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Judas e o Messias Negro (2021): Uma Reflexão Sobre a Política, Raça e Revolução na América


Uma resenha dessa nossa série de análises sobre os filmes do Oscar 2021.

Um deles que está causando grande debate é:  Judas e o Messias Negro, um filme que vai abordar a história da perseguição aos Panteras Negras, na figura do líder Fred Hampton, vice presidente do grupo que sofreu a maior perseguição institucional da história dos Estados Unidos era carismático, persuasivo e diretamente revolucionário. Poderia no Brasil ser um dos quadros do PCdoB clássico.  Mostrando a dualidade entre o herói líder dos panteras negras Fred Hampton,  interpretado por Daniel Kaluuya, e o notório William "Bill" O'Neal o snitch (infiltrado) do F.B.I no movimento dos panteras negras. O momento atual o movimento está sendo muito abordado, principalmente personagens chaves como Fred Hampton e Bobby Seale, que se tornaram heróis do movimento adeptos do nacionalismo negro.


 O grupo queria se registrar como partido, atendiam a anseios de movimento comunitário e social, mas acabaram marginalizados, conhecidos como perigosos ou radicais, mas são na verdade, os mais próximos de uma esquerda, socialista e comunista que a América poderia ter. 

O filme também aborda a história de Bobby Seale e de como sua resistência individual ao seu processo judicial tornou sua perseguição tão evidente que conseguiu se livrar do processo através da exposição do racismo de seu caso, o que foi abordado no também 7 de Chicago, sobre o qual já escrevemos aqui no blog. 

O filme é interessante por demostrar como que foi associado através de perseguições de várias instituições a figura do inimigo público que foi associado como na ditadura, com grupos da esquerda. 

O longa é inspirado em fatos reais, onde conhecemos a história de Fred Hampton, líder dos panteras negras, perseguido por ser "bom", nesse sentido lembra a prisão de Lula, parecendo filme brasileiro pelo seu tom de realismo sobre o que era falado. 

Os panteras negras não são vilões ou complemente mocinhos, apesar de sabermos a extensão da perseguição ao grupo. Fred Hampton é um exemplo de militante, comprometido e didático, esconde seu amor pelas palavras e pelo discurso, sabendo que sua vertente chinesa maoísta não poderia ter fez no tipo de militância possível na América. Fugir é virar um esquerdista protegido, ficar é suicídio por conta do racismo das instituições. O que é muito estimulado no filme. 

O cara do FBI, é o personagem que pode  mais representar Biden, ele compara em termos de terrorismo e radicalismo os panteras negras a KKK (Ku Klux Klan), e diz que ele é "pro democracia" e "direitos civis", mas é só ser pressionado pelos superiores que muda seu discurso. Ele é quem corrompe o nosso judas, que faz uma "transação penal" por crime de usar um distintivo dos federais. O que retoma a discussão sobre estar dentro e fora das organizações. Para os panteras negras não há como ser policial e ser de "esquerda", para eles, seria uma perspectiva de guerra total, como na ideologia do PCdoB brasileiro antigo. 

O que me faz estabelecer a comparação é o tipo de estudo maíosta, sem vaidade e que quer se orientar pela noção de classe social do "people", se referenciando como representantes do povo, demonstrando não haver uma dicotomia entre a atitude  revolucionária identitária negra, da revolucionária marxista, ou a teoria internacional dos povos, como a opressão aos povos em guerras é um exemplo da forma guerra interna, guerra externa, como era compreendida a política que a social democracia americana considerava radical. Penso nisso, quando em um atentado na sede dos panteras negras, houve também uma invasão policial, que eles resistiram com armas em punho, demonstrando essa noção de guerrilha urbana prática e de resistência que obviamente, não era apenas cultural.

Em uma das cenas do filme,  sem muita explicação, entra o grupo dos panteras negras armado, e invadem uma reunião confederada de extrema direita, onde tinha uma bandeira confederada no meio da sala. O líder do grupo de extrema direita disse como que "os admirava", enquanto isso não importava para o grupo dos panteras negras, a retórica pseudo democrática do líder de direita impressiona por aproximar direita e social democracia, quando ás vezes por populismo, ou intenção eleitoral, essas categorias buscam se encontrar. 

Os panteras negras seriam como os guerrilheiros urbanos que lutaram contra a ditadura. O que evidencia como que no bipartidarismo americano, um grupo como dos panteras negras se tornar um partido político seria impensável para a perseguição sistemática por parte das autoridades americanas. 

Tanto que em uma cena do filme, tudo que o dedo duro quer é um carro, pois os panteras eram tão perseguidos que era impraticável ter um carro registrado normal  sem dar algum problema, isso é um ponto questionável do filme, imaginar que ninguém teria um carro disponível, parece não crível até para os Estados Unidos isso. 

Não porque eles não sejam racistas, são sim, mas é pelos Estados Unidos ser uma nação em carros, no sentido de que é bem fácil ter um. Mas a discussão sobre estar dentro e fora se torna presenta no filme até nesse detalhe. Assim que o nosso dedo duro arruma um lugar de confiança lá dentro, sendo o motorista do Fred. A atuação de Daniel Kaluuya como Fred Hampton é impecável, como também é muito boa a atuação do personagem do dedo duro William "Bill" O'Neal, que também é um personagem da vida real do filme. 

William "Bill" O'Neal que era infiltrado e recebia do F.B.I no grupo dos panteras negras e contribuiu para a morte do militante Fred Hampton, morto pela polícia em sua própria casa. 


Ao seu perguntado sobre o que faria se sua filha no futuro trouxesse um homem negro em casa, ele responde: "ela não trará" ao maior estilo Jair Bolsonaro. Ele parece Biden por ter corrompido o Judas do filme. Isso me fez lembrar do outro filme do Spike Lee: O Infiltrado na Klan. Esse filme retratava os panteras negras como mais estéticos que esse filme. Inclusive, esse filme Judas e o Messias Negro parece uma resposta de esquerda ao filme "reformista" de Spike Lee. Afinal de contas, seu protagonista era um policial, que era "bom". Nesse filme o cara negro que é pig (pró polícia, pró direita), é tão pig para os panteras quanto qualquer outra pessoa branca. O personagem judas chega a ter conflitos emocionais na trama, onde mal percebemos que ele é infiltrado, por ter se entregado tanto ao papel na organização, virou um dos cabos de segurança, titulação alta entre os cargos dos panteras negras. 

Confesso que sou suspeita pra falar por adorar os filmes do Spike Lee, mas percebendo o tom do filme, entendo o problema do Infiltrado na Klan. Nós apreciamos o trabalho do "rato", do x9, do policial infiltrado. Esses jogos de poder entre o policial infiltrado e a organização x ou y são clássicos de filme de ação, principalmente na Ásia. A saga dos filmes dos infiltrados, chegou até mesmo na mão de Martin Scorsese. 

É sempre sobre o problema do infiltrado acabar virando igual aos outros, por hábito e ideologia. Isso aconteceu com o nosso Judas, personagem que demonstra o cara dúbio, o cara que quer chamar para fazer uma bomba, ou uma atitude mais intempestiva, mostrando que quem faz isso no movimento é normalmente o rato. 

O longa tem pontos positivos e negativos. O pontos positivos tem a ver com a reflexão sobre o racismo institucional nos Estados Unidos e da repercussão disso para os negros em termos de identidade, e para a sociedade, pode ser uma boa reflexão sobre política. 

Trailler do filme: 




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