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Caramelo (2025): Um olhar doce e amargo sobre o Brasil atual



A história começa com uma caixa sendo colocada no meio da rua. Dela sai um pequeno cachorrinho de cor amarelada, o típico cachorro "vira-latas" brasileiro. Vemos o cachorro crescer nas ruas, eventualmente roubando comida para sobreviver. Em paralelo, conhecemos Pedro (Rafael Vitti), um chef de cozinha sobrecarregado e desvalorizado em seu trabalho. Um dia, enquanto a crítica culinária está em seu restaurante, Caramelo invade a cozinha e come o prato principal que seria servido, o que na verdade serve como uma oportunidade para Pedro demonstrar suas habilidades de cozinha. Assim, Pedro adota o cachorro e o nomeia Caramelo, mas um diagnóstico inesperado muda completamente seus planos

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Caramelo é um filme difícil de analisar. Isso pelo fato de ser um filme extremamente emotivo, que dificulta um julgamento mais técnico da produção. Inicialmente, o filme se apresenta como uma comédia leve sobre um cachorro de rua arteiro. E sendo bem sincero, eu acredito que se fosse apenas uma comédia qualquer teria sido melhor.

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O problema do filme vêm com questão da doença de Pedro. Ele não sabia que tinha uma doença e então conheceu Caramelo e isso mudou sua forma de ver o mundo (como a maioria das sinopses da internet estão descrevendo o filme). Na verdade, ele só descore que está com um tumor no cérebro pelo fato de Caramelo ficar constantemente cheirando e lambendo sua cabeça. Isso somado a suas fortes dores de cabeça, é claro. 


Assim, o filme que se apresenta nos primeiros minutos como uma comédia leve sobre um cachorro de rua, ganha um desdobramento emocional que não combina muito bem com o início do filme. Há uma grande carga de dramaticidade que se afasta da comédia e vai mais para o drama. O Caramelo perde um pouco o seu status de protagonista do inicio do filme, deixando o foco da trama agora para Pedro. E confesso que isso me deixou bastante triste ao assistir o filme. 


Entretanto, refletindo um pouco sobre o filme, cheguei a uma conclusão que muitos podem não captar ou concordar sobre Caramelo: O filme é sobre as diferenças de classe no Brasil de 2025. Prestem atenção: Caramelo não tem família, vive na pobreza e lida com humor com a adversidade. Enquanto Pedro, é um jovem branco, com formação e que busca ser melhor reconhecido, mas está doente. Ou seja, enquanto Caramelo representa o popular, as pessoas mais pobres do Brasil e sua perseverança, Pedro representa a classe média e os mais ricos do país, e que no caso está "doente", em crise. Ou seja, Pedro agora também é um "vira-latas", que deve aprender com os mais pobres como viver.

Olhando por esse ângulo, o filme representaria a ideia de uma conciliação de classes como solução, onde a ajuda mútua pode servir como solução para ambos. Isso explicaria inclusive a alta identificação das pessoas mais pobres com o cachorrinho, afinal quantos já tiveram um cão parecido em casa? 


Entretanto, apesar de não achar que se trata de um filme ruim, é um filme muito, muito triste. Você assistir um filme de cachorro, esperando uma comédia óbvia e o filme vem com uma carga de dramaticidade que é difícil de digerir. Reparem: abandono animal, fome, doença, desvalorização do trabalho, perda de amigos e futuro incerto. 

Isso nos dá um pouco a impressão de como está o Brasil de 2025: obviamente há esperança, justamente por nosso lado "vira-lata" parecer uma forma perseverante de lidar com os problemas do mundo atual, enquanto o modelo "padrão" de sucesso, principalmente profissional, parece moribundo. 


O filme apresenta uma estética bem interessante. Alguns takes, principalmente na cena inicial do restaurante, são muito bem enquadrados, em um padrão de filmes bem norte americanos. Entretanto, esse rigor técnico não acompanha o filme até o final. 


Assim, fica a leve impressão que o filme foi feito apenas pela palavra (tag) "caramelo" estar em alta. É uma expressão para se referir a cães vira-latas que se popularizou muito na internet nos últimos tempos, gerando uma série de memes com essa temática. Assim, a Netflix viu aí uma oportunidade de monetizar o interesse das pessoas pela pauta. Mas ficou parecendo que ninguém sabia o rumo para onde o filme deveria ir, apenas que o filme precisava ser feito pois ia gerar lucro com um popular "Soft Power" brasileiro. 


O filme vale, como disse, se for para tentar ver o Brasil de 2025. Há também uma forte mensagem de valorização da vida, dos bons momentos e dos direitos dos animais. Entretanto, o filme ficou entre a comédia e o drama, tornando confuso assistir um filme sobre o cachorrinho caramelo e se sentir triste ao terminar o filme. 

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