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Carandiru (2003): Filme explora a história por trás do massacre do Carandiru e a falência do sistema prisional no Brasil



Carandiru é um filme de 2003 do cineasta argentino Hector Babenco sobre uma rebelião de presos na maior cadeia de São Paulo, inspirado em fatos reais sobre a rebelião dia 02 de outubro de 1992. O doutor Dráuzio Varella era o médico voluntário responsável por uma campanha coletiva de prevenção contra o HIV, o vírus que gerava a doença da Aids. Depois do evento, ele escreveu um livro best seller, o "Estação Carandiru", que serviu como guia para o roteiro do filme. O elenco é de ouro, com presença de Wagner Moura, Lázaro Ramos, o rapper Sabotage, Airton Graça, Rodrigo Santoro, Milhem Cortaz, Caio Blat, Gero Camilo e Luis Carlos Vasconcelos e Milton Gonçalves. A rebelião do Carandiru fará 30 anos nesse ano 


Veja aqui onde assistir Carandiru


Crítica do filme e do livro


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Quando se fala em prender alguém, como foi visto, por exemplo, na série Better Call Saul, visão das pessoas costuma ser maniqueísta, pois não se pensa o que são as prisões na realidade prática. Quando chegamos ao fim da série, passei a perceber que queriam a prisão de Jimmy (que não cometeu crime, roubo, assassinato nenhum) por dizer que ele "tinha que pagar". Foi então que percebi o quanto as pessoas atualmente não sabem sobre direito constitucional. 



O massacre de Carandiru, lembra que cadeia não é férias e não é o primeiro recurso, sendo apenas necessária para os casos de presos realmente perigosos. Não pode ser para aqueles que por um motivo o outro "tem que pagar" ou porque o rival é de um campo político ao qual não gosto. 


O exemplo do presidente Lula também é importante, já que foi inocentado depois de ser condenado e preso. Ou seja, o crivo de prender envolve fatores políticos e morais, muitas das vezes, e isso não é admitido em nenhuma forma de sistema que tem intenção de manter a legitimidade de suas prisões. 




Podemos entender que esse filme demonstra a explicação de não ser a favor do encarceramento, pois na realidade, ninguém quer ser preso. Já que as leis podem ser violadas dentro de um ponto de vista moral também, apenas em último caso, mas para quem não entende a gravidade de se estar preso, esse filme é uma excelente forma de mostrar a realidade do sistema prisional brasileiro e o motivo pelo qual a prisão deve ser o último recurso. 


O livro é muito legal, também por mostrar as estórias contadas pelos presos antes deles serem presos, possuindo diversas imagens das celas e das decorações originais dos presos. A maioria das estórias avulsas do filme foram inspiradas no livro de Dráuzio.


Interessante também essa "ditadura do cotidiano" e das regras do local, que se quebradas poderiam gerar enormes punições. A cadeia funcionava de uma maneira que parecia apenas esperar por um momento de rebelião, como foi dito pelo médico antes no filme, na hora do jogo de futebol. 



Foram vários os momentos que demonstraram a forma de reformismo, as formas de "como lidar" um pouco desconstruídas com os presos. Esse valor da paz e do cotidiano é onde é construía a ideia de humanidade junto aos presos. 




O momento de dança sensual de Rita Cadillac, é uma das melhores partes do filme por mostrar campanhas de consciência social com viés mais realista. Como mostrado na cena, ela ensina como colocar uma camisinha, ou seja, ela ali era uma arma de consciência em relação ao uso do preservativo, e toda sua apresentação era uma forma de campanha contra a AIDS e sua epidemia na cadeia. 



A história do presídio de Carandiru serve como um ótimo exemplo de que prisão é apenas a última alternativa da segurança pública, a mais burra e cara, pois a única solução dos gênios punitivos é construir mais e mais prisões e onerar mais e mais os cofres públicos com isso, construindo elefantes brancos que ninguém sabe o que fazer depois. 


A punição e a guerra contra as drogas foram o principal motivo de mudança no perfil do presídio. Em 1940, quando o Código Penal passou a punir crimes leves foi quando o sistema prisional passou a colapsar, quando a lei começou a punir o uso e a comercialização de drogas foi quando as cadeias passaram a ser depósito de indivíduos não desejáveis nas novas cidades urbanas e capitalistas. 


Uma das cenas cortadas do filme é exatamente essa ideia com o personagem de Lázaro Ramos, que havia entrado praticamente por nada no sistema prisional e fala para o doutor "Maconha não é vício?" e pergunta brincando, já que o problema real das cadeias nessa época seria uma pandemia de crack. Mas esse ângulo foi talvez cortado para o filme não ser considerado muito radical. 


O filme é uma obra especial, aborda os elementos sociológicos presentes já no livro de maneira magistral, com enfoque em algumas estórias já contadas no livro, aborda várias estórias de presos, como a tentativa de assassinato de Peixeira, Chico na solitária e o romance entre Lady Di e No Way. Tem um realismo que impressiona. Babenco já havia chocado o mundo com o relato um pouco errado, mas mesmo assim extremamente brutal de "Pixote, a Lei do Mais Fraco", esse filme também é muito acentuado em seus tons etnográficos. 


O filme atraiu um grande público ao cinema, quase 4.6 milhões de espectadores. Roger Ebert, apreciou o realismo da trama, adiciona ao drama humano em dimensões dantescas. Filmado de dentro da prisão, mostrava a vida presos em uma prisão superlotada de São Paulo, Ebert lembra que apesar do aviso do filme, as condições das cadeias no Brasil ainda são não humanas. 


Dráuzio Varella (Luiz Carlos Vasconcelos), ele era um médico conhecido do público quando ele se voluntariou para conter uma epidemia de AIDS. Seu livro é um ótimo guia de como funciona a rotina dos presos e o que eles estavam expostos diariamente no presídio que era o maior do Brasil antes de ser implodido em dezembro de 2002, deixando apenas um bloco, que hoje em dia, é chamado de "Parque da Juventude", um museu que relembra o contexto da cadeia.



História por trás do filme


Algumas curiosidades da cultura pop, se assim podemos dizer sobre um evento tão traumatizante, é claro, a música dos Racionais Mc's "Diário de um Detento", que aborda um pouco do clima na cadeia e do contexto do massacre, sendo uma crítica cirúrgica ao modelo frio de prender e depois perguntar das polícias de grandes cidades ricas que preservam o modelo de consumo acima de pessoas. 




Outra referência foi que a penitenciária "impossível de fugir" da série Prison Break, a Penitenciária Federal de Sona. Algumas cenas extras estão no Youtube mostra os bastidores e cenas excluídas do filme.






Possuindo um elenco de dar inveja, o filme em si é uma obra com um foco no realismo e também na etnografia, usando do relato do médico, vimos a história de Lady Di, uma transvesti (interpretada por Rodrigo Santoro) que se casa na cadeia. 


O famoso ator que já foi até mesmo fazer séries na gringa, como Lost e Westworld, falou dois meses atrás no Altas Horas na TV e no Podpah sobre a rejeição das pessoas em relação a interpretar um travesti no filme e que ele sofreu com isso, apesar de ser um dos seus grandes papéis.



Outras estórias de personagens que humanizaram o filme, como o de majestade, o homem malandro com duas mulheres, uma loira e outra negra, e que foi para a cadeia para encobrir que foi sua mulher com ciúmes de outra que colocou fogo no prédio. 




Ou o rapaz Deusdete (Caio Brat) que matou para vingar o estupro de sua irmã (sendo o plot de alguém que cai na cadeia por vingança ou honra, algo raro), e que acaba em tragédia, quando seu amigo de infância, o Zico, em uma alucinação provocada pelo uso de drogas, mata seu amigo jogando uma panela de água quente nele. 




Ou a história do crackudo que achava que operava melhor sob efeito, o show de Rita Cadillac (que era a rainha dos presos), o campeonato de futebol, tudo para ser mais do que apenas um filme sobre massacre. Era essencialmente, um filme sobre brasileiros e suas vidas comuns.  




Outras referências são sobre os códigos de condutas, tanto das ruas, quanto dos presos, quanto dos guardas e de todos em redor. Como eram 8 mil presos é necessário entender que o local funcionava como uma cidade improvisada (diferente do idealizado ao ser projetado como uma colônia penal ao estilo de prisão francesa), a autonomia dos presos para fazer o que quiser e se organizar parecia no filme uma tentativa de crítica geral a estrutura nacional, ou seja, o Carandiru reproduzia uma lógica de sociabilidade e sociedade típicas do brasileiro. 



Apesar de não ser um filme óbvio, de crítica óbvia, também não é exatamente moralista e careta, ás vezes apenas acredito poder criticar que sai do tom em seu derrotismo de centro em diversos momentos (que assume a incapacidade de solução), há uma preservação da humanidade e um debate muito forte sobre a repercussão dos atos dos policiais no massacre, sendo o final do filme uma demonstração do absurdo da ação. É muito uma ideia de "mundo-cão" que precisa chocar para passar sua mensagem. Podemos entender, já que retratar um massacre como esse não deve ser fácil, mesmo com todo apoio e suporte do mundo, pois o assunto em si, envolve ideologia e ponto de vista. O truque desse diretor é tentar criar a simpatia do público (de todo público mesmo, mesmo o conservador) com o ponto de vista dos presos. 


Era esse o mote do filme o tempo todo, demonstrar o quanto era brutal e violenta a realidade dos presos da cadeia e de que como isso não era um debate sobre "ser bonzinho ou vilão" ou mesmo pegar o ponto de vista dos presos. Muito mais do que isso, a prisão na sociedade reproduz uma forma de institucionalização e normalização que não está fora da sociedade, como pode parecer no filme, mas sim, algo que é a própria sociedade em si. 


Por isso o filme bebe em referências de filmes como Kids (1995), etnográficos, além da própria experiência do diretor, a construção meio documental para relatar um fato que foi real, como a entrevista no fim, ou a ideia meio de arquétipos de tipos do social em relação aos prisioneiros com seus relatos que passam a sensação de vir de fora para dentro no filme.


Quando o diretor do presídio aparece fazendo a barba no lugar (e vemos diversos serviços privados por parte dos presos, a cadeia apenas vive disso, parece até mesmo que já é privatizada sem ser); pensamos que quando vemos o diretor ali é uma metáfora de que o clima era bom, mas na verdade, era uma forma metafórica de sugerir essa proximidade com a punição, a vigilância e poder de controle. 



Isso foi uma metáfora para mim, pois todos sabem que o diretor do Carandiru na época mal ia na prisão e resolvia tudo delegando tarefas, por isso dá para perceber o caráter fílmico das cenas onde o diretor do presídio está presente. 


Outra questão interessante é que tanto os presos foram retratados como conservadores em suas opiniões gerais, como quando um dos presos diz "aqui todo mundo é inocente", ou quando viram para o doutor e falam "quer ouvir outra mentira, doutor?". Esse tópico de ser bonzinho acabou sendo uma crítica que o Dráuzio já ouviu muito, isso é questionado no filme, afinal, ele estava tentando "salvar" de alguma maneira os presos, e ele questiona a falta de insumos da cadeia. 



A primeira vez que ele aparece, as pessoas perguntas se ele vai voltar, se fosse um filme clichê, ele falaria "claro, querido, voltamos e vamos salvar o mundo", mas ele não fala nada. No livro, ele explica que achou que não fosse mais voltar, mas que alguma força fez ele voltar. 


Assim como o filme também não é cor de rosa em relação a ideia feita sobre quem são os presos e porque estão ali, também não oculta como os policiais eram absolutamente cruéis no fim no massacre.


O filme inteiro funcionava como um grande laboratório para jovens atores talentosos e alguns veteranos que faziam essa obra com grande caráter de projeto social, já que aborda um tema de incrível relevância para a sociedade brasileira. 



A história da formação do Complexo Carandiru 



Uma prisão digna de uma metrópole tão fria só pode ser explicada por um modelo de prisão que começou conhecido como bom e reeducador e que passou a ser um elefante que ninguém quer lidar, e tão orgulhosamente e abertamente conservadora em relação a "propriedade", é como dizem "não existe amor em SP", ou "Em São Paulo, Deus é uma nota de 100" são imagens que são construídas que parecem descrever uma metrópole extremamente desigual.  


A história mostra que a construção das primeiras prisões veio na chamada "Era Clássica das Penas", datando do XIV até XVII, período da Alta Idade Média, onde o suplício era a forma de punição e gradação de sofrimentos sobre o "corpo da vítima", e essa punição era um caráter teatral agravante que fazia o "monarca" (aqui no caso, o governo em comparativo) a marca em si do poder do monarca que punia. 


Em tese, todas as reformas penais da burguesia vieram para afastar o suplício, mas na verdade, apenas cria espaços para afastar do olhar o castigo alheio, cria-se espaços privados de punição assistida. O corpo dos presos é tudo que conseguimos abstrair do final do filme como uma lição da autoridade e do poder de punir diretamente, sem nada mais das "mitigações das penas" do sistema de justiça moderno. 


O Código Napoleônico de 1804 (institui o 'trabalho forçado' nas cadeias francesas), e que estrutura os novos "donos do poder" como a burguesia, aqueles que tem propriedade, não mais pura e simplesmente a nobreza, mas um novo pacto, onde a burguesia seria essa nova fonte de punição, o novo código tentava "afastar o suplício e outras ferramentas de poder do Antigo Regime), mas era igualmente cruel (principalmente com crimes como roubo e furto) e mais sistemático em em intento punitivo por pensar em punir multidões em pares simulados, como mostrado em "Os Miseráveis", por exemplo . 


O Carandiru viu essa forma de suplício, como os campos de concentração na Alemanha nazista e nos países que foram dominados por ela na guerra, como a Polônia, por exemplo. A ideia de classificação, neutralização e punição sistemática tem como principal mote uma ideia de "inimigo externo", no caso dos nazistas, eram os judeus, os negros, a esquerda e o comunismo, etc.  


O que acontece na modernidade, a grande real mudança, é os novos crimes, frutos de novas mentalidades. A sociedade das penas, é substituída progressivamente pela sociedade disciplinar no século XVIII. A criminalidade é deslocada com o crescimento contumaz do capitalismo industrial. Essa sociedade privada agora tinha meios de punir "de maneira neutralizada" e escolha um "alvo" para suas perseguições, os chamados "crimes contra a propriedade", uma preocupação pós mercantilismo, já de sociedades completamente formadas, as prisões nascem nesse momento histórico. 


Com a Revolução Francesa, as conquistas contaram com o fim da ideia do suplício, da tortura medieval, a nova sociedade punia até mesmo por igual (a guilhotina). A novidade é que a punição se torna velada no processo penal, ou seja, a coisa vai se "judicializando", o suplício do corpo vira o controle e a disciplina do corpo. Mas voltando aqui, o que faria da prisão do Carandiru um exemplo de controle medieval do corpo e de suplício (ligada ao molde antigo de punição, uma punição severa). Um dos argumentos óbvios é o preconceito, o racismo, o nascimento de metrópoles desiguais, de oportunidades lacradas e marcadas. 


A prisão estava superlotada, em quase o dobro de sua capacidade, de quatro mil detentos de espaço, tinha na verdade, o dobro, oito mil presos abarrotados em celas sujas e mal ventiladas.  O que aconteceu com a prisão que na época de Getúlio Vargas era considerada modelo no mundo inteiro de limpeza, integração e eficiência, e como ela se tornou digna de um calabouço do antigo regime? 

A mudança é nítida, os presos tinham aula de pintura, trabalhavam, tinham medicamentos e o lugar era limpo. Após o governo de Jânio Quadros o presídio parou de um lugar para "consertar" e passou a ser um lugar para apenas se livrar de um ser humano. O antes e depois passou pela mudança no código penal, quando começou em 1940 a criminalização das drogas, isso fez com que a superlotação transfonasse a cadeia em um depósito de presos. Embaixo vemos as imagens do presídio na época, e em preto e preto, imagens do presídio em fotos de 1936, a comparação é absurda. 


Era mais ou menos isso que Michel Foucault (um grande pensador sobre cadeias) refletia sobre a falência absurda dos projetos de cadeia e de suas "revisões", os chamados "relatórios de contra expertise", seria admitir que nem mesmo a esquerda consegue "consertar" a cadeia. Mas vivemos, como diria o autor, "em uma sociedade disciplinar" por natureza. Quando a esquerda tenta "grandes projetos" para consertar os erros da direita clássica, acaba cometendo graves erros. Mas uma questão é impossível não argumentar, quando era 1936 a prisão era humanizada, mas altamente disciplinar, depois ela se torna um depósito sem nenhum acesso a nenhum direito humano básico. É nítido ver que o Carandiru simboliza o que pode ser o fim da ideia de "Estado de bem-estar social". 


 Carandiru que era um projeto modelo para o mundo inteiro, ligado aos grupos ilustrados e rodas das mais finas de conhecimento e poder, se transformou praticamente em uma colônia penal do pior tipo, completamente largada, similar a um campo de concentração nazista. A mudança era puramente política? Será que essa seja a maior lição de Foucault para a esquerda atual. As vezes pensamos em grandes projetos, mas em termos de cadeia, a lição é clara, apenas em última instância, como última solução, não como uma "separação" étnica e cultural, diferente da direita tradicional política que associa prisão a liberdade, a prisão de quem? do outro, a liberdade de quem? a minha que é indivíduo padrão que consome. 


O projeto do Carandiru começou como um projeto de "ressocialização" real do preso, dentro de um projeto de nação que existia na época, quando isso acabou no Estado Novo com a interferência direta dos militares no governo de Getúlio Vargas e nas instâncias legislativas, a preocupação em prender e sanar se tornou política, o "varre varre vassourinha", a prisão deixa de prender o indivíduo perigoso e passa a prender todos aqueles que parecem "sujar" a cidade (logo vemos o recorte de racista aqui), logo, passa a prender todo mundo sem consequência, hoje em dia, temos algo parecido com as "máfias da fiança" Brasil afora. Mas o que que acontece quando se prende todo mundo? Automaticamente, tem que gastar mais dinheiro com presídio e pessoal. 




Fotos do Carandiru nos anos 1930.





A penitenciária, chamada de São Paulo Casa de Detenção, foi construída e projetada por Samuel das Neves em 1920, sendo concebida de maneira similar a arquitetura das antigas prisões do século XIX que seguiam o "código penal" ao estilo de Napoleão Bonaparte. 


O filho desse arquiteto que construiu a prisão foi Cristiano Stockler das Neves, filiado ao PSP no período pós 1945 (de origem teuto-portuguesa), foi prefeito de SP e fundou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie. No dia 13 de maio de 1911 começou a construção do prédio, considerado um "presídio modelo". A intenção era atender as novas exigências do Código Penal republicano de 1890, que determinava a separação dos condenados de acordo com a natureza e periculosidade da natureza do crime.  


Quando foi inaugurada em 1920 custou 14 mil contos de réis (um valor bem alto para a época). Nos seus primeiros 20 anos de funcionamento, era considerada "modelo" de boas condições de higiene e de assegurar trabalho para os prisioneiros. Tudo mudou depois disso. 


Os primeiros problemas surgiram no fim dos anos 1940 com superlotação, e foram intensificados, quando em 1959, durante o governo Jânio Quadros (o presidente lá e cá do "varre, varre, vassourinha", foi inaugurado um anexo que começou a ter péssimas condições de higiene e mais superlotação.


Seus primeiros problemas começaram a aparecer em 1940 com a superlotação da penitenciária. Na tentativa de melhorar a situação, em 1959, durante o governo de Jânio Quadros, foi inaugurado um anexo, com péssimas condições de higiene, que aumentava sua capacidade da prisão para 3.250 detentos.


A comparação é ótima, pois se o antigo regime também punia o roubo de propriedade e de riquezas em geral, explica o fortalecimento da burguesia mercantil e o seu fortalecimento como nova fonte de legitimação de um poder, agora civil, que age a favor da propriedade privada dos mais ricos. Chamada nos jornais estrangeiros de "prisão ao estilo medieval", o tratamento dado aos presos era extremo, com infestação de doenças e quase nenhuma condição sanitária. 


O diretor da cadeia, José Ismael Pedrosa, chamou a Polícia Militar de SPA para a rebelião ocorrida em 1992, 15 policiais foram condenados pelo massacre de Carandiru, quase duas décadas depois do ocorrido. Mês passado, a câmara aprovou anistia dos condenados. 300 policiais armados que mataram 111 presos, um número de mortes absurda, um verdadeiro massacre sem precedentes. Segundo as fontes das vítimas, as mortes foram mais de 200 e o número de policiais que invadiram também seria maior. O perito criminal Osvaldo Negrini que esteve no lugar da chacina, afirmou em depoimento que não houve confronto entre policiais e detentos, porque os presos do Pavilhão 9 não tiveram nem mesmo chance de reagir. Os policiais chegaram atirando. 


Outro dado da perícia é que apenas 26 detentos dos 111 mortos estariam fora de suas celas. Outro fato pesado é que quando Osvaldo foi fazer a perícia na cena, a luz do local foi cortada, e conta-se que os presos foram obrigados a carregar os corpos dos mortos, atrapalhando o trabalho da perícia para alterar a cena do crime. Em uma das cenas cortadas no fim do filme, era dos presos carregando os corpos em fileiras juntas (uma cena extremamente forte que foi cortada), exatamente como foi descrito pelo perito criminal responsável pela investigação do caso. 



Carandiru era dividida em pavilhões proporcionais, ao estilo de cadeia com uma arquitetura que utiliza de uma forma de "panóptico" (uma forma de vigília constante de todos os seus presos. O pavilhão 8 era o mais temido, por abrigar os presos reincidentes, o pavilhão 2 era dos recém-chegados, o pavilhão 9 (nome do grupo de Rap conhecido), era onde ficavam os réus primários, e foi de lá onde surgiu o germe da rebelião que tomou enormes proporções. O homem que mandou o massacre a pedido do governador de SP da época foi o Coronel Ubiratan Guimarães, que foi condenado a 632 anos de prisão. Depois de muitos recursos e apelações, ele foi liberado da cadeia e assassinado em seguida em 2006. 


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