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Michael Jackson já retratou Cleópatra negra antes da Netflix. Relembre o vídeo clipe de "Remember the Time" de 1992


 

Mais uma polêmica boba tem tomado a internet. Após o anuncio da série da Netflix, racistas tentam "historicizar" a raça de Cleópatra. Houve até comentários que dizia que o Egito "era quase na África" mas não era, e alguns outros absurdos. A série da Netflix sofreu um processo apenas pelo fato de ter retratado a antiga governante do Egito como uma mulher negra, mas antes disso, em 1992, Michael Jackson havia feito igual. Com o videoclipe da música incrível "Remember the Time", com a participação de Eddie Murphy e a atriz e produtora da Somália, Iman, que foi casada com David Bowie. Na série da Netflix,"Rainha Cleópatra" (Queen Cleópatra), Cleópatra é interpretada por Adele James


Mas antes disso, temos que lembrar de Michael Jackson, o mesmo criador de Thriller e de "They don't Care About Us" já havia feito uma brincadeira com nossa mania de euro centrismo em tudo. Temos que pensar que se os dados de Cleópatra não apontam exatamente que ela seja de uma etnia Egípcia, ela não era brancas, ou tinham olhos claros, como já foi evidenciado quando arqueólogos acharam uma moeda com sua expressão. 





Não sabemos se isso foi forjado ou não depois da morte dela, é claro. Existe essa diferença entre os outros tipos de historiografia, a judaico-cristã passa uma retratação de Jesus ou de outras figuras históricas que foram embranquecidas. O exemplo mais claro no Brasil é Machado de Assis que quando morreu era para todos os efeitos e para todos branco.


Michael Jackson que também teve uma vida polêmica, sendo explorado como criança por conseguir cantor desde muito novo muito bem. Por isso depois dos Jackson 5, ele seguiu uma meteórica carreira e criou um seguimento pop diferenciado, criando a fórmula lucrativa e publicitária do videoclipe moderno, onde diversos recursos são empregados na experiência audiovisual.  Esse clip de Michael conta com a participação de Eddie Murphy, por exemplo. "Remember the Time" foi escrito por Teddy Riley, Michael Jackson e Bernard Belle, lançada como a segunda música do álbum Dangerous (1992), e foi escrita para homenagear a cantora Diana Ross. 


Já em relação a nova série de TV da Netflix, não vi ainda, não sei se é boa ou não, provavelmente não é. Mas a polêmica em torno em torno da raça da autoridade egípcia é absurda em um reino tão antigo e multicultural como os egípcios, primeiro porque o Egito fica territorialmente na África, na região da África subsaariana, onde existe uma tradição inclusive da religião mulçumana. 



Podemos falar sobre os estudos de revisão do euro centrismo aqui, alguns estudiosos chegam a falar sobre a "Atena Negra" em relação ao Egito. Teorias como o "difusionismo" ajudavam a explicar o mundo através das rotas e relações entre o antigo Egito Próximo, através do Rio Nilo, que se liga ao Mar Mediterrâneo através de sua foz.  



Cleópatra foi a última governante do período helenístico, do antigo Reino Ptolemaico do Egito. O consenso que ela veio da macedônia e que na verdade, descendia de uma minoria iraniana e no Irã, existe etnia negra também como existe em diversos países do mundo. Ela deveria então ser uma mulher como na série e no clip de pele mais morena ou quem sabe mesmo, pode ser negra sim, já que existem tanto persas quanto iranianos negros e sua etnia, apesar de seu local de origem ser a inspiração pela cultura helenística (ocidental), isso não significa ela era em sua etnia como as mulheres em Roma, por exemplo, que eram brancas ou de olhos claros como os de Elizabeth Taylor. 



Digo isso porque ela despertou o amor de vários homens, inclusive do líder romano Júlio César.  Para impactar tanto, acredito ser difícil ela não ser remotamente diferente das mulheres de Roma, que não podiam ter poder político, por exemplo, Cleópatra podia. A conquista macedônia havia imperado e por isso ela tinha plenos poderes quando os conquistadores romanos bateram na porta do Egito para dominar a região. 


O filme incrível de 1963 com Elizabeth Taylor certamente nunca vai sofrer e não deve, é claro ser cancelado apena por esse fato, ainda mais por ser uma das obras mais clássicas da era de ouro do cinema americana, com uma de suas mais importantes atrizes. Mesmo que, quando foi encarnar a personagem, Elizabeth Taylor usou sim uma camada de maquiagem dourada, feita por Alberto de Rossi  na pele dela para soar crível no filme. 


O que podemos dizer sobre essa polêmica boba também é que o debate sobre raças em termos maniqueistas de "é branco" ou "negro" não é mais usado em termos acadêmicos. Ou seja, sistemas de classificação totais como os do sueco Carl Linnaeus acabam por ficar ultrapassados por pensar em raça como um conceito a parte de etnia e nação.


Confira o clipe:


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