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O Guia do Mochileiro das Galáxias (2005): O "Dia da Toalha" ou o "Dia do Orgulho Nerd" e como livro e o filme ajudaram a criar a data



Numa quinta-feira de manhã, Arthur Dent descobre que sua casa vai ser imediatamente demolida para dar lugar a uma estrada. Ele tenta atrasar as escavadoras deitado na frente deles. Ford, um amigo de Arthur, o convence a ir a um bar. Depois de vários litros de cerveja, Ford explica que ele é um alienígena e jornalista trabalhando no Guia do Mochileiro das Galáxias, um guia universal sobre todas as coisas. Ford avisa para Arthur que a Terra deve ser demolida naquele dia por aliens chamados Vogons, para abrir caminho para um estrada hiperespacial. Adaptação do livro e do programa de rádio do escritor Douglas Adams, filme ajudou a popularizar a data conhecida como "Dia do Orgulho Nerd", também conhecido como "Dia da Toalha"

Disponível no Prime Video e no Now



À medida que a frota Vogon chega em órbita para destruir a Terra, Ford resgata Arthur armazenando a bordo de uma das naves Vogon. Os dois são descobertos em breve e jogados fora uma câmara de ar, apenas para serem pegos pela nave estelar Heart of Gold. Eles encontram o "semi-primo" de Ford, Zaphod Beeblebrox, o recém-eleito presidente da Galáxia. Ele roubou a nave junto com Tricia "Trillian" McMillan, uma mulher da Terra que Arthur havia conhecido anteriormente mas o dispensou. Além de Marvin, o Android Paranoico, um robô clinicamente deprimido.



Crítica e explicação do filme


Para quem não conhece direito o Guia do Mochileiro e seu universo, a primeira vista pode parecer um filme bobo. Bom, eu diria que pelo menos é um filme falso bobo. Talvez o filme não seja, pelo menos para mim, a melhor adaptação possível do livro e nem de conta de explicar o suficiente a ideia original. 


Originalmente do guia do mochileiro surgiu como um programa de rádio. A primeira série de rádio vem de uma proposta chamada "Os Confins da Terra": seis episódios independentes, todos terminando com a Terra sendo destruída de uma maneira diferente. 


Enquanto escrevia o primeiro episódio, Adams percebeu que precisava de alguém no planeta que fosse um alienígena para fornecer algum contexto, e que este alienígena precisava de uma razão para estar lá. Adams finalmente decidiu fazer do alienígena um pesquisador itinerante para um "livro totalmente notável". À medida que a escrita do primeiro episódio de rádio progredia, o Guia tornou-se o centro de sua história, e ele decidiu focar a série nela, com a destruição da Terra sendo o único elemento remanescente. 


Adams alegou que o título veio de um incidente de 1971 enquanto ele estava pedindo carona pela Europa e um jovem com uma cópia do livro Guia do Carona para a Europa: enquanto estava bêbado em um campo perto de Innsbruck com uma cópia do livro e olhando para as estrelas, ele pensou que seria uma boa ideia para alguém escrever um guia de carona para a galáxia também. No entanto, mais tarde ele alegou que tinha esquecido o incidente em si, e só sabia disso porque ele tinha contado a história dele tantas vezes. Seus amigos são citados dizendo que Adams mencionou a ideia de "pegar carona ao redor da galáxia" para eles durante as férias na Grécia em 1973. 


O Guia ficcional de Adams é um guia eletrônico para todo o universo, logo o filme é só um resumo de todo o universo do rádio e do livro. 


Isso torna, primeiro de tudo, o Guia do Mochileiro uma narrativa transmídia. Assim, dentro de uma síntese, o que une essas diferentes tramas é a metáfora de síntese social, civilização e humanidade. 


O Guia não é apenas a história de Arthur, protagonista do filme, mas é uma métafora que busca passar uma mensagem de alerta e reflexão de construções sociais, características da sociedade estabelecidas ao longo da História e os rumos que os humanos estão tomando de sua vida. 



Primeiro, logo de cara, há uma ótima brincadeira com linguagem, comunicação e sociedade, com a questão dos golfinhos serem na verdade uma espécie mais inteligente que os seres humanos e o fato deles serem performáticos e bonitinhos, darem a noção para os humanos que só estavam se exibindo, quando na verdade queriam passar a mensagem de que o mundo ia acabar. Aqui se está brincando exatamente com esse conceito: performativo. É possível, pela falta de carga cultural, interpretar signos específicos de uma mensagem. 


Pulamos então para vida de Arthur. Ele vivia como pessoa "comum", sendo na verdade extremamente atrapalhado e estando profundamente entediado com sua rotina. Ele queima suas próprias torradas e parece completamente frustrado um pouco antes da chamada para a aventura. Sim, o filme segue uma estrutura de herói padrão, ao melhor estilo Joseph Campbell. 


Uma equipe de demolição está ali para demolir sua casa e construir uma estrada. De cara nos simpatizamos com a causa de Arthur, que na cena seguinte já está deitado na frente de sua casa, fazendo resistência civil ao estilo Suplicy, na frente de uma retroescavadeira pronta para demolir sua casa. Coitado, o homem perderá sua casa. Mas, por sua vez, o homem da construção diz que ele já havia sido comunicado e que se Arthur queria impedir a ação deveria ter entrado com um pedido na prefeitura meses antes. 



Claro, não concordo que tirem a casa do homem, afinal sua casa é no meio do nada e a estrada pode simplesmente contornar sua casa. Mas o ponto é que nossa sociedade é contratualista. Como o contratualismo possui suas origens na terra, mesmo possuir uma terra para plantar no mundo moderno, exige um contrato. Ao mesmo tempo, quem nasceu na terra e sempre produziu nela obviamente deve ter direito, é seu lar, seu ambiente natural. É claro, que Arthur está certo, mas o ponto é indagarmos, como tudo em sua vida, por quê ele não fez nada antes? 


Vemos então que seu amigo Ford, que é o único amigo de Arthur, traz um carrinho de supermercado de bebidas e snacks para desmobilizar os trabalhadores da construção civil. Mas quando ele leva Arthur para beber e na volta sua casa já foi demolida, sempre me indaguei se ele não estava dissuadindo o próprio Arthur para protegê-lo, afinal o mundo ia acabar mesmo. Além disso, ele diz ser um alien, e como um cara negro e com o discurso que ele tem ao longo do filme, acho que pode se dizer que é uma metáfora de ser mais politizado e influente do que parece. 



Entretanto, o importante é que durante esse momento do bar que somos apresentados a uma memória de Arthur. Ele lembra do momento que conheceu Tricia. Esse momento é interessante pelas metáforas alegóricas, já que o momento que eles se conheceram era uma festa a fantasia, e ele se vestia de explorador inglês, enquanto ela de Darwin. 



Charles Darwin foi um naturalista, geólogo e biólogo britânico criador da teoria da seleção natural. O conceito básico de seleção natural é que características favoráveis que são hereditárias tornam-se mais comuns em gerações sucessivas de uma população de organismos que se reproduzem, e que características desfavoráveis que são hereditárias tornam-se menos comuns. A seleção natural age no fenótipo, ou nas características observáveis de um organismo, de tal forma que indivíduos com fenótipos favoráveis têm mais chances de sobreviver e se reproduzir do que aqueles com fenótipos menos favoráveis. 


Em outras palavras, as fantasias deles significam que enquanto Arthur só está ali explorando, sem intenção alguma, ela está para "jogo", significando além de ela ser bonita, que ela está ali buscando um parceiro ideal, e não aleatoriamente. 


Ela fala em ir para Madagascar. Ele acha que é brincadeira, mas ela fala sério. E como ele não está preparado, dando o trabalho como desculpa, ela fica chateada. Ele propõe ir até Cornwall, mas eis que surge Zaphod e fala que ele tem uma "nave grande", ela ri e vai com ele. 



A única forma de entendermos essa cena, é teorizando que Madagascar seria o relacionamento sério, que Arthur tem medo de ter, por isso é retraído e tímido. E o Zaphod, é um idiota, mas é cara de pau o suficiente para falar de sua "grande nave" (metáfora de pênis, falocentrismo.) O problema aqui é entender que tanto se for literal, como se for uma metáfora, apesar de Arthur ser um "virjão" com tendências incel, Tricia é meio interesseira e oportunista, afinal darwiana, e darwianismo aplicado aos humanos é basicamente eugenismo. Não atoa o cara é loiro e ela tem olhos azuis.



Aí rola a invasão dos aliens, informando que a terra toda será destruída para construir uma estrada espacial, momento que aparece um frame do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.



É engraçado também ver que em meio ao desespero de pessoas correndo para todo lado, um velhinho continua apenas lendo seu jornal (definitivamente eu no apocalipse). 



Uma das genialidades técnicas do filme, é essa influência de documentários etnográficos, tanto em sentido comparações e explicações mirabolantes, como nos momentos que eles acessam o guia entra um tipo de infográfico que explica questões do universo como em um cine jornal. Muito do segredo do filme são essas montagem. 



É então que uma das maiores mitologias do universo é introduzida: a toalha. Ford explica para Arthur que a coisa que você nunca pode perder sendo um mochileiro das galáxias, é sua toalha. Pode parecer uma bobagem, mas faz todo sentido, principalmente se pensarmos que no início da Idade Moderna, pessoas cruzavam os mares para conseguir tecido e especiarias. Uma das primeiras palavras que meu filho que vai completar 2 anos aprendeu a falar foi "toalha", comprovando a tese.


Os aliens destruidores da terra, não são feras absurdas devoradoras de gente. Muito pelo contrário. Eles são extremamente burocráticos e usam terninhos (Republicanos ou o MDB?). Não são nem maus, mas extremamente contratualistas. Isso faz sentido, já que se aliens fossem destruir a terra, eles teriam exatamente esse perfil.



Eles vão então parar na nave de Zaphod meio por acaso, algo que acho meio flopado do filme já que tudo converge para Arthur reencontrar Tricia. Tanto que quando Arthur reencontra Tricia, ele figa todo empolgado, obrigando Zaphod a mostrar sua "outra face" e o agredir para se afastar da moça.


Acontece que Zaphod é primo de Ford, o que parece uma piada no filme só pelo fato de Zaphod ser loiro e Ford negro. Mas, no Brasil, por exemplo, isso é muito comum. Aqui mais uma vez está a metáfora da seleção natural através da combinação de caracteres e a linguagem do filme. Mas tentar fazer humor com isso hoje em dia parece um pouco racista, não acham? 



Depois, outra cena marcante, é quando Tricia está pilotando a nave e Zaphod, na sua dupla personalidade dá um tapa na bunda dela. Por um lado, me pergunto como a atriz permitiu uma cena machista como essa, que nunca seria feita por hoje em dia, e de quem foi a ideia de representar a superioridade da seleção natural, que era uma brincadeira retórica no livro para falar de biologia e sociedade, com machismo. Do jeito que a cena é construída, com Zaphod sendo o presidente da Galáxia e Arthur ao fundo olhando como otário, é totalmente escroto.



Aqui a contradição continua, já que se Tricia não quis ficar com Arthur pelo fato dele não querer ir para Madagascar, na nave de Zaphod ela demonstra só se importar com coisas pequenas, como seu bolinho, produzido pela máquina que adivinha seus pensamentos. 



A piada com o sabre de luz de Star Wars no filme ser só uma faca para cortar pão, é engraçada, já que tecnologia é uso e não só estética como alguns filmes mostram. 



Vem então outra parte realmente bem feita e engraçada do filme: a história do computador super inteligente criado para descobrir a resposta para todos os problemas do mundo. O computador pede então 7 milhões de anos para pensar. Mas o incrível é que as pessoas realmente voltaram depois do prazo para pegar a resposta. 



Quem é mais inteligente vai sacar que a primeira vez que eles foram até o super computador havia floresta e ao redor do computador. Depois do prazo, as árvores ao redor foram destruídas e uma população histérica torce pela resposta como jogo de futebol, mas com camisetas escritas "pense profundo". Era óbvio que a resposta não poderia ser satisfatória. E eis que o computador taca um "42" como resposta para todos os problemas do mundo. A decepção é geral, mas o computador explica que o problema é que as pessoas não souberam fazer a pergunta correta.



Só então que Zaphod dá algum sentido ao filme para além de metáforas, ao dizer que sua viagem é em busca dessa pergunta mais importante de todas. Ele ainda afirma que está interessado na descoberta só pelo dinheiro e pela fama, logo tornando a viagem imediatamente fracassada. 



Eles descem no planeta, e de novo o filme usa um arquétipo meio racista ao mostrar a o colegial oriental mutante, obviamente para querer dizer que eles estão em um lugar "estranho". 



Depois, mais uma cena aleatória deles na igreja, para criticar a ideia de religião. Zaphod está ali para pedir coordenadas ao líder religioso, uma metáfora óbvia de "encontrar o caminho". Mas o religioso é corrupto e pede um preço pela resposta. 



O religioso então decide retirar uma das cabeças de Zaphod, a personalidade mais ousada, removendo sua segunda personalidade. O problema é que no final do filme, vai parecer que essa parte fez Zaphod se tornar melhor presidente. 



Eles são então encurralados pelos aliens burocratas que os perseguem, saindo da igreja e Tricia é capturada. Ao ser interrogada, um dos burocratas conta para ela o que ela não sabia até agora: a Terra foi destruída. 



Ela se pergunta quem seria esse idiota que deu a ordem para destruir seu planeta? O raccord da cena seguinte pula para o rosto de Zaphord, tornando óbvio que foi ele que destruiu a terra. Ou seja, o presidente idiota da Galáxia, que no filme é óbvia mente uma metáfora de ser republicano e seu cargo de ser presidente dos Estados Unidos, mas principalmente o namorado de Tricia, destruiu a terra. E ela escolheu o acompanhar. Talvez por isso a vice presidente acredite que ela está mentido. Também o detalhe de a vice-presidente ser uma representante dos aliens burocratas entregava que Zaphord não era tão legal. 



O principal detalhe aqui, é que então desde o início Arthur está, de certa forma, andando e sendo protegido pelo inimigo. Zaphod justifica dizendo que o presidente da galáxia não tem tempo de ler nada. 


Depois, entramos em outra parte complicada do filme. Segundo o narrador, o Guia do Mochileiro das Galáxias só diz uma coisa sobre o amor "evite-o, se possível". Essa ideia poderia ser até engraçada na época, mas hoje parece apenas que o guia indica ser incel que seus problemas se resolvem, e até onde eu saiba nerd não é incel. Talvez, uma ironia com o fato de que obviamente um guia nenhum pode ensinar tudo, tanto que o guia o tempo todo exagera as coisas no filme, mas é do tom do filme um certo louvor a mentalidade incel transvestida de nerd. 



Entretanto, no caso o filme está um pouco certo pois de um lado Arthur é muito bobo para Tricia, que é malandra demais também. Na cena do chuveiro, onde ela está tomando banho e ele continua discutindo relacionamento com ela mesmo ela estando nua perante ele. 


Acontece então a situação dos mísseis, onde eles são obrigados a apertar o botão das probabilidades e os mísseis viram um vazo de petúnias e o outro uma baleia. Aqui a metáfora é complexa, já que o grupo se salvou mas as custas da vida de um outro ser vivo. A piada da baleia caindo, imaginando e dando nome as coisas é um brincadeira sádica com o existencialismo. A primeira vez que vi o filme, achei engraçada. Revendo, achei crítica a como relativizamos questões ambientais em torno da ideia de sobrevivencia, mas sem graça. 



Enquanto Arthur encontra um excêntrico criador de planetas, o resto do grupo encontra o super computador e perguntam se ele está calculando a resposta, ao que o computador diz: "Não, estava apenas vendo tv. Outro computador calculava por mim". Aqui, ao meu entender, somado com a cena anterior está se falando dos limites da democracia delegativa, de delegar para um governante, político ou guru a solução e as respostas para o mundo. 



Eles encontram a "arma da verdade", e Tricia usa em Zaphod, descobrindo tudo o que ele realmente pensa dela. E sem nenhuma explicação, o inventor apenas reconstrói o planeta e a casa de Arthur, levando-o de volta para casa, sem pedir nada em troca, no que parece uma metáfora de transição de governo. 


Eis que, sem explicar nada, os amigos estão ali, meio que um furo do roteiro mas tranquilo. Eles ficam felizes com a festa e o banquete, mas eis que uma armadilha para retirar de Arthur a pergunta boa para a resposta 42. Ele diz então o que é a pergunta mais fundamental de todas: "Será que ela é a certa?", ao que eu diria para ele: "não", mas enfim. 



Descobrimos então que os dois ratos são na verdade os duas crianças que indagavam o super computador. 



Por sua vez, tanto eles erraram na continuidade do filme, que o robô Marvin foi largado para trás na trama lá quando Arthur segue o guia, fazendo ironia do fato na cena que os Vogons voltam para pegar o grupo na casa de Arthur. Marvin zoa a pontaria dos Vogons, mas recebe então um tiro na cabeça. Mas ele sobrevive e atira com a arma da verdade nos Vorgons, que descobrem eles estarem deprimidos e derrotistas.   



Zaphod termina com a vice presidente e Arthur fica com Tricia e Ford. Mas esse final é ridículo depois de tudo que ela fez com ele. Simplesmente representa um lugar de auto depreciação e derrotismo para os nerds, que devem aceitar qualquer garota, afinal eles não tem muitas oportunidades. A relação de Tricia com Arthur, sua historinha de amor e as metáforas envolvidas entre os dois são bem piegas e mal escritas, estragando um pouco a essência que o filme deveria ter.  


Na minha interpretação, ideia de o Guia do Mochileiro é enfatizar para os mais jovens ou inocentes, que a política está inserida em tudo, mesmo na ciência, no amor e nas relações interpessoais. Toda a trama segue a ideia de que mesmo quando não estamos fazendo escolhas, estamos escolhendo e isso é algo político. 



Arthur era realmente meio incel, pois ele construiu para si uma concha de proteção, que na verdade era uma ilusão, pois dentro de sua visão de mundo apolítica, escolher já foi uma escolha política. A garota talvez só seja uma forma de representar para todo mundo entender, que enquanto ele for despolitizado, vai continuar sempre perdendo a garota e ficando deprimido como Marvin. 



Porém acredito que o grande problema do filme é agir demais pela verdade da auto-ajuda, buscando respostas e soluções sentimentais para as tramas, de maneira que do meio para o fim do filme a sucessão de acontecimentos é fraca e a resolução final do plot mal explicada. Pareceu que todo problema era que Arthur estava triste, quando ele ficou feliz ficou tudo bem. Mas as pessoas não podem evitar ficarem tristes, certo? Então há um certo positivismo que não se encaixa na trama. 



O Guia do Mochileiro tem um caráter meio de manual e livro de auto ajuda. Na verdade, acho que essa a grande técnica de Douglas Adams para promover o livro foi tentar fazer com que a linguagem livros de auto-ajuda, aventura jovem, se mistura-se com ideias sociológicas e científicas. Mas o filme não soube fazer isso direto, tornando tudo em uma grande comédia romântica, onde "boy meets a girl" e o humor deixa um pouco a desejar. Entretanto, as partes que explicam os acontecimentos das galáxias são bem divertidas. 


O filme teve orçamento bom e soube usar isso. As cenas que usam efeitos especiais são ótimas, principalmente na forma e para que usam esses efeitos. São coisas bem simples, como a parte do computador ou da baleia e das naves, mas tudo é bem orquestrado e tem um desenho bem imaginativo, parecendo que foram pessoas muito fãs do universo do Guia que fizeram o design do filme. 



Porém, os atores são meio fracos e parecem não saber o que estão fazendo, pois não leram o livro. Principalmente Zoe Deschanel, que parece estar no filme só de sacanagem e interpretando a si mesma. O elenco de maneira geral não soube transmitir o senso de humor do filme. 


A direção é meio chapada, parecendo que o cara esquecia ele mesmo a sequência do que ele queria dizer com o filme, sem muita criatividade para representar situações. Assim como o roteiro, que focou mais no romance vazio de Arthur e Tricia, ao invés das mil possibilidades que o universo propicia, afinal são vários livros e vários programas e apenas um filme, que focou mais em ser um blockbuster para divulgar a obra, do que ser fiel e expandir o universo. Esse é com certeza um filme que merece um remake ou um adaptação melhor e mais nova. Mas fica como uma homenagem a cultura nerd, pois afinal o filme faz referências legais para os nerds, fala de ciência, fala de cultura, sociologia e dá para dar algumas risadas, fugindo do clichê de sempre falar de Star Wars e Star Trek (ambas que também adoro). 



História por trás do filme e bastidores da produção


É no dia 25 de maio que é comemorado o Dia do Orgulho Nerd. A data foi escolhida para comemorar a première do primeiro filme da série Star Wars, o Episódio IV: Uma Nova Esperança, em 25 de maio de 1977 (não confundir com o Dia de Star Wars, 4 de maio), mas divide o mesmo dia com dois outros "feriados" de fãs semelhantes: o Dia da Toalha, para os fãs da "trilogia de cinco" do O Guia do Mochileiro das Galáxias, em homenagem ao seu escritor Douglas Adams, e o Glorioso 25 de Maio para os fãs da série Discworld, em homenagem ao seu escritor Terry Pratchett. A iniciativa teve origem na Espanha em 2006 com o "Dia del Orgullo Friki", e se espalhou pelo mundo através da internet e blogs, apenas um ano depois do lançamento do filme.


A primeira série de rádio de seis episódios (chamada "Fits" após os nomes das seções do poema absurdo de Lewis Carroll "A Caça do Snark") foi transmitida em 1978 pela BBC Radio 4. Apesar de um lançamento discreto da série (o primeiro episódio foi transmitido às 22h30 de quarta-feira, 8 de março de 1978), recebeu boas críticas e uma tremenda reação do público para o rádio. 


Um episódio único (o "especial de Natal") foi transmitido no final do ano. A BBC tinha uma prática na época de encomendar episódios "Especial de Natal" para séries de rádio populares, e enquanto um rascunho inicial deste episódio de The Hitchhiker's Guide tinha uma trama relacionada ao Natal, foi decidido que era "de mau gosto" e o episódio transmitido serviu como uma ponte entre as duas séries. Este episódio foi lançado como parte da segunda série de rádio e, mais tarde, The Secondary Phase em e CDs. As Fases Primária e Secundária foram ao ar, em uma versão ligeiramente editada, nos Estados Unidos na NPR Playhouse.


A primeira série foi repetida duas vezes só em 1978 e muitas outras vezes nos anos seguintes. Isso levou a uma re-gravação de LP, produzida independente da BBC para venda, e uma nova adaptação da série como um livro. Uma segunda série de rádio, que consistia em mais cinco episódios, e elevando o número total de episódios para 12, foi transmitida em 1980.


A série de rádio (e as versões de LP e TV) foram narradas pelo ator de comédia Peter Jones como The Book. Jones foi escalado após uma busca de três meses no elenco e depois de pelo menos três atores (incluindo Michael Palin) recusarem o papel.


A série também foi notável por seu uso do som, sendo a primeira série de comédia a ser produzida em estéreo. Adams disse que queria que a produção do programa fosse comparável à de um álbum de rock moderno. Grande parte do orçamento do programa foi gasto em efeitos sonoros, que foram em grande parte o trabalho de Paddy Kingsland (para o episódio piloto e a segunda série completa) no BBC Radiophonic Workshop e Dick Mills e Harry Parker (para os episódios restantes (2-6) da primeira série). 


O fato de estarem na vanguarda da produção de rádio moderna em 1978 e 1980, foi refletido quando as três novas séries do Mochileiros se tornaram alguns dos primeiros programas de rádio a serem mixados em Quatro Canais Dolby Surround. Esta mixagem também foi destaque em lançamentos em DVD da terceira série de rádio.


A música tema usada para as versões de rádio, televisão, LP e filme é "Journey of the Sorcerer", uma peça instrumental composta por Bernie Leadon e gravada pelos Eagles em seu álbum one of These Nights de 1975. Apenas a série de rádio transmitida usou a gravação original; uma capa sonora de Tim Souster foi usada para o LP e séries de TV, outro arranjo de Joby Talbot foi usado para o filme de 2005, e ainda outro arranjo, desta vez por Philip Pope, foi gravado para ser lançado com os CDs das últimas três séries de rádio. 


Aparentemente, Adams escolheu essa música por sua natureza futurista, mas também pelo fato de que tinha um banjo nela, que, como lembra Geoffrey Perkins, Adams disse que daria uma sensação de "na estrada, pegando carona". 


Os doze episódios foram lançados (de forma ligeiramente editada, removendo a música do Pink Floyd e duas outras músicas "cantaroladas" por Marvin quando a equipe desembarcou em Magrathea) em CD e cassete em 1988, tornando-se o primeiro lançamento de CD na BBC Radio Collection. 


Eles foram relançados em 1992, e nessa época Adams sugeriu que eles poderiam mudar o nome de Fits the First to Sixth para "The Primary Phase" e se encaixa da Sétima para a Décima Segunda como "A Fase Secundária" em vez de apenas "a primeira série" e "a segunda série". Foi nessa época que uma "Fase Terciária" foi discutida pela primeira vez com Dirk Maggs, adaptando A Vida, o Universo e Tudo, mas esta série não seria gravada por mais dez anos.


A terceira série foi transmitida em setembro e outubro de 2004. A quarta e quinta foram transmitidas em maio e junho de 2005, com a quinta série seguindo imediatamente após a quarta. Os lançamentos de CD acompanharam a transmissão do episódio final de cada série.


A adaptação do terceiro romance acompanhou o livro de perto, o que causou grandes problemas estruturais na malha com a série de rádio anterior em comparação com o segundo romance. Como muitos eventos da série de rádio foram omitidos do segundo romance, e aqueles que ocorreram aconteceram em uma ordem diferente, as duas séries se dividiram em direções completamente diferentes.


O primeiro de seis episódios de uma sexta série, a Fase Hexagonal, foi transmitido pela BBC Radio 4 em 8 de março de 2018 e contou com o professor Stephen Hawking apresentando-se como a voz do Guia do Mochileiro para a Galáxia Mk II dizendo: "Eu fui bastante popular no meu tempo. Alguns até leram meus livros."


Os romances são descritos como "uma trilogia em cinco partes", tendo sido descritos como uma trilogia sobre o lançamento do terceiro livro, e depois uma "trilogia em quatro partes" sobre o lançamento do quarto livro. A edição norte-americana do quinto livro foi originalmente lançada com a legenda "O quinto livro da trilogia cada vez mais imprecisamente chamada de Hitchhiker's Trilogy" na capa. Os relançamentos subsequentes dos outros romances traziam a lenda "O livro [primeiro, segundo, terceiro, quarto] na trilogia cada vez mais imprecisamente chamada de Hitchhiker'. Além disso, a sinopse do quinto livro descreve-a como "o livro que dá um novo significado à palavra 'trilogia'".


Trazer O Guia do Mochileiro para uma versão adaptação do cinema começou já na década de 1970, como documentado em The Greatest Sci-Fi Movies Never Made por David Hughes. 


Douglas Adams foi abordado por um produtor anônimo e separadamente pela rede American Broadcasting Company durante a década de 1970 para transformar o livro em um filme, mas Adams recusou ambas as ofertas, pois temia que eles quisessem transformar a obra em "Star Wars com piadas". 



Em 1982, Adams assinou uma opção para o filme com os produtores Ivan Reitman (conservador e diretor de Caça Fantasmas), Joe Medjuck e Michael C. Gross, e completou três roteiros para eles. 


Como parte das regravações, Medjuck e Gross ofereceram a ideia de trazer Bill Murray ou Dan Aykroyd para interpretar Ford Prefeito. No entanto, Aykroyd propôs separadamente uma história diferente para Reitman, o que levou este projeto a se tornar a base para Os Caça-Fantasmas. 



Isso deixou Adams agitado sobre o desenvolvimento do filme em garantir que havia o compromisso necessário com o projeto. 


O movimento esfriou até por volta de 2001, quando o diretor Jay Roach, usando a influência que havia ganho com Austin Powers: International Man of Mystery and Meet the Parents, garantiu um novo acordo com Adams e produção através da Disney. 


Adams escreveu um novo roteiro, e Roach procurou talentos como Spike Jonze para dirigir, Hugh Laurie para interpretar Arthur, e Jim Carrey como Zaphod, mas então Adams morreu em 11 de maio de 2001. Nem Roach nem o produtor executivo do filme, Robbie Stamp, queriam ver seu trabalho não dar em nada após a morte de Adams. 


Roach trouxe Karey Kirkpatrick para completar o roteiro baseado no rascunho final de Adams, apresentado pouco antes de sua morte. Kirkpatrick usou as notas que Adams deixou, descobrindo que Adams estava disposto a sair da narrativa do livro para se adaptar ao filme. Ele considerou seu roteiro algo no espírito que Adams tinha estabelecido baseado em todo o trabalho de Adams. 


Algum tempo depois da morte de Adams, Roach decidiu abandonar o projeto, e, por recomendação de Spike Jonze – um dos vários diretores convidados para fazer o filme – Roach recorreu ao diretor Garth Jennings e ao produtor Nick Goldsmith, conhecido coletivamente como Hammer & Tongs, para assumir o trabalho.


Em uma entrevista com Slashdot, Robbie Stamp, um dos produtores executivos do filme, afirmou o seguinte sobre o elenco do filme: 


O personagem mais difícil de lançar era "a voz do próprio Guia e no final voltou para alguém que era uma das pessoas que o próprio Douglas queria, ou seja, Stephen Fry."


"O próprio Douglas está no registro dizendo que, no que diz respeito a ele, o único personagem que tinha que ser britânico, na verdade inglês, era Arthur Dent."


Stamp também comentou sobre o grande papel do estúdio e dos roteiristas além de Adams na produção do filme:

"Acho que muitos fãs ficariam surpresos em saber o quanto de mão livre nos foi dada na realização deste filme. Eu sei como é fácil ver cada decisão de cortar uma cena como pressão de 'estúdio', mas sempre foi muito mais a ver com ritmo e ritmo no próprio filme."


"O roteiro que filmamos foi muito baseado no último rascunho que Douglas escreveu... Todas as novas ideias substantivas do filme... são novas ideias escritas especialmente para o filme por ele ... Douglas estava sempre a fim de reinventar o HHGG em cada uma de suas diferentes encarnações e ele sabia que trabalhar mais no desenvolvimento de algum personagem e algumas das relações-chave era parte integrante de transformar hhgg em um filme."



A filmagem foi concluída em agosto de 2004, e o filme foi lançado em 28 de abril de 2005 na Europa, Austrália e Nova Zelândia, e no dia seguinte no Canadá e nos Estados Unidos. A sequência pré-título do filme foi filmada em Loro Parque, Puerto de la Cruz, Tenerife.


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