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Unbreakable Kimmy Schmidt: Análise e curiosidades de todas as temporadas e do filme das aventuras de uma sobrevivente de um bunker

Kimmy (Ellie Kemper), uma garota de 29 anos, viveu quase toda a vida em um bunker após ser sequestrada por um reverendo fundamentalista . Ela e outras 3 mulheres ficaram presas por 15 anos debaixo da terra, fazendo a imprensa as chamarem de "mulheres toupeira". Agora cabe a Kimmy recomeçar a sua vida na cidade de Nova York. A série foi aclamada pela crítica, com o crítico Scott Meslow chamando-a de "a primeira grande comédia da era do streaming"



A "Inquebrantável Kimmy" é uma série aqui para agradar todos, mas principalmente, nós os nerds. Para quem viu 30 Rock e gostou muito como eu,  ficou a impressão de uma série para os órfãos da série. Houve muitos cruzamentos de piadas e situações usadas já na série clássica, e para quem sabe do estilo de humor, vai um spoiler, não podemos pedir continuidade de Kimmy, já que a continuidade atrapalharia o humor, mudando o gênero da série. Embaixo vemos o ator do Keneth Parcel (de 30 Rock).





Kimmy trouxe um universo de série, músicas próprias, livro e até um "filme interativo" de 2020 imaginando o agora em 2023, para explicar o universo e as continuidades sentimentais da série (praticamente nenhuma para a própria Kimmy), mas mesmo assim muita coisa ficou em aberto no fim. Kimmy e Titus drogados da droga do cara solitário que tava curtindo um festival de música sozinho no meio do nada, é deles que eles roubam as bicicletas e partem para sua aventura na floresta final onde Kimmy busca um novo bunker escondido na Floresta. Isso seria um ótimo episódio para a série, mas para o filme é uma mensagem aberta e aleatória demais.


   


Ao longo das temporadas, temos diversas participações especiais e a série também trabalha com trilha sonoras e composições originais que são demais. Como Laura Dern, Ray Liotta como o dono do mercadinho do bairroJeff Goldblum como o Doutor Phil, a própria Tina fez dois personagens na série, uma advogada que nada fazia além de assistir Kimmy testemunhar e a Doutor Andreia que falou para Kimmy que ela deveria pensar mais nela mesma.

Vemos uma grande mudança e algumas continuidades, mas também muita coisa que não desenvolveu, como os namorados de Kimmy que sempre são tirados por um motivo ou outro e depois ela namora o Harry Potter (Daniel Radcliffe), príncipe Frederick Eurythmics Windsor, uma brincadeira com a banda europeia junto com a dinastia atual da família real inglesa. Na série, é brincado que ele é filho do jardineiro, ao estilo O Amante de Lady Chatterley.




Mas a série soube capturar essa metáfora da ascensão da direita e do pensamento de bunker, já que o líder religioso que sequestrou Kimmy ser o mesmo ator que interpretou um dos namorados de Liz de 30 Rock, ele era o burro e bonito. Nessa série, a doideira é tamanha que depois descobrimos que o vínculo de Kimmy com reverendo era maior do que o imaginado inicialmente, o que é assustador. A referência ao documentário que passa sobre o reverendo parece ser a referência ao filme da Netflix Wild Wild Country (2018), sobre o líder indiano de um culto charlatão que teve até repercussão na América do Norte com sua prisão em 1985.  

Para quem conhece a Tina Fey ou a Amy Hackeling (que adaptava literatura de maneira mais desconstruída possível), já dá aquele gostinho de nostalgia adolescente e jovem, desde de filmes como Picardias Estudantis, até Patricinhas de Beverly Hills, e podemos comparar com o filme Mean Girls, a fórmula é parecida, muito mais do que "filme de mulher", eram filmes sobre o complexo universo feminino e que apesar de não parecer eram inspirados por livros. A fórmula de humor adolescente (coming to age), como também o lado de humor mais pesado de sketch de Tina Fey, ela fez o filme Mean Girls (e que teve seu Dia Internacional esses dias). 


Agora  Mean Girls está de graça no Tik Tok, além dela mesma ser atriz em vários filmes, ela também escreveu e protagonizou 30 Rock, uma super série de humor cultuada pela crítica e que durou 6 temporadas, uma série sobre a experiência de Tina Fey como a primeira Head writer do clássico programa de humor Saturday Night Live, a primeira mulher a ter esse cargo na história do programa americano que existe desde 1975. 


Dentro da cultura pop, o impacto das escritoras em um mundo de homens não pode ser subestimado, que apesar de não declararem abertamente, debatem em sua obra paradigmas de feminismo de terceira geração. A referência do bunker lembra um pouco o jogo Fall Out, a ideia de paranoia anti comunista clássica, também podemos ver referência ao tipo de roupa, ou culto ou paranoia de Handmaid's Tale, tentando levar essa ideia de uma sociedade super machista como uma metáfora de "estar no bunker", ou de regras, normas ou até mesmo como metáfora de camisa de força do formado, algo muito comuns nas séries americanas.  


O piloto é sensacional, brinca dos os arquétipos, lugares comuns, a esperança do "sonho de NY", sobre crescer e aparece, a abertura feita depois também é incrível. Kimmy é uma garota que estava em um bunker em Indiana ao estilo "Handmaid's Tales" e que de repente é resgatada de volta para a civilização logo em NY. Série com a Universal, Netflix e associação dos estúdios de NY. Essa série é simplesmente demais, temos humor, sátira social, piadas de um segundo semiótica que exigem a atenção do expectador. 


A série usa isso do bunker como referência recente a pandemia de covid-19, mas suscita debates em torno do isolamento e da moralidade, ao estilo da cultura amish, ou também o debate em torno da questão da paranoia anti comunista dos abrigos nucleares dos americanos baby boomers no período da guerra-fria. Talvez uma referência ao fato da audiência conservadora ou moderna não entender totalmente a referência ao estilo "do jogo Fall Out" que busca debater a loucura americana em sua raiz. 


Por isso em um dos episódios que a patroa de Kimmy arruma ela com um encontro um cara muito velho, eles inicialmente se dão bem pela conversa aleatória, mas no segundo encontro, ela fala sobre o abrigo e ele acha que ela é um mix de espiã alemã com prostituta francesa, mas jurou de pé junto enquanto tentava atacar a moça que ela estava se passando pela primeira de Roosevelt, a Eleonora. 


Vale lembrar que o ator Tituss Burgess é já é conhecido pelo público, iniciando sua carreira na broadway já que é um excelente cantor também e muito engraçado, que faz o melhor amigo de Kimmy, é o mesmo que interpretava os falsos reality shows da NBC demonstrados em 30 Rock, onde ele era o amigo da mulher de Tracy (porque tinha um reality sobre ela) em 2009 na temporada 5 de 30 Rock, onde ele era D'Fwan, voltando na temporada 6 da série clássica.


Descobrimos no segundo episódio que Kimmy não tem formação para além do ensino fundamental e que por isso "arrumar um emprego" para ela é horrível, pois ela não pode reclamar de sua patroa, a maluca loira (a mesma de 30 Rock) Jacqueline Voorhees interpretada por Jane Krakowski, que não precisamos dizer que já era a "protagonista" de 30 Rock junto com Tracy Jordan (Tracy Morgan), que roubou na série seu programa e série e virou seu parceiro de programa com o TGS, quando antes era o "The Girlie Show", então Tina Fey sempre fala desse lugar de feminismo liberal em crise, e sobre a necessidade de diversidade.  


A primeira temporada termina em aberto em relação ao namorado de Kimmy, ela escolhe ficar com o garoto do supletivo, mas a season finale acaba sendo sobre condenar o reverendo (quando tínhamos visto Kimmy e Pal juntos antes), aparecendo Tina Fey como uma advogada que só quer namorar seu namorado e não está nem aí. Depois Tina Fey aparece como a doutora Andreia, concertando todos os erros da série com seu racionalismo, pena que ela não apareceu mais. A doutora bêbada ainda foi citada como atual namorada do ex marido de Jacqueline 


Depois descobrimos que Kimmy papou mosca de perdeu o namorado para uma senhora do supletivo (ao estilo 90 dias para casar). Titus em certa altura não conseguia mais papel por parecer gay, então ele vai ter aulas com o (Hank de Breaking Bad) Dean Morris que ensina Titus a ser "mais masculino" para conseguir papeis, as cenas são hilárias.



Mas essa diversidade como propaganda não é colocado como algo do heroi branco salvador, muito pelo contrário, quem precisa de intervenção social é a própria Kimmy que quer esquecer seu passado no bunker (uma metáfora de sua criação de direita e sem tecnologia, ao estilo amish) como uma coisa que os próprios brancos querem, como Kimmy que agora tem certeza que sua vida melhorou porque arrumou seu "primeiro amigo negro", mas que vira praticamente o protagonista (como todo ama Titus Andromedon) o amigo de Kimmy.  


Antes de Kimmy chegar Titus vivia brigando com Lillian (Carol Kane, que fez The Hunters e filmes do Wood Allen, além de ter ganho já dois Emmys e uma indicação ao Oscar). Carol Kane é muito a mais famosa dali, fazendo vários filmes clássico típicos de NY, uma vez interpretou uma imigrante judia que tentava se adaptar aos modos de NY, ela é simplesmente demais, uma atriz de muito peso mesmo.


Depois os três ficam muito amigos. O personagem de Lillian é muito interessante, contra todo o "progresso" que possa tornar o bairro melhor, Lillian expulsa todos que na visão dela podem "limpar" o lugar e tornar a vizinhança mais cara. 





Lillian é o melhor personagem de longe, ela começou como sendo um pouco chata só e depois ganhou a dimensão de melhor personagem, aquele que é sempre malandra e luta contra a gentrificação, ela se torna vereadora por influência do voto de Kimmy (única pessoa do bairro sem mandado de prisão em aberto e que pode votar). 


No universo alternativo da série, Lillian seria chefe do tráfico de drogas local que oprimiria a vida de uma pobre Jacqueline que teria se casado com o namorado de Titus. Lillian é aquela que deu todos os toques para Kimmy. e ela que namorou Roland Peacock (Kenan Thompson, o Kenan do seriado Kenan e Kel) e que parece uma metáfora para o tipo de pessoa parecida que era o Titus (tanto que eles tem o mesmo dublador). 


A série flutua então nesse mar de humor negro e leve crítica social (mais que 30 Rock), onde vemos as metáforas de indústria cultural em mais um programa que se passa em NY. Também vemos a realidade do que seria uma garota realmente pobre de NY, ou seja, se há um "dia de compras" ao estilo Sex and the City, é um dia de compras do brechó. 

 


Em outro episódio, o tema é seu amigo arrumar um teste para ser o novo spiderman onde descobrimos que Kimmy é viciada em programas de policias e juízes, em uma das cenas, ia mudar seu rosto em uma cirurgia para parecer menos com "rugas puritanas" que lembravam do seu "passado no bunker em Indiana". 


A série vende uma ideia muito errada de prosperar a qualquer custo, sem nenhuma reflexão. é tipo assim, o cara bonitinho gosta de filosofia, então eu gosto também, quando no início ela apenas queria ser guarda. A mochila de Kimmy também é um personagem chamada Jan S. Port, sendo a imagem daquilo que a manteve saudável no bunker. O bunker e o sequestro servem de metáfora pesada para homens de direita e abusivos que trancariam as mulheres em casa. 


Do nada, ela está assistindo um desses programas punitivos que ela adora, e do nada, ela se vê de volta a ideologia do bunker e soca o médica e sai da sala "conscientizando" os outros sobre a beleza vir de dentro, mesma coisa que ela conta para a patroa dela, com quem ela estimula a ir confrontar o marido ausente que está em Pequim. No fim de um dos episódios, Kimmy finalmente se matricula em um supletivo depois de reparar que procurar por um namorado não era plot legal o suficiente para uma ex bunker. Nessa série tivemos as definições de quase lá totalmente atualizadas, querendo dizer que a série faz ri, mas também não concordamos com as posturas morais e de vida dos personagens. 


A série segue Kimmy Schmidt, de 29 anos, enquanto ela se ajusta à vida após ser resgatada de um culto do Juízo Final na cidade fictícia de Durnsville, Indiana, onde ela e três outras mulheres foram mantidas em cativeiro pelo reverendo Richard Wayne Gary Wayne ( Jon Hamm) por 15 anos. 


Determinada a ser vista como algo diferente de uma vítima e armada apenas com uma atitude positiva, ela decide recomeçar sua vida mudando-se para Nova York, onde rapidamente faz amizade com sua esperta senhoria Lillian Kaushtupper (Carol Kane), encontra uma colega de quarto no ator Titus Andromedon (Tituss Burgess), e consegue um emprego com a socialite (Jane Krakowski). 


O marido de da socialite é de família holandesa, e ela esconde que é de origem indígena, é praticamente "O Guarani" de direita o plot da elite da série, o que é hilário, ainda mais depois que ela tenta namorar os donos do Redskins por conta da sua associação com apressamento indígena, é como uma vingança pessoal para a agora socialite, por mais que ela esconda suas raízes indígenas (ao estilo de piada bem South Park). 


No primeiro episódio com o marido,  a paranoia dela era de estar sendo traída por uma chinesa, mas na verdade era um robô, e por fim, descobrimos que era a terapeuta do casal.  



Kimmy Schmidt (Ellie Kemper) estava na oitava série quando foi sequestrada pelo reverendo Richard Wayne Gary Wayne (Jon Hamm). Ele manteve Kimmy e três outras mulheres em cativeiro por 15 anos em um bunker subterrâneo e as convenceu de que um apocalipse nuclear as havia deixado como as únicas sobreviventes da humanidade.


Na primeira temporada, as mulheres são resgatadas e passam a aparecer no Today Show, em Nova York. Após o show, Kimmy decide que não quer voltar para Indiana ou ser vista como vítima, então ela começa uma nova vida na cidade de Nova York. Vagando pela cidade, ela encontra a senhoria Lillian Kaushtupper (Carol Kane), que oferece a Kimmy a chance de ficar com Titus Andromedon (Tituss Burgess) em seu apartamento no térreo. Porém, para conseguir o apartamento, Kimmy precisa encontrar um emprego, e ela acha como babá do filho de 10 anos de Jacqueline. 


Descobrimos que Jacqueline Voorhess na verdade é descendente indígena e escondeu isso de sua nova família branca, e se chama de "the white's". Detalhe é que o ator que faz o pai dela é o presidente da reserva indígena de Yellowstone, o nome do ator é Gil Birmingham.

Quando ela tenta conseguir um emprego em uma loja de doces próxima, ela vê um menino roubando doces. Ela o persegue de volta para sua casa e encontra sua mãe, Jacqueline Voorhees (Jane Krakowski), uma esposa troféu de Manhattan, que a confunde com uma babá e que Kimmy confunde como alguém preso em um culto também.


Jacqueline contrata Kimmy como babá para seu filho de 10 anos. Conforme a 1ª temporada continua, Kimmy se apaixona por Pal Dong (Ki Hong Lee), um estudante vietnamita de seu G.E.D. (diploma de ensino médio americano do supletivo), ela deixa a história com ele em hang by  vai ao tribunal para testemunhar contra o reverendo e descobre que todos gostam dele e não dela, pois o mundo é machista e ela não consegue reverter até o fim a situação. O problema é que ele não volta e o plot foi meio que acusado pelo fãs de estereótipo, já que Ki Hong Lee é um ator coreano interpretando um vietnamita. Eu gostava do personagem, senti falta depois da série. 

  



No supletivo, ela aprende com filmes no lugar de livros, por isso o professor do supletivo deles seria "contra o sindicato", ela acaba chamando um aluno antigo do professor e os dois batem no professor do supletivo. O rapaz faz piada com o nome de Kimmy.  Por fim, descobrimos que o professor apenas queria entrar para a lista dos professores que ficam o dia inteiro na sala dos professores porque ele inveja eles. Kimmy percebe por fim que o objetivo do professor é fazer os alunos reprovarem pois ele tem outros objetivos escondidos.



Kimmy fez o supletivo e acabou não passando, mas mesmo assim, depois ela passa com uma bolsa total em remo para a respeitada universidade de Columbia, mas acaba não passando nas matérias, e ganhando um honoris causa. 


Lá em Columbia ela conheceu Perry (o rapper Daveed Diggs), o ator interpretou Marquis de Lafayette e Thomas Jefferson, ganhando um Grammy e um Tony por sua atuação, ele é formado pela conceituada Brown (que lê FHC, por exemplo). Sim, todos em Kimmy jantam Kimmy no talento, até o guest start mais b. E Olha que a Elie era boa em The Office (seu único papel de peso anterior). 


A série começou em 2015 no governo Obama ainda, mas na segunda temporada já estávamos no inferno, no governo Trump. A segunda temporada não trabalhou em muitas continuidades, mas esquecendo de todos os bons ganchos da primeira temporada (em uma relação de realmente mentir ao espectador de propósito). Acho que o humor desse típico da NBC nos traz para o que seria os "nerds" americanos, mas não exatamente, já que os nerds da NBC vem com o kit junto dos filmes da Marvel e de outras marcas americanas, como piadas sobre Michael Wahlberg, o socialismo do doutor Spock que virou o direitismo de caras da televisão como Doctor Phill. 


Eu gostava do primeiro namorado da Kimmy, o Dong. O ex namorado rico de Kimmy, Logan Beekman tentou deportar ele. Kimmy ficou desolada quando ele arrumou uma esposa ao estilo "90 dias para casar" para casar com a Sonja para conseguir ficar nos Estados Unidos e depois nunca mais foi citado ou visto depois do episódio onde eles tentam transar e terminam presos. Essa série tem umas loucuras meio inexplicáveis mesmo. Não temos aqui um sentido de ascensão do herói. Em termos de senso comum, no filme, ela literalmente arruma o Harry Potter como namorado (Daniel Radclif) que interpreta um príncipe britânico que é secretamente apaixonado por sua babá (interpretada na brincadeira pela amiga de Kimmy, Lillian (Carol Kane).  




O filme de Kimmy tem uma coisa fascinante que é a interatividade (você pode escolher entre algumas possibilidades de final, para agradar a todos), como na série já havia sido comentada a ideia de teatro de imersão onde a plateia participa de alguma cena com alguma inserção ou peripécia. No filme, ela confronta o reverendo e descobre haver um novo bunker. 


A ideia do filme interativo coloca a audiência em uma ideia de controle do plot, já que é dado uma certa "escolha" do que  vai acontecer. Podemos até mesmo matar o reverendo, e podendo se casar como final feliz com o príncipe, mas vale lembrar que nem visto de onde ele saiu. Brinca com essa ideia da garota boba que se casa com um cara da monarquia, em tese, o "sonho" de todas as mulheres. 


Não concordo com isso, acho uma mensagem errada para as garotas que são mais ingênuas de verdade, já que estamos falando de uma garota que foi sequestrada quando tinha 15 anos e ficou o resto da sua vida "em cativeiro" e que se casou com o reverendo do "culto" de direita promovido por um cara que tinha antes uma carreira de DJ (ao estilo Alok).  


Quando Kimmy tenta ser guarda, lembramos que quando Laura Dern (sim, de Twin Peaks, de Wild at Heart, e Jurassic Park) participou da série querendo casar com o reverendo, ela tinha achado ela "tão legal" que fez de tudo para impedir.  Esse é o episódio de "cancelamento" da série, já que foi aqui que Kimmy primeiro se recusou a se divorciar do cara (um absurdo pelo teor da história), e que também confirmou os abusos sexuais que antes eram mais uma metáfora de pensamento de direita e de bunker. Robert Carlock confirmou inclusive essa informação. A partir daqui é difícil trabalhar qualquer continuidade para Kimmy, passa a ser pesado demais a ideia proposta. 


Quando o guarda percebe que ela ainda é casada com o cara que a sequestrou, ela é impedida de ter o seu "emprego dos sonhos". Kimmy é boazinha, mas ás vezes um pouco inocente demais.  Quando descobrimos que o sonho da sua vida é ser guarda de trânsito. 



No filme, temos referência a esse tipo de "culto festival" promovido por pessoas da far right (extrema direita) com discurso de esquerda colorido (o que tem estado em alta no mundo atual mesmo). As denúncias política da série são pontuais e extremamente corretas, mas não sei se podemos considerar Kimmy uma heroína, embora sua história seja a ideia "superar", misturada com a ideia de "ter tudo". 


Na Kimmy do universo alternativo, ela  é uma repórter da NBC que culpa as vítimas pelo seu cativeiro. Mas a resposta aqui é exatamente o problema, revisitar o trauma, ou o "reverendo", estamos visitando o lado tóxico que precisamos ter ou usar para fazer humor, o lado vendido do sensacionalismo. 


A ideia da música do Titus "Eu gosto de peitos e Califórnia" realmente tem essa ideia de debater o carácter sem oportunidade da vida. Kimmy conversando com sua mochila já nos sinalizava o fim da série. Outro cara legal foi o colega que queria fazer seu rap da filosofia e que Kimmy mais uma vez atrapalhou seu amigo, que na vida real é um rapper de verdade. 



Parece aquela ideia brincando com a obviedade da noção de sucesso das bobas séries de sitcom de modelo clássico. Vale lembrar que o Robert Carlock foi um dos criadores de Friends que também assina a série. Outra coisa que podemos criticar é essa insistência em voltar nos plots do abrigo, já que isso é a metáfora perfeita da política de direita que os Estados Unidos entraram na era Trump (que também apareceu na série no episódio da realidade alternativa onde Jacqueline quase matava ele. A série acabou depois de 4 temporadas onde ela caminhava para vários lugares e depois encerrava a história, de modo que a série é a uma piada com a própria noção de senso comum geral dos plots. 


No fim de Kimmy, tudo foi bom para Lillian, e para Titus, os dois mais talentosos atores por milha que poderíamos pedir, ficando difícil para a própria protagonista conseguir encaixar suas cenas e plots. Mas algo de incrível saiu desse universo, um livro escrito pela própria protagonista sobre um universo mágica da fantasia, ao estilo "A lenda de Zelda" e ela faz seu próprio parque temático ao estilo Disney. 

A atriz que faz a mãe de Kimmy é Lisa Kudrow (a eterna Phoebe) de Friends e ela só aparece duas vezes na série, quando conhecemos sua história de hippie porra louca que não criava a filha direito, e depois quando ela veio no parque de Kimmy apenas porque sempre quis ir em parques de diversão, e como a filha dela fez isso por ela, ela então devia ser uma boa mãe por fim.


 Enfim, coitada de Kimmy e de sua idiotice sem fim. Mas ela também não é exatamente uma heroina, ela passou por um trauma e passou por esperanças, essa noção de vici vini vinci é  própria do capitalismo americano que quer vender a ideia de superação como uma marketing pessoal , mas o resultado é a ideia de casamentos e romances que parecem arranjados ou obrigatório, a ideia de superação no filme de Kimmy era como um conto de fadas, casar com um príncipe que a trai, o sonho de toda garota com certeza (ironia). 


Quando ela atrapalhou o colega de faculdade que ela estava afim fazendo um rap de filosofia no lugar dele, quando isso era a função toda do cara, já que sua band até saiu na Rolling Stone por ter um som e experimentação concreta (música concreta ao estilo de John Cage), um conceito que no Brasil entendemos como uma referência ao nosso filósofo Mário Ferreira dos Santos com a filosofia concreta, que pretendia metamatematizar as 258 teses com demonstrações no campo da geometria. 


Mário dos Santos defendia o anarquismo cristão (parecido com o personagem que chamou Kimmy para ir na igreja), o que também é parecido é que ele era um aluno bom de matemática que quis fazer filosofia depois, parecido com a ideia do filósofo Mário mesmo. Mas a participação do rapper Daveed Diggs durou apenas 3 episódios, imagino que ele tinha uma agenda que não pôde fazer a série, já que ele tem muitos projetos, depois o ator praticamente não voltou para a série. Mas apesar de própria protagonista e de seus incansáveis episódios de privilégios durante a série. 


Por fim, acabamos amando a todos, até mesmo a Jacqueline que interpretava em 30 Rock um personagem mil vezes mais insuportável do que nessa série onde ela é maluca. Teve muita coisa bacana no filme. Foi muito legal ver Titus cantando Freebirds (o faroeste caboclo dos americanos) e ser reconhecido mesmo no lugar mais deserto e branco dos cafundós da América. 


Em Kimmy, todo mundo teve um final maneiro, fez coisa positiva, apenas ela ficou parada na ideia de bunker e superação, como uma pessoa viciada em shitposting e fazer rebranding da vida em programas de televisão, essa é minha visão final sobre Kimmy. 


Enfim, a série ainda assim é extremamente engraçada e por mais que a gente não goste mais de Kimmy em certo momento, certamente gostamos de seu "universo/metaverse", se podemos brincar assim, uma ótima série para assistir com as crianças e com a ala de direita bunker da sua família. 



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