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Pelé (2021): Documentário na Netflix homenageia trajetória do rei em paralelo com a História do Brasil


Documentário sobre Pelé, lançado em 2021 pela Netflix, têm proposta de contar a trajetória de um dos maiores atletas de todos os tempos, ao mesmo tempo que revive a História do Brasil. Desde os governo JK, Jânio, Jango, passando pela ditadura até a Copa de 70, buscando dar uma perspectiva e uma importância política ao símbolo que Pelé representava ao Brasil


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Apesar da breve introdução da vida de Pelé e do fato de ter sido engraxate na infância, o documentário foca no momento das copas do mundo e o contexto de cada uma delas, onde Pelé representa um elo entre a História e as formas de sentir e de pensar da época. 


Começando pela Copa de 58, o filme busca retratar Pelé como símbolo do desenvolvimentismo dos governos Vargas e Juscelino, buscando reforçar a noção de que o Brasil era um país social-democrático, grande e soberano. Também em 1958, Juscelino, o presidente que havia prometido o progresso de "cinquenta anos em 5", entrava em seu terceiro ano de governo. Brasília ainda estava sendo criada no cerrado, a Ford inaugurava a sua primeira fábrica no país e a Bossa Nova explodiu no mundo.


Ao mesmo tempo, o jovem Pelé arrazava os adversários dentro das quatro linhas da Copa da Suécia, trazendo a taça de volta para para o Brasil e encerrando o complexo de vira-lata gerado pelo anonimato do Brasil no exterior. Existe um livro que relaciona o impacto de Pelé no futebol com as mudanças do governo JK, chamado “De casaca e chuteira – A Era dos Grandes Dribles na Política, Cultura e História”.


Essa parte é contagiante. Pelé, sendo um rapaz jovem, negro e de origem pobre, representava milhares de brasileiros e a ideia de que o Brasil "deu certo". O acervo de imagens e a restauração para o HD ficaram sensacionais, dando uma ótima sensação de registro histórico. A série de entrevistas para o doc juntou depoimento de nomes de peso: Benedita da Silva, FHC, José Trajano, Juca Kfouri, Delfim Neto e o próprio Pelé. Com certeza algo que engrandece o filme. 


Entretanto, como alegria de pobre dura pouco, vem o arco dos anos 60 a derrota na Copa de 62 e o golpe de 64. O Brasil entra em um ciclo de autoritoritarismo e retrocesso, mas que como o documentário bem mostra, não é sentido por Pelé que leva uma vida de artista normal, se casa e tudo mais.


Nesse momento o filme parece querer apontar que Pelé foi vítima de uma engenharia de consenso nacional feita pelos militares no poder que viam e disseminaram na imagem do jogador uma espécie de mito vivo da teoria da integração racial pacífica de Gilberto Freyre. 


O documentário mostra que de certa maneira isso era desconhecido de Pelé, que por diversas vezes se deixou fotografar e filmar em eventos com os generais militares para passar uma mensagem nacionalista. Também o fato de ter tido relacionamentos extraconjugais e até mesmo uma filha fora do casamento foram confessados com Pelé, fatores que já foram diversas vezes criticados em sua pessoa e até mesmo motivo da desilusão de muitos com ele.


A Copa de 70 é a metáfora perfeita da mensagem do próprio filme: o Brasil tinha atingido o auge de uma das suas etapas de desenvolvimento, se tornando conhecido e símbolo internacional de superação. O golpe de 64, veio frear o caráter popular de desenvolvimento nacional. Entretanto, uma série de símbolos e etapas já haviam sido superadas culturalmente, tornando a sociedade da época fruto de profunda contradição. A vitória na Copa de 70 foi como uma vitória do povo em cima da ditadura, uma vitória cultural do modelo popular do desenvolvimentismo, e Pelé foi símbolo dessa vitória.


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O filme é historicamente instigante e cativante, principalmente para aqueles que nasceram depois de Pelé ter se aposentado e nunca viram os lances e feitos que o tornaram famoso mundialmente. A forma como o filme foi montado, acompanhando cronologicamente cada jogo, é bem didático para demonstrar a história e o legado de Pelé para quem não conhece. Esteticamente lembra muito o filme do Garrincha. Obviamente o filme tenta passar uma ideia de integração e orgulho nacional que geralmente são considerados fajutos ou populista, mas que em tempo de reacionarismo e negacionismo que queimam a imagem do país no exterior, não parece tão ruim um filme para tentar elevar a moral do brasileiro. Gol da Netflix.


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