Lilo & Stitch: Trouble in Paradise (PS1) – Análise Completa do Jogo Esquecido Inspirado em Crash Bandicoot
Um dos games licenciados mais curiosos da era PS1, misturando plataforma 3D, fases com Lilo e Stitch e uma vibe claramente influenciada por Crash Bandicoot e Spyro. Será que vale a pena revisitar?
Lançado em 2002, Lilo & Stitch: Trouble in Paradise é um daqueles jogos licenciados que, mesmo sem grande marketing ou impacto na mídia da época, acabou marcando quem cresceu jogando no PlayStation 1. O jogo até que teve alguns trailers e publicidade da época, e se tornou um dos jogos essenciais do PS1, mas dificilmente vem a mente quando se pensa os mais marcantes do PS1.
Aproveitando o sucesso do filme lançado no mesmo ano, a Disney trouxe para os consoles um jogo de plataforma 3D com clara inspiração em títulos como Crash Bandicoot e Spyro the Dragon. O resultado? Um jogo divertido, com limitações técnicas, mas que carrega um charme especial.
É preciso lembrar que Mario 64, que saiu em 1996, impactou muitos os jogadores da época. Ter uma aventura de plataforma mas em 3D, era de explodir a cabeça na época. Isso serviu de inspiração para diversas franquias que viram no 3D de plataforma uma forma fácil de expandir. Eram poucos os jogos do gênero principalmente no PS1, o que deixava uma grande brecha para jogos licenciados usarem essa linguagem.
📺 Do cinema para o console
O filme Lilo & Stitch foi um dos acertos mais inesperados da Disney no início dos anos 2000. Com uma história emocional e personagens desajustados porém carismáticos, o longa fugia da estética clássica dos contos de fadas, focando em temas como família, abandono e aceitação — tudo isso com alienígenas e cultura havaiana. Foi um sucesso. Mas o jogo, apesar de seguir completamente os acontecimentos do filme, opta por seguir um caminho mais direto e lúdico que acontecem entre os acontecimentos do filme a maior parte das vezes.
Aqui é preciso fazer um destaque. Se o jogo saiu no mesmo ano que o filme, isso quer dizer que apesar de a equipe que desenvolveu o jogo ter acesso a trama do filme, na maior parte da produção eles não tinha acesso nem ao filme e nem mesmo ao roteiro completo do filme. Nisso outro detalhe pode ser notado. Muitos dos inimigos do jogo não aparecem no filme, foram criados exclusivamente para o jogo. Isso faz com que muitas das vezes os inimigos pareçam genéricos, com movimentos e estética mais voltados para serem um desafio aquele momento da fase e não tão focado a lore da animação, mas uma minoria dos inimigos é inspirada diretamente no filme, como guardas espaciais, o Jumba e o Gantu. Pickle sumiu do jogo.
Essa falta de fidelidade a lore da franquia é notada também nos movimentos de combate de Lilo e Stitch. Em Stitch tem dois movimentos de ataque: o giro, que foi tirado direto de Crash, e o arroto, que solta uma fumacinha verde. Se coletar ícones de café o suficiente o Stitch libera um modo rage, onde ele vira uma bola e sai quicando e destruindo tudo que toca. Já Lilo tem dois movimentos de ataque: uma bundada estilo Mario e um ataque onde usa uma colher utilizada em um ritual de vudu. Nenhum desses ataques são canônicos, já que Stitch atira com armas e luta com socos e usando sua super força para arremessar objetos no filme. Já Lilo no filme não luta em nenhuma cena, e só é referenciado em algumas cenas do filme que Lilo faz vudu, algo que completamente esquecido nos outros filmes e de toda franquia Lilo e Stitch depois, pois afinal vudu é uma prática oriunda do Haiti e não do Havaí. E os caras vão e pegam isso justamente para ser o movimento de ataque dela no jogo.
Isso foi concertado nos jogos de GBA, Lilo e Stitch 1 e 2, onde as fases de Stitch focam em tiro estilo run and gun, meio Metal Slug, es fases de Lilo em Stealth e puzzles. Entretanto, são jogos em 2d e para um portátil, com bem menos proporção do que o jogo em 3D para o PS1, que acabou focando em andar para frente e na porrada pura e simples.
Ao invés de adaptar fielmente o enredo do filme, Trouble in Paradise propõe pequenas aventuras paralelas com Lilo e Stitch, em fases independentes, quase como episódios interativos, que aconteceriam ao longo do filme. Entretanto, ao longo do jogo cenas importantes do filme são exibidas para se ter noção em qual momento do filme estamos. Essas são cenas em FMV pré renderizadas vindas direto do filme e não renderizadas com o gráfico do jogo.
A narrativa é leve e serve apenas de pano de fundo para a jogabilidade. Nada muito profundo, mas eficiente. Tudo começa depois que Stitch cai na terra, depois de uma fuga alucinante da policia intergalática, é atropelado por um caminhão, é confundido com um cachorro e colocado para adoção e só então conhece Lilo. É aqui exatamente que o jogo começa, quando Nani sai para trabalhar e Lilo e Stitch decidem passear pela ilha mas passam a encontrar alienigenas por todo lado. Em alguns momentos a narrativa encontra a do filme dentro dessa aventura ao longo das fases que, em seu level design assim como no mapa do jogo, simulam locais da ilha que aparecem no filme.
🕹️ Jogabilidade e estrutura
O jogo é dividido entre fases da Lilo e do Stitch, onde cada um deveria ter estilos diferentes de jogabilidade, mas isso não acontece, é tudo igual, com a diferença do especial de Stitch que é único.
A câmera é fixa e em terceira pessoal, como Crash, o que funciona bem na maioria das vezes, mas pode atrapalhar em trechos com pulos milimetricamente calculados na precisão das plataformas. Mas em algumas fases ela fica em 2D e é estramente melhor.
O jogo possui colecionáveis que são opcionais para o zeramento mas que precisam ser pegos para completar o 100%. Alguns cenários com múltiplos caminhos e até alguns desafios escondidos que estendem a duração da campanha que, de forma geral, é curta.
O jogo também intercala algumas fases de corrida, que basicamente são os chefões do jogo. O que acontece: como o sistema de combate é horrível, os chefes não podiam ser difíceis. Assim, os chefes são basicamente correr mais rápido que seu adversário, sendo alguns simples como correr contra a bicicleta da rival da Lilo, ou mais complexas como a corrida final contra Gantu, que atira em você enquanto corre. Mas basicamente se resume a isso. E quando seria o momento das lutas em si, entram as cutscenes do filme. Isso faz dele um jogo excelente para speedruns, uma vez que dá para rushar todo o jogo, ou seja, sair correndo sem completar nem um objetivo.
Existem outro chefes, que são tótens de pedra que bloqueiam os caminhos de algumas fases. Para derrotá-los, basta bater em suas costas, e são todos iguais e não canônicos para a franquia, só chatos mesmo.

Os gráficos são simples, mas coloridos, com cenários havaianos bonitos e personagens bem animados para o padrão do PS1. Mas a estética deles em si soa meio datada e um pouco grotesca para hoje em dia. O Stitch até ficou bonitinho, mas a Lilo e quase todos os humanos ficaram bem estranhos, mas nada que não seja comum em jogos 3D do PS1.
A trilha sonora, por outro lado, é repetitiva e pouco memorável. As trilhas das fases são super curtas e ficam so se repetindo, apesar de algumas serem levemente inspiradas em Elvis.
Influências claras: Crash Bandicoot e companhia
O jogo bebe diretamente da fonte de Crash Bandicoot — desde o estilo de fase com movimentação em “corredores” até os pulos cronometrados e os inimigos posicionados como obstáculos fixos. As fases da Lilo, com puzzles e leve backtracking, lembram um pouco os trechos mais calmos de Spyro.
Essa mistura funciona bem e mostra que o time de desenvolvimento (Blitz Games) soube se inspirar sem copiar descaradamente. Ainda assim, o jogo não alcança a qualidade técnica ou criativa de suas influências. Ele é mais limitado, tanto em design quanto em desafio,mas principalmente criatividade.
Público-alvo e proposta
Diferente do que se vê hoje com jogos infantis genéricos, Lilo & Stitch: Trouble in Paradise tentou entregar algo um pouco mais elaborado para a época. Ele não trata o público como bobo e traz uma curva de dificuldade até respeitável em fases mais avançadas.
Ao mesmo tempo, o jogo nunca perde o tom cartunesco e acessível, o que o torna ideal para crianças e também para adultos nostálgicos que viveram a era PS1, ou de Lilo e Stitch, e querem revisitar um título pouco lembrado.
🎯 Vale a pena jogar hoje?
Na era do PS1, onde jogos licenciados variavam entre o sofrível e o excelente, Trouble in Paradise se posiciona no meio-termo: é competente, divertido e carismático — mas sem grandes ambições.
Conclusão e nota final
Lilo & Stitch: Trouble in Paradise é um jogo honesto. Ele não tenta reinventar nada, mas executa bem aquilo que se propõe: fases variadas, jogabilidade acessível e uma boa dose de carisma. Falta profundidade e polimento, mas sobra personalidade. Uma aventura leve, divertida e cheia de nostalgia para fãs da Disney e da era de ouro do PS1.
Nota final: 7.0/10
Confira o registro da minha gameplay completa zerando o jogo:
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