Pular para o conteúdo principal

Bem-Vindos ao Paraíso (1990): Filme retrata os campos de concentração para japoneses nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial

"Come See the Paradise" ou "Bem-Vindos ao Paraíso", é um filme escrito e dirigido por Alan Parker e estrelado por Dennis Quaid e Tamlyn Tomita. Situado durante a Segunda Guerra Mundial, o filme retrata o tratamento dado aos nipo-americanos nos Estados Unidos após o ataque a Pearl Harbor e a subsequente perda das liberdades civis. A construção dos campos de concentração para japoneses, pouco mencionados, são mostrados em meio de uma história de amor proibida entre um americano branco e uma japonesa



Já em 1950, Lily Kawamura conta a sua filha pré-adolescente Mini sobre seu pai e a vida da qual ela mal se lembra, enquanto os dois caminham para uma estação de trem rural. O casal se conheceu 1936, Jack McGurn se viu envolvido em uma campanha de assédio contra cinemas não sindicalizados na cidade de Nova York. Um desses ataques se torna fatal, pois um de seus colegas sindicalistas inicia um incêndio. 


O chefe de McGurn, sabendo que os sentimentos de culpa provavelmente levariam Jack à polícia, o exorta a deixar a cidade. Jack se muda para Los Angeles e assim arruma um emprego em um cinema não sindicalizado onde quem era dono era um japonês, pai de Lily.


É necessário entender que em termos de cinema e história, e a relação do filme e si, como diria Marc Ferro, é necessário o entendimento da proporção de quando o filme é feito, para com a época que quer se retratar. 


Os anos 1990, ano de produção do filme, vivemos a crise dos Tigres Asiáticos em uma diminuição pequena e progressiva do crescimento japonês contemporâneo que parecia até antes impossível de desacelerar, pela ligação do neoliberalismo americano e o surgimento das grandes empresas de tecnologia e comunicação modernas. Já os anos 1940 e 1950 retratados no filme são exemplares para entender as particularidades da história americana, muitas vezes fenômenos que são quase completamente apagados da história. 



o caminho que o filme trata e a época, aqui estamos falando de da Segunda Guerra. depois do episódio do ataque a base americana de Pearl Harbor era entendido por parte dos aliados americanos que eles precisavam de algo com muito impacto para terminar finalmente a guerra, era esse o discurso, por isso que quando os EUA atacaram o Japão com a Bomba Atômica, o evento ainda foi vendido como uma "tática de paz". 


O tratamento aos japoneses nos EUA foi cruel e macabro. Lembrando que os Estados Unidos vivia em plena funcionalidade com as doutrinas de limpeza social, principalmente depois da refundação da KKK nos EUA, os linchamentos e pressão por separação étnica envolvia também os japoneses, consideram pelo branco saxão como uma raça menor. Por conta disso, houve um decreto de remoção de todos os japoneses do território americano na época do fim da Segunda Guerra, o medo social e o pânico moral foram levantados. 


O problema é que como mostrado nesse filme, o imigrante japonês que foi aos Estados Unidos está muito mais em uma onda progressista anti monárquica, do que o imigrante japonês, que tradicionalmente era mais fiel ao imperador japonês, até por se inserir em locais como o interior de São Paulo e lidar mais com um viés de agricultura familiar que coincidia com a ideia de ser pró guerra, ás vezes. 


O problema é que ser fiel ao imperador era confundida com amor a pátria, e com as próprias noções de gosto, história e cultura. Por isso as leis no Brasil buscaram coibir mais o sentido de apoio ao resistência que poderia ter pró Japão e Alemanha no Brasil. Com nomes como Prestes do PCB que queriam uma separação total e uma visão até mesmo racista sobre os japoneses. 

Isso foi mencionado no livro Corações Sujos, de Fernando de Morais.

Acontece que a opinião de Gilberto Freyre era diferente, ele achava que muitos estavam seguindo apenas a própria cultura e história familiar individual. Prova de que os decretos no Brasil foram mais brandos foi que apesar da língua japonesa e de manifestações culturais serem proibidas, nenhum japonês foi colocado em campos de concentração como aconteceu nos Estados Unidos, e esse filme aborda com uma historicidade assustada através de um romance inter-racial (que era proibido pelas leis americanas da época).


O filme combina duas linhas temporais, uma é quando Jack se muda para Los Angeles e conhece sua namorada japonesa na época da Segunda Guerra, e a outra, nos anos 1950 é da família, apenas alguns anos mais tarde se reencontrando com Jack junto a Lily e Mini, como ele estava na prisão pelo antigo crime e a guerra tinha passado, finalmente pôde ver sua família.



"Tomando o nome de McGann, Jack encontra um emprego como projecionista não sindicalizado em um cinema administrado por uma família nipo-americana chamada Kawamura. Ele se apaixona por Lily, filha de seu chefe. Proibido de se ver por seus pais Nissei, já que haviam leis de proibição de casamentos inter-raciais pela lei da Califórnia da época, por isso que o casal foge para Seattle, onde se casam e têm uma filha, Mini. Mas a situação não melhora por conta da crise, e se eles se podem casar por lá, Jack não consegue ver seus companheiros de fábrica sem os mínimos direitos trabalhistas, então ele briga e sai prejudicado, e aí sua esposa tem que voltar para casa em Los Angeles, onde já vemos a perseguição aguda aos japoneses. 

Quando a Segunda Guerra Mundial começa, Lily e sua filha são apanhadas no internamento nipo-americano, reunidas e enviadas para Manzanar, Califórnia. Jack, em viagem, é convocado para o Exército dos Estados Unidos sem chance de ajudar sua família a se preparar para a prisão. Finalmente visitando o acampamento, ele marca um encontro privado com o pai de sua esposa, dizendo-lhe que ele se ausentou e quer ficar com eles, aconteça o que acontecer. Eles são sua família agora e ele pertence a eles. 


O homem mais velho o aconselha a voltar para o Exército e diz que agora acredita que Jack está realmente apaixonado por Lily e um marido digno. Retornando, pronto para enfrentar sua punição por deserção, ele é recebido por agentes do FBI, que identificaram "McGann" como sendo o McGurn procurado por sua participação no incêndio criminoso anos antes."


História por trás do filme


O filme foi considerado um fracasso de bilheteria, mas seu tema histórico e didático, é extremamente necessário para se entender um capítulo importante da história da imigração nos Estados Unidos. A inspiração veio para o diretor Alan Parker quando ele foi visitar um museu nacional dos japoneses em Los Angeles e aprendeu sobre os campos de concentração destinados aos japoneses, que na visão americana, era uma óbvia política de higienização e gentrificação. 


Depois dessa visita, Alan Parker fez uma intensa pesquisa, onde entrevistou parentes e outros japoneses que passaram por essa situação. Na época, a opinião dos americanos era de que isso era uma resposta aos campos de concentração que os alemães estavam fazendo. Naquela época, não se separava etnia de nacionalidade, essa é uma separação fruto da modernidade e que foi reprimida historicamente. 


Se compararmos com o filme "Corações Sujos", o tratamento dado aos japoneses na América foi vergonhoso e vexatório por parte dos americanos. Se as leis brasileiras de 1946 previam a proibição de ensinar o idioma no período da guerra, nos Estados Unidos foi campos de concentração, a diferente para a Alemanha era que não havia relatos de morte em massa, apenas a prisão e a completa usurpação de todos os bens. 


Os japoneses que fugiram para a América eram vistos como aliados do imperador pelos americanos, que consideravam que etnia e nacionalidade não poderiam se misturar, uma questão engraçada, já que os alemães também possuíam a mesma ideologia. Os decretos contra os japoneses foram feitos como reflexo desse medo, que alguns da faculdade chamam de "medo amarelo" (o que já é racismo puro) em relação a como é identificado a pessoa descendente de japoneses na classificação racial do IBGE, por significar literalmente "medo do amarelo" na visão racista universitária. Isso foi porque no Brasil, os japoneses foram de mal visto por serem fiéis aos seus costumes tradicionais nos anos 1940, porém, depois disso, nos anos de 1960, houve uma grande ascensão social dos japoneses no Brasil, eles que estavam no interior e na agricultura começaram a exercer como nos EUA profissões liberais.


Dirigido por Alan Parker, que também fez filmes como, Midnight Express (um filme sobre prisões na Turquia), Fame, Mississippi Burning, e Evita (com Madonna como Evita). O título do filme é inspirado em um verso do pequeno poema "I Hear The Oriole's Always-Grieving Voice" da poetisa russa Anna Akhmatova, que termina com os seguintes versos: 



"Não espero as ternas lisonjas do amor,


Na premonição de algum evento sombrio,


Mas venha, venha conhecer este paraíso


Onde juntos fomos abençoados e inocentes."


A música tem um lugar cativante e preservado na cultura japonesa, como nós tivemos a Bossa Nova nos anos 1950, os japoneses tiveram fenômenos de música popular de viés parecido, e isso é muito mostrado no filme, mostrando a ligação dos japoneses americanos com cultura e discos em geral. Isso é mostrado quando os japoneses tem que sair de sua própria casa e perdem a cultura e a cotidianidade que tanto preservavam mesmo a América. A lição aqui é como a cultura pode individual pode se confundida e classificada como terrorista, apenas por ser local.  


O escritor Alan Parker não conseguiu localizar o poema original de Akhmatova e escreveu seu próprio poema antes de escrever o roteiro para tentar dizer o que o filme diria:



"Todos nós sonhamos nossos sonhos americanos


Quando estamos acordados e quando dormimos


Tanta esperança que a dor desmente


Muito além das mentiras e suspiros


Porque os sonhos são gratuitos


E nós também


Venha Conhecer o Paraíso".


Um filme emocionante, histórico e necessário e uma homenagem a cultura japonesa do cineasta Alan Park. 



Comentários

Em Alta no Momento:

Os Desajustados (The Misfits, 1961): Um faroeste com Marilyn Monroe e Clark Gable sobre imperfeição da obra do artista e o fim fantasmagórico da Era de Ouro do Cinema Americano

Rastros de Ódio (The Searchers, 1956): Clássico de John Ford é o maior faroeste de todos os tempos e eu posso provar

Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989): Filme suavizou livro de Stephen King mas é a melhor adaptação da obra até hoje. Confira as diferenças do livro para o filme

"1883" (2021): Análise e curiosidades da série histórica de western da Paramount



Curta nossa página: