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Os Profissionais (1966): Clássico do faroeste reflete o significado de liberdade perante as novidades de seu contexto histórico



Nos anos finais da Revolução Mexicana, um fazendeiro americano contrata quatro homens, todos especialistas em suas respectivas áreas, para resgatar sua esposa sequestrada, Maria, de Jesus Raza, um ex-líder revolucionário que se tornou bandido

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Henry "Rico" Fardan é um especialista em armas, Bill Dolworth é um especialista em explosivos, Hans Ehrengard é o tratador de cavalos e Jake Sharp é um batedor Apache tradicional, habilidoso com arco e flecha. Fardan e Dolworth, tendo ambos lutado sob o comando de Pancho Villa , têm grande consideração por Raza como soldado. Mas, como profissionais cínicos, não têm escrúpulos em matá-lo.

Sendo breve, o filme quer fazer uma reflexão simples: o que significa o profissionalismo perante inserção das mulheres nos plots e no mundo do trabalho em si.


Desde o início o filme marca as diferenças e particularidades do grupo. Mas ao mesmo tempo, o profissionalismo do grupo é marcado por um aspecto específico: o interesse, principalmente financeiro. Depois que eles alcançam seu objetivo, os interesses pessoais vão fazendo-os mudar de perspectiva. E no final, seguir o profissionalismo foi justamente se meter na situação. Diferente do que pensamos inicial, o profissionalismo não é entregar a mulher para o contratante sem perguntar o porque, mas como verdadeiros cowboys, proteger a moça do perigo e deixar que ela faça sua escolha. Ou seja, se eles foram contratados para resgatar e proteger a moça, foi exatamente isso que eles fizeram, ficando inclusive contra o seu próprio contratante. 



Assim, o filme se revela profundamente "feminista" em seu sentido mais prático. Eles estão ali para proteger e basicamente introduzir a mulher ao mundo dos cowboys, mas não necessariamente para garantir que ela permaneça calada e casada com o homem que não quer, pois isso seria justamente contra ideologia de liberdade da América. 



De um jeito conciliador, o filme busca fazer uma revisão dentro de um filme de tese. É um filme de mercenários, onde a moral é provisória pois todos estão ali por interesse. Porém, é dentro dessa moral provisória que é possível a criação de algo novo, um pacto de camaradagem, onde a sobrevivência, a cavalo, no deserto e com pouca comida, criasse um pacto de camaradagem por aqueles que optam por esse estilo de vida. Dessa maneira, vemos uma revisão da moral clássica de profissionalismo, onde cowboys caçadores de recompensa fariam tudo para se dar bem. O limite deles seria violar o seu próprio código de ética, que é seguir a liberdade. 


Aqui, sendo um faroeste dos anos 60, vemos o contexto histórico invadindo o gênero clássico do faroeste para fazer atualizações que sejam lógicas ao gênero, e não apenas para "lacrar". Obviamente durante os anos 60 foi o auge do feminismo mundial, e o que podemos considerar a primeira geração a poder de fato pedir o divórcio. Assim, como um faroeste, o filme quer refletir: "como o americano médio, com sua cultura de cowboy, vai lidar com isso?". E para o filme a resposta é deixar as mulheres viverem e fazer suas próprias escolhas como os homens. 




Isso, claro, pode ser criticado por alguns por necessariamente entregar a mulher a uma situação de pobreza inerente. Ou seja, se ela escolher a via feminista e se separar do marido abusivo, ela terá que estar preparada para enfrentar as "durezas da vida". É uma moral um pouco ultrapassada, sim. Mas extremamente popular, uma vez que se existem mais pessoas pobres do ricas no mundo, essa deve ser a realidade de muitas pessoas. 



Assim, o filme se consagra pela sua crueza, sua verossimilhança e sinceridade, mas que ainda assim soube surpreender ao demonstrar certa sensibilidade e criatividade no final. O trabalho de câmera, despojado e orgânico, e o trabalho de direção devem ser destacados. Existem boas cenas de ação, a atuação é muito boa, mas o que salva o filme é seu final surpreendente. O filme poderia ter caminhado para uma via concordista, pessimista, ou até romântica. Mas preferiu apenas ser sincero, real, usando assim o realismo da perspectiva para reabilitar a imagem do cowboy e do homem médio americano, à época profundamente marcadas de maneira negativa. 



É um filme de faroeste clássico, necessário e que se você quer assistir todos os melhores filmes do gênero, vai ter que encarar um dia, e esse me parece um ótimo momento na medida que a mensagem do filme soa profundamente atual.  


História e produção do filme


O filme foi adaptado para as telas por seu diretor Richard Brooks, que baseou o roteiro no romance A Mule for the Marquesa de Frank O'Rourke.



O filme, que foi rodado em Technicolor , foi filmado no Vale da Morte e no Vale Coachella, na Califórnia, bem como no Parque Estadual Valley of Fire, em Nevada. As cenas ferroviárias foram filmadas na Eagle Mountain Railroad da Kaiser Steel. A locomotiva a vapor vista no filme reside atualmente na Heber Valley Railroad.



Durante as filmagens, o elenco e a equipe técnica permaneceram em Las Vegas. O ator Woody Strode escreveu em suas memórias que ele e Marvin se envolveram em muitas pegadinhas, em uma ocasião atirando uma flecha em Vegas Vic, o famoso letreiro de néon de cowboy sorridente do lado de fora do Pioneer Club.










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