A Guerra de um Homem (One Man's War, 1991): Um filme com Anthony Hopkins e Fernanda Torres sobre a ditadura Strossner do Paraguai
A Guerra de um Homem (One Man's War) é um filme de televisão, dirigido pelo brasileiro Sérgio Toledo, com roteiro de Michael Carter, e produção de Ann Skinner, com elenco de Norma Aleandro, Fernanda Torres, Anthony Hopkins e Leonardo García Vale, Rubén Blades. É baseado na história real do médico americano Joel Filártiga (interpretado por Anthony Hopkins), que trabalha em serviço comunitário. Quando viaja para os Estados Unidos, ele conta aos jornais sobre o fechamento político e democrático do governo de Alfredo Stroessner. Em meio a sua própria investigação, o governo age constantemente contra sua família, acabando por torturar e matar seu filho Joelito Filártiga, de apenas 17 anos.
Assista o filme em link aberto no final deste artigo
O caso foi parar nos tribunais americanos em 1980, quando houve um caso marcante sem precedente que gerou um marco no direito internacional onde a justiça americana punia cidadãos não americanos por crimes de tortura cometidos fora dos Estados Unidos no caso conhecido como Filártiga v. Peña-Irala que gerou uma indenização de US$10.4 milhões de dólares em uma ação feita com a ajuda do Centro de Direitos Constitucionais.
Crítica do filme
Vemos um filme muito diferente aqui. É um filme de TV, feito por uma televisão inglesa, com a direção de um brasileiro. Vemos os horrores de uma ditadura, ao mesmo tempo que vemos o esforço de uma família para se manter calma em relação a perseguição das autoridades. O elenco do filme além de contar com nomes como Fernanda Torres, Norma Aleandro e Anthony Hopkins, também tinha a presença, por exemplo do cantor do Panamá, descendente de revolucionários cubanos, Rubén Blades.
A vida de Filártiga é uma história emocionante, que resultou em um dos únicos casos de indenização junto aos tribunais de direitos humanos internacionais.
A atuação de Hopkins é sensacional, captando todos os elementos adjacentes de um homem de família estruturada, mas que é inimigo de um sistema ditatorial bem "república das bananas". A história do Paraguai e sua relação com o Brasil explica um pouco o motivo de parecer com o nosso clima, ou a nossa própria ditadura militar que também tivemos.
A história do Paraguai explica o motivo de se ter um diretor brasileiro. O país foi vencido pelo nosso país na Guerra do Paraguai e transformou para sempre a história do pequeno país que foi devastado pelo nosso no século XIX.
O Brasil massacrou o Paraguai em uma das guerras que gerou maior mobilização da nossa história. Alguns estudiosos das ciências sociais, por exemplo, lembram que foi por conta disso que 70% da população masculina foi morta no conflito e gerou a situação de abandono numérico, gerando uma anomia, tornando o Paraguai o "país das mulheres" e aumentando assim a violência de gênero e de classe. Nas regiões afetadas pela guerra por exemplo, o índice de violência doméstica aumentava em média 5%, em um trabalho de economia de Barbara Boggiano.
Isso acontecia pois havia uma ligação entre todos eles, conhecidas como as ditaduras do "cone sul", a operação condor era uma forma de unificar os discursos e informações com o respaldo dos Estados Unidos, cujo objetivo era "acabar com o comunismo" ajudou a implementar a ditadura em diversos cantos da América Latina. Sob esse "clima" de naturalização de opressões, a América Latina viveu períodos sombrios de fechamento institucional.
O médico do filme usava sua influência para cuidar dos populares que pediam sua ajuda, sua forma de atuação política era essa, atuando diretamente com a população mais carente. Apesar do filme inteiro parecer muito latino e local, nenhuma cena do filme foi exatamente filmada no Paraguai, sendo usado o Reino Unido, o México e os Estados Unidos e feito por uma televisão inglesa (canal 4) e pela HBO da época.
Vendo apenas um artigo sobre o filme, o texto que li buscava dizer que a direção de Sérgio Toledo era ruim, o que eu acredito ser um absurdo sem tamanho. O filme é muito bem dirigido mesmo, com poucas falhas. Apesar disso, dizem que ele brigou com o ator principal Anthony Hopkins e que foi difícil terminar o filme (mas não tem nenhuma outra fonte disso). Não sei se isso que li é verdade, parece mais boato do que verdade, já que é difícil confirmar já que bastidores de filmes de TV são normalmente difíceis de registrar ou pesquisar enquanto informação.
O diretor do filme, como disse, é um brasileiro, Sérgio Toledo, o que em si é interessante por termos uma complexa relação histórica com o Paraguai, que depois não fez mais filmes, mas parecia completamente profissional e maduro na forma que conduziu esse filme, planos inovadores e ângulos diferenciados e uma história emocionante que não perde no drama seu caráter histórico, científico e de suspense também.
O diretor também fez o filme clássico documentário Braços cruzados, máquinas paradas (1979), com Roberto Gervitz que aborda as greves do ABC através da perspectiva dos operários diretamente. Um filme marcante e diferenciado, na leva daqueles filmes sobre as grandes greves do ABC, que lembrando, fizeram de Lula um nome nacional como líder do movimento sindical.
No filme, Fernanda Torres é sua filha Dolly no filme, e que na vida real foi viver nos Estados Unidos. Ela também estuda medicina, e que não pode se formar pois todos os arquivos seus na universidade foram apagados.
A grande atriz brasileira que conhecemos por filmes e séries (como Os Normais), conseguiu atuar muito bem junto a Hopkins, sendo sua performance muito importante pro filme, já que o título sugere um homem que luta uma guerra sozinha, no filme, é visto a ajuda da filha tentando investigar o assassinato com o pai. Como o pai tem experiência com o corpo humano, quando o filho foi colocado na mesa da sala e a família toda começa a chorar, o médico percebe nas marcas de choque no corpo do filho que ele foi brutalmente torturado e que a história de que já se teria um culpado, era mentira.
A luta do médico é muito importante por demonstrar como a falta da democracia influencia na falta de direitos humanos básicos, e como que em ditaduras os serviços institucionais podem todos entrar em concordância com o regime e passam a não funcionar, as instituições que eram para ser neutras e cívicas também. Ou seja, juízes, policiais, médicos legistas, todos estavam dispostos a mentir sobre o assassinato de seu filho, por isso o título do filme.
O que é muito importante para a América Latina que viveu tempos sombrios de fechamento democrático e informativo com as ditaduras aqui no cone sul e seu cerco ao que chamavam de "comunismo". As comissões da verdade recentes, principalmente na Argentina tiveram um caráter de prender antigos torturadores, o que foi impossibilitado no Brasil devido a lei da anistia que servia para ambos os lados.
Ou seja, não tivemos o mesmo uso de ciência forense, como aconteceu ne argentina para prender aqueles que cometeram crimes sob o aval da lei e sendo autoridade. A atriz Norma Aleandro que interpreta a mãe é argentina e fez o filme A História Oficial, sobre uma professora de classe média que descobre que sua filha adotada pode ter sido filha de um dos prisioneiros políticos desaparecidos na época da ditadura.
O elenco é composto de diversos atores de nacionalidades diferentes, ou seja, parece um pouco já a estrutura do streaming moderno que faz a mesma coisa com os filmes, misturando diversos tipos de atores de locais diferentes.
Esse processo que aconteceu parecido com o médico de usar laudos e provas biológicas e forenses para conseguir entender e provar na justiça na investigação feita por ele o que realmente aconteceu com o filho Filártiga, Joelito, que foi morto pelas autoridades de uma delegacia local. Sua luta foi em torno de provar que o governo orquestrou uma grande mentira em forma de processo, arrumando até mesmo um culpado para pagar pelo crime. A morte de Joelito mudou sua família para sempre, transformando seus pais em porta-vozes dos
Assista o filme aqui:
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