Disco se tornou um dos maiores do Rock nacional e fez já fez sucesso na época. Mas se repararmos nas letras do disco, vemos que elas ganharam novo sentido com a ascensão de Bolsonaro
Era o terceiro disco da banda Titãs. Os dois discos anteriores, deram relativo conhecimento para banda no cenário nacional.
O segundo disco, "Televisão" não foi um sucesso, tendo na verdade relativo fracasso na época do seu lançamento. Mas teve um grande hit: a homônima "Televisão". A canção com seus versos críticos tanto a mídia como a lógica que refuta a mídia de maneira dogmática, fez sucesso com o público e deu o caminho para como a banda deveria soar. Até então, por vezes os Titãs tentavam se adequar as lógicas de mercado, flertando com a sonoridade pop, como em "Insensível".
Então, no disco seguinte convidou Liminha, conhecido produtor e ex-baixista dos Mutantes, para produzir o disco que viria ser o maior sucesso da banda.
Muito do clima da época influenciou na voracidade do disco. O vocalista Arnaldo Antunes e o guitarrista Tony Bellotto, haviam sido presos nos finais de 1985, por porte de heroína.
Também o contexto político, que influencia retórica crítica do álbum.. Segundo o então baterista da banda, Charles Garvin:
"Havia o momento do Brasil que estava se desenhando muito problemático, uma ditadura militar ainda se desmanchando, a morte de Tancredo. O clima era de desilusão, um cenário de distopia. E havia também nosso momento como banda. Tínhamos vindo de “Televisão”, nosso segundo disco, incompreendido pela gravadora (Warner), que não foi bem trabalhado. Isso nos provocou certo dissabor, ceticismo com a música, a carreira. Chegamos ao disco com raiva do mercado, da gravadora, de todo mundo."
Porém, quero ressaltar o caráter atual da letra das músicas.
Há sempre uma relação entre forma e conteúdo na arte. No disco "Cabeça Dinossauro" ele assumem o lugar e forma da ignorância, e isso fica claro no peso das músicas. Mas nas letras, narram e criticam posturas que vão do orgulho da ignorância, o elitismo e o autoritarismo.
A canção de abertura, "AA UU" é uma crítica a mentalidade do progresso constante, que exige a produção constante, seja no trabalho, na ciência ou na vida pessoal.
A iconoclasta "Igreja", tinha a letra tão pesada que gerou brigas na banda. Escrita por Nando Reis que é ateu, a música foi mal recebida pelo vocalista Arnaldo Antunes, que é cristão, com seus versos "eu não creio em cristo, eu não digo amém".
"Polícia" se tornou hino contra o autoritarismo policial. A canção se tornou tão hegemônica, que talvez hoje em dia não seria difícil ouvi-la tocando em uma festa da academia de polícia.
Minha favorita: "Estado Violência". É difícil pensar que é tão fácil fazer uma música apenas citando ideias da sociologia.
"Porrada" também é uma música fora de série. Com uma letra contra o corporativismo, a canção chega a criticar os "acadêmicos da associação". Ela é seguida por uma música com ideia parecida: "Tô Cansado". Um manifesto contra o moralismo que acredita que todas as ações devem ser determinadas para um fim específico.
"Bichos Escrotos" parece uma ironia ao pensamento escrotizador dos direitas brasileiros, mas também ao ambientalismo e a esquerda lacradora que só saem de suas tocas para falar coisas bonitas e voltam para lá no primeiro sinal de ter que encarar a realidade social brasileira.
"Família" se tornou hit e é mais conhecida e menos crítica. Mas "Homem Primata" fala em "capitalismo selvagem", associando a mentalidade faminta por dinheiro dos tempos atuais, com os costumes dos homens das cavernas.
A enigmática "O Que", é uma verdadeira brincadeira criativa com a língua portuguesa, lembrando canções do The Clash que fazem o mesmo.
De maneira geral, o disco como anteriores flertava muito com o punk e o proto-punk, principalmente em bandas como The Clash, Public Image, Talking Heads, Ramones e outras.
Alguns criticam o disco pois acreditam que o tom politico então adotado pela banda possuía caráter cosmético, o que é uma falácia. É que para muito punk, só gringo faz bom punk porque na verdade ele queria ser gringo e odeia o Brasil.
"Cabeça Dinossauro" é uma crítica a essa mentalidade alienada e alienante dos rockeiros brasileiros, mas também da esquerda, que só gostam de ideias que sejam estrangeiras e com pouca capilaridade na população mais pobre da população.
É diferente do pensamento do bolsonarista atual? Recomendo uma nova escutada para comparar com as atuais falas da política brasileira. Vale a pena o exercício.
A melhor banda de todos os tempos de todo universo. Titãs é icônica! O punk brasileiro inveja o caminho dela. Só que Titãs é muito mais do que punk rock. Arnaldo Antunes destrói qq João Gordo em duas frases. Branco Mello e Paulo Miklos são fodas, e o talento desse povo não se restringe a música.
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