Pular para o conteúdo principal

O Profissional (Léon, 1994): Infância e ética profissional. Veja curiosidades, bastidores e teorias de emocionante filme de Luc Besson



Léon é um assassino de aluguel italiano (ou "faxineiro") de Little Italy em Nova York. Ele trabalha para um mafioso chamado "Old Tony". Um dia, Léon conhece Mathilda Lando, uma garota de 12 anos. Mathilda mora com sua família disfuncional em um apartamento no final do corredor e parou de frequentar as aulas na escola. O pai abusivo de Mathilda atrai a ira de agentes corruptos da DEA, que o pagam para esconder cocaína em seu apartamento. Ao descobrirem que ele roubava a cocaína, agentes invadem o prédio, liderados pelo policial viciado, Norman Stansfield. Stansfield mata a família de Mathilda enquanto ela fazia compras. Quando retorna, ela percebe o que aconteceu e continua pelo corredor até o apartamento de Léon; que hesitantemente a dá abrigo. Mathilda descobre que Léon é um assassino. Ela pede que ele lhe ensine suas habilidades para vingar sua família. Ele treina Mathilda e mostra a ela como manusear armas. Em troca, ela faz suas tarefas e o ensina a ler. 

Filme está na Netflix e Apple Tv

Mathilda se inspira em Léon e rapidamente desenvolve uma queda por ele, muitas vezes dizendo que o ama, mas ele se recusa a retribuir.


Quando Léon sai para uma aparente missão, Mathilda enche um saco com armas da coleção de Léon e sai para matar Stansfield. Ela entra no escritório da DEA se passando por uma entregadora, apenas para ser emboscada por Stansfield em um banheiro; um de seus homens chega e anuncia que Léon acabara de matar Malky, um dos agentes corruptos da DEA, em Chinatown naquela manhã. 


Léon, depois de descobrir seu plano em um bilhete deixado para ele, resgata Mathilda, matando mais dois homens de Stansfield no processo. Stansfield, enfurecido, confronta Tony, que é violentamente interrogado sobre o paradeiro de Léon.


Naquela noite, Léon conta a Mathilda como ele se tornou faxineiro; quando Léon tinha 18 anos na Itália, ele estava apaixonado por uma garota de uma família rica. Os dois fizeram planos para fugir, mas quando o pai da menina descobriu seu relacionamento, ele a matou de raiva. Léon matou o pai como vingança e fugiu para Nova York, onde conheceu Tony, que o treinou para se tornar um faxineiro.




Crítica e explicação do filme


O filme gira em torno da noção de “perda da infância”, e o papel desempenhado pela cultura pop, na forma de representações de arquétipos positivos e negativos perante fases da vida 


Para Stuart Hanson, no artigo Natalie Portman e a transgressão das fronteiras entre a infância e a idade adulta em Léon de Luc Besson, a polêmica gerada no lançamento inicial de Léon e no desenvolvimento do filme e história subsequente, revelam uma série de questões em torno da representação da infância e do gênero, e como ambos se cruzam em torno da sexualização das crianças. 


O profissional foi lançado em um momento em que um debate sobre a sexualização de crianças e de meninas em particular estava surgindo na Grã-Bretanha, embora isso fosse o ressurgimento de um debate que ocorreu em os EUA no final dos anos 1980 e 1990. No Brasil, como nos EUA, o debate foi conduzido em grande parte em torno da noção de “perda da infância”, e o papel desempenhado pela cultura pop, na forma de representações de arquétipos




Na época em que fez o teste para o papel de Mathilda, Natalie Portman tinha onze anos. Besson observou que era um papel muito difícil de ser escalado, especialmente porque as garotas dessa idade mudavam tanto no espaço de um ano, enquanto o único ator profissional testado provou ser "muito profissional", no sentido de estar preparado para narrativas épicas e de drama (como filmes de guerra) que não estavam tão na moda na época, obrigando o ator a ficar na "banheira".


Já para Glenn McGee em um artigo sobre bioética, o filme coloca Leon como redimido por seu amor por uma garota perdida. A criança é "corrompida", cuja família é abatida por um policial desonesto (maravilhosamente interpretado por Gary Oldman). Quando ela descobre o que Leon faz para viver [assassinato], ela decide quer vai ser uma limpadora [assassino] também.” 


Para esse autor, a personagem de Mathilda representa um significado específico para a época: um novo tipo de criatura, como a invenção do clone ou humano transgênico. Esse debate trouxe sobre uma mudança repentina de comportamento e discussão entre aqueles que anteriormente carregavam fetos em potes em clínicas de aborto e, especialmente, entre os neoconservadores mais intelectuais. 


De repente, a arte não é de guerra de sangue, mas de política como guerra. Leon, o assassino profissional, é um homem perigoso que é conquistado pela total impotência de um criança de rua selvagem que precisa de ensino no estilo Pigmalião, que, segundo Ovídio, poeta romano contemporâneo de Augusto, também era escultor e se apaixonou por uma estátua que esculpira ao tentar reproduzir a mulher ideal. Ele havia decidido viver em celibato na ilha por não concordar com a atitude libertina das mulheres dali, conhecidas como cortesãs. 


O mito de Pigmaleão, como outros, traduz um elemento do comportamento humano: a capacidade de determinar seus próprios rumos, concretizando planos e previsões particulares ou coletivas. Em Psicologia deu-se o nome de Efeito Pigmaleão ao efeito de nossas expectativas e percepção da realidade na maneira como nos relacionamos com a mesma, como se realinhássemos a realidade de acordo com as nossas expectativas em relação a ela.



Leon não para o que está fazendo, ele tem uma epifania sobre como deve ser feito. O governo Bush (pai) nos deu um novo tipo de linguagem anti-aborto: não se exprima nos males do inferno que aguardam os médicos do aborto, mas sim na importância de nosso sentimento compartilhado de “eca” sobre esses novos experimentos científicos que produzem criaturas cuja própria existência mereceria uma dor tão grande que causaria uma epifania no cientista mais sangue-frio. 


Se você seguir a metáfora, pensadores como Leon Kass são mensageiros de uma nova elite anticientífica: quanto mais você apoia a ciência "estranha", "latina" ou popular, mais conservadores recrutam os compaixão de todos os americanos pelos vulneráveis, e o é menos provável que você faça seu experimento acontecer. Esse clima que Besson buscou retratar e criticar no filme. 


Entrando na minha análise propriamente, confesso que esse é um dos filmes mais difíceis que escrevi na vida. Primeiro, pela ligação afetiva que tenho com o filme, tendo visto diversas vezes o filme na "Sessão da Tarde" quando era criança. Segundo, pela sua temática, que revendo hoje em dia considera pesada e até mesmo politicamente incorreta, explicando assim os cortes que a Globo fazia no filme para exibir o filme na Sessão da Tarde. 




Para quem cresceu nos anos 90 e era de uma família pobre ou menos abastada vai saber bem do que vou falar agora: o filme era uma metáfora da própria época. 


A geração que era criança nos anos 90 e se tornou adulta nos anos 2000 sofreu com uma das mudanças estruturais mais violentas da história: o "fim" da Guerra Fria. 


Por um lado, tínhamos uma geração de adultos que cresceu em uma época mais bruta e violenta (principalmente no Brasil que teve a ditadura militar), exigindo nas crianças responsabilidade e preparo para a vida adulta; cobrando crescer mais rápido. 


Por outro lado, na televisão, na escola e na sociedade civil, tudo apontava justamente para a proteção da criança, que elas não deveriam trabalhar e nem serem tratadas como adultos. Por exemplo, no Brasil, o famoso Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), data exatamente de 1990. 


Logo, existia um grande contradição diária, onde a televisão dizia para você ser uma boa criança e como bater nos filhos era errado, mas ainda assim os pais davam surras em seus filhos, criando uma noção de passivo-agressividade inerente nessa geração. 


Por isso o filme era a metáfora perfeita da época: crianças sendo criadas pela televisão, refrigerantes, industrializados e cultura pop; pois seus país estão preocupados demais trabalhando ou reencenando arquétipos mortos da família americana padrão. Era impossível para crianças brasileiras, principalmente do Rio de Janeiro e a ideologia de "guerra contra a violência", e não se sentir um pouco Mathilda.


A contradição perfeita do neoliberalismo é explorada por Besson, é que esse clima politicamente correto da televisão e da cultura pop, combinam perfeitamente com o clima de punição e abandono parental. Isso é perfeitamente visto na cena onde Mathilda está com a família, vai até o banheiro e vê os pais transando no banheiro e sua irmã, que está super feliz fazendo ginastica da tv, a agride por interromper seu momento de felicidade: a obrigação de ser feliz, bonito e saudável é extremamente coercitiva, pois deve garantir que nada te atrapalhe no processo de busca pessoal (e individualista) da "felicidade".


Leon, por sua vez, é apresentado como um cara "clássico". Ele gosta de filmes clássicos (até anos 50), principalmente musicais. Ele é um atirador perigoso, mas não sabe ler. O dinheiro que ele ganha pelos contratos, não ficam nem mesmo com ele, pois como um bom profissional, Leon não tem gostos nem vida pessoal. Por isso, o seu dinheiro fica guardado com seu chefe, Tony, chefão da máfia italiana de Litle Italy, onde o filme é ambientado, fator importante já que é um bairro de NY considerado "perdido". Ele pode ser um assassino, mas o fato de ser alguém dedicado, ético e bom, fazem com que ele seja um pai melhor para Mathilda que sua própria família.


Só que ele não é, e por isso sua convivência com Mathilda implica na sua afinidade e sexualização inerentes. Por vezes, principalmente nas cenas internas do hotel ou quando começam a assaltar casas, Leon e Mathilda se comportam como casais. 


Esse é o fator que mais incomoda a muitos no filme, por ver uma certa condescendência com a pedofilia. Entretanto, a relação de um homem de mais de 30 com uma menina de 12 anos é tão incongruente e fraterna que não tem como maldar o filme: a maldade está nos olhos de quem vê. 


Entretanto, o filme não se furta a explorar os aspectos mais confusos dessa relação psicológica. Na cena onde Leon está conversando com Tony no restaurante, olha para fora e vê Mathilda fumando um cigarro e conversando com um estranho, temos essa dinâmica explorada da melhor maneira. Ao ele dar o esporro falando para ela não falar com o garoto e nem fumar mais, a cena mistura o machismo da proteção paternal, com o machismo da ciúme e possessividade de namorado. 


Essa cena é legal, pois para os homens serve para observar e controlar o comportamento do ciúme possessivo que infantiliza as mulheres e namoradas, tal como se fossem garotinhas leváveis pela mão. Por outro lado, ensina os pais que se você tratar os filhos com excesso de proteção, é tratar como namorado, e isso por si só já é sexualizar antes da hora, simplesmente pois está revelando onde deve se maldar as relações.


Leon com seu jeito bruto e dedicado, é um bom pai pois justamente o fato de ele não moralizar de cara Mathilda em suas investidas sexuais. Seu jeito lento, e sua paixão difícil de explicar por Mathilda, o tornam vulnerável, incapaz de tomar uma ação. Na cena (cortada em muitos lugares) do jantar onde Mathilda se declara para Leon, mesmo que ele nunca consume o ato, ele nunca diz claramente um "não", falando sobre os seus sentimentos por um amor proibido do passado, deixando ensejado que ele gostaria de ver ela crescer primeiro, ajudando-a no que fosse possível e quem sabe um dia consumar o amor entre os dois. 


Esse comportamento de Leon de não dizer nunca um claro "não" para nada, nem em ser assassina nem sobre o sexo, são justamente o que desmotivam Mathilda de sua vontade de crescer rápido. A velocidade e a falta de barreiras, fazem com que psicologicamente Mathilda queira desacelerar um pouco as coisas e continuar a ser criança. 


Particularmente, eu gosto de ler a relação de Leon e Mathilda como arquétipos psicológicos, algo bem comum no cinema francês, principalmente posteriormente a Nouvelle Vague. Eles são o "cara brutão e sombrio" e a "pequena garota prodígio". A relação de contraste físico exacerbados, podem ser metáforas de como as pessoas os vêm de uma maneira moral e preconceituosa, não permitindo nunca que tal relacionamento de fato exista. Se compararmos com Mickey Knox (Woody Harrelson) e Mallory Knox (Juliette Lewis), de Assassinos por Natureza (1994), que se uniram pelo desejo que um sente pelo outro e por amarem a violência após ela matar sua família, faz todo sentido a elaboração do casal.


Mas esse caráter transitório e mitológico ajudam com a identificação múltipla do filme: Se você assiste com seu filho, vai ver a relação de pai, se ver com seus pais, vai se sentir meio Mathilda e se ver com sua namorada(o), vai ver as cenas entre os dois de uma maneira muito mais romântica. Esse caráter narrativo de trajetórias cruzadas são a genialidade do filme, já que não queremos maldar a trama de Mathilda e Leon justamente para o amor dos dois não perder esse caráter natural, muito bem representado pela planta de Leon. No fim das contas o filme é muito mais sobre o amor de maneira abstrata e como esse sentimento incomoda em uma sociedade individualista e neoliberal.


Quem já viu um policial parecido, sabe que Gary Oldman está um show como o policial do DEA viciado e corrupto. Ou seja, o policial "eficiente" é um assassino sem escrúpulos. Além da clássica cena do "Everyone!", sua caracterização e comportamento condizem perfeitamente com a de policiais que andam a paisana e se sentem superiores em comunidades populares e favelas, humilhando moradores e matando traficantes e suas famílias. Seu olhar e linguagem corporais resistem a marca do tempo, pois continuam assustadores até hoje. 


A da morte da família de Mathilda é uma questão polêmica e complicada do filme. Como eles eram opressores com ela, é cruel o filme os matar, pois assim dá uma sensação de "alívio" muito cruel e individualista. Tudo é facilitado demais. E o fato de serem executados por policiais, fazem a gente achar que a estrutura opressora da família de Mathilda era melhor que os policiais e a "lei", que eram verdadeiros fascistas; é cruel mas é real. 


O filme deixa uma impressão demasiada de "prótese" e pode ser criticado por isso, pois deixou de explorar sociológica e historicamente como é de fato o crime de menores de idade em Litle Italy. O filme corrige isso com o seu caráter teatral psicológico e estética pulp, que quase como um quadrinho, se concede a liberdade poética de representar as coisas de maneira sentimental. Só vale pensar que esse fator não compete com uma boa pesquisa da realidade por trás do filme, e sim somaria. 


Refletindo pelo lado da própria arte, apesar do filme utilizar das armas, do assassinato e da violência urbana para construir o seu cenário, Mathilda nunca chega a matar ninguém apesar do treinamento, e Leon a maioria das vezes mata para se defender. Isso faz com que as armas pareçam metáforas psicológicas das ferramentas de trabalho, já que como o próprio nome enseja, o filme e sobre a dedicação e o profissionalismo em torno de algo, um dom. 


Poderia ser com música ou qualquer outro talento, como o cinema, que com certeza é o que guia pessoalmente o diretor nesse projeto. Para ele, toda a metáfora envolve, da descoberta à maturação, em torno do gosto e do dom cinematográfico, algo que para muitos cinéfilos é uma sensação comum. O cinema é assim: algo que você conhece e sabe por mais que não queira saber ou refletir, pois por mais que não queiramos ver filmes, eles nos influenciam socialmente. Ninguém gosta de estar por fora de um assunto, ou saber mais do que saber menos. 


No artigo Profissionalismo como Agente de Legitimação, a renomada autora de comunicação Gaye Tuchman, afirma que incluindo os primeiros anúncios comerciais, a imprensa popular do início do século XIX foi também a primeira editora a lucrar, a primeira a afirmar que a informação política deveria ser acessível a todos que pudessem pagar um libelo, sem qualquer conexão com seu público. Jornais com fins lucrativos reforçaram a crença na propriedade do lucro como motivo do comportamento humano. 


Como Polanyi aponta, o século XIX é um dos poucos momentos da história em que o ganho era uma justificativa aceitável, quanto mais louvável, para a conduta humana. 


A distribuição de informações pelos jornais a todos que desejassem comprar desafiou o direito da elite mercantil de continuar sua hegemonia política e assim facilitou o desenvolvimento do capitalismo. A falta de conexões face a face introduziu a relação social que parece ter atingido seu ápice com a televisão e depois com a internet. 


Habermas sugere que a introdução da interação para-social encorajou o desenvolvimento do capitalismo ao apoiar novas definições de relações sociais. Em vez de manter relações interpessoais mais tradicionais, nas quais os agentes estavam familiarizados com os aspectos multifacetados da vida uns dos outros, a interação para-social encorajou a fragmentação de papéis que conduzem ao desenvolvimento do capitalismo industrial ocidental. 


A ideia de Habermas pode ser vista como especulativa, mas ecoa percepções sociológicas anteriores. Ele parece estar descrevendo o estranho moderno, descrito por Simmel, como o "estranho". Esse "estranho" de Simmel, é bem similar a Leon, que é um estranho sem conhecimento e estudo em Nova York. 


Além disso, a interação mediada por meios de comunicação encorajou um afastamento radical do entendimento do discurso público promulgado no século XVIII e capturado pela Primeira Emenda da Declaração de Direitos, por isso os pais de Mathilda se sentem no direito de fazer o que quiserem em relação a criação dos filhos e o assassino pode ser uma boa pessoa no filme.


Encorajando a livre expressão de opiniões controversas a fim de garantir o direito do público de saber, a Primeira Emenda foi baseada em uma noção específica de "público" e "discurso público". Pressupunha uma elite educada interagindo entre si e avaliando em conjunto, por meio do discurso racional, o valor das opiniões conflitantes sobre a verdade. 


A falta de conexões face a face entre a mídia e seus usuários fragmentou essa compreensão do público e do discurso público. Na verdade, no início do século XX, a ideia de discurso público foi substituída pela noção de opinião pública. Finalmente, o profissionalismo jornalístico passou a se basear na reformulação do século XIX da aplicação apropriada dos termos "público" e "privado". 


Essa mudança de responsabilidade ajudou a pavimentar o caminho para que os profissionais do século XX, incluindo jornalistas ou cineastas, concebessem o público como um grupo a ser protegido, em oposição a um grupo de pares a quem se devia lealdade. Na década de 1920, os próprios profissionais de mídia adotaram a noção de que os profissionais são mais qualificados do que seu público para determinar os próprios interesses e necessidades do público.


O tratamento que a mídia dá aos problemas econômicos e sociais como fenômenos reificados reforça as autoridades legitimadas. Como tornados e terremotos, as flutuações econômicas são apresentadas como se fossem atos de Deus ou da Natureza, cujo misterioso funcionamento não está sujeito ao controle humano. Na mídia americana, o mercado de ações flutua em resposta às atividades políticas diárias e às atividades contingentes das corporações. Os relatórios não enfatizam as leis econômicas associadas à acumulação de capital em uma economia mundial mais do que traçam associações explícitas entre as flutuações das taxas de criminalidade e o estado da economia. Uma vez que não se pode controlar a natureza ou outras forças reificadas, mas apenas se livrar delas, a mídia sugere que nenhuma solução permanente deve ser esperada.


Com a desvalorização da arte feita pelo neoliberalismo dos anos 90, você sente como se fosse errado saber e conhecer certas coisas e ter certos conhecimentos e que a postura incentivada é sempre superficial. 


Entretanto, sente também que a destruição progressiva da cultura regional e popular através do mito cult da "atualidade constante", não levam a lugar nenhum e por isso não adianta, não tem como ser profissional sem ter sentimentos, algo bem representado pela cena que Leon abre a porta para Mathilda e toda a história é contada. E no final, quando ela finalmente põe raízes na planta de Leon, a metáfora do crescimento para gerar frutos está completa. 


A fotografia do filme é épica. A forma como a luz é controlada perfeitamente nas cenas internas, dando a sensação de tarde ensolarada que fez o filme passar tantas vezes na televisão. As cores do ambiente, o figurino e a ambientação do filme são magistrais. Luc Besson costuma operar a câmera em seus filmes, dando o tom autoral que se relaciona com a metáfora profissional do filme.


Parece que o cineasta estudou bastante e segue a risca as técnicas formais de espaço e extracampo. De maneira que o espaço é construído não só de maneira física mas também psicológica. Nos decoramos onde fica cada detalhe do corredor, da escada, dos apartamentos e da porta, de maneira que quando aquela rotina é rompida, a violência simbólica é bruta o suficiente para ficar totalmente presos na tela para saber qual será o destino de Leon e Mathilda. As cenas de tiro são épicas também, por serem muito mais artísticas que violentas.



A atuação do filme é épica, digna de um filme de neorealismo italiano. A juventude e desenvoltura de Portman; a loucura esquizofrênica de Oldman e a frieza ingênua de Reno, brilham em uma dimensão única entre perseguição e fuga, dando a tensão necessária para o confronto final. A cena que Reno imita John Wayne e Portman imita Madonna é sensacional! A representação dos policiais fascistas e milicianos como playboys desconstruídos e arrumadinhos é perfeita, e representa bem a loucura entre autoridade e profissionalismo proposta pelo mundo moderno, onde o pessoalismo, sensacionalismo e o individualismo são considerados profissionalismo, e a ideia de se dedicar a algo por dom e não por interesse financeiro é considerado loucura. Um clássico obrigatório dos anos 90.



História por trás do filme e bastidores


Enquanto a maior parte das filmagens internas foi filmada na França, o resto do filme foi filmado em locações na cidade de Nova York. A cena final na escola foi filmada no Stevens Institute of Technology em Hoboken, New Jersey. 


Os pais de Natalie Portman eram contra o papel por acharem pesado demais. Era um papel extremamente complicado para uma menina de 11 anos: ela não apenas teria que lidar com um lar desfeito e a violência, mas também com a sexualização indesejada de uma jovem. 


Em Starting Young, um documentário sobre Portman que está incluído na edição do DVD de 10 anos de Léon , a atriz admite que, depois de ler o roteiro, ficou tão emocionada com o filme que soube que tinha que ficar com o papel. Seus pais não estavam tão convencidos. “Meus pais estavam tipo, 'Não há como você fazer esse filme. Isso é absolutamente inapropriado para uma criança da sua idade ... e eu pensei, 'Esta é a melhor coisa que eu já li! Você vai arruinar minha vida! '”, Ela compartilha no doc. “[Eu] estava basicamente lutando tanto com eles”.




Reno e Portman não queriam fazer a cena do vestido e se sentiram constrangidos pela dinâmica do filme em várias cenas. O momento da cena do vestido - que foi excluída na versão americana original por seu conteúdo picante (seria restaurada uma década depois) - é fácil acreditar que Léon age como uma pessoa presa entre a infância e o homem adulto. Não é até esse ponto de inflexão que a pessoa começa a se preocupar. Aqui, Mathilda obriga Léon a dizer que gosta do vestido dela e sussurra para ele a importância da primeira relação sexual de uma menina. Ele rejeita seus avanços, mas a tensão é evidente em sua expressão.


De acordo com o acordo que os pais de Portman traçaram com Besson, a atriz teve permissão para cinco cigarros falsos na mão durante toda a filmagem, e ela nunca teve permissão para inalar nenhum deles. Se você prestar atenção ao personagem dela, verá que ela apenas coloca o cigarro nos lábios, mas nunca sopra a fumaça. Além disso, seus pais exigiram que seu personagem parasse de fumar em algum momento do filme. No filme, Léon repreende Mathilda por fumar, e depois você a vê jogando fora o cigarro inacabado quando está sozinha.




Durante sua audição, Besson perguntou a Portman se ela poderia fazer alguma impressão de celebridade; o que você vê no filme é todo o arsenal que ela apresentou ao diretor. Enquanto ela era obcecada por Gene Kelly e Madonna quando criança, sua impressão de Marilyn Monroe foi feita sem ter visto nenhuma das lendárias obras da bomba. “Eu nunca tinha visto as fitas originais de Marilyn”, diz Portman em Starting Young. Ela passa a admitir que sua impressão foi informada por uma vaga memória de Mike Myers personificando Monroe em Wayne's World.




No filme La Femme Nikita de 1990 , Reno interpreta Victor "The Cleaner", um agente enviado para salvar a missão fracassada de Nikita. De acordo com o comentário do DVD, Besson ficou tão inspirado para explorar mais o personagem de Reno que desenvolveu uma história em torno dele, que se tornou Léon. Felizmente (em retrospecto) para o diretor, quando as filmagens de O Quinto Elemento foram atrasadas devido à programação de Bruce Willis, Besson teve tempo para filmar O Profissional como um projeto apaixonado.


O prédio de Léon e Mathilda é, na verdade, uma parte icônica da história de Nova York. O Chelsea Hotel já foi um lugar onde Allen Ginsberg e Gregory Corso desfrutavam de intercâmbios filosóficos; Bob Dylan, Janis Joplin, Charles Bukowski, Tom Waits, Patti Smith, Leonard Cohen e Iggy Pop gostaram muito; Arthur C. Clarke escreveu 2001: A Space Odyssey enquanto permanecia lá; Andy Warhol filmou Chelsea Girls dentro de suas paredes; e a namorada de Sid Vicious, Nancy Spungen, foi encontrada morta a facadas nesse hotel (levando à prisão de Vicious).


Embora o filme tenha sido rodado em Paris e na cidade de Nova York, Besson observou que Léon é antes de tudo um filme de Nova York. “Quando se trata de  Léon, me sinto confortável em Nova York porque para mim, em Nova York, você pode ser invisível. Você pode ver alguém deitado na rua e ninguém vai parar ”, disse Besson à Stumped Magazine. “Se você não tem telefone nem cartão de crédito, ninguém sabe onde você está ... Mais uma coisa: você não pode atirar  em Léon na França porque na França em cada prédio você tem uma portaria e ela sabe tudo. Ela está colada à polícia o tempo todo, então você não pode ficar invisível em Paris. ”


No comentário do DVD, Reno diz que tomou uma decisão consciente de tornar Léon um pouco lento para que ele não parecesse fisicamente ameaçador para o personagem de Portman. “[Léon é] alguém que perdeu os pais, um imigrante, aliás ... Se você não é inteligente, quer dizer que não tem cérebro, quer dizer que não tem muitas palavras, então você tem que colocar muitas emoções. Você se defende dessa forma, o instintivo ”, diz Reno sobre retratar Léon. “Se você for lento, [Mathilda] controlará a situação."


Gary Oldman - como Stansfield, o antagonista do agente da DEA viciado em drogas do filme - deu a Besson tudo o que ele tinha, criando um dos momentos mais memoráveis ​​(e agora clássicos) do filme. “O engraçado é que a frase era uma piada e agora se tornou um ícone”, disse Oldman à Playboy . “Eu apenas fiz uma coisa para fazer o diretor, Luc Besson, rir. Nas tomadas anteriores, eu apenas disse, 'Traga-me todos', em uma voz normal. Mas então mandei o cara do som tirar os fones de ouvido e gritei o mais alto que pude. Esse é o que eles mantiveram no filme. Quando as pessoas se aproximam de mim na rua, essa é a frase que costumam dizer. ”


Durante sua turnê de imprensa para Lucy , Besson disse ao The Guardian : "Você não pode imaginar quantas pessoas me pedem uma sequência de Léon . Onde quer que eu vá, eles me perguntam. Se eu fosse motivado por dinheiro, eu teria feito isso por muito tempo atrás. Mas eu não sinto isso. "


Em uma entrevista anterior ao Cinema Blend , Besson elaborou o assunto, dizendo: “Natalie está velha agora, ela é mãe ... É tarde demais. Se amanhã eu tivesse uma ideia sobre uma sequência, é claro que faria. Mas nunca pensei em algo forte o suficiente. Não quero fazer sequências por dinheiro; Quero fazer uma sequência porque vale a pena. Quero que seja tão bom ou melhor do que o original. "


Apesar de dizer isso, existe o filme Colombiana (2011). O roteiro de Colombiana foi baseado no que seria o roteiro do filme "Mathilda", originalmente escrito por Luc Besson como continuação de Léon, The Professional. Após um desentendimento com a Gaumont Film Company sobre como proceder com o filme, onde o estúdio "segurou" o roteiro do filme, Besson e o diretor Olivier Megaton reformularam o roteiro em um filme independente.





Comentários

Em Alta no Momento:

Os Desajustados (The Misfits, 1961): Um faroeste com Marilyn Monroe e Clark Gable sobre imperfeição da obra do artista e o fim fantasmagórico da Era de Ouro do Cinema Americano

Rastros de Ódio (The Searchers, 1956): Clássico de John Ford é o maior faroeste de todos os tempos e eu posso provar

Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989): Filme suavizou livro de Stephen King mas é a melhor adaptação da obra até hoje. Confira as diferenças do livro para o filme

"1883" (2021): Análise e curiosidades da série histórica de western da Paramount



Curta nossa página: