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Cubo (1997): Filme chama para premissa filosófica de "mito da caverna" mas entrega final ambíguo


Cinco pessoas aleatórias - Quentin, Worth, Holloway, Leaven e Rennes - se encontram em uma sala misteriosa. Nenhum deles sabe como ou por que eles chegaram ali. Um deles descobre que alguns quartos contêm armadilhas. Agora eles devem tentar desvendar o "cubo" mas sem nenhuma noção de onde estão e como sair 




Crítica do filme


Preciso dizer de cara que Cubo é um dos piores filmes que eu já assisti. Além de pseudo intelectual, o filme é pretensioso e totalmente decepcionante. Mas vamos por parte. 


O filme te taca, sem nenhuma premissa específica ou explicação, um recurso bem barato do filme por sinal. Somo jogados nessa situação de 5 pessoas estranhas presas numa sala. O problema, é que em uma premissa assim, o elenco tem que ser muito bom para sustentar sozinho a narrativa. E não é o que acontece. 


Ninguém ali sustenta seu papel, com atuações e características de personagens totalmente arquetípicas. Tudo caminha pelo óbvio do julgamento social, tipo ter um cara que aparenta ter deficiência intelectual, mas que na verdade é super inteligente ao estilo Rain man. O cara mau ser o mais étnico também é zoado. As personagens femininas são péssimas, com moça mais velha sendo a voz da razão mas que infelizmente não serve para nada para sair dali. E a moça mais nova é, por acaso, uma gênia da matemática e hot shot ao mesmo tempo. Tudo é muito óbvio e desde cara, para o tamanho do problema, você já sabe que eles não vão conseguir pensar em uma boa solução final para a trama. 


Nisso, a direção também ficou prejudicada. Com uma proposta tão ampla, é necessário relacionar várias coisas em cena. Tem o ambiente, o ângulo, o trabalho de câmera, os atores e tudo mais. E uma vez que já há um grande cubo gigante para ser dirigido, todos os detalhes foram colocados em segundo plano.


O roteiro talvez seja o ponto de melhor destaque do filme, porém nem ele salva. É óbvia a proposta filosófica inspirada no mito da caverna de Platão. Há também boas linhas de diálogo com debates políticos e históricos. Mas isso não se associa em nada com os personagens, parecendo que todas as pessoas só usam o saber como uma forma de autoridade e legitimação perante os outros.

Ok, isso representa uma crítica à metodologia de grupo mas isso nada muda o  comportamento dos personagens que continuam agindo de maneira clichê. Como se eles tivessem uma epifania, falassem algo inteligente e voltassem a agir de maneira burra.



Outra coisa, o cubo é uma metáfora, claro, mas do que? Horas parece metáfora de autoritarismo e sociedades fechadas, mas outras horas parece uma crítica ao sistema capitalista e como a vida e escolhas das pessoas são regidas e guiadas por um sistema maior que elas. Isso e a coisa de eles resolverem "jogos" parecem ter influenciado o seriado Round 6, mas que usou muito melhor a ideia.


Também é sempre arriscado fazer um filme que se passa todo em um ambiente fechado, pois assim qualquer proposta fotográfica deve ser melhor pensada, já que não há paisagens. Por isso, a fotografia de Cubo é uma das coisas mais sem graças que já vi. Parece que contrataram um profissional para piorar o visual do filme. 

Entretanto, a "framboesa de ouro" fica para o final medonho. A partir daqui vai rolar spoiler. No final, só quem foge do cubo é o cara aparentemente retardado. Tudo bem que ele foi chave para decompor os números, sendo obviamente essa parte uma metáfora de simplificação, já que todos ali possuíam muito passado e saber mas não conseguiam ser simples. Mas da forma que o filme apresenta os fatos, parece que o cara se fez de retardado o tempo todo para usá-los. Ou, que o grupo foi burro em ajudar ele, estimulando uma ideia de meritocracia na audiência.




Todo mundo que era inteligente ou forte se deu mal. Isso quer dizer que a inteligência possui um caráter visual, mas também estimula a se fazer de coitado para receber ajuda, mesmo enganando as pessoas.



No final, Cubo parece uma metáfora de si: um projeto do governo que deu errado. Tudo no filme é previsível, óbvio e descartável. O final beira ao ridículo parecendo querer ofender de propósito o espectador que acreditou que sairia algo filosófico dali. Talvez na época funcionasse mas hoje representa o pior da cultura dos anos 90.

Não assista. Se não viu e quer ver mesmo assim, vá pronto para levar na sacanagem, pois como disse minha esposa ao final do filme: "... e nunca teremos esses minutos de volta".



História por trás do filme


O filme é inspirado no episódio da série de televisão original Twilight Zone, "Five Characters in Search of an Exit", exibido pela primeira vez em 22 de dezembro de 1961). 


Embora Vincenzo Natali tenha tido a inspiração inicial para fazer um filme "ambientado inteiramente no inferno" em 1990, foi só em 1994, quando ele estava trabalhando como assistente de artista de storyboard no estúdio de animação Nelvana do Canadá, que ele havia completado o primeiro roteiro para Cubo. O rascunho inicial tinha um tom mais cômico e apresentava imagens surreais, um musgo canibal e comestível crescendo nas paredes, e um monstro que vagava pelo cubo. 



O colega de quarto e parceiro de filmagem de infância, Andre Bijelic, ajudou Natali a tirar a ideia central de pessoas evitando armadilhas mortais em um labirinto. 


Cenas que ocorreram fora do cubo foram descartadas, e a identidade das próprias vítimas mudou. Em alguns rascunhos, eles eram contadores e em outros criminosos, com a implicação de que seu banimento para o cubo era parte de uma sentença penal. Uma das mudanças dramáticas mais importantes foi a remoção completa de alimentos e água do cenário. Isso foi para criar um senso de urgência para a fuga (na verdade, tornou mais irreal). 


Depois de escrever Cube, Natali desenvolveu e filmou um curta intitulado Elevated. O curta era em um elevador e tinha a intenção de dar aos investidores uma ideia de como o Cubo iria parece. 


Enquanto trabalhava em Elevated, o cineasta Derek Rogers desenvolveu estratégias para filmar nos espaços bem confinados em que mais tarde trabalharia no Cube. O curta ajudou cubo a obter financiamento. 


Cubo foi filmado em Toronto. O dispositivo Cube no filme foi concebido pelo matemático David W. Pravica, que também atuou como consultor de matemática do filme. Consiste em uma concha cúbica externa e um cubo interno. Cada lado da camada externa tem 132 metros de comprimento. O cubo interno consiste em 263 = 17.576 quartos cúbicos (menos um número desconhecido de salas para permitir o movimento, como mostrado no filme), cada um com um comprimento lateral de 4,7 m. 


Há um espaço de 4,7 m entre o cubo interno e a camada externa. Cada sala é rotulada com três números de identificação, por exemplo, 517 478 565. Esses números codificam as coordenadas iniciais da sala e as coordenadas X, Y e Z são as somas dos dígitos do primeiro, segundo e terceiro número, respectivamente. Os números também determinam o movimento da sala - as posições subsequentes são obtidas subtraindo ciclicamente os dígitos entre si, e os números resultantes são então sucessivamente adicionados aos números iniciais. 



Apenas um cubo, com cada um de seus lados medindo 4,3 metros de comprimento, foi realmente construído, com apenas uma porta de trabalho que poderia realmente suportar o peso dos atores. A cor da sala foi alterada por painéis deslizantes. Como este era um procedimento demorado, o filme não foi filmado em sequência; todas as filmagens que ocorria em salas de uma cor específica foram filmadas um de cada vez. Pretendia-se que haveria seis cores de salas para combinar com o tema recorrente de seis ao longo do filme; cinco conjuntos de painéis de gel, mais branco puro. 


No entanto, o orçamento não se estendeu até o sexto painel de gel, e por isso há apenas cinco cores de quarto no filme. Outro cubo parcial foi feito para gravar o ponto de vista de ficar em uma sala e olhar para outro.



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