Território sem Lei/A Marca da Forca (Hang 'Em High, 1968): Clint Eastwood reflete a questão da presunção de inocência em faroeste sobre linchamento e o problema da pena de morte

Hang 'Em High é um filme de faroeste revisionista americano de 1968, dirigido por Ted Post e escrito por Leonard Freeman e Mel Goldberg. É estrelado por Clint Eastwood como Jed Cooper, um homem inocente que sobrevive a um linchamento

Assista ao filme no final desse artigo

Este clássico de Eastwood, como o clássico faroeste Consciências Mortas, reflete em sua essência um debate jurídico clássico: o da presunção de inocência. Conhecido na História dos Estados Unidos e no mundo dos faroestes como "lynching", os linchamentos são a forma de barbarismo geralmente empregado em locais onde se duvida do poder e autoridade local. Assim, a mentalidade punitiva de que "algo deve ser feito" provoca uma mentalidade de bando, de gado ou manada, que pensa coletivamente, como uma onda, para destruir o alvo por ele, na verdade, existir. Essa forma de absurdo foi muitas vezes empregada contra pessoas negras, indígenas e aquelas que eram consideradas "bruxas", formas de violência que deixaram seus resquícios na Ku Klux Klan. O ponto é que a violação de uma conduta, de uma regra subscrita ou uma lei, era motivo para eliminar aqueles que já eram considerados inimigos para a "social democracia da América".

A grande diferença aqui é que isso aconteceu contra um homem branco, algo que pode inclusive ser criticado do filme. Só que isso talvez reforce justamente a teoria de "manada", da mentalidade coletiva de gado, uma vez que aquilo pode se voltar para qualquer um e, principalmente, por interesse. Assim, Eastwood se coloca no local da vítima para ver seu ponto de vista de maneira antropológica para alertar sobre o problema do linchamento e da pena de morte, uma vez que aquilo pode se voltar contra qualquer, mesmo que historicamente o linchamento não era algo comum contra brancos.

Hingle retrata um juiz fictício que se inspira no real juiz Isaac Parker, rotulado de "Juiz Enforcado" devido ao grande número de homens que condenou à execução durante seu serviço, no final do século XIX, como Juiz Distrital do Tribunal Distrital dos Estados Unidos do Oeste. Distrito de Arkansas.  

O filme também retrata os perigos de servir como figura da lei dos Estados Unidos durante esse período, já que muitos "marshalls" federais foram mortos enquanto serviam sob o comando de Parker. O fictício Fort Grant, base de operações para aquele cargo de juiz distrital, também é um espelho do Fort Smith real, Arkansas, onde ficava o tribunal do juiz Parker.

No Território de Oklahoma em 1889, o policial aposentado Jed Cooper (Eastwood) conduz um pequeno rebanho de gado através de um riacho. Um pelotão de nove homens - Capitão Wilson, Reno, Miller, Jenkins, Stone, Maddow, Tommy, Loomis e Charlie Blackfoot - o cercam e exigem que ele mostre o recibo do gado. 

Depois de saber que o homem de quem os comprou era um ladrão que se fez passar pelo dono o qual assassinou, Cooper explica que não sabia nada sobre o assassinato. Apenas Jenkins expressa dúvidas sobre sua culpa. Depois que Reno pega o cavalo e a sela de Cooper e Miller pega sua carteira, os homens o enforcam em uma árvore e vão embora. Ou seja, a oportunidade da pilhagem de seus bens e ninguém saber que ele era inocente, incentivou a condenação de Eastwood.

Pouco depois, o vice-xerife dos EUA, Dave Bliss, resgata Cooper quase morto e o leva para Fort Grant, onde o juiz territorial, Adam Fenton, determina que Cooper é inocente, o liberta e o avisa para não se vingar. Como alternativa, Fenton oferece a Cooper um emprego como vice-xerife (marshall) dos Estados Unidos. Cooper aceita e Fenton o avisa para não matar os linchadores para levá-los a julgamento.

Aqui temos um paradigma. A mesma social democracia pacifista que o puniu de maneira injusta, é a forma a qual ele deve assumir de verdade para não incorrer na mesma injustiça que seus algozes, ou seja, punir sem julgamento, sem a lei. Assim, a única forma de Eastwood se vingar é ... não se vingando! Uma vez que a agora a única forma de resolver o imbróglio é restaurando a verdade. 

Cooper encontra Reno lá dentro e tenta prendê-lo, mas Reno saca sua arma, forçando Cooper a matá-lo com um tiro. Jenkins, sabendo da morte de Reno nas mãos de um marshall, se entrega e fornece os nomes do resto do pelotão. 

Cooper encontra Stone na cidade de Red Creek, prende-o e faz com que o xerife local, Ray Calhoun, o coloque na prisão. (Stone é posteriormente baleado e morto por Calhoun enquanto tentava escapar.) A maioria dos homens que Cooper procura são cidadãos respeitados de Red Creek, mas Calhoun honra os mandados de prisão de Cooper.

Aqui temos mais um paradigma interessante, que é o fato de ele ser vítima de uma extrema injustiça, o qualifica mais do que ninguém para saber quem são aqueles que não respeitam a lei. Assim, quando ele passou perto da morte, se tornou um "intocável", alguém com autoridade.

No caminho para prender os outros homens, Cooper e Calhoun se deparam com o assassinato de dois homens e o farfalhar de seu rebanho. Cooper forma um grupo próprio para perseguir o rebanho roubado e descobre que os ladrões são Miller e dois irmãos adolescentes, Ben e Billy Joe. 

Ele evita que os próprios ladrões sejam, contraditoriamente, linchados e, em seguida, os leva para Fort Grant sozinho quando o pelotão o abandona. Ele liberta Ben e Billy Joe de suas amarras depois que eles insistem que apenas Miller cometeu os assassinatos. Miller ataca Cooper depois de escapar de suas próprias amarras, mas Cooper o subjuga enquanto os irmãos assistem.

Fenton condena todos os três ladrões à forca, apesar da defesa de Cooper dos adolescentes. Fenton insiste que o público recorrerá ao linchamento se virem ladrões impunes, ameaçando a candidatura de Oklahoma à condição de estado. 

Algum tempo depois, Calhoun chega a Fort Grant e se oferece para pagar a Cooper por seu gado perdido com dinheiro do capitão Wilson e dos outros vigilantes. Cooper deixa claro que enquanto eles estiverem vivos ele ainda pretende prendê-los. Com o suborno rejeitado, Blackfoot e Maddow fogem, enquanto Tommy e Loomis permanecem leais a Wilson e concordam em ajudá-lo a matar Cooper. Aqui vemos o limite da justiça, uma vez que a pena de morte empregada para os pobres, não é aplicada igualmente aos poderosos. 

Durante o enforcamento público de Miller, Ben, Billy Joe e três outros homens, os homens que o lincharam emboscam Cooper em um bordel, ferindo-o gravemente. Cooper sobrevive e lentamente recupera a saúde com ajuda de uma viúva, Rachel Warren. Rachel revela que está caçando os bandidos que mataram seu marido e a estupraram. Ela e Cooper começam um caso quando ele aponta que ela pode nunca encontrar seus estupradores. Cooper tenta renunciar, mas o juiz Fenton o incita a continuar, dando-lhe a localização do rancho de Wilson, onde Wilson, Tommy e Loomis estão escondidos.

Cooper sobrevive a uma emboscada de um cão de guarda, esfaqueia Loomis até a morte, atira em Tommy e quase prende Wilson antes que Wilson, sabendo que Cooper está se aproximando, se enforque. Depois de retornar a Fort Grant, Cooper entrega sua estrela de xerife e exige que Fenton assine um perdão para Jenkins, que está arrependido e gravemente doente. Os dois homens debatem os méritos da justiça territorial. Fenton insiste que está fazendo o melhor que pode, amaldiçoando o fato de que este é o único tribunal no território com poucos recursos.

O filme reflete falta de justiça e o problema de fazer justiça com as próprias mãos. Entretanto, os contornos do filme no levam a mais: esse é um faroeste que questiona os limites da justiça. Mesmo estando certo, o fanatismo de vingança de Cooper (Eastwood) perpassa o seu cargo. De forma, que mesmo que eles esteja fazendo justiça, é ao mesmo tempo pessoal e político. Eles tentaram tirar sua vida, e agora ele usa a lei para tentar tirar a vida dos algozes. Mas como o próprio filme questiona, sua postura o leva mais problemas e, em parte, reflete a mesma sanha de violência que seus algozes, com a diferença que no final ele é inocente. Mas serve como um alerta para o poder não ser empregado em demasio.

É um filme ótimo, um dos grandes clássicos de Eastwood. Em termos técnicos, porém, o filme é mais simples. Não temos uma direção tão arrojada como os filmes posteriores de Eastwood, afinal esse filme não é dirigido por Eastwood. Mas ainda assim podemos notar os primeiros traços que vão fazer parte de sua técnica, como ângulos fechados que causam aflição, o espelhamento entre herói e vilão e a desconfiança nas justiça e nas autoridades. O roteiro também não é muito genial ou complexo, mas demonstra as "provocações" dos filmes de Eastwood". É um ótimo filme e que vale muito a pena a indicação.

História por trás do filme

Eastwood passou grande parte do final de 1966 e 1967 dublando a versão em inglês da Trilogia dos Dólares e sendo entrevistado, algo que o deixou irritado e frustrado. O estrelato trouxe mais papéis no molde de "cara durão", e Irving Leonard, seu gerente de negócios, deu a ele o roteiro de um novo filme, o revisionista americano Western Hang 'Em High, um cruzamento entre Rawhide e Leone's westerns, escrito por Mel Goldberg. e produzido por Leonard Freeman.

No entanto, a William Morris Agency queria que ele estrelasse um filme maior, Mackenna's Gold, com um elenco de atores notáveis, como Gregory Peck, Omar Sharif e Telly Savalas. Eastwood, porém, não aprovou e preferiu o roteiro de Hang 'Em High, mas tinha uma reclamação que fez aos produtores: a cena antes do enforcamento de seis homens, onde o herói é atacado pelos inimigos. Eastwood acreditava que a cena não seria crível se ambientada em um salão. 

Eles finalmente concordaram em apresentar uma cena com Cooper levando uma prostituta para o andar de cima durante o enforcamento, e tendo o ataque ocorrendo depois, quando Eastwood entra no bar do bordel. Eastwood assinou para o filme com um salário de $ 400.000 e 25% do lucro líquido do filme, interpretando o personagem de Jed Cooper, um homem acusado por vigilantes do assassinato de um fazendeiro, linchado e dado como morto, que mais tarde busca vingança.

Com a riqueza gerada pela trilogia Dollars, Irving Leonard ajudou a estabelecer a tão desejada nova produtora de Eastwood, The Malpaso Company, batizada em homenagem a Malpaso Creek, que flui através da propriedade que Eastwood anteriormente possuía em Monterey County, Califórnia. Leonard se tornou o presidente da empresa e providenciou para que Hang 'Em High fosse uma produção conjunta com a United Artists. Os diretores Robert Aldrich e John Sturges foram considerados para o comando do diretor, mas a pedido de Eastwood, o velho amigo Ted Post foi contratado para dirigir, contra a vontade de Freeman, a quem Eastwood rejeitou. Post foi importante no elenco do filme e providenciou para que Inger Stevens, da fama de The Farmer's Daughter, fizesse o papel de Rachel Warren. Ela não tinha ouvido falar de Eastwood ou Sergio Leone na época, mas instantaneamente gostou de Clint e aceitou. Clint Eastwood e Inger Stevens começaram um breve relacionamento durante as filmagens.

Embora o filme seja supostamente ambientado no território de Oklahoma, Freeman chegou a Las Cruces, Novo México, em 25 de maio de 1967, para explorar as locações. Nesse mesmo dia, Freeman localizou a árvore a ser usada para o enforcamento na cena de abertura, cerca de 12 milhas ao norte de Las Cruces.As filmagens começaram em 27 de junho de 1967, na área de Las Cruces, com cenas adicionais filmadas em White Sands. 

Os interiores foram filmados nos estúdios da MGM. A cena inicial do linchamento foi filmada em 29 de junho de 1967, próximo ao Rio Grande. A árvore usada para o enforcamento não está mais de pé e o leito do rio agora está coberto de arbustos grossos. Eastwood teve uma margem de manobra considerável na produção, especialmente no roteiro, que foi alterado em partes como o diálogo e o cenário da cena do bar ao seu gosto.

O filme se tornou um grande sucesso após o lançamento em agosto de 1968 e, com uma receita de $ 5.241 no dia de estreia apenas em Baltimore, tornou-se a maior estreia da United Artists em

g na história, superando todos os filmes de James Bond da época. Ele estreou em quinto lugar na pesquisa semanal da Variety sobre os melhores filmes e recuperou as despesas de produção duas semanas após a exibição. Eventualmente, arrecadou $ 6,8 milhões nos Estados Unidos e $ 4 milhões no exterior, para um total de $ 10,8 milhões arrecadados em todo o mundo.

Foi elogiado pela crítica, incluindo Arthur Winsten do New York Post, que descreveu Hang 'Em High como "um faroeste de qualidade, coragem, perigo e emoção". pobre imitação feita na América de uma pobre imitação feita na Itália de um faroeste feito na América." faroeste feito em Hollywood."

O compositor Dominic Frontiere teve oito dias para compor uma partitura do tipo Ennio Morricone. Seu tema apareceu em um grande número de versões de capa, variando de Hugo Montenegro a Booker T e M.G.s. 

Embora o filme seja supostamente ambientado no território de Oklahoma, Freeman chegou a Las Cruces, Novo México, em 25 de maio de 1967, para explorar as locações. Nesse mesmo dia, Freeman localizou a árvore a ser usada para o enforcamento na cena de abertura, cerca de 12 milhas ao norte de Las Cruces. As filmagens começaram em 27 de junho de 1967, na área de Las Cruces, com cenas adicionais filmadas em White Sands. Os interiores foram filmados nos estúdios da MGM. A cena inicial do linchamento foi filmada em 29 de junho de 1967, próximo ao Rio Grande. A árvore usada para o enforcamento não está mais de pé e o leito do rio agora está coberto de arbustos grossos. Eastwood teve uma margem de manobra considerável na produção, especialmente no roteiro, que foi alterado em partes como o diálogo e o cenário da cena do bar ao seu gosto.

Assista ao filme aqui: