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O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973): Um clássico do folk horror que desafia as convenções do gênero ao chocar cristianismo e o paganismo




O Homem de Palha é um filme de terror e suspense dirigido por Robin Hardy e roteirizado por Anthony Shaffer, que se passa em uma ilha fictícia inspirada na verdadeira ilha de Saint Kilda, na Escócia. O filme conta a história do sargento Howie (Edward Woodward), um policial cristão que vai até a ilha de Summerisle para investigar o desaparecimento de uma jovem. Lá, ele se depara com uma comunidade que segue uma estranha seita pagã liderada pelo fazendeiro Lord Summerisle (Christopher Lee). Howie se envolve em uma série de intrigas e mistérios enquanto tenta encontrar a garota e confronta os costumes e rituais dos habitantes da ilha


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Crítica do filme


O início do filme O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973) apresenta o personagem principal, o sargento Howie (Edward Woodward), um policial cristão que recebe uma carta anônima sobre o desaparecimento de uma jovem chamada Rowan Morrison na ilha de Summerisle. 


Ele decide ir até a ilha para investigar o caso, mas encontra dificuldades, pois os habitantes locais se mostram hostis e desconfiados com a sua presença, ao estilo Resident Evil 4. Ele consegue uma carona em um hidroavião e pousa na ilha, onde é recebido com indiferença pelo dono do pub local, que nega conhecer a garota desaparecida. Howie vê uma foto de Rowan na parede do pub e insiste em falar com os pais dela, mas é interrompido por uma música sensual cantada por Willow (Britt Ekland), a filha do dono do pub. 


Howie se hospeda no pub e tenta dormir, mas é perturbado pelos ruídos dos moradores que fazem sexo e pela própria Willow, que tenta seduzi-lo através da parede. Howie resiste às tentações e reza fervorosamente.


O início do filme estabelece o tom e o tema da história, que é o contraste entre o cristianismo e o paganismo, representado pelo sargento Howie e pelos habitantes da ilha. Vemos como Howie se sente deslocado e incomodado naquele ambiente estranho e diferente dos seus valores morais e religiosos. 


Os habitantes da ilha se sentem livres e felizes em sua forma de vida alternativa, baseada na natureza e na sexualidade. O mistério e suspense em torno do desaparecimento de Rowan e da seita pagã aumenta. 


O filme também utiliza a música como um elemento importante para criar a atmosfera e o ritmo da narrativa, alternando canções folclóricas e originais que expressam a cultura e a personalidade dos personagens, quase como uma tragédia anunciada.



Na metade do filme, vemos o aprofundamento da investigação do sargento Howie (Edward Woodward) sobre o paradeiro de Rowan. Howie visita vários locais da ilha, como a escola, a biblioteca, o cemitério, o consultório médico e a mansão do Lord Summerisle (Christopher Lee), e descobre que todos os habitantes estão envolvidos em uma conspiração para esconder a verdade sobre Rowan. 



Ele também descobre que a ilha é regida por uma seita pagã que cultua os antigos deuses da natureza e realiza rituais e sacrifícios para garantir a fertilidade da terra e das pessoas. Howie se choca com as práticas e as crenças dos habitantes da ilha, que vão contra os seus princípios cristãos e morais, o que cada vez mais aumenta seu conservadorismo e vontade resolver o caso. 


Há a cena bastante polêmica e controversa do filme, onde vemos um grupo de meninas dançando nuas no campo. Acho que essa cena mostra o contraste entre a visão cristã e a visão pagã sobre a sexualidade e a natureza. Para os cristãos, representados pelo policial Howie, a nudez e o sexo são pecados e devem ser reprimidos e controlados. Para os pagãos, representados pelas meninas e pelos habitantes da ilha, a nudez e o sexo são formas de expressão e de celebração da vida e da fertilidade. Essa cena também mostra como o policial Howie é tentado e provocado pelas meninas, que fazem parte de um plano maior para usá-lo como um sacrifício humano. A moral da cena é que nem tudo é o que parece, e que há diferentes formas de ver e viver o mundo.



Ele tenta convencer o Lord Summerisle a abandonar o paganismo e a se converter ao cristianismo, mas é rejeitado e ridicularizado. Ele também tenta prender alguns moradores por crimes como assassinato, incesto e blasfêmia, mas é impedido pela falta de provas e pela falta de cooperação dos habitantes, uma vez que para levar os homens até a autoridade .


A metade do filme aumenta o suspense e o mistério em torno do caso de Rowan e da seita pagã. Alguns segredos e pistas sobre o que está acontecendo na ilha, mas também cria novas dúvidas e surpresas. 


Vemos mais a fundo os aspectos culturais e religiosos da ilha, mostrando os seus ritos e costumes, como a dança do maio, a procissão dos animais, o culto ao sol e à lua, a adoração aos ancestrais e aos elementos da natureza. O filme também mostra mais o conflito entre o sargento Howie e o Lord Summerisle, que representam duas visões de mundo opostas e irreconciliáveis. O filme também utiliza mais a música como um recurso narrativo, tanto para criar um clima de tensão e de ironia, como para expressar as emoções e as motivações dos personagens.


O final é chocante e memorável e para poder analisar melhor vou ter que dar spoilers. Então se você não viu o filme dos anos 70, vá ver e volte depois. 


O final do filme O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973) mostra o desfecho da investigação do sargento Howie (Edward Woodward) sobre o caso de Rowan Morrison, a jovem desaparecida na ilha de Summerisle. Howie descobre que Rowan está viva e que tudo foi uma armadilha para atraí-lo até a ilha. Ele se veste de palhaço para se infiltrar na procissão pagã e tentar resgatar a jovem que ele acredita estar em perigo. Por outro lado, o policial se torna um palhaço involuntário, pois é enganado e manipulado pelos habitantes da ilha, que o escolheram como o sacrifício perfeito para o seu ritual. Ele também se torna um palhaço trágico, pois é ridicularizado e humilhado pelos pagãos, que zombam da sua fé e da sua inocência. O fato do policial se vestir de palhaço é uma forma de mostrar como ele é um estranho na ilha, e como ele é vítima de uma armadilha fatal.



O policial foi escolhido como o sacrifício humano perfeito para os deuses pagãos da ilha, pois ele era um estranho, um cristão devoto, um representante da lei e um virgem. Ele descobre que o Lord Summerisle (Christopher Lee) e os habitantes da ilha planejaram tudo com antecedência, usando a carta anônima, as pistas falsas, as mentiras e as tentações para enganá-lo e manipulá-lo. Ele descobre que o sacrifício era necessário para garantir uma boa colheita na ilha, pois os habitantes acreditavam que os deuses estavam insatisfeitos com eles. 


O sargento Howie é levado até uma enorme estrutura feita de galhos entrelaçados que representa um homem de palha (wicker man). Ele é colocado dentro do homem de palha junto com vários animais e é queimado vivo pelos habitantes da ilha, que cantam e dançam em volta da fogueira. Howie grita de dor e de desespero, mas também reza e canta hinos cristãos, mantendo a sua fé até o fim. O filme termina com uma imagem do sol se pondo atrás do homem de palha em chamas.


O final conclui a história de forma impactante e surpreendente, pois revela a verdade sobre o caso de Rowan e sobre a seita pagã. O destino trágico e cruel do sargento Howie, que foi vítima de uma conspiração macabra e sem escrúpulos. Há certo triunfo do paganismo sobre o cristianismo, representado pela vitória do Lord Summerisle e dos habitantes da ilha sobre o sargento Howie, pois o cristianismo seria filho do paganismo ou relacionado a ele. O filme também questiona a validade e a eficácia das duas religiões, mostrando seus pontos fortes e fracos, suas semelhanças e diferenças, suas virtudes e vícios. O filme também utiliza a música como um elemento final para criar um contraste entre as duas culturas e as duas visões de mundo.


O filme explora com notável eficiência o tema do paganismo, ou seja, aquelas religiões pré-cristãs que idolatravam diversos deuses (entidades que protegiam o sol, os pomares, os campos, as colheitas), e que eventualmente utilizavam sacrifícios humanos em rituais bizarros que celebravam a fertilidade venerando os símbolos fálicos como geradores da natureza.


O filme pretende passar uma visão crítica e complexa do paganismo, mostrando seus pontos fortes e fracos, suas semelhanças e diferenças com o cristianismo, suas virtudes e vícios. Não demoniza nem glorifica o paganismo, mas sim o apresenta como uma forma de vida alternativa e autêntica, que tem seus próprios valores e crenças, que podem ser questionados e confrontados, mas não ignorados ou desprezados. 


Também pretende passar uma mensagem não muito conciliatória sobre a tolerância e o respeito entre as diferentes culturas e religiões, mostrando as consequências trágicas e cruéis da intolerância e do fanatismo, tanto do lado cristão quanto do lado pagão. O filme também pretende passar uma reflexão sobre a relação entre o homem e a natureza, mostrando como o paganismo valoriza e celebra a natureza como fonte de vida e de sabedoria, mas também como o paganismo pode se tornar uma forma de manipulação e de exploração da natureza em nome de interesses egoístas e supersticiosos.


O filme busca fazer a relação das influências do paganismo no cristianismo, mostrando como algumas tradições e símbolos cristãos têm origem ou semelhança com os do paganismo. 


Por exemplo, o filme mostra como a Páscoa cristã é celebrada na mesma época do festival de Beltane, que marca o início da primavera e da fertilidade no paganismo. A cruz cristã é comparada ao homem de palha, que representa o sacrifício humano no paganismo. O sargento Howie usa uma máscara de coelho, que é um animal associado à reprodução e à vida no paganismo, para tentar resgatar Rowan. Já o Lord Summerisle cita versículos bíblicos para justificar suas ações e crenças pagãs. Os habitantes da ilha usam máscaras de animais, que são representações dos deuses pagãos, para enganar e confundir o sargento Howie.


Em termos políticos, entre esquerda e direita, o filme tenta questionar e criticar os sistemas e as ideologias dominantes na sociedade. O paganismo representa uma forma de resistência e de contestação ao cristianismo, que é a religião oficial e hegemônica na cultura ocidental. O filme também mostra como o paganismo representa uma forma de comunidade e de solidariedade entre os habitantes da ilha, que vivem em harmonia com a natureza e com os seus próprios valores e crenças, sem se submeterem às imposições e às normas do Estado e da Igreja. 


O cristianismo representa uma forma de opressão e de alienação para o sargento Howie, que é um agente da lei e da ordem, que segue rigidamente os dogmas e os mandamentos da sua religião, sem questionar ou duvidar dos mesmos. O cristianismo representa uma forma de violência e de intolerância para os habitantes da ilha, que são perseguidos e condenados por suas práticas e crenças pagãs, que são consideradas heréticas e pecaminosas. Por outro lado, Lord Summerisle, que é um fazendeiro rico e poderoso, que usa a sua influência e o seu conhecimento para manipular e controlar os habitantes da ilha, fazendo-os acreditar que ele é um representante dos deuses pagãos e que ele sabe o que é melhor para eles. Ou seja, o Lord Summerisle usa o paganismo como uma forma de justificar os seus interesses econômicos e políticos, pois ele depende da colheita da ilha para manter o seu status e a sua riqueza.


Não uma relação tão simples e direta entre as posições políticas e as posições religiosas dos personagens. Tanto o paganismo quanto o cristianismo podem ser usados para fins políticos, tanto de esquerda quanto de direita, dependendo de quem os interpreta e de como os aplica. 


O sargento Howie é um policial conservador e cristão, mas que também é um policial honesto e dedicado, que busca fazer justiça e proteger os inocentes. Lord Summerisle é um líder liberal e pagão, mas que também é um líder manipulador e egoísta, que busca manter o seu poder e a sua riqueza. 


O conflito entre eles é um conflito entre duas visões de mundo opostas e irreconciliáveis, que envolvem questões culturais, religiosas, morais e éticas. O destino trágico do sargento Howie não é uma consequência da sua posição política, mas sim da sua posição religiosa, pois ele foi escolhido como o sacrifício perfeito por ser um cristão devoto. Essa posição o torna um mártir, pois ele morre fiel à sua fé e aos seus princípios.


O filme pode querer dizer que tanto o paganismo quanto o cristianismo podem ser vistos como formas de resistência e de contestação para as pessoas, que podem buscar na sua religião e na sua cultura uma forma de expressão e de afirmação da sua individualidade e da sua coletividade. O conflito quanto o diálogo entre as diferentes ideologias e culturas são necessários e inevitáveis, mas que também podem ser perigosos e trágicos, se não forem feitos com respeito e com tolerância. A natureza quanto a sociedade são fontes de vida e de sabedoria para as pessoas, mas que também podem ser fontes de morte e de ignorância, se não forem cuidadas e valorizadas.


Como uma fonte histórica para o seu contexto de produção, o filme reflete as questões e os debates que marcaram a sociedade britânica na década de 1970, como a crise econômica, a violência política, o conflito na Irlanda do Norte, a contestação social, a contracultura, o feminismo, o ecologismo, o neopaganismo, etc. Provoca e interpela os espectadores sobre as suas próprias representações e identidades históricas, culturais e religiosas, fazendo-os questionar e confrontar os seus valores e crenças. 


O filme pode ser visto como uma obra de arte que tem uma dimensão estética e simbólica, pois ele utiliza os recursos do cinema, como a imagem, o som, a música, a montagem, para criar uma atmosfera e um universo próprios, que misturam realidade e fantasia, horror e humor, suspense e musical. Em uma dimensão simbólica, ele usa os símbolos e os rituais do paganismo e do cristianismo para construir um sentido e uma mensagem sobre a natureza humana e a história humana.


O final do romance é diferente do final do filme. No romance, o policial Hanlin descobre que a criança que ele estava procurando não foi morta, mas sim escondida pelos habitantes da vila. Ele também descobre que o líder da vila, o fazendeiro Viney, é o seu próprio pai biológico, que o abandonou quando ele era um bebê. A filha do dono do pub, Willow, é a sua meia-irmã, com quem ele teve relações sexuais. Tudo foi uma armadilha para fazê-lo participar de um ritual pagão de fertilidade, no qual ele seria o pai de uma nova geração de crianças. Ele tenta fugir da vila, mas é perseguido e capturado pelos habitantes, que o levam para um campo onde há um grande homem de palha em chamas. Ele é colocado dentro do homem de palha e queimado vivo, enquanto os habitantes cantam e dançam ao redor do fogo.


No filme, o policial Howie descobre que a criança que ele estava procurando não foi morta, mas sim usada como isca para atraí-lo para a ilha. Ele também descobre que o líder da ilha, o Lord Summerisle, é o descendente de um aristocrata que introduziu o paganismo na ilha como uma forma de controlar os habitantes. Os habitantes da ilha planejam sacrificar um humano para apaziguar os deuses e garantir uma boa colheita. Ele tenta salvar a criança, mas é enganado e capturado pelos habitantes, que o levam para um penhasco onde há um grande homem de palha em chamas. Ele é colocado dentro do homem de palha e queimado vivo, enquanto os habitantes cantam e rezam ao sol.


Ou seja, a principal diferença era o ritual da fertilidade sexual, onde no livro o policial ao fugir foi morto por se recusar a fazer parte da comunidade. Já no filme, apesar do jogo sexual, nunca foi por se recusar a fazer parte da comunidade ou do ritual sexual, uma vez que o filme brinca que essas formas de sedução eram apenas uma forma de ironia e manipulação para ele ficar cada vez mais próximo do homem de palha.


No romance, o policial é vítima de um ritual de fertilidade sexual, no qual ele é o escolhido para gerar uma nova linhagem de habitantes da vila. No filme, o policial é vítima de um ritual de sacrifício humano, no qual ele é o escolhido por ser um cristão devoto e virgem. No romance, o policial é morto por se recusar a fazer parte da comunidade e do ritual sexual, pois ele tem uma moral cristã e puritana. No filme, o policial é morto por fazer parte de um plano dos habitantes da ilha, que o usam como uma oferenda aos deuses pagãos. No romance, o policial é seduzido e enganado pela sua meia-irmã Willow, que faz parte do ritual sexual. No filme, o policial é tentado e frustrado pela filha do dono do pub Willow, que faz parte do plano dos habitantes da ilha.


Essa diferença entre o romance e o filme muda a forma como vemos os personagens e os acontecimentos. No romance, os personagens são mais complexos e ambíguos, pois eles têm relações familiares e afetivas entre si, que influenciam as suas ações e as suas motivações. No filme, os personagens são mais simples e caricatos, pois eles têm papéis definidos e opostos entre si, que determinam as suas atitudes e as suas intenções. No romance, os acontecimentos são mais sutis e imprevisíveis, pois eles dependem das escolhas e das reações do policial, que é o narrador e o protagonista da história. No filme, os acontecimentos são mais explícitos e inevitáveis, pois eles fazem parte de um plano dos habitantes da ilha, que é revelado ao final da história.


O filme é de alguma maneira crítico ao livro. Eu acho que o filme questiona e subverte a visão do livro sobre o sexo, o paganismo e o cristianismo. Ele mostra que o sexo não é algo positivo ou negativo em si mesmo, mas sim algo que pode ser usado para diferentes fins, como o prazer, a reprodução, a manipulação ou o sacrifício. O paganismo não é algo natural ou benigno em si mesmo, mas sim algo que pode ser usado para diferentes fins, como a celebração, a fertilidade, a dominação ou a violência. 


O filme mostra que o cristianismo não é algo artificial ou maligno em si mesmo, mas sim algo que pode ser usado para diferentes fins, como a fé, a virtude, a hipocrisia ou a resistência. Tanto o sexo quanto o paganismo quanto o cristianismo são formas de expressão e de poder que podem ser conflitantes ou complementares, dependendo de quem os pratica e de como os pratica.


Tanto o livro quanto o filme apresentam visões possíveis da realidade, mas também visões parciais e limitadas da realidade. O livro apresenta uma visão mais psicológica e individual da realidade, que se baseia nas experiências e nas emoções do policial. O filme apresenta uma visão mais sociológica e coletiva da realidade, que se baseia nas relações e nas tradições dos habitantes da ilha. Ambas as visões têm seus méritos e seus defeitos, e que podem ser complementares ou contraditórias, dependendo de como se analisa e se compara.



O diretor Robin Hardy fez um bom trabalho em criar uma atmosfera de mistério e tensão na ilha, usando bem os cenários naturais e a trilha sonora. Ele também soube explorar os contrastes entre o policial cristão e os habitantes pagãos, mostrando as diferenças culturais e religiosas. Ele também conseguiu extrair boas atuações dos atores, especialmente de Christopher Lee, que interpreta o carismático e sinistro Lord Summerisle. A direção do filme é criativa e original, e contribui para o impacto do filme.


Algumas marcas de seu estilo que são elogiáveis são o uso de planos abertos e fechados para mostrar a beleza e o isolamento da ilha, e também para destacar os rostos e as expressões dos personagens. O uso de cores vivas e contrastantes para representar a vitalidade e a diversidade da cultura pagã, e também para contrastar com o uniforme cinza e a rigidez do policial. O uso de músicas folclóricas e rituais para criar uma atmosfera de festividade e mistério, e também para mostrar a importância da natureza e da fertilidade para os habitantes da ilha. A câmera é subjetiva e de planos detalhe para mostrar o ponto de vista do policial e sua confusão e curiosidade diante dos acontecimentos estranhos que presencia na ilha. Os simbolismos e metáforas visuais para sugerir o tema do sacrifício e do renascimento, como por exemplo o homem de palha, o sol, o fogo, os animais, as frutas, etc.


É um filme histórico, sensacional, necessário. Recomendo e muito, pois é um filme que pode ser questionado em algumas intenções, mas é totalmente impactante e relevante, cumprindo sua função de filme de terror: assustar.



História por trás do filme


O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973) foi produzido por Peter Snell e Christopher Lee, que também atuou como o Lord Summerisle. O filme foi dirigido por Robin Hardy e roteirizado por Anthony Shaffer, que se baseou em um romance chamado Ritual, de David Pinner. O filme teve uma produção conturbada e enfrentou vários problemas com a censura e a distribuição. O filme foi cortado e alterado pelos produtores sem o consentimento do diretor e do roteirista, que ficaram insatisfeitos com o resultado final. O filme teve várias versões diferentes, com durações e cenas distintas. A versão original do diretor, que tinha cerca de 99 minutos, foi considerada perdida por muitos anos, até que foi restaurada e lançada em 2013. O filme foi um fracasso comercial e crítico na época do seu lançamento, mas ganhou reconhecimento e culto posteriormente, sendo considerado um dos melhores filmes de terror de todos os tempos.


Ritual é um romance de horror do autor e ator britânico David Pinner, publicado pela primeira vez em 1967. O romance conta a história de um policial inglês chamado David Hanlin, que é chamado para investigar o que parece ser o assassinato ritualístico de uma criança em uma vila rural e isolada na Cornualha. Durante a sua curta estadia, ele é submetido a uma série de truques psicológicos, sedução sexual, práticas religiosas antigas e rituais sacrifícios assustadores. O romance explora os temas do paganismo, do cristianismo, da moralidade, da sexualidade, da identidade e da violência.


A estrutura narrativa do romance, que segue a lógica de um mistério policial, mas que também incorpora elementos de fantasia e de terror. O romance usa o ponto de vista do policial Hanlin, que é o narrador e o protagonista da história, mas que também é um personagem ambíguo e contraditório. O romance também usa flashbacks, sonhos, alucinações e metáforas para criar uma atmosfera de suspense e de estranhamento.


A caracterização dos personagens do romance, que são complexos e multifacetados. O policial Hanlin é um cristão puritano e um agente da lei e da ordem, mas que também é arrogante, intolerante, rígido e ingênuo. Ele se sente atraído e repelido pelos habitantes da vila, que são pagãos, livres, alegres, criativos e comunitários, mas que também são manipuladores, supersticiosos, cruéis e fanáticos. Ele se envolve em uma relação ambígua com Willow, a filha do dono do pub, que é sedutora, misteriosa, sensual e rebelde. Ele se confronta com o líder da vila, o fazendeiro Michael Viney, que é culto, carismático, sábio e generoso, mas que também é egoísta, mentiroso, tirânico e sanguinário.


O contexto histórico e cultural do romance, que reflete as questões e os debates que marcaram a sociedade britânica na década de 1960. O romance aborda temas como a crise econômica, a violência política, o conflito na Irlanda do Norte, a contestação social, a contracultura, o feminismo, o ecologismo, o neopaganismo etc. O romance também dialoga com outras obras literárias e cinematográficas que tratam do horror e do ocultismo na Inglaterra rural ou insular.


A influência do romance na adaptação cinematográfica de 1973 The Wicker Man (O Homem de Palha), dirigida por Robin Hardy e escrita por Anthony Shaffer. O filme usou o romance como base para a sua história, mas também fez várias mudanças e acréscimos. O filme alterou o nome do policial para Neil Howie e o nome do líder da vila para Lord Summerisle. O filme também introduziu elementos musicais e cômicos na trama. O filme também mudou o final do romance para um final mais chocante e memorável. O filme foi um fracasso comercial e crítico na época do seu lançamento, mas ganhou reconhecimento e culto posteriormente. O filme também gerou uma refilmagem em 2006 com Nicolas Cage no papel principal.


No início da década de 1970, Christopher Lee era um regular da Hammer Horror, mais conhecido por seus papéis em uma série de filmes de sucesso, começando com A Maldição de Frankenstein (como o monstro, 1957). Lee queria se libertar dessa imagem e assumir papéis de atuação mais interessantes. A ideia para o filme The Wicker Man começou em 1971, quando Lee se encontrou com o roteirista Anthony Shaffer, e eles concordaram em trabalhar juntos. O diretor de cinema Robin Hardy e o chefe do British Lion, Peter Snell, se envolveram no projeto. Shaffer teve uma série de conversas com Hardy, e os dois decidiram que fazer um filme de terror centrado na "velha religião" seria divertido, em nítido contraste com os filmes da Hammer que ambos tinham visto como fãs de filmes de terror. 


Shaffer leu o romance de David Pinner, Ritual, no qual um policial cristão devoto é chamado para investigar o que parece ser o assassinato ritual de uma jovem em uma aldeia rural, e decidiu que serviria bem como material de origem para o projeto. Pinner originalmente escreveu Ritual como um tratamento de filme para o diretor Michael Winner, que tinha John Hurt em mente como uma possível estrela. Winner eventualmente recusou o projeto, então o agente de Pinner o convenceu a escrever Ritual como um romance. Shaffer e Lee pagaram a Pinner £ 15.000 (equivalente a US $ 225.561 em 2021) pelos direitos do romance, e Shaffer começou a trabalhar no roteiro. Ele logo decidiu que uma adaptação direta não funcionaria bem, então elaborou uma nova história baseada apenas vagamente na história do romance. 


Shaffer queria que o filme fosse "um pouco mais letrado" do que o filme de terror médio. Ele queria especificamente um filme com um mínimo de violência e gore. Ele estava cansado de ver filmes de terror que dependiam quase inteiramente de vísceras para serem assustadores. O foco do filme foi cristalizado quando ele "finalmente chegou ao conceito abstrato de sacrifício". A imagem do homem de vime, que deu título aos cineastas, foi tirada da descrição da prática do sacrifício humano pelos gauleses nos Comentários de Júlio César sobre a Guerra das Gálias: "Outros têm figuras de grande tamanho, cujos membros formados de osiers eles enchem de homens vivos, que sendo incendiados, os homens perecem envoltos nas chamas". Para Shaffer, esta foi "a imagem mais alarmante e imponente que eu já tinha visto". 


A ideia de um confronto entre um cristão moderno e uma comunidade pagã remota continuou a intrigar Shaffer, que realizou uma pesquisa meticulosa sobre o paganismo. Debatendo com Hardy, eles conceberam o filme como apresentando os elementos pagãos de forma objetiva e precisa, acompanhados por música autêntica e um cenário crível e contemporâneo. Um de seus principais recursos foi The Golden Bough, um estudo da mitologia e religião escrito pelo antropólogo escocês James Frazer.


O ator de televisão Edward Woodward foi escalado para o papel do sargento Neil Howie depois que o papel foi recusado por Michael York e David Hemmings. Na Grã-Bretanha, Woodward era mais conhecido pelo papel de Callan, que ele desempenhou de 1967 a 1972. Depois de The Wicker Man, Woodward passou a receber atenção internacional por seus papéis no filme de 1980 Breaker Morant e na série de TV da década de 1980 The Equalizer.


Depois que Shaffer a viu no palco, ele atraiu Diane Cilento para fora da semi-aposentadoria para interpretar a professora da cidade. (Eles viveram juntos em Queensland a partir de 1975, e se casaram em 1985). Ingrid Pitt, outra veterana britânica do cinema de terror, foi escalada como a bibliotecária e escrivã da cidade. A atriz sueca Britt Ekland foi escalada como a filha lasciva do estalajadeiro, embora dois dublês de corpo tenham sido usados para suas cenas nuas abaixo da cintura. Ekland descobriu que estava grávida de três meses de seu filho Nic, de Lou Adler, duas semanas após as filmagens. Stuart Hopps (coreógrafo do filme) chamou Lorraine Peters, uma dançarina de boate de Glasgow, que girou na porta e contra a parede de um quarto nas cenas de "parede" totalmente nuas. Suas vozes de falar e cantar foram dubladas por Annie Ross e Rachel Verney, respectivamente.


A garota local Jane Jackson foi contratada como substituta de Ekland para configurações de câmera. Jackson era loiro e tinha uma semelhança com Britt Ekland, mas não estava envolvido em nenhuma filmagem.


O filme foi produzido em um momento de crise para a indústria cinematográfica britânica. O estúdio encarregado da produção, British Lion Films, estava com problemas financeiros e foi comprado pelo rico empresário John Bentley. Para convencer os sindicatos de que ele não estava prestes a despojar a empresa, Bentley precisava colocar um filme em produção rapidamente. Isso significou que The Wicker Man, um filme ambientado durante a primavera, realmente começou a ser filmado em outubro de 1972; folhas e flores artificiais tiveram que ser coladas às árvores em muitas cenas. A produção foi mantida com um orçamento pequeno. Christopher Lee estava extremamente interessado em fazer o filme; ele e outros trabalharam na produção sem remuneração. Durante as filmagens, British Lion foi comprado pela EMI Films.


O filme foi filmado quase inteiramente nas pequenas cidades escocesas de Stranraer, Gatehouse of Fleet, Newton Stewart, Kirkcudbright, Anwoth e Creetown em Galloway, bem como Plockton em Ross-shire. Algumas cenas foram filmadas dentro e ao redor da Ilha de Whithorn, onde os proprietários do castelo, Elizabeth McAdam McLaughland e David Wheatley, além de várias outras pessoas locais, apareceram em várias cenas. 


O Castelo de Culzean em Ayrshire e seus terrenos e o Castelo de Floors em Roxburghshire também foram usados para o tiroteio. Algumas das fotos de abertura apresentam a Ilha de Skye, incluindo os pináculos de The Storr e Quiraing. As cenas interiores da caverna foram filmadas dentro de Wookey Hole em Somerset. A aeronave anfíbia que transporta o sargento Howie era um Thurston Teal, de propriedade e voado nas sequências aéreas por Christopher Murphy. O clímax do filme foi filmado na Caverna de St Ninian e no topo dos penhascos de Burrow Head, em Wigtownshire. De acordo com Britt Ekland, alguns animais pereceram no homem de vime, enquanto Robin Hardy disse em uma entrevista que grande cuidado foi tomado para garantir que os animais não estivessem em perigo de serem feridos durante esta cena, e que eles não estavam dentro do homem de vime quando foi incendiado. 


Hush Heath Estate em Staplehurst, Kent, faz uma breve aparição no filme, dobrando como pomar e jardins de Lord Summerisle.


A trilha sonora do filme muitas vezes forma um componente importante da narrativa, assim como com outros filmes de arte importantes da época, como Donald Cammell e Nicolas Roeg's Performance. As canções acompanham muitas cenas importantes, como a chegada do avião, a dança de Willow, a dança do mastro, as meninas pulando através do fogo, a busca das casas, a procissão e a cena final de queima. De fato, de acordo com Seamus Flannery em um documentário subsequente, o diretor Robin Hardy surpreendeu o elenco ao anunciar de repente no meio das filmagens que eles estavam fazendo um "musical".


Composta, arranjada e gravada por Paul Giovanni, e executada por Magnet (em algumas versões do filme creditado como "Lodestone"), a trilha sonora contém 13 canções folclóricas interpretadas por personagens do filme. Estão incluídas canções tradicionais, composições originais de Giovanni e até uma rima infantil, "Baa, Baa, Black Sheep".


"Willow's Song" foi regravada ou sampleada por várias bandas de rock. Foi regravada pela primeira vez por um projeto musical inglês conhecido como Nature and Organisation em seu lançamento de 1994, Beauty Reaps the Blood of Solitude. Foi regravada por Sneaker Pimps como "How Do", e está incluída em seu lançamento de 1996, Becoming X. "How Do" pode ser ouvida no filme Hostel (2005); a canção é incorretamente creditada nos títulos finais como sendo composta por Sneaker Pimps. Além disso, a banda fez um cover de "Gently Johnny" como "Johnny"; é caracterizado como um lado B em seu single "Roll On" (1996). Também foi regravada por Faith and the Muse em seu álbum de 2003 The Burning Season, e The Mock Turtles em seu álbum Turtle Soup.


As canções da trilha sonora foram compostas ou arranjadas por Giovanni sob a direção de Hardy e Shaffer, cuja pesquisa sobre a tradição folclórica oral na Inglaterra e na Escócia foi baseada em grande parte no trabalho de Cecil Sharp, um "pai fundador" do movimento folk-revival do início do século 20. Usando as coleções de Sharp como modelo, Shaffer observou a Giovanni quais cenas deveriam ter música e, em alguns casos, forneceu letras, que seriam apropriadas para festivais pagãos de primavera. 


Outras canções da trilha sonora vêm de uma tradição folclórica posterior; por exemplo, "Corn Riggs", do bardo nacional da Escócia, Robert Burns, acompanha a chegada de Howie a Summerisle. A letra desta canção foi tirada diretamente da canção de Burns "The Rigs of Barley", mas Giovanni usou uma melodia muito diferente. A melodia de Burns foi baseada em "Corn Riggs", e alterada para combinar com suas letras. A canção cantada pelos cultistas de Summerisle no final do filme, "Sumer Is Icumen In", é uma canção de meados do século 13 sobre a natureza na primavera.


O Wickerman Festival foi um festival anual de música realizado perto de Auchencairn, em Galloway. Apelidado de "Festival de Música Alternativa da Escócia", começou em 2001, quando o diretor artístico do festival, Sid Ambrose, teve a ideia de um festival familiar baseado na contracultura local, devido à área circundante estar inextricavelmente ligada a vários locais usados dentro do The Wicker Man. Foi realizado anualmente até 2015 na East Kirkcarswell Farm, Dundrennan. 


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Um Morto Muito Louco (1989): O problema de querer sempre "se dar bem" em uma crítica feroz à meritocracia e ao individualismo no mundo do trabalho



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