007 - Sem Tempo Para Morrer (2021): Inovações em Bond são interessantes mas divergências entre produção e direção prejudicam o filme
No passado, uma jovem Madeleine Swann testemunha o assassinato de sua mãe por Lyutsifer Safin em uma tentativa fracassada de assassinar seu pai, o Sr. White. Madeleine atira em Safin, mas ele sobrevive. Ela foge para um lago congelado nas proximidades e cai no gelo, mas ele a resgata. No presente, após a captura de Ernst Stavro Blofeld em Spectre, Madeleine está em Matera com James Bond. Assassinos da spectre emboscam Bond quando ele visita a tumba de Vesper Lynd. Embora Bond e Madeleine escapem dos assassinos, ele acredita que ela o traiu, apesar de seus apelos, e a força a embarcar em um trem para fora de Matera, deixando-a
Cinco anos depois, o cientista Valdo Obruchev é sequestrado de um laboratório da MI6. Com a aprovação, Obruchev desenvolveu o Projeto Heracles, uma arma biológica contendo "nanobots" que infectam como um vírus ao toque e são codificados para o DNA de um indivíduo, tornando-o letal para o alvo e seus parentes, mas inofensivo para outros. Bond se retirou para a Jamaica, onde é contatado pelo agente da CIA Felix Leiter e seu colega Logan Ash, que pedem a ajuda de Bond para encontrar Obruchev. Bond inicialmente declina, mas depois que Nomi, um agente do MI6 e seu sucessor como 007, lhe conta sobre o Projeto Héracles, Bond concorda em ajudar Leiter, sobre os avisos de Nomi para não interferir.
Bond vai a Cuba e conhece Paloma, uma agente da CIA que trabalha com Leiter. Eles se infiltram em uma reunião spectre para o aniversário de Blofeld para recuperar Obruchev. Ainda preso em Belmarsh,Blofeld usa um "olho biônico" desencarnado para liderar a reunião e ordenar que seus membros matem Bond com uma "névoa de nanobot", mas mata todos os membros do Spectre, já que Obruchev reprogramou os nanobots para infectá-los sob ordens de Safin. Bond captura Obruchev e se encontra com Leiter e Ash, mas Ash, um agente duplo que trabalha para Safin, mata Leiter e foge com Obruchev.
História por trás do filme
Em março de 2017, os roteiristas Neal Purvis e Robert Wade, que trabalharam em todos os filmes de Bond desde The World Is Not Enough (1999) foram abordados para escrever o roteiro dos produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson. Purvis e Wade mapearam a história do filme em 2017. Sam Mendes afirmou que não voltaria depois de dirigir Skyfall e Spectre. Christopher Nolan recusou a direção. Em julho de 2017, Yann Demange, David Mackenzie e Denis Villeneuve foram cortejados para dirigir o filme. Villeneuve decidiu priorizar fazer Duna.
Em fevereiro de 2018, Danny Boyle (de Transpoitting) foi estabelecido como um possível diretor. Boyle chegou a começar a trabalhar no filme, porém desistiu por diferenças criativas. Durante o tempo de Boyle como diretor, uma folha de elenco vazada descreveu o papel do vilão principal masculino como um "russo frio e carismático" e o papel principal feminino como uma "sobrevivente espirituosa e habilidosa". A produção também buscou papéis de apoio masculinos de descendência māori com "habilidades avançadas de combate". Boyle confirmou que o motivo era o roteiro.
Após a saída de Boyle, a data de lançamento tornou-se contingente sobre se o estúdio poderia encontrar um substituto dentro de sessenta dias. Cary Joji Fukunaga foi anunciado como novo diretor em setembro de 2018.
Purvis e Wade foram trazidos de volta para começar a trabalhar em um novo roteiro com Fukunaga em setembro de 2018. Os roteiristas de Casino Royale e Quantum of Solace roteirista Paul Haggis entregou uma reescrita não creditada em novembro de 2018, com Scott Z. Burns fazendo o mesmo em fevereiro de 2019. A pedido de Daniel Craig, Phoebe Waller-Bridge forneceu um roteiro em abril de 2019.
Waller-Bridge foi contratada para revisar o diálogo, trabalhar no desenvolvimento do personagem e adicionar humor ao roteiro. Waller-Bridge é a segunda roteirista feminina creditada por escrever um filme de Bond depois que Johanna Harwood co-escreveu Dr. No e From Russia with Love.
A produtora Barbara Broccoli foi questionada sobre o movimento Me Too no evento de lançamento de "Bond 25", onde ela afirmou que a atitude de Bond em relação às mulheres tinha que mudar com os tempos e os filmes devem refletir isso. Em uma entrevista separada, Waller-Bridge argumentou que Bond ainda era relevante e que "ele precisa ser fiel a esse personagem", sugerindo que foram os filmes que tiveram que crescer e evoluir, enfatizando "o importante é que o filme trata as mulheres corretamente".
Alguns conceitos mudaram durante o desenvolvimento. O personagem capanga foi escrito antes das filmagens, e Fukunaga pediu mudanças no figurino de Safin. Uma nova máscara baseada em Noh, um estilo japonês de teatro, foi introduzida como Fukunaga sentiu que a máscara original estava dominando o traje. A personagem de Ana de Armas (Paloma) ficou mais significativa por ser originalmente um simples contato; Purvis e Wade indicaram que provavelmente foi escrito por Waller-Bridge a pedido de Fukunaga.
Os locais de filmagem incluíam Itália, Jamaica, Noruega, Ilhas Faroé e Londres, além dos Pinewood Studios. Em março de2019,a produção começou em Nittedal, Noruega, com a segunda unidade capturando cenas em um lago congelado que está no início do filme.
Em 28 de abril de 2019, a filmagem principal começou oficialmente na Jamaica, incluindo Port Antonio. Em maio de 2019, Craig sofreu uma lesão no tornozelo enquanto filmava na Jamaica e, posteriormente, foi submetido a uma pequena cirurgia. Em junho de 2019, a produção foi interrompida quando uma explosão controlada danificou o palco 007 do Pinewood Studios e deixou um membro da tripulação com ferimentos leves. Também em junho de 2019, a produção voltou para a Noruega para filmar uma sequência de condução ao longo da Atlantic Ocean Road com um Aston Martin V8 Vantage. Os modelos DB5, DBS Superleggerae Valhalla seriam apresentados no filme.
A produção então mudou-se para o Reino Unido. Cenas com Craig, Fiennes, Harris e Kinnear foram filmadas em Londres, incluindo Whitehall, Senate House e Hammersmith.
Em julho de 2019, as filmagens ocorreram na cidade de Aviemore e na área do Parque Nacional de Cairngorms. Algumas cenas foram filmadas no Ardverikie House Estate e nas margens do Loch Laggan, nos arredores do parque. A cena da floresta foi filmada na Floresta Buttersteep em Windsor Great Park.
No final de agosto de 2019, a segunda unidade mudou-se para o sul da Itália, onde começaram a filmar uma sequência de perseguição envolvendo um Aston Martin DB5 pelas ruas de Matera (incluindo na Piazza San Giovanni Battista). Em setembro de 2019, a principal unidade de produção, Craig e Léa Seydoux chegaram para filmar cenas dentro de vários cenários construídos em produção, bem como outras sequências em Maratea e Gravina na Puglia. Cenas foram filmadas na cidade de Sapri, no sul da Itália, durante todo o mês de setembro. Os locais incluíam o "canal da meia-noite" da cidade e a estação ferroviária. A cidade é chamada de "Civita Lucana" no filme. No final de setembro de 2019, algumas cenas foram filmadas nas Ilhas Faroé.
A unidade de Cavalaria Doméstica do Exército Britânico também foi filmada. A filmagem de uma sequência de ação com um hidroavião ocorreu no Terminal de Contêineres Kingston da CMA CGM, na Jamaica.
A filmagem principal foi encerrada em 25 de outubro de 2019 no Pinewood Studios com a filmagem de uma sequência de perseguição ambientada em Havana, Cuba que obviamente não foi filmada lá. A produção tinha a intenção de filmar a sequência mais cedo, mas foi forçada a remarcar quando Craig machucou o tornozelo na Jamaica.
Em julho de 2019, Dan Romer foi anunciado como compositor da trilha sonora do filme, tendo trabalhado anteriormente com Fukunaga em Beasts of No Nation e Maniac. Romer deixou o filme devido a diferenças criativas em novembro de 2019. Hans Zimmer substituiu Romer em janeiro de 2020. É a primeira vez na história da série Bond que um compositor foi substituído durante a pós-produção, e a segunda grande mudança de pessoal para o filme após a saída de Boyle. Steve Mazzaro produziu a partitura, enquanto Johnny Marr, do The Smiths, tocava guitarra. O álbum no time to die foi lançado pela Decca Records em março de 2020, mas foi adiado para 1 º de outubro de 2021 para coincidir com o lançamento do filme.
Em janeiro de 2020, Billie Eilish foi anunciada como intérprete da música temado filme , com seu irmão, Finneas O'Connell, servindo como co-roteirista, bem como o produtor da faixa. A canção, que tem o mesmo título,foi lançada em 13 de fevereiro de 2020. Aos 18 anos, Eilish é a artista mais jovem a gravar uma música tema de Bond. O videoclipe da canção foi lançado em 1ºde outubro de 2020. Apesar do atraso do filme, a canção foi indicada e ganhou o Grammy award de melhor canção escrita para mídia visual no 63º Grammy Awards anual, em 14 de março de 2021, seis meses antes da data de lançamento do filme, porque a canção em si foi lançada durante o período de elegibilidade 2019-20, em antecipação à data de lançamento original do filme em abril de 2020.
A canção "Dans la ville endormie" da cantora francesa Dalida é ouvida brevemente na cena de abertura. A versão de Louis Armstrongde "We Have All the Time in the World" é um tema recorrente incluído trêsvezes dentro da partitura e apareceu originalmente em On Her Majesty's Secret Service, lembrando tanto o amor quanto a perda experimentado por Bond após uma poigância semelhante neste filme. A faixa é tocada na íntegra durante os créditos de encerramento.
No Time to Die foi originalmente programado para ser lançado em novembro de 2019, mas foi adiado para fevereiro de 2020 e depois para abril de 2020 após a saída de Boyle. Mas foi tudo cancelado devido ao início do COVID-19. Até março de 2020, a disseminação global do vírus e a declaração de uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde levaram a uma carta aberta conjunta de dois sites de fãs de Bond endereçados aos produtores. A carta pedia que o lançamento fosse adiado para minimizar o risco de disseminação da doença e garantir o sucesso comercial do filme. O filme só acabou saindo agora, em 2021, o que explica o aspectos "colcha de retalhos" do filme.
Leitura Crítica do Filme
É preciso analisar qual era a proposta inicial do filme em comparação com o resultado final na tela, pois fica óbvio que desde quando o filme começou a ser produzido e suas ideias originais até a distribuição do filme, a pandemia e tudo mais parece ter mudado muito os rumos do filme. Em primeiro lugar, foi vendido para o público que no novo filme "007 seria uma mulher negra". Muitos se alardearam, de maneira positiva e negativa. Alguns consideravam interessante a mudança, pois afinal qualquer um poderia ser o 007. Outros, claramente meio preconceituosos, discordaram por considerarem apenas um marketing identitário.
Junto com Danny Boyle, cineasta bem crítico na maioria dos seus filmes, tudo apontava para um filme diferenciado de 007. Porém, parece que a pandemia e a desistência do diretor fizeram o estúdio passarem o pente fino na produção, e toda essa pegada mais "progressista" foi cancelada visando o sucesso financeiro do filme. E apesar do anúncio, 007 é mulher e negra, mas não é protagonista.
A proposta dos produtores e dos roteiristas do filme era bem interessante. Explorar a vida pessoa do 007, sua família e aposentadoria, não é só uma coisa que os fãs da saga sempre quiseram ver, como também combinou com a ideia de um filme de retomada da pandemia. Porém, para além de uma premissa, parece que os roteiristas pensaram pouco como a história seria executada mantendo elementos de filme de ação e espionagem, relacionando isso com a vida pessoal do James Bond. Como isso não aconteceu, apesar do roteiro ser bom, com um final completamente inesperado e emocionante, o filme não dialoga com a direção e a forma como a maior parte das cenas do filme foi realizada.
Particularmente, não gosto da direção de Fukunaga desde quando vi seu filme Beasts Of No Nation, um dos primeiros lançamentos exclusivos da Netflix, que eu analisei na época no meu antigo blog, pela Obvious (Você pode conferir aqui). Ele utiliza de muitos arquétipos, efeitos visuais de dissuasão e recorre sempre a violência para provocar mais reação e intensidade ao filme, tratando um pouco o espectador como idiota. Por isso não me surpreende o seu trabalho em Sem Tempo Para Morrer ser horroroso.
A cena do início do filme, onde vemos o que parece ser o passado da esposa de Bond e que ela foi salva por um assassino que parecia querer a assassinar antes, não faz a menor conexão com o resto do filme. A história da máscara e o fato de ela ter sido retirada no meio do filme e substituída parece explicar bem a falta de continuidade (algo que obviamente representa a mudança do diretor). As cenas de ação são horríveis, meio sem motivo e com um toque de crueldade que considero desnecessário. Ninguém quer ver a cena de Bond sufocando uma pessoa com um fio até a morte, ou quebrando braço com ódio e essas coisas. As armas e cenas de tiro também. O tiro parece de videogame e a física parece sem impacto. Mas o principal de tudo: parece não haver contexto para a ação. Ela acontece meio do nada e meio sem motivação. Bond vai na padaria com a família, dois carros começam a seguir ele e ferrou.
A sequência com Ana de Armas ficou bem ruim também. Ela deveria ser o contato, a bond girl femme fatale, e ela parecia mais uma fã emocionada por conhecer o 007 do que sedutora. Na verdade, o filme tentou passar a pecha de "gostosa e burrinha", mostrando que certo machismo estrutural permanece no filme. Na verdade, toda a sequência de Cuba é horrível. Começa um tiroteio do louco do nada, como se fosse terra de ninguém, e a polícia local chega desbaratinada, sem saber o que fazer. Ana de Armas pegando a metralhadora e atirando ficou ridículo também, pois ela parece não saber interpretar tal gênero de cena e que sua escalação não se deu por talento. As cenas de luta com ela, com som da trilha sonora "ao estilo latino" foi difícil de engolir. Soou careta e um pouco preconceituoso. Pareceu retirado do clipe "Havana" de Camila Cabello, só que ruim.
A nova 007 é legal e, sinceramente, após ver todo filme eu preferia que o filme fosse sobre ela mesmo. Ela aparece no filme sempre resolvendo tudo e salvando o James Bond, criando o questionamento: por que o filme não é sobre ela? Ao contrário disso, há momentos deliberadamente racistas no filme, não apenas do personagem Bond como um certo racismo estrutural, onde a personagem negra ficaria buscando aprovação do antigo 007 através de provocações, algo que simplesmente não faz o menor sentido e só foram inseridas para mostrar como o James Bond não precisa ter o número de 007 para ser melhor, algo bem babaca por parte do filme.
Outro fator que tem que ser criticado da direção é que no início, somos lançados a uma história de Bond e sua esposa, mas do nada a história desanda pelo simples fato de Bond bater uma paranoia de que sua esposa havia o traído. Ele então a abandona e volta para as "baladadinhas top" que os agentes secretos tem que frequentar. Só que depois ele descobre que não só a esposa não o traiu, como ele tem uma filha que abandonou, provando que a cultura do agente secreto pode ser bem escrota, algo que é positivo por parte do roteiro. O problema é que assim toda a parte do meio do filme, onde a ação é vendida simplesmente parece não ter nada haver com o final do filme, faltando certa uniformidade na proposta de trama e direção se o foco era a espionagem ou a vida pessoa de Bond.
Não gosto da atuação de Daniel Craig, pelo menos como 007. Ele é da leva de atores que só tem a mesma expressão para todas as cenas. Léa Seydoux impressionou no papel, parecendo que a personagem da companheira de Bond sempre existiu por sua naturalidade de atuação.
O vilão do filme, obviamente um arquétipo russo, é horrível. O ator é ruim e a proposta dele tentar converter a família de Bond e humilhá-lo também é ruim e ideológica. Fora a tentativa de mostrar uma "epidemia" no filme que teria se originado em Cuba e com influência russa, obvia tentativa de ensejar uma teoria da conspiração sobre a origem da Covid-19 desnecessária.
O elemento do vilão do Spectre, interpretado por Christoph Waltz, estar preso nesse filme e ser utilizado como consultor, assim como também o elemento da família de Bond, parecem elementos inspirados no livro e filme Manhunter (Caçador de Assassinos, 1986) e no personagem William Graham para definir a personalidade do Bond desse filme. Tradicionais elementos do personagem, como o Auston Martin, cenas de perseguição, armas e equipamentos parecem bem escolhidos e referenciais aos filmes de Bond, mas alguns parecem inseridos só para estarem lá.
No final, o filme só se sustenta por um detalhe (SPOILER!): Por James Bond de Daniel Craig morrer no final. Matar um 007 é sempre um decisão ousada, porém foi necessário! Além de a franquia de filmes de Craig como Bond ser bem sem graça, totalmente reduzida a filmes de ação e não mais espionagem, pelas idiotices e atitudes do personagem ao longo do filme, só uma morte redentora pode dar alguma simpatia por parte do público ao personagem após um show de racismo, machismo e neurose fora de época do personagem. Simplesmente parece que essa proposta do 007 "mauzinho" não tá colando mais. Assim também preparou melhor o público para um próximo Bond diferente e, quem sabe, um pouco mais idealista e romântico.
Fica claro a metáfora sobre masculinidade: esse 007, garanhão, que viaja para vários países para curtir diversas baladas diferentes com os "parças", morreu com a pandemia de Covid-19. Simplesmente as atitudes e personalidades do Bond interpretado por Craig, desde Cassino Royale, simplesmente não faz sentido para a atualidade, onde suas posições parecem conservadoras, preconceituosas e negacionistas ao longo do filme. Ele fica perseguindo o "vilão russo" até o fim, como algo pessoal, algo que acabou levando a sua morte. E não há como sentir muita pena, pois ele abandonou a família e nunca esteve com ela, só nas horas finais.
Não é o melhor 007 de todos os tempos, mas com certeza um roteiro original, com inovações importantes para o personagem e que abrem caminho para histórias mais criativas para o personagem.
Disponível no Now, Apple TV , Play Google, na Microsoft e nos cinemas de algumas cidades.
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