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Os 5 clipes do Rap Nacional mais marcantes de todos os tempos



 Essa lista é do barulho. Nessa lista, vamos lembrar clips marcantes e estórias cativantes da cena do Hip Hop no Brasil. Contaremos nesse post um pouco dos bastidores e do contexto histórico de cada clipe

O rap ganhou no Brasil notoriedade nas quebradas como manifestação cultural e artística, no dia 06 de agosto, é comemorado o dia do Rap Nacional, por exemplo. 

O Hip Hop foi um subcultura marcante na cultura negra americana. O movimento surgiu em 1970 com o break e os bailes funk. Dessa forma, havia uma diferença entre MC (mestres cerimônia) e DJ's (quem fazia os remix e tocava as músicas nos bailes).  A cultura dos anos de 1970 perdurou desde então e se modificou em várias facetas e se modificou em formas de nichos e subculturas. 


O funk deu lugar ao rap, nas festas ao se misturar com a cultura da dança, que é o hop, e o vocábulo hip significa no inglês algo que esteja no momento, algo atual. Os anos 1990 viram a ascensão do rap e das guerras de gangues regionais, como retratado de maneira icônica no game GTA San Andreas. 


No Brasil, o movimento hip hop teve sua presença mais forte nas grandes cidades, como Rio de Janeiro, e mais precisamente, em São Paulo. Houve por aqui menos impacto e produção de músicas e vídeo-clips, houve também diversos grupos mais underground. Essa é uma seleção pensando em músicas mais clássicas do gênero. 


1) Diário de um detento - Racionais MC's 


"O Senhor é meu pastor 

Perdoe o que seu filho fez 

Morreu de bruços no salmo 23 

Sem padre, sem repórter

 Sem arma, sem socorro 

Vai pegar HIV na boca do cachorro

 Cadáveres no poço, no pátio interno

 Adolf Hitler sorri no inferno!

 O Robocop do governo é frio, não sente pena 

Só ódio e ri como a hiena 

Ratatatá, Fleury e sua gangue 

Vão nadar numa piscina de sangue 

Mas quem vai acreditar no meu depoimento? 

Dia 3 de Outubro, diário de um detento."


 Inspirada em uma estória real, a rebelião e o massacre do Carandiru tirou a vida de 111 detentos. A situação foi tão macabra e denotou um fracasso do sistema tão grande, que foram temas de um filme e de um livro do médico Dráuzio Varella. A primeira frase da música já é sobre a data, dia 02 de Outubro de 1992. 

O grupo de rap dos Racionais MC's dispensa apresentação. São os melhores e  líderes do movimento do rap no Brasil. O clipe estimula a imaginação ao mesclar a imaginação do cotidiano descrito por um detento. Um dos autores da letra foi Jocenir, que escreveu sobre o massacre em seus escritos enquanto estava preso lá, foi ele quem depois conheceu Mano Brown. 




2)  Política - Ataliba e a Firma


O videoclipe de Política é uma obra de arte de seu tempo. A estética comunitária e as roupas nos lembram que esse era o "Brasil de FHC". Em 1995, Athalyba-Man, junto com Kri e Grandmaster Duda, um DJ da equipe do Chic Show, antigo produtor musical.

 A gravadora BMG-Ariola pensou em investir em um videoclipe para divulgar  o trabalho deles. Os rapazes quiseram filmar no bairro de Bixiga e outros pontos da cidade. No mesmo ano o clipe foi indicado a categoria de melhor clipe pela MTV. A letra é maravilhosa e é sobre um assunto bem off do cotidiano, da mídia e das conversas: a política.









"Parlamentarismo, monarquia ou republica
 Muda o nome e terão todos forma única
Se não mudar a mentalidade lúdica,
 modo de se encarar a coisa pública 
Enquanto isso a esperança mais umbrícola 
Secando a roupa no varal ainda úmida sol 
batendo numa gota d'água fúlgida, 
Que será de nós e de nosso habitat ... 
Suando as mãos nós limparemos a política 
A inflação é conseqüência desse cólera 
E todo mal que nos assola é uma alíquota 
Cujo montante principal é a política..."


3) Um bom lugar - Sabotage






4) O Trem - RZO

O grupo RZO é um grupo mais descontraído, mas já até falaram em uma de suas músicas sobre um colega deles que admirava o Lula. A história desse clipe aqui é sobre o "surf de trêm", uma prática dos anos de 1990 e 2000, tanto no Rio, quanto em São Paulo. 


A realidade dos trens, a superlotação, a presença de praticamente qualquer tipo de pessoa, o cheiro, a venda de drogas, o ambiente, a sensação, tudo isso está descrito perfeitamente na música e no clipe. A prática do surf em cima dos trens foi uma moda perigosa, mas que muitos jovens que não possuíam outras fontes de lazer faziam para se divertir. Como mostra no clipe, podia ser divertido sim, mas qualquer erro, era morte na certa. 








5) Isso aqui é uma guerra - Facção Central


O grupo surgiu na cena dos anos de 1980 em São Paulo. O clipe da música assustou a sociedade brasileira por ela ser absolutamente contra o armamento da população. 

Basta lembrar a ditadura, a figura do inimigo público e o pânico dos assaltos a bancos e das associações e grupos de esquerda. Mesmo na democratização, parece que o medo de  sedição é o mesmo. A polêmica ocorreu pois no clipe apareciam jovens assaltando com arma, o que não é comum, mesmo no ramo do rap, isso por conta dessa diferença política do uso das armas no Brasil. 

Na constituição americana, vários segmentos da sociedade civil americana, como os antigos panteras negras que queriam se firmar no direito da segunda emenda para poder ter posse de armas e não serem considerados terroristas. Pensando nessa comparação, a razão está com o grupo de rap, já que seria, como em jogos tipo GTA, apenas arte e cultura, como filmes de ação, por exemplo. Mas em 1999 não era assim. 




Esse clipe foi censurado por um promotor de justiça de São Paulo por suposta apologia a violência. A polêmica envolveu uma proibição ao clipe na MTV. O grupo de rap foi no programa da Sonia Abrão junto com policiais que cantaram um rap "de paz" para ensinar o grupo.  

A situação é cômica e triste ao mesmo tempo, mas demonstra a infinita ignorância de certo ramo da sociedade, o desconforto do grupo com o programa de televisão parece quase um meme, mas podemos entender o porquê eles ficaram estarrecidos, o "rap da polícia" parecia uma esquete de Saturday Night Live de tão louco que foi. 

O promotor quis censurar o clipe usando argumentos "de esquerda", de direitos humanos. Podendo gostar ou não do estilo gângster, é nítido uma diferença sociológica e ideológica da indústria cultural americana para a brasileira.







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