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O Senhor Estagiário (The Intern, 2015): Robert De Niro é estagiário de Anne Hathaway em comédia sobre as novas relações de trabalho


O Estagiário é um filme de 2015 da da Warner Bros, dirigido, escrito e produzido por Nancy Meyers. O filme segue a vida de um viúvo Ben Whittaker, aposentado que ganha uma vaga de estágio em uma nova empresa de Jules Ostin, uma jovem bem sucedida formada em Harvard, que conseguiu lucrar com o lançamento de sua empresa de e-commercer starup no mercado "About the Fit". 



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O viúvo Ben Whittaker, um aposentado da antiga DEX One,  depois da aposentadoria parecer monótona para ele, ele arruma um emprego de estagiário em uma nova companhia de ecommercer do mundo da moda "About the Fit", uma starup no Brooklyn criada por Jules Ostin, uma jovem mulher que já conseguiu fazer fortuna com sua ideia de negócio. A CEO Jules Ostin tinha concordado anteriormente em um programa comunitário de inserção de trabalho entre os mais velhos, e que Ben seria um dos contratados de quatro pessoas nesse programa. A frase de um slogan estampa um dos cartazes do filme "experiência nunca sai de moda", e já demonstra uma das mensagens que o filme traz. 


Depois do trabalho, apesar de ir muito bem, Bem nota que o motorista de Jules estava bebendo, reparando isso, ele substitui ela. Jules fica paranoica por um momento e manda um SMS pedindo uma transferência administrativa dele. Eles se aproximam e depois vemos o arrependimento de Jules em transferir Ben. Com a transferência, ela recebe uma nova motorista. Doris, que apenas em uma curva, se envolve em uma batida de carro. Jules se arrepende muito e pede para Ben voltar a ser seu motorista 


Esse é o momento do filme que Ben revela ter sido empregado a vida toda da antiga emprega que cedeu lugar a empresa dela, ou seja, ele apenas está voltando ao seu antigo local de trabalho. 


Ben começa a paquerar e depois namorar com Fiona, uma senhora massagista da empresa. Ele também desenvolve um bom relacionamento com todos e oferece conselhos sobre balancear a vida profissional e a pessoal, oferece a um dos colegas de trabalho local para ficar quando seus pais o expulsam de casa. 



Eis que temos o evento mais difícil do filme, quando Jules manda parte de seu diário com ofensas a sua mãe sem querer para o e-mail dela. Aí é quando Ben tem que "fazer o impossível" e entra na casa da mãe dela para deletar o e-mail do computador, eles são quase pegos, mas conseguem salvar a pele da chefe. Depois disso, Ben conhece a família de Jules, seu marido e sua filha. 


Crítica do filme


Alguns detalhes do filme soam ruim por conta de um certo discurso de proficiência e "accontability" que estava muito em alta na época e serviu para fazer uma "mexicanização" geral do mundo .Com a retirada maciça de direitos trabalhistas com o discurso de que os direitos trabalhistas não eram compatíveis com as novas formas de negócio e mentalidade do capitalismo moderno, esse discurso de eficiência, "new management", junto com certa ideia de associar as lógicas do que é privado com aquilo que é eficiente, o que sabemos ser uma grande falácia, já que a grande maioria das empresas privatizadas não conseguem gerar lucro e se manter depois de privatizadas, e aí podemos pensar em como ficam os equipamentos e os contratos já realizados antes? 


Eis como o capitalismo funciona, uma empresa dá lucro demais, ela abre para sócios avulsos nas bolsas de valores e investimentos, "abrindo o capital", coisa que empresas fazem quando estão ou á beira da falência, ou quando dá muito lucro e o dono não sabe o que fazer. 


Logo, o negócio das starup é perigoso por pensar essa forma de capitalismo selvagem ao estilo Trump onde um banco tipo Nubank chega no nada, tem um monte de cliente, mas não paga nenhum imposto específico, ou tem agência central para resolver problemas. Aí podemos usar o ditado da avó aqui "o que vem fácil, vai fácil também", então o investidor de ações tem que se preocupar com isso e com a volatilidade  dos lucros em empresas de capital aberto, pois elas seguem tendências de mercado onde os investidores só pensam em seu próprio lucro e com pouco tempo de retorno. 


O problema é que esse tipo de pressão por novas chefias e CEOs que aparecem depois de grandes startup darem lucro (como as famosas redes sociais por exemplo), que não sabem sobre a essência do que tornou o negócio famoso ou especial. Essa gerência genérica baseada na incrível "ciência dos pitacos" é o que Ben aconselha Jules a não fazer e não ceder em sua ideia para outro CEO apesar das pressões. Afinal, quando a ideia é boa, tem sempre um malandro para tentar copiar e usurpar.  


Enfim, a minha paranoia é que os novos modelos de negócios, das "inteligências artificias" e afins não são tão vantajosos e progressistas assim. Afinal, para Jules conseguir ter lucro e ter uma "empresa especial", ela precisaria estar no controle 100% de tudo, o tempo todo, mas isso não é saudável para ela enquanto pessoa, com família, e logo a venda das duas ações, ou delegar funções se torna um fardo, já que ela acha "todo mundo burro". 


É assim que o filme brilha, ao mostrar Ben como o estagiário padrão. Ele poderia estar tirando a vaga de um jovem, mas se o jovem arrumasse o mesmo emprego e passasse como passam sempre por humilhações.

 

O filme de maneira muito leve trouxe debates sobre essas novas formas de capitalismo e trabalho, que pouco entendemos ou debatemos. Como as starup mostram um novo perfil de CEOs e criadores que envolve as mulheres no mercado de trabalho, que as administrações burocráticas, do tipo de escritório antigo podem parecer algo a ser superado, mas que como tinham a premissa de relações profissionais reguladas por contratos firmes e sindicatos exerciam uma influência que estudamos hoje como sendo o "Estado de bem estar inflado", mas isso é uma grande falácia também, como o próprio filme demonstra, que Ben que vem do modelo burocrático antigo como sendo o melhor funcionário.


Ou seja, Ben vindo do modelo de administração burocrática estatal antiga se emprega das técnicas orientalistas de boa convivência e cordialidade no local de trabalho para melhorar a produtividade da empresa. O filme faz parecer tudo muito na amizade e no pessoal, mas a maldade aqui está em ver que o que Ben tenta passar para Jules é que ela é extremamente inteligente, independente e tal, e que isso não significa que ela está ferindo sua família com seu sucesso, como é a mensagem de O Diabo Veste Prada. Aqui as mulheres não sofrem da "maldição do sucesso", algo que podemos realmente interpretar como muito machista desse filme O Diabo Veste Prada. 


Apesar de De Niro ser sempre o cara "dos filmes de machão", é nesse filme que parecemos ver sua verdadeira face, um "nice guy" veterano dos filmes que não pega filme na aleatoriedade. Anne Hathaway é uma das atrizes A na nova leva de atrizes de Hollywood, e em alguns filmes como esses dois filmes que ela fez, por coincidência ou não, ela retrata paradigmas profissionais comuns na vida na modernidade. 


Para quem já foi estagiário em uma empresa , sabe da derradeira realidade desse tipo de profissional, são os mais exigidos em tarefa (além de termos outros compromissos acadêmicos que são ignorados pelas chefias, apesar de toda a legislação que aparentemente "protege" o estagiário), a lei não é o suficiente e a exploração é imensa, sabemos bem que a realidade é de cobrança extrema e de muito pouco apoio, convivemos com aqueles que ganham quase 3 vezes mais com os outros funcionários normais, logo a relação de exploração com os estagiários é absurda e mal fiscalizada. 


É em cima desses funcionários mal pagos e remunerados, e geralmente jovens que muitas empresas se apoiam em nome de "apoiar os jovens" em suas carreiras. Na verdade, essas empresas apenas buscam gastar menos e depois descontar no imposto de renda parecendo que "contratam jovens e ajudam a sociedade", é um esquema sujo e antigo. 


No filme, temos ao contrário, um estagiário idoso e que já passou por todas as fases empregatícias, e que trabalhou a vida todo no prédio (a referência do espaço físico é muito importante), já que evidencia que apesar de todo o "progresso" do modelo de starup e empresas ou de moda, ou de tecnologia e afins é que elas se aliam de uma nova maneira as novas formas de exploração laboral, como o Uber, por exemplo. É uma contradição que o filme explora de maneira leve e bem humorada. 


Quando Jules é forçada por sócios a transferir o cargo de CEO de sua próprio empresa é que vemos o que é o capitalismo e a vida profissional de uma mulher moderna aqui representada por Anne, ela quer viver sua vida pessoal (gosta de sua família), mas sente que não pode viver isso por ter um projeto profissional que suga todo seu tempo. Mais uma vez um paradigma parecida com o filme também com ela, O Diabo Veste Prada (2006), onde também debatemos escolhas, inflexões e carreiras. Os dois filmes são gêmeos nesse sentido.


 Se pensarmos na Andy do outro filme como também que era "estagiária", ou "secretária", e que isso significava para ela que oportunidades eram puxar o saco de alguém e aprender a aguentar em nome de ser uma primeira oportunidade. Aqui é De Niro (de Taxi Drive e outros tantos filmes) que pede um emprego para Jules (Anne Hathaway), e é ignorado por ela, claro, por ela achar que um senhor de idade não poderia entender sobre o que ela faz. 


Mas no fim, as inovações empresariais tão comentadas em provas de concurso e rodas de puxa sacos em geral são na realidade muito pouco presentes de maneira real nas empresas, e a lógica de trabalho vendida como "nova", na verdade é apenas o antigo em uma nova roupagem. Esse "orientalismo" do Ben é o que difere ele de Miranda como pessoa mais velha. 


 Como o personagem do Ben, trabalhou a vida toda e apenas se aposentou por ser da época, podemos aqui cair no discurso de que "parar de trabalhar é morrer", mas precisamos entender que a maioria do povo não trabalha em um escritório, com ar condicionado e por isso precisa da aposentadoria muito antes do que os funcionários do escritório, mas não é isso que acontece na realidade. Quem precisa de aposentadoria não aposenta e quem quer trabalhar por ter experiência não volta ao mercado de trabalho por medo de perder a estabilidade da aposentadoria. 

 

Aqui nos vemos claramente uma referência aos modos antigos de emprego, onde a pessoa passava a vida inteiro em uma mesma empresa, diferente de hoje em dia, que os patrões não querem manter absolutamente nenhum vínculo empregatício para cortar custos.

 

Ben é colocado para trabalhar com Jules Ostin, que fica cética sobre ele no início. Ben aos poucos ganha a confiança de seus colegas de trabalho. Em um dos dias, ele vem trabalhar ás 7:00 da manhã para organizar a "mesa da bagunça" que ninguém quer arrumar na firma. 



História por trás do filme


O filme foi produzido pela Warner Bros, mas era para ser feito pela Paramount Pictures. Outra curiosidade da hora é que era para ser estrelada por Tina Fey e Michael Caine, depois pensara e Reese Whitherspoon, mas não foi para frente por conta de conflitos de agenda da atriz, quando em 07 de fevereiro de 2014 foi anunciado Anne Hathaway no papel principal do filme, com o diretor de fotografia sendo Stephen Goldblatt. As locações foram em Nova Iorque, no Brooklyn, começando em junho de 2014 e terminando dia 02 de outubro do mesmo ano. 


O filme teve um lucro recorde, com um custo de produção de $35 milhões, contra o recebimento da receita geral internacional de $195 milhões de dólares, muito mais se pagar, gerou uma enorme receita.   


A lógica da vida real é mais sobre pessoas que passam por empregos despersonalizados, não é a lógica da pessoa "it", ou x, que é muito famosa e que por isso todos vem até ela, como é Miranda. As pessoas reais se aposentam, ficam entediadas, e ás vezes voltam a trabalhar, por isso que esse filme é a correção perfeita para o outro. 


Apesar disso, o tom muito leve do filme pode arrefecer algumas maldades, como pressão em cima das mulheres tanto para ter uma carreira, quanto também para manter a família feliz e a própria estabilidade emocional e também felicidade. Afinal, como pode o negócio ir bem a pessoa ir mal? O filme é em tom leve e jocoso, e pode soar irrealista e sexista em alguns pontos, mas é com certeza uma reflexão de habitus e local de trabalho moderna que abrange vários pontos. 


No fim do filme, temos uma inversão incrível. Jules queria achar um novo CEO, mas alguém que ela confiasse, aí ela indica Ben para o cargo, sabendo que ele é de sua confiança. Temos aqui a inversão de O Diabo Veste Prada, a mensagem superior do filme que gostei muito é que não tem algo muito surpreendente, algo como "o segredo" de todas as coisas entre a vida privada e a profissional, o que temos é que encontrar o equilíbrio. 






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