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O elogio de Montaigne aos Índios Brasileiros



 Michel de Montaigne, em seu famoso ensaio “Dos Canibais”(1580), faz uma reflexão pioneira sobre os índios tupinambás (do Brasil, que pôde ver ao vivo), baseando-se em relatos de viajantes franceses que haviam estado no Brasil durante a França Antártica).  Montaigne teria se inspiradk em relatos como os de André Thevet e, principalmente, Jean de Léry (em sua obra "Viagem à Terra do Brasil").


Montaigne antes de inspirar o mundo com sua técnica íntima da escrita de casos filosoficos e históricoa com a publicação de seus famosos Ensaios, em 1580, ele inovou ao tentar ver pela primeira na e na Europa o traço do barbarismo, através de sua relativização do conceito de bárbaro para "falta de uso" de acordo com cada sociedade. Montaigne ouviu os relatos de três nativos brasileiros que ele conheceu em Ruão, na França através da tradução de intérpretes. 


Montaigne argumenta que era absurdo a noção de superioridade europeia que não via valor em nenhuma cultura que não fosse a sua. 


"Cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra", essa ideia dos usos e desusos já antecipando toda uma ideia de antropologia moderna. 


Foi o primeiro aristocrata da família completo. Seu avó havia feito fortuna como vendedor de carnes e ele conviveu com cálculos (pedras) a vida toda. Foi jurista e espécie 


Sua ideia de que “cada um chama de barbárie o que não é de seu uso” antecipa o princípio central do relativismo cultural (corrente moderna da antropologia), desenvolvido séculos depois por antropólogos como Franz Boas e Claude Lévi-Strauss. 


Em vez de condená-los por suas práticas de guerra e antropofagia, Montaigne propõe uma leitura relativista e humanista: questiona se os verdadeiros “bárbaros” seriam de fato os indígenas ou os europeus, que cometiam atrocidades em nome da civilização e da religião. 


Citando Ensaios, ele relativiza o comportamento dos canibais por ser dizer que o homem europeu, torturada, queimava igual. Apenas não fazia isso pra obter comida atráves disso. 


O ensaio completo você acha no Capítulo 31 do Livro I (I, 31) "d'Os Ensaios" (em francês, Essais), intitulado "Des Cannibales" (em português, "Dos Canibais").


"Cada qual chama de barbárie aquilo que não é de seu costume; parece que temos por verdadeira e perfeita razão o modelo e a forma das opiniões e costumes do país em que vivemos. Neles está sempre a perfeita religião, o perfeito governo, o perfeito uso de todas as coisas.”


Montaigne chega a comparar a prática da punição por heresia dizendo ser pior torturar um homem em vida. 


"Confesso que achei mais bárbaro entre nós torturar e dilacerar um corpo ainda vivo, queimá-lo lentamente em nome da religião, do que assá-lo e comê-lo depois de morto.”


Para ele, os tupinambás vivia de modo mais natural e próximo da virtude, sem as corrupções do mundo europeu. Esse texto se tornou um marco do pensamento moderno, antecipando ideias do relativismo cultural e da crítica etnocêntrica que só ganhariam força séculos depois.


Esse dias li uma matéria até boa sobre a França Antártica (estava em inglês), mas falava sobre oa administradorez portugueses como se tivesse sido eles que derrotaram os franceses. Não foi. Esse erro diz respeito ao apagamento histórico da importância de Arariboia e de Niterói em si. 


Arariboia, líder da tribo indígena dos Temiminós, desempenhou um papel crucial e decisivo na expulsão dos franceses da Baía de Guanabara, episódio conhecido como a França Antártica. Ele e sua tribo aliaram-se aos portugueses contra os franceses e seus aliados, os Tamoios, inimigos tradicionais dos Temiminós. 


Aliança com os Portugueses: Após serem expulsos da Ilha de Paranapuã (atual Ilha do Governador) pelos Tamoios, Arariboia e seu povo refugiaram-se no Espírito Santo, onde se aliaram aos portugueses e foram catequizados. Quando Portugal organizou expedições para retomar a Guanabara, buscou o apoio dos Temiminós.


Arariboia liderou seus guerreiros nas batalhas decisivas. Sua participação foi fundamental na expedição de Estácio de Sá, que resultou na fundação da cidade do Rio de Janeiro em 1565, e, posteriormente, na vitória final em 1567.

 Em 1567, Arariboia foi o primeiro a enfrentar o francês em Uruçumirim (atual Glória), usando uma tocha para explodir o paiol de pólvora, o que abriu caminho para o ataque português e garantiu a vitória. Como recompensa por sua lealdade e bravura, Arariboia foi batizado (adotando o nome Martim Afonso de Souza e recebeu honrarias, incluindo o hábito da Ordem de Cristo, uma pensão e terras em sesmaria na "banda d'além, ou banda oriental" da Baía de Guanabara. Foi nesse local que ele fundou a aldeia de São Lourenço dos Índios em 1573, que mais tarde se tornaria a cidade de Niterói. 


A tribo de Arariboia era do tronco tupi, um dos mais tradicionais e sediados ou apressados na área que hoje corresponde ao Espírito Santos. Depois de anos de expulsão e rixa com os Tamoios, viu enfim a oportunidade de ser tradicional e ganhar terras que na época ninguém queria. 


Até hoje, Niterói é a primeira (e talvez única) cidade brasileira oficialmente fundada por um índio. Tudo porque era um índio que não gostava de francês. Digamos que Arariboia não ia comprar shampoo na farmácia Tamoio (nome da tribo aliada aos franceses que Arariboia expulsou). 


Brincadeiras a parte, podemos dizer que o projeto deu certo e nossa cidade, Niterói é a cidade com maior renda per capita de todo Estado do Rio de Janeiro. 


Já no genial Montaigne, vemos um autor que primeiro conseguiu ir além do debate bom ou mau, substituindo sua crítica na questão da visão sobre o outro diferente estar em nós nos sentirmos superiores e paladinos da verdade. 


O homem branco que chegou aqui nada sabia da terra e das ervas. O nativo nada sabia sobre forja ou criação de gado ou galinha, com raras exceções na região amazônica, por exemplo. Os lançados adquiriram vários hábitos indígenas e também trocaram seus saberes. 



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