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f.d.p (2012): Com ironia, série discute neutralidade no futebol e contradições da cobertura midiática esportiva no Brasil


FDP é uma série brasileira do gênero de comédia que teve uma temporada e 13 episódios, criada por José Roberto Tonero e Marcus Aurelius Pimenta e produzida pela HBO da América Latina em parceria com a Prodigo Films. Acompanhamos a vida do árbitro de futebol chamado Juarez Gomes, que apesar de tentar ser ético, suas decisões  sempre geram conflitos entre sua vida pessoal e profissional. Além de um humor non sense com a masculinidade e o fanatismo do meio do futebol; a série também faz uma crítica aos hábitos elitistas da classe média, dando lugar aos conchavos de arbitragem, as extorsões e subornos no meio esportivo 



A série (Fdp, filho da puta) teve apenas uma temporada em 2012, com 13 episódios, mas foi marcante e bem original em sua intenção de discutir cobertura esportiva, a série é sobre Juarez Gomes da Silva (Eucir de Souza), um juiz de futebol da liga estadual de São Paulo, que tem um sonho de apitar uma final de Copa do Mundo e durante a série vemos ele crescendo degrau por degrau nisso, mas o que fica de impressão é que Juarez é um típico mandado padrão, que tenta ás vezes fugir desse recorte. 


Abordou uma discussão pesada em torno da cobertura esportiva e sensacionalismo, e dos privilégios de classe dos envolvidos com futebol, uma classe média clássica e conservadora que torce para o "juventus", com a presença de dois locutores que acompanham os jogos na série, vemos que uma deles é Gilda Marques (Chris Couto), que é uma uma das locutoras mostradas na série, uma ruiva. 


Sendo  uma série com sempre com uma visão centralista que brinca com nossas ideias de "padrão" ao mesmo tempo já batidas sobre sucesso e vida, e por falar em aparecer, Neymar aparece em uma das cenas como encanador de Juaréz (o árbitro), provando esse lado "de direita" da série, ou sobre uma certa direita leve, já que quer abordar o lado da profissionalização da cobertura esportiva e também o lado leve da vulgarização da mesma. 




A série conta com participações de craques do futebol clássico de Roberto Rivelino (ídolo do Fluminense), e com direção geral de Adriano Civita, e criada por José Roberto Torero, Giuliano Cedroni e por Kátia Lund. Logo o episódio piloto aborda uma grande chance na carreira do árbitro, A chance de cumprir esse sonho chega após um jogo definitivo (Mostrado no episódio-piloto), quando Juarez e seus colegas de trabalho, Romeu Carvalhosa e Sérgio Roberto de Paula (Paulo Tiefenthaler e Saulo Vasconcelos), o trio apita na próxima Libertadores da América.


Porém, ao mesmo tempo que sua vida profissional promete decolar, sua vida pessoal desmorona com o seu divórcio com Manuela (Cynthia Falabella), que descobriu que seu marido à traía quando ele lhe passou uma doença sexualmente transmissível. Expulso de casa e obrigado à morar com a mãe, Rosali (Maria Cecília Audi), que é uma coroa bacana e moderninha (mais que o filho). Em um dos episódios, Juarez tem que lidar com o xingamento filho da puta ser referência a sua mãe e aí vemos como é para a mãe dele ser xingada em toda a partida como brinca a série.




Juarez também enfrenta uma batalha judicial pela custódia do filho, Vini (Vitor Moretti), com quem mantém uma relação boa, com preocupações normais, já que Juaréz é um cara padrão, faz besteira de maneira padrão, mas busca remediar, e como bom brasileiro que é tem medos bobos, como o filho não gostar mais de futebol por associar com ele, e reclama do novo namorado da esposa, seu advogado no divórcio, Rui Zwiebel (Roberto Machado), que quer 'tirar o seu dinheiro' para dar para sua ex esposa. Por fim, eles voltam a ficar juntos depois dele levar um pé na bunda da loira vulgar. 



No fim da primeira temporada. apto apitar mais um jogo, o árbitro fez gol contra o palerma (time que "comprou seu lado", ao estilo Palmeiras na metáfora), sendo que ele que fez o gol do time adversário, sendo uma piada, já que a função do juiz é ser neutro e não intervir, mas ao fazer-se uma série sobre um juiz é óbvio que vai se mostrar mais do backstage (dos bastidores) do que se pode e vai "quebrar a magia" da coisa toda. 


Ainda mais em um mundo de replays e VARs que possibilidade a checagem em tempo real no futebol. A questão é, sempre sabemos quando um jogo é roubado e se você quer agradar a liga e os times locais o sonha de ir mais alto e apitar uma final de copa do mundo, ao ele "ir contra os seus e seu time" seria provar a neutralidade necessária para continuar na profissão e sonhar mais alto. Isso foi muito filosófico. 

Juarez é um típico machista padrão, que tinha uma vida média padrão e que passa a questionar toda a sua estrutura de vida ao voltar a morar coma mãe depois do divórcio. Sua mãe tem um namorado latino chamado Guzmán. Sua mulher, Manuela pegou uma doença venérea por sua de sua traição. Ele leva o filho para ver futebol longe da mãe, que acredita que é uma ligação ruim para o menino. 



Romeu é o melhor amigo padrão que faz tudo errado e reflete o lado mais despreocupado e brincalhão da série. Colega de trabalho de Juarez e primeiro bandeirinha lateral. Depois descobrimos que na verdade ele era gay, só que ninguém sabia por ele ser o cara "da social" e da putaria em geral. Outra polêmica da série foi aborda o vício em remédios, no episódio que ele recebe a caixa de remédios  "de presente" já que não estava conseguindo dormir, uma caixa com "dormetil (rivotril)", no fim ele acaba tão viciado na coisa quanto a mãe, apesar de todo seu discurso purista inicial contrário. 



Ele  chega a namorar a Vitória (Fernanda Franceschetto), uma loira padrão dessas tetudas, uma colega de trabalho banderinha, formada na faculdade com uma tese da "representação da mulher em Jorge Amado", e que decidiu depois também posar para a playboy depois de largar Juarez como forma de subir na carreira saiu transando com todo mundo da associação. Durante a série ele passa por diversos questionamentos morais, como favorecer ou não o time do coração da infância, que é o juventus. 



Em certa altura da série, é observado que ele estava fora do peso padrão para acompanhar os lances de perto, seu patrão, Ladislau Camponero (Carlos Meceni), que também é dos esquemas de tesouraria da confederação Sul-Americana de Futebol e isso faz com que a posição de Juarez seja de comprometimento com a liga e todo seu aparato burocrático, apesar disso, no fim, ele não rouba, afinal de contas, mas passa a ser odiado por todos, como sempre.  



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