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Marielle: O Documentário (2020): Análise da série documental do Globoplay


O documentário foi lançado em 2020, em memória dois anos depois da morte da vereadora Marielle Franco, ocorrida dia 14 de março de 2018, ano da eleição de Jair Bolsonaro. A série documental é dividida em 6 episódios, focado em expor a vida pessoal da vereadora e sua trajetória até o terrível crime  


Clique aqui para saber onde assistir o documentário


Sobre a morte da Marielle acredito que todos os humanistas do Rio pensam a mesma coisa, refletem que não podem falar pela óbvia falta de democracia no Rio de Janeiro (reflexo de décadas de abandono e direita na gerência do estado). Mesmo não possuindo a mesma ideologia exatamente que ela, Marielle era alguém do campo democrático, alguém do campo acadêmico, alguém que merecia muito mais respeito do que recebeu da sociedade carioca.


É muito triste a situação do nosso estado, a antiga capital federal por tantos anos e com tanta tradição no jogo da política, no período monárquico e no período republicano, ser um estado onde é impossível fazer qualquer tipo de política democrática ou popular sem se tornar alvo de perseguição. 


É assustador como algumas pessoas mesmo da esfera política tem o poder de se manter, como o governador Cláudio Castro e Bolsonaro que já foram para o palanque com os assassinos de Marielle. Eles atualmente mandam completamente na Alerj, possuem relações na prefeitura do Rio e na Câmara Municpal do Rio, além do Estado. 


Enquanto escrevo este artigo, um canal de televisão possui como comentarista, um delegado filiado ao PL que tenta parecer "neutro" e ver os "dois lados" da denúncia, pois um dos acusados tem foro. Isso é o Rio de Janeiro, um estado onde todos nos sentimos sem poder e amedrontados pela nossa classe política, midiática e institucional.  


Até mesmo o Gilmar Mendes falou que o Rio de Janeiro precisa de atenção, principalmente sobre o papel das polícias no Brasil e em especial no Rio de Janeiro (que sofreu uma intervenção militar recente durante a presidência de Michel Temer), junto com Braga Netto, o mesmo da tentativa de golpe de 08 de janeiro, mas que não deu. 


Agora, acredito que o personagem parece do filme "Psicose" dessa trama é os ex-chefe da Polícia. As imagens dele assumindo e falando em combater a corrupção, sendo defendido quando foi pela primeiro vez investigado por fraude em licitação em 2018 e na sua posse. Ou palestra falando sobre "Polícia Democrática". Um dado interessante é que os últimos 5 governadores do Rio de Janeiro já foram presos, outro dado é que os últimos 4 chefes da Polícia Civil foram presos, Álvaro Lins, Ricardo Hallak, Allan Turnowski e Rivaldo Barbosa, agora é uma informação que não precisa de nenhuma adjetivação complementar. 


Não é preciso falar da família Brazão, basta dar um Google. Todos sabem quem são e do histórico absurdo de ataque a deputadas do sexo feminino, mas com Marielle o crime foi cometido como uma espécie de acordo de silêncio durante a intervenção militar coordenada por Walter Braga Netto, o mesmo que nomeou Rivaldo Barbosa para a chefia da Polícia Civil, efetivado apenas 1 dia antes do assassinato da vereadora, Barbosa que era professor universitário e coordenador do curso de direito da faculdade Estácio de Sá, e Braga Netto que apoio 8 de janeiro.


Refletimos sobre os poderes e jogos da política do Rio de Janeiro, para quem acompanha de perto é nítido o quanto todo arquipélago social do Rio de Janeiro legitimou e legitima a ideia de passar por cima dos direitos humanos e da própria democracia. 


Marielle teve uma história louvável, é claro, mas sua associação com um partido pequeno e fraco no cenário do Rio de Janeiro (apesar das boas intenções), e que entregou pautas que eram perigosas para a vereadora logo em seu primeiro ano de casa, tornando o confronto com esse poder eminente. Marielle tinha sido bolsista integral da PUC (Pontifícia Universidade Católica), e virou um referência nas políticas de conselho comunidades, onde ele fez uma militância ao conhecer pelo pré-vestibular popular nas comunidades as esferas políticas que ela se associou. 


Veio de uma família de mulheres fortes, com mãe nordestina e de mulheres negras, sabia muito bem dos desafios entre a comunidade e a sociedade civil entre as dificuldades e as disputas por direitos. Queria ela uma favela com inserção mais do que o básico, ou o militar, queria ela cursos e atividades reais que pudessem aumentar a inserção das mulheres negras no mercado de trabalho. Sempre lembro dela falando nesse documentário que queria que as pessoas da favela pudessem ser fotógrafos. Essa é a mulher que escolheram como inimiga para matar? É triste.


Parece, ou parece a primeira reação para quem conhece o quanto ruim realmente é o senso comum daqui,  falamos sabendo que para o Rio de Janeiro não tem mais jeito, estamos entregues a lama, a corrupção ao poder paralelo (vinculado ao estado) e não vai mudar tão cedo. Infelizmente, vimos um dos assassinos que planejou e recebeu alta propina para isso (inclusive lavando esse dinheiro através de sua esposa, no caso do delegado). 


O motivo da morte da vereadora? Questões de território e questões fundiárias  segundo o registro oficial, questões ideológicas se pensarmos em um quadro mais amplo. A possível expansão do eleitorado da vereadora e sua popularidade crescente mesmo dentro do partido dela, que inicialmente se colocou contra a federalização das investigações por confiar na polícia.


No dia 14 de março de 2018, quando saía de um evento exatamente sobre a proteção de direitos de vida para a mulher negra, na saída do Estácio de Sá. Marielle havia sido eleita e havia conversas de que ela seria a candidata a governadora nos bastidores do Psol (Partido do Socialismo e Liberdade), hoje sabemos, haviam três homens (atiradores), Adriano da Nóbrega (morto na Bahia e que segundo a imprensa tinha elos com Bolsonaro), Élcio Queiróz, e Ronnie Lessa, todos antigos policiais ou agentes do estado, que agora relataram os verdadeiros perpetradores. Soubemos o detalhe de que o único combinado entre as autoridades era dela não ser assassinada na volta de eventos na Câmara. 


Marielle nasceu na Maré, 27 de julho de 1979 e morreu depois de sair da Lapa, dia 14 de março de 2018. O crime que chocou o Brasil e o mundo, tornando Marielle um mártir da pauta dos direitos humanos, mas o que é um mártir? e porque isso interessou para tantos ? É uma pergunta para proteger futuramente as pessoas para não ser usadas por algum fim. Pude perceber como as imagens de Marielle era perfeitas, carismáticas e como dava dor na alma pensar na morte dela e de seu motorista Anderson Gomes. 


A série do Globoplay tem seis episódios e conta um pouco da vida da vereadora, que teve apenas um ano de casa legislativa antes de ser morte.


1. Maré 27 de julho de 1979 - Lapa 14 de março de 2018


O crime que chocou o Brasil e o mundo. Quem são Marielle e Anderson e as famílias que eles deixaram? A sobrevivente, Fernanda Chaves, conta como foi o atentado, para ela que saiu do Brasil depois do atentado.


Multidão - Já no dia seguinte as mortes de Marielle e Anderson ganham repercussão mundial. As primeiras investigações revelam que as balas do crime foram desviadas da Polícia Federal, já mostrando a obstrução nas investigações da vereadora.


2. Multidão


Já no dia seguinte as mortes de Marielle e Anderson ganham repercussão mundial. As primeiras investigações revelam que as balas do crime foram desviadas da Polícia Federal.


Linhas - A investigação se aprofunda na identificação do carro usado pelos assassinos. As pistas seguidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro parecem acabar sempre em becos sem saída.


3. Linhas

A investigação se aprofunda na identificação do carro usado pelos assassinos. As pistas seguidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro parecem acabar sempre em becos sem saída.


O Suspeito - Surge o primeiro suspeito de ser o mandante. Fica claro que a milícia está por trás do crime. Os prováveis executores são presos em uma operação da polícia.


4. O Suspeito

Surge o primeiro suspeito de ser o mandante. Fica claro que a milícia está por trás do crime. Os prováveis executores são presos em uma operação da polícia.


A Prisão - A arma teria sido jogada no mar. Ronnie Lessa, suspeito de ser o atirador, fala à Justiça. A vida da viúva de Marielle vira de ponta cabeça. Um novo possível mandante é revelado.

5. A Prisão

A arma teria sido jogada no mar. Ronnie Lessa, suspeito de ser o atirador, fala à Justiça. A vida da viúva de Marielle vira de ponta cabeça. Um novo possível mandante é revelado.


Perguntas - A busca por Justiça e pela identificação do mandante do assassinato segue dois anos depois do crime. A pergunta continua: Quem mandou matar Marielle e Anderson?

6. Perguntas

A busca por Justiça e pela identificação do mandante do assassinato segue dois anos depois do crime. A pergunta continua: Quem mandou matar Marielle e Anderson? Mas agora acredito para adicionar, que ninguém estava preparado para as repercussões reais dessa pergunta enquanto um país que já viveu uma ditadura militar que tortura e matava igual alguns poderes políticos ainda o fazem, nos questionamos enquanto evolução e sociedade. 


O documentário é bom para apresentar quem é Marielle para quem não conhecia e mesmo para quem a conhecia pouco. Realmente dá transparência em ver que era um pessoa muito democrática. Ela parecia ser engraçada também, algo que muitas vezes não é permitido a uma mulher. Entretanto, o documentário, apesar de dar a pista dos caminhos que seguiu o crime e suas relações com a direita do Rio de Janeiro, ele já precisa de uma atualização, pois se havia envolvimento de membros da polícia, que estavam por trás da própria investigação (ao estilo Twin Peaks), parte do que se supunha em 2020 sobre o tom da trama já precisa ser reconsiderado pelas suas relações com o poder e governo do Estado do Rio. 




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