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"Os três porquinhos" e a questão da propriedade em John Locke


Os contos de fada ensinam estórias e moralidades para diversas culturas. Mas por traz da moral e do exemplo que buscam ensinar enquanto metáforas, algumas delas são ótimas para analisar situações políticas similares

 

 A ciência social moderna  encarna diferentes perspectivas metodológicas. Os três porquinhos, como as Viagens de Gulliver, ou mesmo João e o pé de feijão, se apresentam como metáforas de formação profissional e rementem cada um ao seu contexto regional e popular. Esses são os predominante na região do Reino Unido. Os três porquinhos começou a aparecer no século XVIII. 


O porquinho mais novo só pensava em brincar, e por isso, construiu sua moradia muito rapidamente. Já o porquinho do meio, também queria brincar com o mais novo, assim juntou uns paus de madeira e fez sua casa. Diferente dos outros, o porquinho mais velho lembrou das palavras de sua mãe, e resolveu construir uma casinha de tijolos. Um dos contratualistas modernos com teorias mais interessantes é John Locke, escrevendo sobre os princípios que regem o pacto do governo civil, afirmavam que o homem não era "herdeiro de Adão e Eva", diferente  da tradição de Jean Bodin. 


Agora os três porquinhos são metáforas que podemos associar com as três principais teorias sociológicas. Temos o porquinho Max Weber, o porquinho Marx, e o porquinho Durkheim. 


A teoria marxista é uma teoria de reação social, então dentro dela tem algo de providencial, igual o cristianismo. Quando Marx era jovem e apenas debatia filosofia, como a filosofia do direito de Hegel, se envolveu em debates com os "jovens hegelianos", os criticava por seu carácter seletivo em analisar rompimentos e conflitos sociais diversos. Marx queria "abolir" a filosofia e substituir pelo valor da consciência de classe. Marx era um cara que leu a doutrina de Hegel, debateu o socialismo utópico francês, e também foi um autor e leitor importantes dos paradigmas da política clássica britânica. 


Já Durkheim era enfático em analisar o perfeito funcionamento da sociedade. A casa mal acabada pode ser o marxismo pela necessidade renovação e "novas caras" para poder existir. Tudo estaria bem sem a "anomia", ou seja, o lobo mau e faminto que quer destruir esse local. Ás vezes dentro do que ele chamou de "divisão internacional do trabalho", um país ou outro pode ter facilidade ou não de acesso a bens e matérias primas para melhoras essas construções. Ou seja, tem locais onde se é mais fácil construir melhores casas, como na Inglaterra, por ter sido o país pioneiro do capitalismo moderno. 


Hoje em dia, o marxismo está longe das discussões econômicas, e profundamente envolvido em pautas transversais e internacionais. O porquinho que constrói sua  casa precária pode ser o porquinho de Durkheim, pois ele arruma sua casa dentro do "mais ou menos" , da funcionalidade do dia-a-dia. Max Weber poderia ser a metáfora do porquinho que constrói sua casa com tijolos, por ter tido sua teoria amplamente utilizada, até mesmo por outros campos por conta do conceito de "ação social" e "agência". Uma prova de que academicamente quem construía tijolo por tijolo, criticando as castas da academia germânica, como a história nacional alemã, e assim sendo resgatado como ciência para o jornalismo americano. 


A estorinha muito popular na Inglaterra é como João e o pé de feijão uma metáfora sobre gastos e ganhos  e rendimentos. A versão de Jacobs consagrou a linguagem infantil do conto. Os personagens seriam Heitor e Cícero, o mais preguiçoso. Ele não queria se casar  e construiu uma casa de bambu e pilhas de lama (como casas de pau a pique). Já Heitor decidiu construir uma cabana de madeira sem usar os pregos certos de aço (uma metáfora de que o certo é usar o melhor material). Enquanto o irmão porquinho prático decidiu construir uma melhor casa, construída com cimento, tijolos, pedra e vidro. 


Soluções simples não são resposta para problemas complexos. Essa é a metáfora do tempo gasto pelo irmão que demorou para construir sua casa enquanto seus irmãos se divertiam. 


Assim o lobo tentou e tentou acabar com a casa, mas era uma casa completa, duplex, com os melhores materiais que o dinheiro poderia comprar, e essa casa não caiu. O lobo não contente, tentou escalar a chaminé, foi capturado e terminou com o lobo fugido, e assim os porquinhos trabalhadores puderam viver felizes para sempre. Os três porquinhos pode ser interpretado como um ensinamento de como o liberalismo clássico inglês se vendia como "trabalhista" para o mundo. Além disso, demonstra como o conto "A Raposa e a Uva", o valor do trabalho duro e a diferença entre o que seria uma "vida mole" e trabalho duro. 


Os contos de fada mexem com algo profundo na psique, sendo as primeiras narrativas de acesso mental e educação do homem enquanto ele mais novo e impressionável. Como no livro, "A psicanálise dos contos de fadas, de Bruno Bettelheim. Como demonstra o livro, os contos de fada podiam recriar papeis, desenvolver o gosto pela 'saga dos heróis', enfrentamento de obstáculos e superação de problemas, e por fim, a redenção e o sucesso. 

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