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Dom (2021): Resumo e review da primeira temporada da série nacional produzida pela Amazon



Filho de um ex-policial que integrou o Esquadrão de Ouro, também conhecido como Esquadrão da Morte, tornou-se usuário de drogas. Loiro, bonito e de olhos azuis, Pedro ganhou o apelido de Dom de outros garotos dependentes, com quem convivia nas esquinas da rua Prado Júnior, em Copacabana. Começou a roubar para financiar seu vício. No começo, subtraía objetos de sua mãe, com quem vivia junto com as duas irmãs. Depois passou a fazer pequenos furtos até se tornar o líder de um bando que assaltava residências de luxo no Rio de Janeiro, se tornando conhecido pela alcunha de "Bandido Gato" e pela violência empregada contra vítimas. Dirigido por Breno Silveira, é uma produção da Amazon Prime baseada no livro de Tony Beloto, guitarrista dos Titãs, "Dom" de 2020


Foram constantes as tentativas inúteis da mãe para libertá-lo das drogas. Foi internado 15 vezes em clínicas de reabilitação. A mãe chegou a vender um apartamento (o pai foi contra) para pagar seu tratamento médico e propinas para a polícia - com o objetivo de evitar sua prisão.


No ano de 2001, foi preso por porte ilegal de armas. Diante do laudo médico que atestava sua dependência química, o juiz decidiu libertá-lo, mas foi demovido pela mãe que pediu para que o filho fosse internado em um hospital penitenciário - imaginando que seria uma forma de mantê-lo afastado do vício. Contudo, o hospital funcionou como uma escola para o crime. Durante a internação, ele conheceu assassinos, traficantes e ladrões com os quais se aliou.


Voltou para as ruas seis meses depois, em fevereiro de 2002, com a condição de continuar o tratamento de desintoxicação no ambulatório do hospital. No entanto, compareceu apenas uma vez, contrariando a ordem judicial.


Ficou desaparecido por cerca de dois anos. Ressurgiu em 2004, liderando uma quadrilha especializada em assaltos a edifícios de luxo no Rio de Janeiro. A primeira namorada, aos dezessete anos, era usuária de drogas e assaltante. Filha de um oficial da Aeronáutica, ela ia a frente nos assaltos, para atrair a atenção dos porteiros.




Dom era conhecido como uma pessoa violenta. Suas vítimas descreviam cenas de horror. Uma delas relatou que para forçá-la a contar onde guardava as joias, ele chegou a colocar uma granada sobre a cabeça de uma criança. Gostava de andar com roupas de grife e preferia roubar vestimentas e calçados finos. Sem ser traficante mas viciado em cocaína, integrava a facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA) e vivia refugiado entre as favelas da Rocinha, Santa Marta e do complexo da Maré.




A irmã mais velha de Pedro, Erika Grandinetti, publicou uma carta em seu Instagram e em seu Facebook denunciando que sua mãe não teria autorizado a produção da série, e que as duas brigam contra a exposição da história da família desde 2006. A mãe do jovem, Nídia Sarmento, conta uma versão bastante diferente da história que se transformou em série.


Por exemplo, ela afirma que todas as histórias contadas por Victor estavam distorcidas. Segundo Nídia, ela teria sido quem tentou internar o filho sete vezes para tratar do vício em drogas. Mas, em todas as tentativas, o pai tirava Pedro das instituições por não aceitar a patologia do filho. A série utiliza como fonte tanto os relatos de Victor quanto o livro de Tony Bellotto, dos Titãs, também intitulado "Dom", lançado em 2020. A obra literária alterna narrativas sobre a trajetória de Pedro no crime e passagens sobre o próprio Victor. Tudo de forma romanceada. Em sua passagem pela polícia, Luiz Victor Dantas Lomba, morto em 2018 por causa de um câncer, chegou a fazer parte do Esquadrão da Morte, um grupo paramilitar que visava eliminar a criminalidade crescente no Rio de Janeiro, nos anos 1960. Foi de grupos como este que surgiram as milícias. O protesto de Erika e de sua mãe, que seguem com uma disputa na justiça contra a série da Amazon produzida pela Conspiração Filmes, conta ainda que Luiz Victor Dantas nunca pagou pensão alimentícia e não conhecia de verdade a vida de Pedro. 


Já o diretor, Breno Silveira, pondera a situação, e afirmou em uma carta enviada à equipe da série que as versões divergem. "Toda a história é contada a partir de um ponto de vista, o ponto de vista que chegou a mim. Pai e filha são sócios do livro que foi base de tudo e da série."


Pedro Dom da vida real

Segundo o diretor da série, Breno Silveira, foi ele teve medo de realizar o projeto e foi bem difícil lidar com o teor e peso da história por diversos momentos. Primeiro, que pelo teor da série, sobre crime, facções criminosas e tudo mais, vários roteiristas e outros profissionais abandonaram o projeto de cara. Isso porque Breno coletou os depoimentos do pai de Pedro Dom na vida real, o ex-policial Victor, e muitos profissionais não conseguiam trabalhar com ele. No fim da vida, Victor dizia ter se arrependido de ter sido policial, da luta contras drogas e o tratamento que deu ao filho, e contava a história como uma forma de tentar reparar seu erro. O diretor reuniu Beloto e o pai de Pedro Dom e através desse afinamento surgiu o livro e a série. 




Ele também afirma que os elementos mais fantásticos da série são o que de fato são verdade, enquanto muitas das coisas simples foram tratamento de roteiro para tudo fazer sentido. O roteiro foi o trabalho mais difícil, tendo levado dois anos para ficar pronto, tendo a série mais de 160 locações ao longo de sua realização. 





Resumo e análise da série 


A primeira temporada só tem 8 episódios, por isso uma análise da temporada e não por episódio. É preciso entender que Dom é uma série romantizada. Eles preferiram em muitos momentos da série substituir o que foi pelo que deveria ser. 


Isso fica bem claro no primeiro episódio, algo notável desde as primeiras cenas do piloto, que o pai se dedica e se preocupa demais com o filho. É muito engraçado ver o policial carioca tendo que buscar seu filho viciado na favela, pois explica aqui todo o ódio a cultura e aos locais de fala e o que os motiva. Dom vai para o baile da comunidade não só pelo fato de ser viciado, ele vai porque lá há cultura, vida, romance, novidades acontecem e inclusive o perigo, claro. Mas na sua casa e família, há segurança mas não há diálogo ou cultura, apenas o eterno vazio de ter pais meio punitivos por serem mais abastados financeiramente, algo que os torna alvo sempre. 


Só que o piloto, de maneira geral, fecha com uma mensagem bem conservadora e alarmista, com Dom prestes a tomar um tiro na cabeça e o pai desesperado, ao som de um disparo e a música do Rappa "A Minha Alma(A Paz que eu Não Quero)". A sequência dá a ideia de que a burguesia e elite do Rio tenta fazer tudo certo, enquanto seus filhos estão sendo mortos nas comunidades do Rio de Janeiro, por causa do vício da droga. Uma técnica de linguagem para chamar as pessoas mais de direita para assistir a série. 


Só que como a vida real relata e também os próprios episódios que sucedem a primeira temporada, vemos que na verdade sei pai é o responsável por tudo que acontece ao filho Dom. 


Vemos como seu pai entrou para o negócio das forças de segurança, e uma frase da série, escrita pelo próprio personagem, explica tudo que acontece com ele: "De todas as verdades da minha vida, nenhuma se manteve integra e sólida". Victor Dantas era mergulhador e encontrou um corpo, alvo de assassinato ainda na ditadura militar. Ele decide reportar as autoridades, e então o exército o procura, primeiro para interrogar, depois ao ver que ele de fato era ingênuo decide ferrar com ele o recrutando para uma missão perdida, pois afinal quem será que ele acha que colocou tal cadáver no mar a não ser o próprio exército? Eles o recrutam para reconhecer operações de tráfico de drogas e se infiltrar em uma facção criminosa do Rio e Janeiro (aparentemente o Comando Vermelho). Só que nesse processo, o pai de Dom, que é um grande moralista, fuma maconha e cheira cocaína para se infiltrar na comunidade, além de frequentar o terreiro, algo que a série mostra que é por onde o branco se infiltra na comunidade. Na verdade, ao longo da série fica claro que Victor utilizou diversas vezes a crença e religiosidade popular para dobrar as pessoas, algo que pode até ser criticado na série mas é verossímil. 


O enredo e Victor se infiltrando na favela é bem interessante e bem feito, pois contradiz automaticamente as atitudes de Victor enquanto pai de Dom. Sua luta contra o vício de Dom é, na verdade, uma luta pessoal para provar a si mesmo que ele combatia o tráfico, quando na verdade ele ajudou a disseminá-lo. É claro que o ponto de vista de Victor na série é repleto de sentimentalismo e melodrama, pois é esse o formato típico das séries onde os sentimentos pessoais são estendidos por justamente não se tratar do cinema, ou seja, podemos ver os "bastidores". Por isso ele parece "bonzinho", pois seu drama pessoal e sentimentalismo o estimulam a fazer atrocidades, como internar o filho na FEBEM. Tudo para compensar seu passado e sua relação, ainda mal explicada até o final da temporada, com os militares e milicianos. 




Já o enredo do próprio Dom funciona muito bem, entretanto fugindo muito da realidade e com vários exageros literários perigosos. As cenas dele criança são bem legais, como o fato de ser Pedro Dom por causa de uma pichação que ele fazia com seu próprio nome e sugerem que ele coloque Dom Pedro, o antigo rei do Brasil. As cenas dele criança são bem legais, apesar de contraditórias, já que a figura do pai na vida real não estava lá e as cenas de crime e internação são pesadas. Mas como ele conheceu e desenvolveu sua amizade com Lico (interpretado por Ramon Francisco, que participou do clipe do Rappa para "Minha Alma" quando ainda criança), filho da empregada de sua mãe, foi algo bem explorado. É bem legal da série mostrar a sina de um viciado, sua luta para largar como o fato de ter sido internado 15 vezes em clinicas, mas ser óbvio que não há um tratamento possível e exato para a dependência. 




As partes do roubo as residências da elite do Rio de Janeiro são o elemento chamariz da série e a dinâmica que melhor funciona. Junto com Lico, o segurança do baile, Armário, que quase o deu um tiro no piloto, sua namorada Jasmin e a extravagante Viviane, eles formam um "bonde" para assaltar. É engraçado que desde o primeiro assalto o erro aparece, quando Lico por amadorismo deixa o cão de guarda fugir e quase frustrar o roubo, um elemento cômico que de certa maneira enriquece a trama, pois nas séries as coisas sempre dão mais erradas do que o idealizado. Depois, Lico bota tudo a perder outra vez com a música Manuel de Ed Motta, algo genial da série já que sempre há músicas nas séries marcando momentos importantes, e essa música na época que série retrata (final dos anos 90) era sucesso nas rádios. Mas um erro: em uma cena retratando o ano 2000, no baile tocha o funk "Glamurosa", do MC Marcinho, mas na vida real essa música só foi lançada em 2001.

  



No Brasil atual, mostrar um protagonista roubando a usura e excesso material da elite do Rio de Janeiro não parece nem um pouco errado. Na verdade, fica claro que sua postura anti-herói seria feita por muitos com oportunidade e sem dinheiro na atualidade. Serve como um alerta as elites do Rio e sua mania de transferir para os pobres a responsabilidade deles pela falta de distribuição de renda, ao ponto do bandido violento parecer para alguns um herói. 


O Pedro Dom da série nada tem haver com o da realidade. O da série, é carismático, um pobre garoto com azar e que tenta como a maioria dos jovens se dar bem na vida em um país "meritocrático" no auge do neoliberalismo dos anos 90. Por isso, conseguimos quase apoiar sua iniciativa de roubar a casas por ser a única coisa que o liberta do pai e do vício. Mas na vida real, Pedro Dom, ou Bandido Gato, era um criminoso frio e cruel, ligado a uma das facções mais violentas do Rio, o Amigo dos Amigos (ADA), diferente da série onde Dom não tem esse tipo de ligação (pelo menos ainda). Inclusive, é perigoso vender um caso que tinha ligações factuais como ficção, pois muitos podem considerar que a atitude de Dom pode ser admirada, quando na vida real todos o condenariam como marginal na primeira oportunidade. 


Entretanto, o Dom ser representado como essa mistura de playboy com lumpemproletariado pois além de colocar a luta de classes como motor que impulsiona a criminalidade, entre na questão do significado da palavra "dom" enquanto substantivo. O pai de Pedro, Victor, tinha um dom: mergulhar. Pedro tem o Dom de "parecer". As pessoas confiam na aparência de uma cara loiro no Rio, com seu perfil facilitando seus crimes. 


Segundo o antropólogo Marcel Mauss, no livro Ensaio sobre o dom (no original francês: Essai sur le don: forme et raison de l'échange dans les societés archaiques - “Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas”", como a troca de objetos entre os grupos constrói relacionamentos entre eles. Sustentou que, ao doar ou dar um objeto (presente), o doador cria uma obrigação em face ao receptor, que fica de lhe devolver o presente. O resultado de tal conjunto de trocas que ocorrem entre indivíduos de um grupo e entre diferentes grupos corresponde a uma das primeiras formas de economia social e de solidariedade social que une os grupos humanos. As doações recíprocas estabelecem relações de fortes alianças, hospitalidade, proteção e assistência mútua.


O ensaio está construído com base em uma ampla gama de estudos etnográficos de distintos grupos humanos. Mauss aproveitou: a experiência e os dados dos estudos de Bronislaw Malinowski acerca do intercâmbio do kula registrado entre habitantes das Ilhas Trobriand; e a instituição do Potlatch sobre os índios da costa do Pacífico no Noroeste da América do Norte e outros estudos etnográficos de povos da Polinésia que mostram a prática generalizada de troca de presentes em sociedades não européias. Analisa simultaneamente a história da Índia e sugere que os traços de troca de presentes também podem ser encontradas nas sociedades mais desenvolvidas. Nas conclusões do livro, o autor sugere que as sociedades seculares industrializadas poderiam beneficiar-se ao reconhecerem a prática das dádivas e doações (troca de presentes).




Para Levi-Strauss, autor de "Introdução à obra de Marcel Mauss”, o “Ensaio sobre a dádiva” é a obra-prima de Mauss. Foi nesse texto, segundo ele, que Mauss introduziu e impôs a noção de fato social total, que se apresenta com um caráter tridimensional, fazendo coincidir a dimensão propriamente sociológica, com seus múltiplos aspectos sincrônicos; a dimensão histórica ou diacrônica; e, por último, a dimensão físico-psicológica. 


Entretanto para Pierre Bourdieu, é indispensável, a quem quiser compreender adequadamente o que vem a ser "dom", afastar-se não só da filosofia da consciência, que considera como princípio de toda ação uma intenção consciente, mas também do economicismo, que não conhece outra economia que a do cálculo racional e do interesse reduzido ao interesse econômico (o “toma lá, dá cá”). A possibilidade de desenvolvimento nas sociedades, o equivalente à revolução simbólica que desenvolveu a economia do dom, que se baseia em uma denegação do econômico (em sentido estrito), busca a acumulação do capital simbólico (como capital de reconhecimento, honra, nobreza etc.) e que se efetua, sobretudo, através das trocas de dons, de palavras, de desafios e réplicas, de mulheres etc, reafirmando as ideias de Mauss sobre essa possibilidade de desenvolvimento da generosidade.


A série brilha ao refletir essa postura meliante de Dom perante o conservadorismo de seu pai, Victor. Por exemplo, se Victor era ligado ao esquadrão da morte e milícias e seu filho era ao ADA, seriam essas duas organizações criminosas, supostamente rivais, presas a um sistema de retroalimentação? Se repararmos bem, a série constrói que ou consideramos que o problema de Dom é o vício ou os assaltos. Quando torcemos para ele largar o vício, como seu pai, torcemos para que ele seja mais racional e violento, logo que consiga ser mais profissional em seus assaltos. Tanto que o pai quando sabe dos assaltos, nem liga. Mas não é melhor ser só viciado do que roubar gente? Aqui mora a contradição que motiva o espectador a continuar vendo o episódio seguinte de Dom, por representar um profundo debate ético em torno das moralidades e vícios que nos regem no discurso e na política.


Esse caráter sociológico da série Dom deu a ela uma certa propriedade de debater esse universo do crime e discutir como são feitas as narrativas policiais e da mídia. Tanto que o jornalista policial Datena, famoso por seu tom punitivo e denuncista nas reportagens que apresenta, aceitou fazer marketing para a série, onde ele aceitou, se zoar e zoar a narrativa do jornal policial ao denunciar o Pedro Dom da série como se fosse vida real, demonstrando que seu tipo de conteúdo se assemelha as séries, afinal é apenas televisão também. A propaganda nem ficou tão boa, mas ficou engraçado e assim o marketing funcionou:



No geral, Dom deixa boas impressões ao final da temporada. Com técnicas de filmagem e fotografia digna de cinema, a série é muito convincente e agradável visualmente, sabendo orquestrar bem a direção e a decupagem dos planos necessários, algo que muitas séries, principalmente nacionais, deixam a desejar. A trilha sonora realmente me convenceu. Primeiro, por ser bem empregada nas cenas, estando quase sempre ligada com a linguagem do episódio e algo que está acontecendo na cena, mas principalmente por possuir uma "brasilidade" na seleção das músicas, mostrando que nós podemos fazer séries também. Também como a série rege as coisas triviais e bobas, com situações de perigo, é bem construído. A atuação do elenco também é sensacional, sendo muitas vezes a expressividade deles e a forma como passam os sentimentos a "cola" entre os enredos da série. Por exemplo, se o policial puxa arma e distintivo no meio do baile da favela, rasgam ele na bala, mas pela expressividade e tensão a cena estica para ter o drama necessário.




Mas o que deixa a desejar da série é justamente o fato de ela ser baseada em fatos reais. Gostamos bastante da série ao assistir, mas ao levantar a história por trás dela, dá certo medo de se envolver e apoiar as atitudes de Dom até o final, onde o spoiler já está dado pela vida real. Se não melhor trabalhado pela produção da série, toda ela se torna previsível. Os meios da série, como as coisas acontecem, são muito mais interessantes do que as conclusões dos plots. Seria melhor uma história totalmente ficcional, inspirada na realidade, onde qualquer coisa poderia acontecer, ao estilo Breaking Bad, série o qual Dom parece bastante em linguagem e temática. 


A season finale também foi bem fraca. A série ficou presa entre acreditar numa renovação e deixar plots abertos, e fechar tudo e não ser renovado, preferindo a segunda opção. Logo, esperamos tanto para apenas ver Dom encurralado a um situação previsível. É legal apresentar para os mais jovens esse Rio de Janeiro dos anos 90 e 2000, hoje pouco conhecido. Mas é preciso ir além da inspiração na realidade e "viajar", retirar qualquer inspiração do Dom da realidade e focar no que deveria ser, inclusive com a relação com o pai. Não queremos um documento da realidade, e sim uma série divertida e que entretenha. E a história do jovem filho de miliciano, que se revolta e começa roubar a elite, combina muito para o Brasil na crise que passa atualmente, mas queremos mais série e menos realidade. 


Entretanto, Dom representa uma evolução importante para o Brasil em como fazer suas séries. Estão presentes todos os elementos e padrões técnicos de uma série de sucesso, como a vida pessoal de policial Victor que lembra bastante Miami Vice, com a cultura nacional e elementos próprios de nossos costumes, assuntos e rotina, lembrando bastante o seriado Cidade dos Homens (2002), o seriado brasileiro que para mim foi mais longe até hoje. Só que Dom deu um passo importante a mais para fazermos séries atuais, que não pareçam novelas ou tente imitá-las.


Para a segunda temporada, seria bom focar mais nessa parte de retratar sociologicamente o Rio e como funcionam as dinâmicas entre centro e periferia, com seus julgamentos sociais e culturais, e focar menos na realidade de Dom. Logo, deixar mais plots abertos e criados apenas para a série. Mas com certeza é uma série que vale ser conferida, para mim a maior novidade do mundo das séries de 2021 e é do Brasil.


Amazon Prime Video liberou novas cenas da aguardada 2ª temporada de DOM. No vídeo, Pedro Dom, interpretado por Gabriel Leone, aparece na prisão e em algumas sequências dentro do carro, onde se reúne com sua quadrilha para realizar assaltos. O material de divulgação também mostra o retorno de personagens como o pai Victor Dantas (Flávio Tolezani e Filipe Bragança), Jasmin (Raquel Villar) e Viviane (Isabella Santoni).




Outro destaque do vídeo é o resgate de elementos históricos para a composição dos eventos vividos pela versão mais jovem de Victor Dantas, como o conflito entre indígenas e madeireiros na Amazônia dos anos 1970 e a perseguição ambientada no Nordeste, 30 anos depois, envolvendo troca de tiros e entrega de carregamento de drogas em avião. Ou seja, a segunda temporada promete.


Disponível no Amazon Prime Video.




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