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O Código Da Vinci (2006): Análise e interpretações do filme e do livro que o inspirou


O Código Da Vinci é um filme de 2006 da Columbia Pictures, dirigido por Ron Howard e escrito por Akiva Goldsman. Inspirado no romance Best Seller de Dan Brown, o thriller de mistério acompanha um professor de Harvard Robert Langdon, que passa a ser perseguido pelo Opus Dei, por conta de uma mensagem que recebeu de Jacques Saunière. Jacques é o curador do Louvre, que é perseguido e assassinado por uma figura misteriosa que planeja destruir "o santo graal". Estrelando Tom Hanks e Andrey Tautou, Sir Ian McKellen, Alfred Molina, Jürgen Prochnow, Jean Reno e Paul Bettany



Langdon é um professor de Harvard, ele é apresentado a um corpo de um curador do Louvre morto, uma mensagem secreta está escrita fora de ordem em código matemático Fibonacci. A neta de Saunière salva Langdon de ser preso injustamente pela morte de seu avô, já que ele colocou na última parte da mensagem "P.S. Find Robert Langdon (Ache Robert Langdon). 


Sophie Neveu, uma criptógrafa da polícia, conta para Langdon que Fache (o responsável pela investigação) tinha certeza sobre sua culpa e não ia parar até prendê-lo. 






Sophie acha o rastreador na jaqueta de Langdon e eles fogem depois de deduzir que tudo isso era obra do "Priorado de Sião" e que o avô de Sophie poderia ser o grand master da ordem. 


O Priorado de Sião  é um organização inspirada na rosa-cruzes e fundada pelo francês Pierre Plantard nos anos 1950. Plantard queria se declarar como herdeiro da dinastia merovíngia, e por isso, segundo fontes, teria desenvolvido uma genealogia que descendia diretamente de Jesus Cristo. 


Silas é o monge que trabalha para o homem chamado de "The Teacher", junto a outros membros da igreja que planejam acabar com o Priorado, liderados pelo Bispo Arigarosa. 



Langdon e Sophie viajam até o banco de depósitos de Zurich, na Suíça, e acessam a conta de Saunière que contém uma mensagem em um papiro em um "criptex", um objeto que seria como dito no livro, uma das invenções de Leonardo Da Vinci. 


O uso do campo da simbologia e da semiótica, ao explicar que o graal era conhecido como uma taça (um tesouro lendário da época dos Templários), mas que poderia ser, de maneira semiótica, o símbolo do feminino em geral.  Seria o cálice desenhado por Leonardo Da Vinci, um truque de pintura que é considerado evidência pelo historiador, dizendo que o evangelho segundo Felipe foi rejeitado, por exemplo. 


A mensagem só pode ser aberta se colocado o código na lateral certo, caso contrário, seu segredo estará perdido para sempre. O gerente do banco ajuda os dois a fugir com um caminhão, mas depois tenta render o casal e pegar o segredo escondido de Saunière. 



Enquanto fogem, Langdon resolve pedir ajuda a um antigo amigo, especialista no Santo Graal, Sir Leigh Teabing, ele insiste que Maria Madalena não era uma prostituta, mas a esposa de Jesus Cristo. Teabing argumenta que ela estava grávida durante a crucificação e que o Priorado seria a forma de preservar seus descendentes. 


O grupo foge com o jatinho particular de Teabing, junto com seu mordomo, Remy Jean. A interpretação deles leva eles até o Temple Church, onde eles nada encontram. Remy, que diz ser "The Teacher" liberta Silas. Remy toma Teabing como refém, largando ele no caminhão, enquanto Silas se esconde em um local da Opus Dei. Teabing é revelado como "o professor" e depois envenena Remy e manda a polícia atrás de Silas. Teabing é revelado como o verdadeiro vilão, aquele que por acreditar, armou uma situação para finalmente achar o priorado, argumentando que a promessa era a revelação do segredo no novo século. 


Langdon descobre o que estava na mensagem: maça, a pista era que "se esconde perto da rosa", levando os dois a Rosslyn Chapel na Escócia, onde eles descobrem um quarto secreto com os segredos da genealogia da família de Sophie. 


Quando estava se barbeando, ele tem uma epifania ao ver seu sangue caindo na pia e lembra da "Rose Line", percebendo ser uma referência de que o corpo de Maria Madalena estaria em baixo do Louvre escondido. 


História por trás do filme


Os direitos do filme foram comprados por 6 milhões de dólares. O Museu do Louvre permitiu mesmo que fosse utilizada suas galerias para o filme, enquanto a Abadia de Westminster negou o uso de suas instalações. Conseguindo filmar na Lincoln Cathedal que concordou em troca de 100 000 libras. Algumas cenas foram filmadas na Temple Church, em Londres.  O filme custou 125 milhões, e lucrou $760 milhões. 


O interessante é que apesar de ser conhecido como um filme ruim hoje em dia, Roger Ebert, deu 3 de 4  estrelas, quando ele sempre é um crítico bem exigente e experiente. O filme também tem uma temática de revisionismo histórico tão grande que foi banido de países como a Síria, Belarus e Líbano. Outra curiosidade é que  Organização Nacional para o Albinismo e Hipopigmentação (NOAH) dos Estados Unidos ficou preocupada com a associação da imagem de Silas aos albinos. 


Qual é a ordem cronológica dos livros?


Anjos e Demônios (2000)

O Código Da Vinci (2003)

O Símbolo Perdido (2009)

Inferno (2013)

Origem (2017)


Crítica do filme


Apesar de considerado bobo, não histórico, como apontado pelo ator Tom Hanks, e de isso ser uma opinião popular, o filme realmente aborda uma temática interessante, ou várias, de podemos observar. O estudo de outras possibilidades de fontes históricas. 


Outra coisa que acho interessante da narrativa é o fato de que Langdon é chamado como consultor na cena do crime, e o detetive em questão já tem certeza que foi ele o assassino, o agente é convencido por seu companheiro de ordem, também da Opus Dei, de que Langdon era o assassino, quando na verdade, era Silas, ou seja, uma armação que levaria Langdon para a cadeia. 


Qual seria seu crime? ter lançado um livro sobre os símbolos antigos do sagrado feminino. Refletimos assim como as construções narrativas, tanto históricas quanto pessoais obedecem a outros valores e orientações que não são apenas a coisa em si, nessa caso, o agente de segurança tinha sido enganado pelo Bispo, mas Sophie se referia a ele como "o touro", sugerindo que era conhecido por ser punitivo e não procurar outros suspeitos. Esse problema da aproximação de autoridades com a atuação nos "bastidores do poder" talvez seja uma das ideias mais originais para além do debate histórico e religioso do filme. 


O debate envolve a noção de que por crença, tanto quem acreditava no santo graal, quanto quem quer que essas "teorias conspiratórias" sejam extirpadas da igreja. Como um acadêmico liberal de Harvard, estudioso do "outro lado" da história, o explica o motivo dele poder ir para cadeia na cabeça dos conservadores e explica também que muitas autoridades podem esconder associação com entidades e partidos e agir de acordo com eles na hora de um crime, por exemplo. 


Os evangélicos apócrifos são os evangelhos que não foram selecionados, no foram os evangelhos canônicos na bíblia oficial. Isso ocorreu no Concílio de Niceia (em 325 dc), feito por Constantino, imperador romano pagão a vida toda e que foi convertido em cristão no fim de sua vida. Os evangelhos gnósticos foram descobertos no Egito em 1945, eles teriam sido escritos por apóstolos da igreja primitiva, o debate seria sobre a validade ou não desses documentos. 


Foi nesse primeiro Concílio de Niceia que houve a primeira grande condenação aos evangelhos apócrifos, aqueles escritos por quem não era do interesse do cânone oficial. A questão era sobre manter uma visão sobre jesus que recusava a sua humanidade, o pecado que pudesse existir, pois sem isso, a ideia de transubstanciação para a noção de Jesus como um ser etéreo (espiritual) e não humano. A narrativa do filme seria nos jogar em uma discussão sobre o que a igreja teria feito para preservar "o segredo", na verdade, uma grande metáfora da instrumentalização do poder que pode ocorrer em qualquer religião. 


A emoção do filme vem dessa ideia de descoberta do outro lado, em um caminho onde o especialista é um especialista em símbolos (semiótica). Por isso, a "busca pelo santo graal" pode parecer louco e aleatório, como também era um importante real simbolismo de grupos, como por exemplo, os templários. O exercício mental proposto pelo filme é interessante. 


No caminho, Langdon pede ajuda a um historiador clássico inglês. Ele os acolhe a primeira vista, e dá uma aula para os dois mostrando a forma de escrita da história através do tempo, mostrando que na pintura dos apóstolos tinha uma mensagem que sugeriria uma "esposa de jesus" na figura de Maria Madalena, que ela era "um dos apóstolos". Isso aqui na narrativa se apresenta como uma metáfora desses evangelhos apócrifos, que poderiam ser escritos transversais e que atestariam o carácter humano de jesus. 


Ele demonstra que Sang Real significia também "sangue real" para com o "sagrado feminino". Langdon defende o lado "bonzinho" da história, dizendo que não havia como saber quem começou a perseguição de quem (mostrando que o mais "radical" que acredita é o historiador que eles vão visitar).




A definição grega original da palavra apócrifa é "escrito com origem e autenticidade duvidosa", ou implica um caráter de obscuro ou "escondido". O interessante do cânone, para mim e do estudo de sua implementação, não é descobrir que tudo é falso, mas se perguntar, mais do que isso, é interessante a genealogia (as origens) da construção do cânone da maior religião do ocidente e a mais longeva, o catolicismo católico romano. 


O interessante do filme é perceber esses elementos de história viva que podem ser extraídos de locais como bibliotecas, museus e até mesmo igrejas (claro, se devidamente acessíveis a todos). Os evangelhos canônicos são os evangelhos de Matheus, Marcos, Lucas e João, e de Pedro. Algumas fontes relatam que o evangelho segundo Pedro teria sido escrito depois de sua morte. 


Alguns evangelhos, como Memórias dos Apóstolos, ou evangelho segundo Bartolomeu, ou mesmo outros não foram acrescentando por diferir da ideologia central da rota que o cristianismo tomou, talvez seja essa uma das maiores lições do debate do filme. 


Sem querer dizer a verdade ou a mentira sobre nada, mas é nítido também que histórias e mitos são construídos na sociedade tanto oriental, principalmente ocidental em torno de construções, formas de "mitemas" que são repetidas como necessárias. A fé de ninguém é menor porque uma ou outra construção foi inventada ou reutilizada. Talvez seja esse o tom errado do filme, o de "descoberta de um grande outro", no caso, pasmem, a herdeira de jesus. 


Na verdade, é a metáfora do debate de quem era mais Jesus Cristo, aquele que expulsou os lojistas da sinagoga, aquele que transformou água em vinho, ou aquele que não deixou apedrejarem Maria Madalena? Quando houve o cânone, outros tipos de costume do cristianismo, como os "anabatistas", "donatistas" e os "novacianistas".


 Isso comprova que a noção de uma igreja dirigida apenas por homens (na metáfora explicada pelo historiador do filme), essa associação dos católicos aos mais conservadores foi fruto de grupos específicos, em uma ideia de "deep state" da igreja. No filme, falam sobre a Opus Dei (um grupo de católicos poderosos fundada em Madri), tem esse debate sobre eles serem os vilões do filme, interessados em "manter a fé", e para manter a fé, não se pode associar Jesus ao progressismo humanista. Muitos Opus Dei (palavra que significa "obra de Deus"), e que se dizem ligados ao "trabalho" específico do cânone tradicional, e que alguns acusam de usar o hábito demais, com perdão do trocadilho histórico, e praticar o ocasional auto flagelo. 


Os fatos que o livro aborda de verdade, é que o Priorado de Sião é uma sociedade europeia fundada em 1099, a referência veio da descoberta de documentos secretos achados na Biblioteca Nacional de Paris os chamados Dossiê Secretos, que teriam identificado membros como Sir Isac Newton, Botticelli, Victor Hugo e até mesmo Leonardo Da Vinci. 


Muitas são as polêmicas específicas vindas desse evangelhos, a questão que me interessa aqui é a cultural e filosófica, quando pensando que para fundar uma religião e para idealizar um líder espiritual, ele não pode sentir emoções e sentimentos, próprios dos humanos. Nesse sentido, vemos a necessidade de ver Jesus ser demonstrado e definido de certa maneira, como pai, filho e espírito santo, ele precisa ser os três e um ao mesmo tempo. 


Essas polêmicos são teológicas e filosóficas também, como também envolvem a história do cristianismo e de seus concílios regidos pelos oficiais das autoridades papais. Roma se transforma em capital do cristianismo, virando o próprio local católico por excelência, hoje o distrito é a sede da igreja, onde o papa mora e onde tem toda uma liturgia de igrejas e museus que guardam essa história. As doutrinas que estavam em disputa eram a doutrina da Trindade, ou se cristo era um ser criado pela substância divina(doutrina de Arius), ou não. 


Ou se Jesus teria sido igual e eterno como seu pai Deus (doutrina de Atanásio). A igreja rejeitou a ideia ariana de que Jesus era a primeira e mais nobre criatura de Deus, o que foi rejeitado, e afirmou que ele era da mesma substância do pai. O que passou a valer foi o caráter milagroso de Jesus.  O filme teve grande sucesso, e apesar de muitas acusações de ter envelhecido mal, e de ser coisa de teoria conspiratória, é interessante paradigmas que refletem a origem de costumes e crenças que são comuns a todos nós. Sendo uma boa opção de filme para debater alguns conceitos religiosos e históricos que por vezes passam apenas esquecidos em sua origem, embora sua prática e existência ainda esteja em plena uso. 



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