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Animal Room (1995): Filme se vendeu como "novo Laranja Mecânica" mas passou despercebido apesar da boa temática e atores conhecidos



Animal Room é um filme de suspense e drama dirigido, produzido e escrito por Craig Singer e estrelado por Neil Patrick Harris como um tímido adolescente e Matthew Lillard como o valentão que gosta de atormentar o personagem de Neil Patrick. O filme foi vendido pelo diretor do filme como uma versão modernizada do Laranja Mecânica (1971) e conta com a participação especial da banda punk Misfits. A história aborda a experiência de uma escola que decidiu reunir os alunos com piores notes e que mais apresentavam problemas, em uma turma separada da dos demais (e com orçamento menor). Arnold Mosk (Neil Patrick) é um adolescente inteligente e sensível com problema com drogas, que está agrupado em uma classe para os alunos problema onde ele sofre com os ataques de Doug Van Housen, o aluno considerado mais perigoso, e seus colegas


Doug e seus amigos são tão destrutivos e perturbadores, que eles são enviados para um novo e polêmico projeto educacional chamado “Sala dos Animais” para serem “reeducados” nos porões de suas escolas. Um dos outros alunos selecionados para o programa chama-se Arnold “Arnie” Mosk (interpretado por um estranho pós-adolescente Neil Patrick Harris). Arnie é um viciado em drogas em recuperação e, apesar dos apelos frenéticos de seu conselheiro escolar, Arnie é enviado para o “Animal Room”, onde é o alvo número um do tormento e dos abusos sofridos nas mãos de Douglas Van Housen e seu grupo de amigos. Arnie volta para as drogas como uma tentativa de evitar seus algozes, mas Doug é persistente e não vai descansar até que ele destrua a vida de Arnie.




História por trás do filme 


Depois de dirigir, escrever e produzir vários curtas e longas-metragens premiados, Singer fundou a FanLib e a My2Centences, empresas que previam a integração do cinema com a internet e as mídias sociais. Em 2008, ele vendeu as empresas para a The Walt Disney Company, onde assumiu a função de vice-presidente de criação. Disney Online Originals desenvolve e produz séries para sites e marcas da Disney Online, incluindo Disney.com e Disney Family.




Cineasta com perfil "camaleão", ele foi indicado ao Emmy, vencedor de prêmios e executivo de novas mídias. Depois, foi indicado ao Emmy na categoria de ficção interativa em 2008 e sua série foi homenageada várias vezes pelos Telly's e Webby's.




Singer é co-criador, juntamente com a lendária criadora da animação Rugrats: Os Anjinhos, Arlene Klasky, da empresa Klasky Csupo. Klasky Csupo é uma empresa de produção multimídia de entretenimento localizada em Los Angeles, na Califórnia, fundada pela artista e produtora Arlene Klasky e o animador Gábor Csupó. A Klasky Csupo foi iniciada em 1982. 




Os filmes de Singer incluem Animal Room (Neil Patrick Harris, Matthew Lillard, Amanda Peet), Dead Dogs Lie (Tommy Flanagan, Peter Greene, Gary Stretch), A Good Night to Die (Michael Rapaport, Seymour Cassel, Debbie Harry, Ralph Macchio, Ally Sheedy, Frank Whaley, Reg E. Cathy), Dark Side (Jamie-Lynn Sigler, Patrick Renna, Alex Solowitz) e Perkins (Patrick O'Kane, Richard Brake).




Já Harris, começou sua carreira como ator infantil e foi descoberto pelo dramaturgo Mark Medoff em um campo de teatro em Las Cruces, Novo México. Medoff mais tarde o escalou para o drama de 1988, Clara's Heart, estrelado por Whoopi Goldberg e baseado no romance de mesmo nome de Joseph Olshan. Clara's Heart rendeu a Harris uma indicação ao Globo de Ouro. No mesmo ano, ele estrelou Purple People Eater, uma fantasia infantil. O primeiro papel de Harris no cinema quando adulto foi Animal Room. 






Leitura do filme 


O filme surgiu de uma vontade do diretor em "atualizar Laranja Mecânica". Foi uma grande sacada de marketing de Craig Singer, pois isso o fez ter orçamento e um elenco bom e grande, mas que ele mesmo não soube trabalhar com qualidade. 


Muitas pessoas já não conseguem levar o filme a série pois nele está o ator que faz o personagem Salsicha, no filme do Scooby-Doo de 2002 (Matthew Lillard), que interpreta justamente o vilão do filme. Mas isso é só um detalhe perto de outras coisas.



Há muitos planos bonitos, poéticos e inovadores no filme. A cena de Arnie narrando de maneira etnográfica a violência dos jovens, é funcional tecnicamente e bonita esteticamente. As parte do porto abandonado também. Mas de maneira geral, os ângulos do filme são pobres e a linguagem cinematográfica da direção é porca.




A técnica que mais me incomoda desse filme é utilizar a câmera para dar noção de desorientação. Enquanto vemos, acreditamos que aquilo é para chegar em algum lugar, uma verdade oculta ou algo assim. Mas não, o diretor só colocou ângulos estranhos pois queria mostrar o que sabia, mas soou fora do lugar. Acredito que no fundo, Craig Singer não acreditava na história e não gostava muito do que estava fazendo no filme. No fundo, sua linguagem parece rir dos traumas e medos, algo muito comum em seriados da Disney, mas que com o teor realista desse filme, ganharam um caráter de escárnio muito forte, principalmente nas cenas de drogas, fazendo diretor parecer alguém careta e que não entende realmente o universo que está adaptando (tanto que ele nunca mais fez um filme tão sério). 




Outra coisa que incomoda muito no filme, é que ele foi vendido na época, e até hoje se você procura na internet, como "o filme com a participação especial dos Misfits. Mas a participação é legal? Não, ela é um lixo! Além da câmera mal focar na banda direito, dando a sensação que houve muitas cenas excluídas Deus sabe lá o motivo, eles aparecem no momento que o bulinador espanca um cara, aparentemente, até a morte, cena sofrível de ruim e sem sentido, fazendo parecer que os jovens sofrem de uma passionalidade histérica, que alguns diriam "construída pela violência na mídia, pelo rock e por games violentos", como já ouvimos muitas vezes. É difícil acreditar que a banda aceitou participar de uma cena que parece criticar a presença deles no próprio filme.



Entretanto, a dificuldade maior de se analisar o filme é que, de maneira geral, ele não é ruim. O roteiro particularmente é sensacional. A ideia de reverter o universo externo da totalidade distópica de Laranja Mecânica, em um mundo onde o problema está no interno e sociológico como a escola, foi inteligente. Aqui o problema não são só os jovens mas também as instituições.




Varias sacadas merecem destaque, como o fato de o único professor que simpatiza com Arnold ser racista e os bonequinhos da sala dele, referência a arquétipos pejorativos da cultura negra, estão lá como sinal. 





Mas principalmente as cenas dos relatos de Arnold, e toda a escalada de cenas que culminam em um final trágico. A atuação de Neil Patrick Harris é uma das mais puras e emocionantes que já vi no cinema. Sua forma de representar a vítima do bullying, entre o desespero e a tentativa de se estabelecer socialmente, é tocante e emocionante, tornando difícil não lembrar dos traumas da época da escola. 




No final, tentando não entregar o final, pareceu que o sistema da sala de aula que segrega os piores, é um sistema primordial, animal, não civilizado. Por isso, o que impera é a lei do mais forte, e logo o mais fraco deve ser sacrificado e eliminado. Separar os piores pode parecer uma escolha simples, mas que se tomada, pode estragar todo o processo educacional e até mesmo a vida dos envolvidos. No final, o bully e grande "vilão" do filme, apesar de sua obscuridade aparente (e até mesmo ridícula) exposta em muitas cenas, na verdade não passava de um cara cult e, como ensejado em algumas cenas e alegorias como a do coelho, provavelmente homossexual, assim como Arnold. Se você reparar na trama, apesar das cenas de agressão e bullying iniciais, ao longo do filme eles vão construindo um certo sentido de admiração. 




O  subtexto perverso do filme está de parecer que a atitude dos professores, e suas disputas em torno de qual método ou teoria está mais correto, que é o problema. O ódio dos outros para com Arnold vinha da sua boa relação com os professores, algo que fazia todos os verem como um "infiltrado", um delator, X9 dos professores. Se ele não interagisse com eles, ou melhor se não existisse o projeto da sala criada pelos professores, nada daquilo teria acontecido. Uma ótima reflexão como os modelos institucionais que buscam exageradamente a eficiência, podem passar por cima da ideia original do projeto, que é lidar e atender demandas humanas. 




Se alguém se interessar em ver o filme, ele só está disponível online e sem legendas em português, o que dificulta para muitos. Está disponível no Dailymotion, basta procurarem "Animal Room 1995", na sessão de vídeos do buscador do Google.



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