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Almas Gêmeas (Heavenly Creatures, 1994): Peter Jackson aborda a história real de um romance proibido cujo final chocou a Nova Zelândia

Em 1952, Christchurch, uma rica menina inglesa, Juliet Hulme (Kate Wislet), faz amizade com uma menina de uma família da classe trabalhadora, Pauline Parker (Melanie Lynskey), quando Juliet se transfere para a escola de Pauline. Elas se unem por compartilharem um histórico de doenças e longas hospitalizações isoladas. Com o tempo, desenvolvem uma amizade intensa em meio de trocas de cartas e imaginações de personagens históricos


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As duas tiveram que jurar nunca mais se encontrar para pararem de se perseguidas, essa era a condição de reintegração na sociedade. O livro mais famoso de Hulme/Anne Perry é O Crime de Paragon Walk, da série Crime à Hora do Chá, lançado em 1981 e se passando na Londres Vitoriana, onde um formidável casal, Thomas e Charlotte desvendem um assassinato brutal que abala a alta sociedade. Hoje em dia, é proibido o preconceito contra pessoas de opção homossexual, por exemplo, na lei brasileira, nessa época, esse tipo de conduta era vista como doença mental, explicando o debate do filme em torno do relacionamento das duas garotas.


Julieta Marion Hulme depois de cumprir 5 anos de prisão pelo assassinato da mãe de sua amiga, depois mudou seu nome para Anne Perry e virou escritora de romances de detetive com seu protagonista Thomas Pitt, casado com Charllote, e outros romances ao estilo noir. Aos 16 anos, Juliet vivia com seus pais, seu pai era na época reitor da Universidade de Canterbury. 



Parker virou professora de equitação na Escócia e Hulme se tornou uma escritora de sucesso na Inglaterra. O nome que ficou conhecido o assassinato que apenas ocorre no fim do filme, é Parker-Hulme o sobrenome das garotas, que mataram Honorah Rieper, mãe de Pauline. Depois do crime, Pauline mudou de identidade e virou Hilary Nathan


Todos conhecem o diretor Peter Jackson da famosa franquia "O Senhor dos Anéis (2001)", uma adaptação de Tolkien que é simplesmente um dos melhores filmes já feitos. Mas esse filme veio antes e tem um impacto também profundo, só que em um gênero um pouco diferente da história de O Senhor dos Anéis. Esse filme é simplesmente belo, pulsante, e profundo, não tem outra maneira de definir. Apenas assistindo mesmo par entender isso. 


A dança do reino e a invenção de narrativas inspiradas na forma da história ao estilo de história das genealogias, elas criaram para mais do que leram sobre a história oficial, a própria história delas, que uma das garotas traduz em algumas estórias escritas inspiradas nessas criações. A forma livre em como elas se expressaram fez aparecer uma forma de perseguição meio inquisitorial contra as garotas que são da Nova Zelândia (outro local de colonização britânica). 


Abordando uma história real do assassinato de Parker-Hulme, que ocorreu em Christchurch, na Nova Zelândia, em 1954. O crime foi cometido pelo casal de namoradas, porque a família era contra o relacionamento. 



No papel, temos a Melanie Lynskey (mais famosa por ser a Rose da série Two and Half Men), e a Kate Wislet antes de seu papel clássico em Titanic. O filme é sensível demais, mostra um nível de relação humana onde o romance envolve a identidade a constituição essencial da pessoa. A Kate Wislet está em seu primeiro papel marcante, muito antes de viver a Rose de Titanic.


O filme contrasta a beleza das duas jovens, o estilo de Daisies, em contraste com o triste fim da separação e do assassinato. É um filme profundo e que exige uma reflexão sociológica maior ainda. 


Acho incrível o universo a parte que construíram juntos e é muito complicado pensar que a homossexualidade era completamente categorizado como doença e reprimida como tal e havia todo um "aval científico" para essas intervenções, o que forçou o psicológico já frágil das meninas que eram alvos de experimentos sociais o tempo para, forçando ao máximo a tensão na relação entre as duas. é poético e trágico a ideia de que foram obrigadas a nunca mais se verem, como também é triste a ideia de que elas tinham de que era necessário matar a mãe.


Já Kate Wislet fez teste junto a quase 200 garotas para o filme. Segundo o diretor conta, as duas ficaram tão absortas do papel e na profundidade do que foi debatido que continuaram atuando juntas ao estilo dos diálogos das jovens mesmo depois do filme ter sido concluído, isso no site do diretor. Todo o filme foi rodado em Christchurch, Nova Zelândia em 1993, dizendo que era necessário capturar o lugar real de onde a história aconteceu para captar a atmosfera do evento original.



Os efeitos visuais do filme são muito bons, os personagens do reino de Borovnian foram feitos pela Weta Digital e supervisionados por Richard Taylor e George Port arrumaram 7- fantasias gigantes de látex. Também podemos comentar na cena montada em homenagem a Orson Welles, constituindo o "quarto mundo" delas.



Na época, a homossexualidade era considerada uma doença, uma patologia, e havia todo um controle e uma observação constante se a mulher se enquadrasse, como visto no filme nas cenas onde fazem teste para saber qual a orientação sexual da menina. O caso foi emblemático pela condição de horror e pânico desde o início gerado pelo namoro secreto das duas. As duas foram julgadas e condenadas a cinco anos de prisão, sob a condição de que jamais poderiam se ver de novo ou se comunicarem.


As meninas pintam, escrevem histórias, fazem figuras de plasticina e, eventualmente, criam um reino de fantasia chamado Borovnia, onde criam dinastias históricas e traições homéricas. É o cenário dos romances de aventura que escrevem juntos, que esperam publicar e eventualmente transformar em filmes em Hollywood. Com o tempo, começa a ser tão real para eles quanto o mundo real. Ainda mais com a doença de Juliet.



A relação de Pauline com sua mãe, Honora, torna-se cada vez mais hostil e as duas brigam constantemente, até que Pauline decide se livrar de sua mãe para ficar com Juliet. Essa atmosfera de raiva contrasta com a vida intelectual pacífica que Julieta compartilha com sua família. Pauline passa a maior parte do tempo na casa dos Hulmes, onde se sente aceita. Julieta apresenta a Paulina a ideia do “Quarto Mundo”, um Céu sem cristãos onde a música e a arte são celebradas. Julieta acredita que irá para lá quando morrer. Certos atores e músicos têm status de santos na vida após a morte, como o cantor Mario Lanza, por quem as duas meninas são obcecadas.


Durante uma viagem de um dia a Port Levy, os pais de Juliet anunciam que estão indo embora e planejam deixar Juliet para trás. O medo de ficar sozinha a deixa histérica, culminando em sua primeira experiência direta com o Quarto Mundo, percebendo-o como uma terra onde tudo é belo e ela está segura. Ela pede a Pauline que vá com ela, e o mundo que Julieta vê também se torna visível para Pauline. Isto é apresentado como uma visão espiritual partilhada, uma confirmação da sua crença no “Quarto Mundo”, que influencia a realidade predominante das raparigas e afeta a sua percepção dos acontecimentos do mundo quotidiano.



Julieta é diagnosticada com tuberculose e é encaminhada para uma clínica. Pauline fica desolada sem ela, e os dois iniciam uma intensa correspondência, escrevendo não apenas como eles próprios, mas também no papel do casal real de Borovnia. Durante esse período, Pauline inicia um relacionamento sexual com um inquilino, o que deixa Juliet com ciúmes. Para ambos, a sua vida de fantasia torna-se uma fuga útil quando estão sob stress no mundo real, e os dois envolvem-se em fantasias cada vez mais violentas, até mesmo assassinas, sobre as pessoas que os oprimem. Depois de quatro meses Juliet recebe alta da clínica e o relacionamento deles se intensifica. O pai de Julieta culpa Pauline pela intensidade do relacionamento e fala com os pais dela, que a levam ao médico. O médico suspeita que Pauline seja homossexual e considera isso a causa de sua crescente raiva da mãe, bem como de sua dramática perda de peso.



Julieta flagra a mãe tendo um caso com um de seus pacientes psiquiátricos e ameaça contar ao pai, mas a mãe diz que ele já sabe. Pouco depois, os dois anunciam a intenção de se divorciar, deixando Juliet chateada. Logo fica decidido que a família deixará Christchurch, deixando Juliet com um parente na África do Sul. Ela fica cada vez mais histérica com a ideia de deixar Pauline, e as duas meninas planejam fugir juntas. Quando esse plano se torna impossível, os dois dividem uma banheira e falam sobre o assassinato da mãe de Pauline, já que a veem como o principal obstáculo para ficarem juntos.


O diretor Jackson e Walsh pesquisaram nos jornais da época do julgamento. Em 1954, elas eram retratadas como o retrato do mal. Também entrevistaram colegas e antigas professoras, membros da igreja local. Também leram os diários de Pauline e viram a criatividade e o elo entre as duas amigas. Mesmo simbolizando uma tragédia, o filme sabe jogar com certo com de comicidade de uma relação que é real, mas mascarada por todos em volta. A escolha do casting foi difícil, Walsh tentou achar na Nona Zelândia uma atriz que fosse parecida com Pauline, achando grandes problemas em achar a atriz certa até Melanie Lynskey. 



A moralidade pode nos afastar da interpretação do real e do normal. Na época, a atitude da própria vida das jovens era julgada como doença mental, quando hoje em dia há leis e direitos para garantir a liberdade sexual e de orientação diversa, mas nessa época de anos 50, de "vidas bonitinhas", nada era muito permitido, principalmente das mulheres. Em um dos questionários, perguntada para Pauline, "Você gosta de garotas?", ela responde "Não, garotas são bobas", em resposta o inquiridor responde, "mas Juliet é uma garota e é diferente", ou seja o rastreamento das perguntas toma um recorte próprio simplesmente para punir melhor um comportamento desviante. 


História e produção do filme


Fran Walsh sugeriu a Peter Jackson (que era conhecido por filmes de comédia de terror) que escrevessem um filme sobre o notório assassinato de Parker-Hulme. Jackson levou a ideia ao seu colaborador de longa data, o produtor Jim Booth (que morreu após as filmagens). Os três cineastas decidiram que o filme deveria contar a história da amizade entre as duas meninas, em vez de focar no assassinato e no julgamento. “A amizade era, em sua maior parte, rica e gratificante, e tentamos honrar isso no filme. Nossa intenção era fazer um filme sobre uma amizade que deu terrivelmente errado”, disse Peter Jackson.


Walsh estava interessado no caso desde a infância. "Eu descobri isso pela primeira vez no final dos anos 60, quando tinha dez anos. O Sunday Times dedicou duas páginas inteiras à história, acompanhada de uma ilustração das duas meninas. Fiquei impressionado com a descrição do sombrio e misterioso amizade que existia entre elas - pela singularidade do mundo que as duas meninas criaram para si mesmas."


Jackson e Walsh pesquisaram a história lendo relatos de jornais contemporâneos sobre o julgamento. Eles decidiram que os aspectos sensacionais do caso que tanto excitaram os leitores dos jornais em 1954 estavam muito distantes da história que Jackson e Walsh desejavam contar. “Na década de 1950, Pauline Parker e Juliet Hulme foram rotuladas como possivelmente as pessoas mais más do planeta. O que elas fizeram parecia sem explicação racional, e as pessoas só podiam presumir que havia algo terrivelmente errado com suas mentes”, afirma Jackson. 


Para trazer uma versão mais humana dos acontecimentos para a tela, os cineastas empreenderam uma busca nacional por pessoas que tivessem tido um envolvimento próximo com Pauline Parker e Juliet Hulme quarenta anos antes. Isto incluiu localizar e entrevistar dezessete de seus ex-colegas e professores de Escola secundária feminina de Christchurch . Além disso, Jackson e Walsh conversaram com vizinhos, amigos da família, colegas, policiais, advogados e psicólogos . Jackson e Walsh também leram o diário de Pauline, no qual ela fazia anotações diárias documentando sua amizade com Juliet Hulme e acontecimentos ao longo de seu relacionamento. Pelas anotações do diário, ficou evidente que Pauline e Julieta eram jovens inteligentes, imaginativas e marginalizadas, que possuíam um senso de humor perverso e um tanto irreverente. No filme, todas as dublagens de Pauline são trechos de anotações de seu diário.


O papel de Pauline foi escolhido depois que Walsh explorou escolas por toda a Nova Zelândia para encontrar uma sósia de Pauline. Ela teve dificuldade em encontrar uma atriz que se parecesse com Pauline e tivesse talento para atuar antes de descobrir Melanie Lynskey. Kate Winslet estava entre as 175 garotas que fizeram o teste para o filme e foi escalada depois de impressionar Jackson com a intensidade que ela trouxe para seu papel. As meninas estavam tão absortas em seus papéis que continuaram atuando como Pauline e Juliet após o término das filmagens, conforme descrito no site de Jackson.


O filme inteiro foi rodado em Christchurch em 1993. Jackson foi citado como tendo dito " Heavenly Creatures é baseado em uma história real e, como tal, achei importante filmar o filme em locais onde os eventos reais aconteceram." 


Os efeitos visuais do filme foram feitos pela então recém-criada Weta Digital. A vida de fantasia das meninas e os extras 'Borovnianos' (os personagens que as meninas inventaram) foram supervisionados por Richard Taylor , enquanto os efeitos digitais foram supervisionados por George Port. Taylor e sua equipe construíram mais de 70 fantasias de látex em tamanho real para representar as multidões borovnianas – figuras de plasticina que habitam o mundo mágico de fantasia de Pauline e Julieta. Heavenly Creatures contém mais de trinta tomadas que foram manipuladas digitalmente, desde o jardim em transformação do 'Quarto Mundo' até castelos em campos e as sequências com "Orson Welles" (interpretado por Jean Guérin).


A trilha sonora, atípica, inclui as seguintes canções:


"Just a Closer Walk with Thee" – Choirs of Burnside High School, Cashmere High School, Hagley Community College, Villa Maria College

"Be My Love" – written by Nicholas Brodszky, Sammy Cahn; performed by Mario Lanza

"The Donkey Serenade" – performed by Mario Lanza

"(How Much Is) That Doggie in the Window?" – Bob Merrill; performed by the actors

"Funiculì, Funiculà" – written by Luigi Denza, Peppino Turco; performed by Mario Lanza

"E lucevan le stelle" from Tosca by Giacomo Puccini; performed by Peter Dvorský

"The Loveliest Night of the Year" – performed by Mario Lanza

"Sono Andati" from La Bohème by Giacomo Puccini; performed by Kate Winslet

"The Humming Chorus" from Madama Butterfly by Giacomo Puccini – performed by the Hungarian State Opera

"You'll Never Walk Alone" – performed by Mario Lanza



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