Pular para o conteúdo principal

Por uns Dólares a Mais (1965): A continuação de clássico do faroeste dirigido por Sergio Leone e estrelando Clint Eastwood


O homem que muitos chamam de Homem sem Nome (Clint Eastwood) é um caçador de recompensas, uma profissão que ele compartilha com um ex-oficial do exército, Douglas Mortimer (Lee van Cleef). Eventualmente, os dois descobrem que um cruel ladrão de bancos, "El Indio", fugiu da prisão matando todos, menos um de seus carcereiros. Indio planeja roubar o Banco de El Paso, que tem um cofre secreto contendo "quase um milhão de dólares".


Clique aqui para ler a análise do primeiro filme da "Trilogia dos Dólares"


e clique aqui para saber onde assistir o filme


Crítica do filme


A saga do estranho sem nome continua. Não é preciso ver Por Um Punhado de Dólares, o primeiro filme da trilogia dos Dólares, para entender completamente o segundo, porém faz toda a diferença para entender tudo que está acontecendo. 


O filme insere de cara um novo personagem a trama: um homem que se veste como um reverendo que, como o estranho sem nome (Clint Eastwood), é caçador de recompensas, e impressiona com sua habilidade. Aqui o filme ganha um caráter meio "gibi", uma vez que a imagem arquetípica do personagem reflete nas suas habilidades dentro da trama. Assim, Douglas moraliza seus alvos para torná-los mais instáveis a seu ataque e captura. 


Ele se torna, a princípio, um rival à altura do estranho, mas como o Indio é um verdadeiro assassino a sangue frio e cruel, eles se unem. Esse é um elemento que crítico no filme, uma vez que o vilão se chamar Indio é muito óbvio e um pouco preconceituoso. Ainda por cima "Indio" não é um índio, mas sim um cara branco. 


De certa maneira, o roteiro desse filme é mais complexo que o primeiro, mas não tão bom no final das contas. A história é boa, com mais explicação e resolução que o primeiro, mas o estilo mais sensorial e pouco explicado do primeiro com o estilo da direção de Sergio Leone e o tom da trama. 


A direção de Sergio Leone está mais aprimorada, com uma compreensão maior e prolongada do que um faroeste precisa. Clint também parece bem mais à vontade em seu papel, quando no primeiro ele parecia estar brincando e um pouco mais travado em algumas cenas.


A brincadeira com o nome do personagem de Clint nesse filme é interessante também. Se ele é conhecido por ser um Home sem Nome, logo esse é seu nome, e as pessoas o apelidam de "M.a.n.c.o" (Man With no Name). Aqui mostra que a utilidade e a necessidade de sobrevivência do faroeste traz a necessidade de "dar nomes", ou seja, usar a linguagem para racionalizar as coisas. Logo, não existe ninguém excluído o suficiente para não ter um nome, pelo menos um apelido ele terá que ter para interagir e ser reconhecido. Ganhar um nome representa o fim do período nômade do protagonista, uma vez que ao ficar na cidade ele deixa de ser um "estranho sem nome", mesmo que não se saiba nada sobre ele.


Já o que foi feito do vilão ser o "Índio" por ser um cara um pouco mais moreno e criminoso, acabou soado preconceituoso por parte do roteiro, uma vez que coloca a questão indígena como uma "farsa", como um apelido de guerra de um criminoso apenas, onde os "heróis" que são os mercenários caçadores de recompensa são seus algozes. Soa tão óbvio e ridículo que nos faz duvidar da moral e protagonismo dos caçadores de recompensa. Há certo uso do que chamam de "kitsch" por parte direção do filme, ou seja um exagero bonachão e cômico, que desconfia dos eu-líricos. O problema é que desconfiar dos protagonistas que se centra a narrativa, mas também do vilão, torna o filme um jogo de desconfiança do próprio gênero de faroeste em si, algo que o filme se propõe em fazer em primeiro momento, tornando seu exercício mental um pouco datado, algo típico do cinema dos anos 60.


Em termos gerais, é um filme bem mais simples que o primeiro. Sua proposta geral é se aproveitar do clima bem sucedido do primeiro filme e expandi-lo como um universo. A inserção de novos personagens, porém, ofusca o Estranho Sem Nome, colocando a atuação de Eastwood, um do elementos mais atrativos do primeiro filme, para segundo plano. Ele é só mais um personagem em uma trama de várias outras figuras excêntricas a lidar com a realidade cruel e divergente do Velho Oeste. 


Lee van Cleef realmente se destaca no filme, esticando o arquipélago de interpretação da trilogia. Ou seja, se por um lado expande o espectro por qual olhamos o western, sua desconfiança de uma apologia do vilão no primeiro filme, torna o segundo uma versão "corrigida", menos orgânica. Temos a expansão e aprofundamento de algo que havíamos gostado, mas o western assim como outras propostas de gênero não se baseia justamente boa elaboração das superficialidades e fachadas? 


A forma mais sintética impõe seu espaço. Assim é um fim muito bom, um grande faroeste, principalmente dentro do subgênero do spaghettis. Mas é muito menor que o primeiro filme (e o terceiro, mas chegaremos lá ainda). De forma que ocupa muito mais o espectro de uma "continuação" do que uma peça exclusiva. O filme e seu sentido fica, assim, inacabado sem assistir ao primeiro e o terceiro. Porém, vários elementos se tornaram mais pensados e realistas, tornando mais densa e complexa a proposta de Leone.



História por trás do filme


Após o sucesso de bilheteria de For a Fistful of Dollars na Itália, o diretor Sergio Leone e seu novo produtor, Alberto Grimaldi, queriam começar a produção em uma sequência, mas precisavam que Clint Eastwood concordasse em estrelar. Eastwood não estava pronto para se comprometer com um segundo filme quando ele nem tinha visto o primeiro. Rapidamente, os cineastas lhe entregaram uma cópia impressa em italiano (uma versão americana ainda não existia) de Per un pugno di dollari. A estrela então reuniu um grupo de amigos para uma exibição de estreia no CBS Production Center e, sem saber o que esperar, tentou manter as expectativas baixas, minimizando o filme. No entanto, à medida que as bobinas se desenrolavam, as preocupações de Eastwood se mostraram infundadas. 


O público não conseguia entender o italiano, mas em termos de estilo e ação, eles achavam o filme atraente. "Todo mundo gostava tanto quanto se tivesse sido em inglês", lembra Eastwood. Em breve, ele falou ao telefone com o representante dos cineastas: "Sim, vou trabalhar para esse diretor novamente", disse ele. Charles Bronson foi abordado novamente para um papel principal, mas passou, citando que o roteiro para a sequência era como o primeiro filme. Em vez disso, Lee Van Cleef aceitou o papel. Eastwood recebeu US$ 50.000 por retornar na sequência, enquanto Van Cleef recebeu US$ 17.000.


O roteirista Luciano Vincenzoni escreveu o filme em nove dias. No entanto, Leone não ficou satisfeito com alguns dos diálogos no roteiro e contratou Sergio Donati para trabalhar como um médico de roteiro não creditado.


O filme foi filmado entre o deserto de Tabernas, Almería e a cidade madrilenha de Colmenar Viejo,1com interiores feitos nos estúdios Cinecittà em Roma. O designer de produção Carlo Simi construiu a vila de El Paso, no deserto de Almeria, que ainda existe e atualmente é usada como atração turística. A cidade de Agua Caliente, para onde Indio e sua gangue fugiram após o assalto ao banco, é Los Albaricoques, uma vila branca na planície de Níjar.


Como todas as filmagens do filme foram filmadas em MOS (ou seja, sem gravar o som no momento das filmagens), Eastwood e Van Cleef retornaram à Itália, onde copiaram seus diálogos e efeitos sonoros foram adicionados. Embora seja explicitamente declarado no filme que o personagem do Coronel Mortimer é originalmente das Carolinas, Van Cleef optou por conduzir seu diálogo usando seu sotaque nativo de Nova Jersey em vez de um sotaque sulista.


A partitura foi composta por Ennio Morricone, que já havia colaborado com Leone em For a Fistful of Dollars. Sob a direção explícita de Leone, Morricone começou a escrever a partitura antes da produção começar, como Leone costumava filmar com a música no set. A música se destaca por sua mistura de momentos diegetic e não-diegetic através de um motivo recorrente que se origina nos relógios de bolso idênticos pertencentes a El Indio e Coronel Mortimer. "A música que o relógio faz transfere seu pensamento para um lugar diferente", disse Morricone. "O personagem em si aparece através do relógio, mas em uma situação diferente cada vez que ele aparece."


Um álbum de trilha sonora foi originalmente lançado na Itália pela RCA Italiana. Nos Estados Unidos, Hugo Montenegro lançou uma versão cover, assim como Billy Strange e Leroy Holmes, que lançaram uma versão cover do álbum da trilha sonora com a arte original do pôster americano. Maurizio Graf cantou uma voz Occhio Per Occhio / "Un ojo por ojo" com a música do taco Sixty Seconds to What?. As performances de Graf não apareceram no filme, mas foram lançadas como 45 discos RPM.


Assista o filme aqui:




Comentários

Postar um comentário

Em Alta no Momento:

Os Desajustados (The Misfits, 1961): Um faroeste com Marilyn Monroe e Clark Gable sobre imperfeição da obra do artista e o fim fantasmagórico da Era de Ouro do Cinema Americano

Rastros de Ódio (The Searchers, 1956): Clássico de John Ford é o maior faroeste de todos os tempos e eu posso provar

"1883" (2021): Análise e curiosidades da série histórica de western da Paramount

Um Morto Muito Louco (1989): O problema de querer sempre "se dar bem" em uma crítica feroz à meritocracia e ao individualismo no mundo do trabalho



Curta nossa página: