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A Companhia dos Lobos (1984): Filme explora o lado mais obscuro e psicológico do clássico conto da Chapeuzinho Vermelho


Dirigido por Neil Jordan e estrelando Angela Lansbury (a avó da chapeuzinho), com David Warner, Micha Bergese e Sarah Patterson. O roteiro foi escrito por Jordan e Angela Carter em uma adaptação de uma estória de Carter com o mesmo nome, da coleção "The Bloody Chamber", e depois também adaptado em um programa de rádio nos anos 80. Rosaleen (Sarah Patterson) é uma adolescente vivendo na Inglaterra rural. Ela está tendo um pesadelo sobre lobos e lobisomens na Idade Média. Quando uma menina é morta no caminho da floresta, ela acorda para a realidade na cama, mas continua sonhando com as estórias que lhe contam



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No seu pesadelo, sua irmã faleceu e ela mora com seu pai e sua mãe e passa muito tempo com sua avó, que conta várias estórias sobre o "warewolf", dando o seguinte conselho: "não saia para fora do caminho na floresta, nunca coma uma maçã que já caiu na árvore, e nunca confie em um homem cujas sobrancelhas são cerradas".



 Um dia, Rosaleen, enquanto visitava sua avó, encontra um homem bonito e também caçador e aposta corrida com ele para ver quem chega na casa primeiro, e se ela perdesse, teria que lhe dar um beijo. 



Crítica do filme 


O filme lembra muito a estética de Vera Chytilová em Daises, como também o filme Valeria and Her Week of Wonders de Jaromil Jireš, ambos parte da "New wave Czecha, e baseado no livro do mesmo nome de Vítězslav Nezval, onde a heroina tem um sonho com padres, homens e mulheres que se transformam. 


A criação dos contos de fada datam do século XVII, na publicação do poeta e advogado Charles Perrault para ser para jovem adultos, em sua forma traduzida, pela primeira vez, pelos franceses, de estórias comuns e escutadas em toda a Europa; principalmente na Alemanha também, relembrando o passado rural e de contos orais dessa tradição de onde surgiram várias lendas. Os contos de fada emanam semelhanças a experiências e sensações derivadas da natureza oníricas e recontadas através das gerações.  


O sonho teria capacidade empregas símbolos, interpretar e aumentar os conceitos e noções da vida cotidiana, por ser uma forma de expressão em cena. Assim, os contos expressam elementos culturais, nacionais, e também individuais e sexuais, demonstrando a sátira e o humor como elementos subjacentes. Freud acreditava que os contos elencavam interpretações sobre o subconsciente, pensando que para a criança a forma do animal não tem diferença da forma como vê a si mesmo, por isso que não se assustam com os elementos antropomórficos, como as transformações, ou mesmo o lobo-mau que aparecem em muitos contos.


Freud foi o primeiro a descobrir a natureza simbólica dos contos de fadas. Como mitos e lendas, eles investigam as partes mais primitivas da psique. Em sua interpretação dos sonhos, Freud fala dos contos de fada para explicar a interpretação dos sonhos. A Chapeuzinho Vermelho veio do francês (Le Petit Chaperon Rouge), assim como as estórias orais típicas de cada região, os contos de fada variam em suas versões. 



Antes da publicação dos irmãos Grimm que "suavizaram" o imaginário por trás dos contos. Por exemplo, no conto da chapeuzinho, nas estórias orais originais o lobo comia a avó e a menina na metáfora, em outras versões mais contemporâneas, era o caçador que salvava o dia, em outras versões mais antigas ainda, era a própria menina. Essas diferenças que parecem nada, podem mudar o ângulo e até mesmo a moralidade x por trás da estória.  Por isso que vemos a influência da vertente literária francesa ao fazer o filme, com inspiração e quotes do original de Charles Perrault. 



Ou seja, as traduções modernas que suavizam a moral do conto, transformam o lobo em um ser um ser mau e separado da interpretação geral original que era de "duvidar de estranhos" que se apresentem até mesmo com uma figura decente. Ou seja, a censura moderna ao suavizar os contos, tornou eles quase desnecessários como avisos morais para novas gerações, que não vão entender o lobo como metáfora. 

 A questão da moralidade é parecido com a moral de Charles Perrault, onde o desejo da menina enfrenta a necessidade de proteção que ela tem que ter para sua integridade. Por isso ela machuca o caçador com seu próprio rifle. Quando ele chega na casa da avó da menina, revela sua verdadeira identidade mas aí acidentalmente, ele é atingido por um golpe de Rosaleen, que depois fica com medo dele e cuida de seu ferimento, enquanto contava para ele outra estória. 



Juntos, ela e o lobo enquanto par se juntam a uma matilha na floresta, descobrindo que Rosaleen também é um lobo agora e vive como um. Ela acorda com um gripe sobre a janela enquanto seus brinquedos quebram em contato com o chão, simbolizando o fim da infância e da inocência de Rosaleen. 



O conto original de Perrault colocava uma certa moralidade e julgamento em relação ao comportamento da menina, já os irmãos Grimm revertem isso, e a menina é heroína que é inteligente e resiste é a visão inglesa, onde ao contrário da versão francesa, a menina com ajuda do caçador mata o lobo. Aqui podemos entender que no conto da Chapeuzinho, o caçador representa o lado altruísta, e o lobo representa o lado animalesco e bruto do social. Da mesma maneira, todos da vila que contam as estórias, e do nada, quando Rosaleen some na floresta, toda a vila sai para "caçar os lobos", ou seja, saem juntos em clima de linchamento. 




Linha das estórias contadas no filme



O segundo conto é um jovem homem que também tem as sobrancelhas juntas, um filho bastardo de um padre, é visto andando pela floresta encantada quando encontra o diabo ( Terence Stamp), de maneira anacrônica chegando em um Rolls-Royce dirigido por uma atriz que interpreta Rosaleen com uma peruca loira. 

O diabo oferece uma poção de transformação, que ele passa no seu peito, fazendo cabelo crescer imediatamente. O garoto fica agradecido, mas depois ele se transforma também, cortando para o fim do sonho de Rosaleen. 



Outra estória contada foi de Rosaleen para sua mãe, dessa vez, ela que criou os personagens e a própria moralidade da estória. Uma jovem grávida que vive no vale e que fez algo "terrivelmente errado" com um nobre rico, ela chega em uma festa dos ricos e nobres e joga na cara suas ações contraditórias e moralmente questionáveis bem na hora que ele estava se casando com outra. Ela termina sua intervenção na festa dizendo que os lobos da floresta são mais decentes que os nobres.  Depois disso, ela lança um encantamento que transforma todos os nobres em lobos. O que resulta na fuga deles para a floresta. 

A estória contada por Rosaleen para o caçador/lobo, uma menina chega na vila como lobo e mesmo sem querer o mau de ninguém, alguém atira nela , e é revelada sua forma humana (Danielle Dax) para um velho padre (Graham Crowden) que cuida de seus ferimentos. 

O filme é genial em seus efeitos, parecem muito realistas, como feitos para efeitos práticos. O filme ganhou Melhor Filme e melhor Efeitos Especiais em 1985 no International Fantasy Film Awards, e foi nomeado no BAFTA (o Oscar inglês) por melhor figurino, maquiagem, produção de arte e efeitos visuais. 


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