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Tiros em Columbine (2002 ): Filme mostra como a mídia culpou vídeo games pelo ataque e não a indústria e o extremismo armamentista


Tiros em Columbine é um documentário de 2002, escrito, produzido e dirigido por Michael Moore. O filme explora os reais motivos por trás do ataque na escola Columbine nos Estados Unidos e outros casos de violência. O filme é focado no ambiente e na retrospectiva social da formação dos jovens no sistema educacional americano, questionando como o interesse financeiro e a paranoia com segurança e forças armadas, gerou mais tensão e estimulou mais ainda a violência.  


Assista ao filme no final do artigo


Crítica do filme

Em uma das cenas, ouvimos a música dos Beatles, Happiness is a Warm Gun (Felicidade é uma arma) tocando ao fundo de pessoas comprando armas e felizes atirando em parques. O documentário é cheio desses de detalhes de edição, que mostram que o autor é um curioso com a história oficial, comerciais, televisão e ideologias comuns como essas. 


Talvez o ponto principal de Tiros e Columbine, seja esse conhecimento da "loucura americana" particular nossa de cada dia, com seu acesso fácil e cotidiano a armas e a violência generalizada. 


Como o ataque na escola em Blumenau foi feito com facas, não paramos para pensar que é a ferramenta, o objeto que faz a ação através da pessoa. Ou seja: o problema é a violência.


Depois da tragédia em na creche em Blumenau, o ângulo de crítica aos games tomou conta da mídia e do noticiário. O presidente Lula ainda foi apresentado, antes de ser eleito, a cartilha "LulaPlay", apresentando medidas pro games na campanha, e agora ele de maneira equivocada culpou os videogames. O que é contraditório, já que no documentário de Michael Moore mostra que o mesmo discurso é o discurso da indústria armamentista.

 

A ironia do título reside no trocadilho "Bowling for Columbine", uma brincadeira com o discurso que culpa jogos quando a mídia culpou jogos pelo atentando. Há toda uma sequência mostrando diversos veículos de mídia diferente, passando por Fox, CNN e etc; associando os atentados com jogos de vídeo game (como fez o presidente) e com o Rock, principalmente com o roqueiro Marilyn Mason. O filme Matrix também foi responsabilizado. O problema é que como no caso de Santa Catarina, os garotos de Columbine não jogavam jogos eletrônicos, mas sim jogavam boliche, afinal boliche podia ser usado como créditos para educação física na escola de Columbine, uma óbvia privatização. E, claro, também faziam clube de tiro.


Já falamos de Michel Moore aqui, quando ele recentemente pisou na bola questionando o "fraking" (novas operações de extração de petróleo) de empresas como a Petrobrás por ser uma "esquerda mais rica americana", mas nesse filme Michael Moore mais acerta do que erra. Falando de um tema que a maioria dos políticos e da opinião pública erra miseravelmente. 


Esse filme tem opiniões um pouco radicais demais, culpando o "clima" e a educação em demasio, claro, concordo com isso. Mas Michael Moore nos traz para a essência de um debate que está muito moderno em Tiros em Columbine, filme bem mais antigo. 


Mostrando que o discurso de "caça aos games" foi usado pela indústria armamentista americana para não admitir que você apenas mata uma pessoa se o atacante (criança, adolescente, adulto), tiver em suas mãos a posse de uma arma. 


Como podemos ainda em pleno século XXI associar videogames a violência, enquanto cresce a direita e a cultura armamentista que passamos a ter muito mais depois de todas as liberações concedidas a indústria armamentista no Brasil? Estamos passando por um problema que é em torno da cultura da violência e da liberação de armas, e o pior de tudo que por isso, os videogames são considerados como "jogos de azar", como foi considerado pelo governo Dilma para não remover os impostos dos games, e não como viés educacional. 


Nos primeiros governos Lula, o maior acesso ao poder de consumo gerou uma alta na compra de bens de consumo e eletrodomésticos, como vídeo games. No governo Dilma isso se perpetuou, com até mesmo a Microsoft abrindo uma linha de produção do Xbox 360 no Brasil, que barateou o console do Brasil. Os games se tornaram artigo de luxo, acessível só para ricos no governo Temer e de Bolsonaro. No governo de Bolsonaro, os consoles novos chegaram a custar 5 mil reais. Bolsonaro não fez nada pelos games ou pelos gamers, apenas discursou para os gamers e alguns influenciadores que gostam de games se convenceram. Nisso, a atualidade do discurso de Lula é que games atuais se tornaram coisas de rico. Mas aí se esquece uma coisa: é possível se jogar jogos antigos, hoje muito mais acessíveis com emuladores.


É possível aprender outros idiomas com videogame, é possível conhecer novas pessoas. Mas nada disso vai ser saudável se o ambiente familiar dos jovens for de pais de extrema direita que escondem que foi a sua criação, em grande medida, o principal responsável pela violência dos filhos. Então por que não dizer a verdade: a extrema direita está tentando se penetrar e ideologizar as crianças. 


Quando evangélicos e direitistas falam de "ideologia de gênero" e esses absurdos, eles estão tentando confessamente se penetrar na cabeça de nossas crianças para a defesa de extremismos e falsas crenças. Foi o ex-presidente Bolsonaro que disse que tinha que se fazer uma guerra civil no Brasil. Se esses grupos que organizam ataques disseminam mentiras e se associam pelas redes, e a direita se associa pelas redes para disseminar mentiras e apoiar Bolsonaro, qual será a ideologia de quem organiza ataques? Esse apagamento histórico é confuso e gera mais problemas a longo prazo, algo que o documentário explora muito bem. 



Claro que temos os "maus videogames", jogos de tiro, como Doom, CS e coisas assim, se forem acessíveis para crianças. Algo piorado se pensarmos em associação com uma criação que negligencia os filhos e sua formação ética e social por completo. 


Jogos de gameboy, como Pokémon, Mário, Sonic ou o próprio Tetris russo são educativos. 


Esse filme maestra o uso de imagens históricas que questionam a "loucura americana". Michael Moore mesmo veio de um lugarzinho americano chamado Flint, em Míchigan, um dos paraísos perdidos da indústria fordista americana. 


Na discussão com vários convidados, incluindo os criadores de South Park, os presidentes da associação de extrema direita 'National Rifle Association', Charlton Heston. Os depoimentos envelhecem mal, já que ninguém quer ver a opinião como a de Charlton Heston, mesmo se for para ser contra ele o ângulo.


O bom argumento de Moore, que eu concordo é que o motivo dos Estados Unidos ter mais ataques a escolas é simplesmente porque tem mais armas circulando nas ruas e lares americanas por conta da cultura do "se defenda", ou mesmo por conta da cultura armamentista generalizada presente na sociedade americana. Como a ideia de poder comprar munição no seu mercadinho da esquina (k-mart). Ele fez contato com várias vítimas de ataques, e elas foram na sede da companhia pedir respostas sobre a facilidade de obter armamento no comércio americano, muito maior que no Brasil. A China, por exemplo, não tem isso, mas Estados Unidos sempre teve, e agora o Brasil segue o mesmo caminho dos EUA. 


Na China, qualquer pessoa, estudante, mendigo, pega seu celular em qualquer praça e pode ter acesso a internet. Quando você não está alienado, ou de educação ou de direitos ou de cultura e educação, a resposta é o radicalismo e ele vai se manifestar sem os expoentes culturais, como jogos, eles apenas viram catalizadores de situações que já aconteceriam de qualquer maneira. 


O Massacre de Columbine ocorreu no dia 20 de abril de 1999, na Escola de Ensino Médio de Columbine, uma área não incorporada de Jefferson County, no Colorado. Os autores do crime, Eric Harris, Dylan Klebold mataram 12 alunos e um professor. Depois de trocarem tiros com policiais respondentes, a dupla cometeu suicídio na biblioteca da escola. 


O ataque na época, provocou debates e novas leis de controle e segurança de armas, subculturas e bullying. Ajudando a implementar nas escolas americanas a "política de tolerância zero" nas escolas americanas. 


É necessário uma revisão por parte do campo progressista em relação ao tema, senão podemos soar como uma Hillary Clinton, que queria proibir GTA por causa do "hot coffee" e acabou apenas perdendo a eleição para Trump em 2016. Corremos o risco de soar reacionários, e pior ainda, fomentar mais um clima ruim a longo prazo na já fadada educação, que nos ensina muito mais a punir e a recompensar, do que criar e gerar originalidade na sociedade. É uma grande tristeza os ataques e os acontecimentos desse tipo, mas precisamos lembrar que games não matam pessoas, armas matam pessoas, e precisamos tornar o uso de armas cada vez mais afastado do trato em sociedade. 


O filme merece é um clássico moderno, e merecia ser mais divulgado e assistido com a emergência do debate.


Assista ao filme aqui:





 

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