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Os 15 melhores livros sobre a História do Brasil


A História do Brasil é composta de vários eventos, casos e fontes que são escassos e não possuem ampla leitura hoje em dia. Essa lista é mais sobre os clássicos, misturados com alguns livros específicos de determinada época. 


Busquei fazer uma seleção de autores chave e um livro de cada apesar de ter muitos mais livros e outros importantes, acredito que esses são os que mais explicam os elementos típicos nacionais como um todo que fosse democrática com os diversos pensamentos sociais nacionais e que pudesse abordar cada livro parte e temporalidade importantes para o saber e ensino em história real ser uma discussão ampla e múltipla.


Na foto do artigo acima, a imagem de algumas edições de O Povo Brasileiro, de Darci Ribeiro. Coloco os livros em ordem de interesse, apesar de todos tratarem de uma forma ou de outra de temas necessários para o saber nacional e cidadania e direitos em geral. 



1 )Raízes do Brasil Sérgio Buarque de Holanda (1936)





O melhor intérprete do Brasil não tem como negar é ele, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, (o pai do Chico Buarque e da Miúcha). Quando ele escreveu seu livro "Raízes" buscava por explicar as diferenças dos tipos de colonização, a história da colonização em detalhes e do mercado da escravidão que produzia ciclos de imigração forçada (escravidão) que fizeram do Brasil um país de vários povos e etnias. Em outros livros, como Visão do Paraíso, temos a ênfase nessa questão da colonização e a ideia dos lançados de se estabelecer apenas em curto prazo. 


Vemos aqui também a explicação institucional (como no trabalho de Lillia S.) para as origens das desigualdades educacionais e da censura no Brasil, mostrando como na América espanhola houve mais universidades e antes do que os centros de estudos, o que faz com que não nos possuamos tradição na educação, por conta dos anos e anos de censura e proibição. 


O melhor intérprete do Brasil, formado da tradição ensaísta alemã, levava a influência do positivismo apenas em seu formato super didático. Sérgio Buarque queria explicar o Brasil e fez ao uso da ideia weberiana do tipo ideal. O tipo ideal seria aquele ser médio que se destaca por representar o comportamento coletivo. A ideia é que a cordialidade é uma espécie de arma, uma forma de resistência ao processo de opressão que busca inverter hierarquias (usufruir de benefícios pessoais).


O homem cordial não é exatamente sobre ser legal ou comunicativo, é mais uma metáfora do lócus dado a colonização, os lançados que foram morar próximo ao mar não aprofundaram suas relações planejando a longo prazo. A ideia da cordialidade reside na versão brasileira do que Weber teria feito na Ética do Protestante e o Espírito do Capitalismo ao associar esse tipo ideal do povo alemão da época. 


A importância de Raízes (Roots) para a historiografia e para o Brasil como um todo é imensa. Sérgio Buarque reúne os principais debates sobre a constituição do que é ser brasileiro, a diferença entre o ladrilhador e o semeador, a lógica e eixo da colonização, a herança maldita do modo "plantantion" e as dinâmicas de carisma e dominação social produzidas na colonização que moldaram um "perfil de homem nacional" na ideia do "homem cordial". 


2) Casa Grande e Senzala Gilberto Freyre (1933) 



Um livro que é rejeitado atualmente por ampla maioria dos grupos universitários, foi o primeiro livro a colocar a cultura negra como o principal elemento do típico nacional (como elemento positivo), mudando o polo dos estudos sobre progresso e evolução que falavam na população negra como problema, Gilberto Freyre, apesar do seu papel como "vendedor" da colonização portuguesa, foi o primeiro autor a inovar em estilo, fontes e justificativa de problema e solução.


Muitos o acusam de esconder a violência do processo todo, mas temos que lembrar que Casa Grande e Senzala também tem um lado b que é o livro Sobrados e Mucambos (1936), que aborda a decadência da ideia do patriarcado brasileiro antigo.


3)  Formação Econômica do Brasil (1959) - Celso Furtado





O melhor livro de história e economia já produzidos no Brasil, o que Caio Prado tentou fazer Celso Furtado conseguiu, por assim dizer. Seu livro aborda uma teoria muito interessante, e desvenda porque a nação mais conservadora do mundo na época a Grã Bretanha começou a do nada defender a abolição da escravidão por influência do pensamento liberal de Adam Smith. Isso fez com que os ingleses produzissem uma rede de governo onde se aproveitavam das crises e conflitos locais para colocar sempre alguém "de sua confiança" no governo. 


Uma forma assim de manter a sua dominação; Falo sobre isso por perceber que a genialidade de Furtado está em analisar para além do discurso a intenção econômica do evento político ou histórico, vemos através da análise dos documentos de governança e das importações, vemos a ideia que caiu em desuso mas muito boa para explicar o Brasil através de seus ciclos clássicos de produção de monoculturas específicas, então é separado as temporalidades e as produções, o primeiro ciclo da cana-de açúcar, depois o ciclo das drogas do sertão, o ciclo das minas, e finalmente, o ciclo do café.


4) Formação do Brasil Contemporâneo (1942) - Caio Padro Jr.



Publicado pela importante editora Brasiliense, Caio Prado jr (o primeiro tradutor das ideias comunistas no Brasil, sendo o primeiro a traduzir Marx), faz uma análise materialista sobre os três séculos de colonização; Puxando o recorte para focar no Brasil Colônia. 


Um pouco mais aprimorado e menos partidário da causa do que quando falava em evolução política alguns anos antes.  Sua ideia principal do "sentido da colonização" serve para pensar a estrutura do edifício colonial e sua hierarquia internacional, digamos assim. 


5) Rebeliões da Senzala (2014) -  Clóvis Moura




Historiador e sociólogo, ele aborda de maneira um pouco diferente da maioria as revoltas e conflitos, onde o nosso Brasil estaria longe da tradição de pacifismo e comodismo e que na verdade, a brutalidade da história do Brasil é contada através da abordagem de todas as revoltas e revoluções contra o poder monárquico. 


Vemos a história de quilombos, rebeliões e guerrilhas e vemos uma refutação da tese do pacifismo do povo brasileiro. Foi publicado pela quinta vez, agora pela editora Anita Garibaldi.  É um clássico revisor da ideia de Freyre, mas não gosta muito da ideia do culturalismo pacifista.


6) O Tempo Saquarema (1986) - Ilmar. Mattos



Ganhando até mesmo o prêmio de literatura Jabuti, esse livro é necessário para entender a complexa estrutura partida do período do Primeiro Reinado;


Um livro necessário para entender as divisões políticas e partidárias na política fluminense  na época do império. O livro fala sobre as diferenças entre dois principais grupos, os Luzias e os Saquaremas, a esquerda e a direita na época em que tínhamos praticamente absolutismo monárquico, ainda tínhamos as divisões internas dos políticos e serve para entender como funciona o senado de uma monarquia parlamentar de faz de conta de funcionários públicos fantasmas e mal intencionados em geral. 


7) A Revolução de 1930 - Boris Fausto (1969)





Um dos meus livros favoritos de história do Brasil, praticamente o único que consegue fazer jus ao período getulista sem cair em clichês de análises. O livro de Boris Fausto conta a história das tendências políticas bem reais da época, ponderando as diferenças historiográficas em relação a história do Brasil que estavam sendo feitas bem nessa época. 


É para além de um livro que aborda a revolução de 1930, é um livro que busca ilustrar os lados políticos através da teoria e da ideologia, fazendo não somente a recapitulação dos fatos históricos, mas julgando o eixo ideológico que fez a mudança da república das espadas para o ciclo getulista, sendo honesto em relação aos inimigos políticos e as tendências políticas em geral. 


8) O Espetáculo das Raças - Lilia Schwarcz





Uma análise que diferente das análises cegas e ufanistas, presta atenção na história da máquina pública na época em que era o Rio de Janeiro a capital do Império do Brasil. A visão da história das instituições de poder e sua importância política. A autora sabe "passear" pela história do Rio de Janeiro e com seu livro vemos a trajetória da ciência e dos mais famosos cientistas, a história da criação da Fiocruz, da invenção das primeiras vacinas, em conjunto com a ideia dos "bota abaixo" dos cortiços. 


O Rio de Janeiro era meio moderno e bem arcaico, hoje é somente arcaico mesmo. Mas naquela época tinha todo esse glamour, o Rio de Janeiro era o centro do Brasil e chamava a atenção do mundo. A missão dos cientistas franceses tinha reunido diversas informações sobre a fauna e flora da mata atlântica que chegou a ser totalmente devastada e depois reflorestada. Muitos são os segredos institucionais do Rio de Janeiro, acompanhamos a história dos primeiros movimentos intelectuais, cientistas e instituições da capital do Brasil da época.


9) Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil (1963) Octávio Ianni 




Octávio Ianni, um grande sociólogo e pensador do Brasil, autor de diversos livros dissecando as teorias do populismo (como O Colapso do Populismo no Brasil). Nesse livro desenvolvimento social, nesse livro ele aborda exatamente o arquipélago das ciências sociais como um todo, a história dos grupos de pesquisa, responde o que aconteceu com aquela ideia do scholar ao estilo ISEB de pensamento social brasileiro. 


Como também discute o papel das universidades frente a profissionalização e a dificuldade da ideia educação formal junto aos trabalhadores rurais e manuais e as contradições do desenvolvimento industrial, a ascensão das classes médias urbanas e do populismo de direita ao estilo baby boomer.


10) A Interiorização da Metrópole (1972) - Maria Odila Leite da Silva Dias



Um livro mais do que necessário, de uma das orientanda de Sérgio Buarque, Maria Odila aborda o que seria as origens do interior da metrópole, ou seja, aborda toda a origem escravocrata do vale do paraíba e a origem do interior do Rio de Janeiro na época. Aborda as origens históricas da independência do Brasil, a tática de "ir para o interior" do território para fortalecer as fronteiras. Ela aborda sobre as origens contraditórias da independência e do liberalismo no Brasil e a clássica briga entre colônia e metrópole. A ideia de construir uma nação nos trópicos e a identidade atribuída a esse processo.


Com a vinda da família real, as fronteiras do lugar de colônia e metrópole se misturaram a ponto do movimento da Revolta do Porto liberal em Portugal era por conta da revolta do pretendo status do Brasil ser centro na época, uma lógica que foi invertida pela influência de Napoleão e o Bloqueio Continental que fez a família real vir ao Brasil. 


11) História Da História Do Brasil - José Honório Rodrigues



Nesse livro, a teoria da história e a história do Brasil são uma coisa só, vemos desde o início a ideia do primeiro ciclo de literatura com as cartas escritas pelos viajantes com descrição dos achados em novos territórios do Novo Mundo. Vemos questões como o reacionarismo de Oliveira Vianna. Ele falava nesse livro no prefácio sobre tentar abordar as linhas monarquistas, direitistas e até mesmo integralistas com que as elites dominantes e não patriotas escreveram a história do Brasil. Simplesmente o melhor historiador não ensaístas (do tipo profissional historiador mesmo, com método).  


José Honório Rodrigues também aborda eventos como seus livros sobre as invasões e conquista dos holandeses no Brasil, com a invasão a Bahia em 1624-25 e a conquista de Pernambuco, passando pelo período de Maurício Nassau até a expulsão dos judeus pela inquisição brasileira, que foram de Pernambuco para NY,  e houve a restauração portuguesa em 1645-54. 



12)O Iluminismo jurídico-penal luso-brasileiro: obediência e submissão (2001) - Gislene Neder






Livro da série Coleção Pensamento Criminológico, nele, Neder analisa a influência da erudição na história dos magistrados nos dispositivos de origem ibérica. Neder constitui o exemplo das letras no sentido de história das ideias políticas no mundo moderno e no direito brasileiro, que flutuaria em um pêndulo entre obediência e submissão. Há um estudo profundo sobre essa passagem do século XVIII para o XIX em Portugal e a progressiva influência da recente república portuguesa no arcabouço legal brasileiro. 


13)História Social da criança abandonada (1998) - Maria Luiza Marcílio





O livro História Social da Criança Abandonada dividi-se em três partes, obedecendo assim a uma arquitetura cara à autora: o desenvolvimento da narrativa histórica do geral para o particular. Segundo Maria Luiza Marcílio, é possível detectar a permanência, durante vários séculos, de uma preocupação com a proteção da criança "sem-família". No que diz respeito a tal proteção, é importante sublinhar que, na Antigüidade, a confluência do estoicismo com o cristianismo diferenciou Roma das demais sociedades. Durante a Alta Idade Média, a preocupação com o destino dos enjeitados foi institucionalizada: os mosteiros, procurando erradicar o infanticídio, aceitaram os oblatas, ou seja, enjeitados que deviam seguir a carreira sacerdotal. 


No século XII, a emergência da crença no Purgatório e de sua versão mirim, o Limbo, expandiu para o restante da comunidade cristão dever de proteger os meninos e as meninas desvalidos. Não por acaso, esse período também foi caracterizado pelo ressurgimento da vida urbana no Ocidente, fenômeno que por diversas razões foi acompanhado pelo aumento do nível de pobreza na sociedade. A preocupação em garantir o sacramento do batismo para todos os recém-nascidos - protegendo-os dessa forma do Limbo - somada ao temor frente ao risco do reaparecimento do infanticídio nas cidades, levaram à fundação de uma forma de assistência infantil que conheceu, entre os séculos XIII e XIX, um enorme sucesso: a Roda dos Expostos (uma prática datada do papado de Inocêncio III).

O recorte dela no Brasil falam de dados super interessantes, como o índice de abandono enorme nas certidões de nascimento. Na Bahia, no século XVIII, chegou a ter 80% de crianças sem pai na certidão de nascimento. Mostrando a ligação entre o surgimento de aparelhos institucionais que já serviam como muleta para uma forma de exploração social que reproduzia a exploração colonial clássica. 

14) O Povo Brasileiro (1995) Darcy Ribeiro






A  primeira edição desse livro foi de 1995, Darcy Ribeiro queria fazer um livro que reunisse sua visão e forma de pensamento sobre o Brasil. Afirma que escrever este livro "foi o maior desafio" que se propôs. Demorou 30 anos para escrevê-lo. Segundo Darcy, o livro unifica uma teoria de base empírica de classes sociais no brasil e na américa latina; uma tipologia das formas de exercício do poder e de militância política; e uma teoria de cultura. 


Foi o livro que Darci Ribeiro escreveu esse livro por último, ele queria abordar em complexidade e exposição a história de todas as raças e cantos do território, é um livro da área da antropologia, mas que pode ser usado como guia de história do Brasil por esse caráter explicativo e didático típicos de Darci Ribeiro. No quarto capítulo do livro, o autor apresenta em subseções cinco "brasis" distintos: O Brasil sertanejo; O Brasil crioulo; O Brasil caboclo; Brasil caipira; Brasil sulino – açoriano, gaúcho e gringo.


15) Ideologia da Cultura Brasileira (1933-1974): pontos de partida para uma revisão histórica (1985)- Carlos Guilherme Mota




Um clássico publicado pela editora Ática, nos anos 1970, feito para debater história da historiografia e as diferenças de ideologia dependendo da fase história da história do Brasil. O recorte desse autor é de 1933 até 1974. Abordando contribuições gerais, como as da história da imprensa, com Nelson Werneck Sodré. 


Carlos Guilherme Mota era professor de história moderna, e esse livros são considerados marcos para a evolução dos estudos de pensamento social brasileiro. Livro conhecido como "um clássico do contra" que discute de economia a literatura com fluência de alguém que já leu tudo e agora quer resumir de maneira bem simples. Uma verdadeira viagem pelo pensamento político e ideológico no século XX e no Brasil.

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