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Os Vampiros (1915): O nascimento do "seriado" no Cinema


Lançado em 1915, Os Vampiros (Les Vampires), de Louis Feuillade, é um dos marcos mais importantes do cinema mudo francês. A trama acompanha o jornalista Philippe e seu assistente Mazamette em sua luta contra uma misteriosa organização criminosa, chamada “Os Vampiros”, liderada pela icônica Irma Vep, interpretada por Musidora, cuja presença magnética e sensual redefiniu a figura feminina no cinema 

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Produzido pela Gaumont durante a Primeira Guerra Mundial, o filme se destaca não apenas por sua ousadia narrativa e estética, mas por inaugurar uma forma moderna de acompanhar o cinema: o formato seriado, com episódios curtos lançados em sequência, prendendo o público semana após semana.


Vestida com um colante preto justo, Irma tornou-se uma espécie de “anti-heroína”, uma fusão de charme e ameaça que anteciparia as femmes fatales do noir décadas depois.

Apesar do título sugerir um filme de terror, Os Vampiros não trata de criaturas sobrenaturais necessariamente, mas de uma rede de criminosos que se move pelas sombras da Paris moderna. Feuillade cria um retrato ambíguo da metrópole, um espaço de fascínio e perigo, onde a fronteira entre o moral e o criminoso se dissolve. 


Essa atmosfera de paranoia urbana reflete, em parte, o clima de incerteza da França durante a guerra.

Pôster do filme

O estilo de Feuillade é curioso: evita cortes bruscos e movimentos de câmera elaborados, preferindo planos longos e fixos, onde a ação se desenrola quase como num palco teatral, algo que era comum à época como em Melies


Entretanto, essa simplicidade é apenas aparente. Dentro de cada quadro há uma mise-en-scène meticulosamente construída, cheia de detalhes, portas secretas, fugas, disfarces e truques que antecipam o cinema de espionagem. 


É nesse equilíbrio entre teatralidade e realismo que o filme revela sua força, uma vez Feuillade acreditava que o mistério nascia mais do olhar atento do espectador do que de efeitos artificiais.

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Além de seu valor técnico, Os Vampiros foi uma obra que moldou a cultura popular. Sua influência pode ser rastreada em cineastas como Fritz Lang (Dr. Mabuse), Alfred Hitchcock, e até em movimentos como o surrealismo francês (Buñel), que via na figura de Irma Vep um símbolo de libertação e desejo. Décadas depois, Olivier Assayas homenagearia  Irma Vep (1996), revisitando o mito sob uma ótica mais moderna.

Tom Gunning argumenta que filmes como Les Vampires se inscrevem naquilo que ele chamou de “cinema of attractions” (uma gramática do espetáculo/mostração que precede e convive com a narrativa clássica). Gunning usa esse enquadramento para mostrar como o seriado de Feuillade alterna espetáculo, choque e apelo visual com trechos narrativos longos.


David Bordwell em "La Nouvelle Mission de Feuillade; or, What Was Mise-en-Scène?" analisa o estilo de mise-en-scène de Feuillade, defendendo que as escolhas formais de Les Vampires (planos longos, composição “teatral”, certa economia de montagem) são uma poética deliberada e não “inepta cinematografia”. Bordwell explora como Feuillade organiza a cena para produzir surpresa e ambiguidade narrativa. 

Vicki Callahan, no livro Zones of Anxiety: Movement, Musidora, and the Crime Serials of Louis Feuillade, oferece um estudo focado em Musidora e nas serialidades criminais de Feuillade. Ela investiga mobilidade, corpo e género, e mostra como a performance de Musidora (Irma Vep) articula ansiedades sobre a cidade moderna e a figura feminina. 

Richard Abel, em French Cinema: The First Wave, 1915–1929, contextualiza Les Vampires na paisagem do cinema francês pós-1915, discutindo sua produção industrial, recepção popular e a reavaliação crítica posterior. Útil para quem precisa situar o seriado em termos de indústria e história cinematográfica. 

Annette Michelson e Jonathan Rosenbaum no Criterion (ensaios contemporâneos), colocam Les Vampires como obra-ponte: um entretenimento de massa que, com o tempo, passou a ser lido como um dos trabalhos mais inventivos e “modernos” do cinema mudo. A Criterion tem uma série de ensaios/curadorias sobre o filme que sintetiza esse ponto de vista para o público contemporâneo. 


Assistir a Os Vampiros hoje é mergulhar nas origens do cinema de gênero. É testemunhar a construção da narrativa seriada, do suspense, e da vilania carismática. Louis Feuillade não apenas criou um clássico, mas deu forma a um tipo de fascínio que atravessaria todo o século XX: o gosto pelo mistério que se renova a cada episódio, e a atração pelo lado obscuro da modernidade.

Curiosidades e bastidores


Os Vampiros foi filmado em plena Primeira Guerra Mundial, entre 1915 e 1916. Muitos membros da equipe estavam sob risco de convocação militar, o que dificultou as filmagens.


A atriz Musidora, intérprete de Irma Vep, tornou-se um ícone cultural na França. O nome da personagem é um anagrama de “vampire”, e simbolizava a mulher moderna, livre e enigmática.


Louis Feuillade produziu o seriado com recursos modestos, gravando cenas em locações reais de Paris, uma ousadia para a época, que deu verossimilhança e dinamismo à trama.

O sucesso foi imenso: multidões se reuniam nos cinemas para assistir aos novos episódios, e a imprensa chegou a criticar a obra por “glamourizar o crime”.


O filme influenciou diretamente clássicos posteriores como Dr. Mabuse, o Jogador (1922), de Fritz Lang, e inspirou até mesmo o herói Batman (principalmente na estética) e outras narrativas de vigilantes urbanos.


O cineasta Olivier Assayas prestou homenagem ao legado do seriado em Irma Vep (1996), que revisita a figura de Musidora e discute o próprio ato de filmar.


Grande parte do seriado sobreviveu graças aos esforços da Cinémathèque Française, que restaurou os episódios nos anos 1990, garantindo sua preservação histórica.


Assista o filme completo (legendado): 


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