o que ele fazia na Espanha, e ele responde que era lavrador (a resposta certa). 


O senhor mais velho quando Décio vai embora mostra onde ficava o tronco que torturava e amarrava os antigos escravos. Fez isso como uma lição histórica de brutalidade, como se mostrasse parte do barbarismo original das tradições brasileiras.  




O velho coloca de maneira muito sagaz, que sem "contrato de trabalho", isso também poderia acontecer com ele, e eles ficam com uma cara de super assustados. Esse momento remota o debate do "american dream" e do liberalismo que alguns possam ter, e isso facilitar o processo de exploração enquanto eles não aprenderem a falar o idioma. 


Olavo e Júlio conversam com Décio sobre as expetativas para o futuro, comentando sobre a adição do patrimônio da família que a junção dos dois pode gerar. Comentam também sobre política dizendo que os impostos da receita das lavouras agora eram usadas para outras finalidades. Criticam a política do encilhamento de Ruy Barbosa, que teria gerado inflação no país. Olavo disse que eles precisavam de representantes que deixassem o Estado de São Paulo emitir moeda (algo que estava vetado na época). 


As mulheres que não podiam votar, na verdade, parecem "não querer" nada com política, acham ridículo. O que pode ser explicado para além do óbvio, que a política ainda era muito vista apenas como pomba e discurso, e que ninguém acreditava em seu poder efetivo e prático para além apenas da trajetória pessoal e do sucesso de carreira. 


Por isso que talvez as mulheres riem dos três, por acreditar que a política era os adornos dos homens.  Eles começam a se exaltar comentando sobre a exploração econômica dos ingleses, e como que eles poderiam retribuir com mais estrutura (ferrovias) que não atendessem apenas aos seus interesses. 


Vale lembrar, que o republicanismo surgiu em 1870 com o Partido Republicano Paulista (PRP), e que dessa facção começou a gerar a aliança que acabou com a monarquia (além dela estar bamba por si). 

A brincadeira da trama da novela é ótima, pois mais que vilões maniqueístas e manipuladores, os fazendeiros paulistas disfarçavam mais suas intenções tradicionais com tons progressistas, como a política de imigração, com a intenção de fazer apologia ao café como "produto de salvação nacional".

No fim do episódio, o velho na antiga senzala fala para os novos imigrantes recém chegados que é necessário falar o idioma deles (português) para evitar ser explorado. 





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