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"Ok, Human": novo do Weezer diverte em momentos, mas termina morno

 


O Weezer lançou nesta sexta-feira (29) seu mais novo álbum, chamado Ok Human, que está disponível nas plataformas digitais. O disco é o 14º da banda e apresenta 12 faixas inéditas. O álbum foi planejado para ser lançado após seu pretendido décimo quarto álbum, Van Weezer, mas quando o álbum sofreu um atraso de um ano após a pandemia de COVID-19, a banda deu a entender que eles estavam mudando seu foco para incluir o clima da pandemia no disco


Essa influencia é vista de cara na capa(maravilhosa), onde vemos um homem e um alien, cada um em sua "bolha", respeitando o "distanciamento social", mas ambos ouvindo música e aparentando curtir o mesmo som ao seu próprio estilo


O vocalista da banda, Rivers Cuomo, sempre foi conhecido por seu tom irônico onde por vezes assumiu personagens em músicas e clipes. Ele compôs a maioria das músicas. Em um muitas delas pode sentir certa ironia com a "cultura da pandemia", suas lives e etc.


Como em "All My Favorite Songs", principal single do disco. Na música, é descrita a sensação de tédio e esgotamento cultural gerado pela pandemia nas frases: "Todas as minhas músicas favoritas são lentas e tristes. Todas as minhas pessoas favoritas me deixam maluco". 


Em outro trecho, uma referência ao lockdown e a festas no meio da pandemia, vulgarmente conhecidas como "coronaparty": "Eu amo festas mas eu não vou. Então me sinto mal quando fico em casa, descrevendo o remorso de muitos.


Outra letra criativa é da faixa "Aloo Gobi", que é um prato vegetariano indiano feito com batatas, couve-flor e especiarias indianas, sendo popular nas cozinhas indiana e paquistanesa. A letra diz: "Algum filme noir francês. Não quero sentar ao lado de humanos, eu sou agorafóbica". Agorafobia é o medo de lugares e situações de interação que possam causar pânico, impotência ou constrangimento, um síndrome que pode ser comum após meses isolado. 


A faixa 3, "Grapes of Wrath", é uma referência ao livro do escritor norte americano, John Steinbeck e que foi adaptado ao cinema pelo cineasta John Ford em 1940, em um dos filmes mais clássicos e bonitos do cinema mundial. Outra faixa bem divertida do disco. 


"Numbers" também é legal, apesar de melancólica.


Mas é em "Playing My Piano", que o álbum começa a desandar. A balada de piano (não me diga), por vezes se assemelha a um uivo. Isso é justificável. Como alguns canções foram compostas ou modificadas pela pandemia, Cuomo compôs sozinho ao som do piano. Isso parece querer trazer certo toque de ironia mas que não dá certo. 


Fora a pandemia, o álbum também coincidiu com a eleição de Joe Biden como novo presidente dos Estados Unidos. Por isso, o Weezer, que obviamente estão mais inclinados para os democratas do que para os republicanos, acabou soando panfletário, como em "Mirror Image". 


É claro, todo esse caráter forçado da pandemia pode estar sendo usado para fazer ironia. Mas só tem um problema aí: se trata de uma doença. Por isso, em outras palavras, a banda não sabe se prega pela ideologia do combate ao coronavírus e soa elitista, ou se toca ironiza tudo e soa negacionista. 


Isso comprometeu mais da metade do disco, que possui no máximo 4 ou 5 faixas de fato boas. O resto, possuem um lirismo até que bonito, principalmente em suas letras que possuem forte influencia literária, mas as canções ao piano não conseguem agradar por não conseguirmos saber se são de fato uma mensagem de esperança ou um grande ironia, o que bloqueia a fruição do disco por não sabermos se estamos participando de algo sincero ou de uma grande farsa da qual vamos rir no futuro (como foi a "Macarena" em seu tempo, por exemplo).  


De maneira geral, as letras da músicas estão muito boas, criativas ao representar a atualidade e por vezes até mesmo soam poéticas. Detalhem pela forte introdução de violinos, violoncelos e pianos; novos a sonoridade da banda. O instrumental em geral é muito bom, principalmente nas canções mais agitadas, mas formal demais nas canções de piano, que soam melancólicas demais. 


Um disco interessante, com uma ideia conceitual bem interessante e bem trabalhada no marketing, desde o nome do disco, até sua capa. Com certeza capturaram bem o espírito e a semiótica dos tempos. Mas pecaram por ficar em cima do muro, e não saber eles próprios a mensagem que buscam passar.






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