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"Sociedade de Risco": a normalização do risco nas relações em sociedade segundo Ulrich Beck


Publicado em 1986, o livro se situava entre a globalização enquanto fenômeno e do renascimento das relações capitalistas de tipo mais moderno. A sociedade se apresenta como de risco após a Revolução Industrial 


 BECK, Ulrich. Sociedade do Risco Rumo a uma outra modernidade; tradução Sebastião Nascimento, editora 34, São Paulo, Brasil, 2010 


O livro se apresenta como um ensaio de sociologia urbana, do tipo alemão, como pensado por Simmel ou mesmo. Esse processo de violência é gerado por uma super exploração dos papéis sociais. Esse livro aborda os perigos de uma sociedade que além de possuir 'gentrificação' e segregação, podem ocorrer desastres naturais provocados por fenômenos como o aquecimento global, desmatamento. 


Esses efeitos podem gerar caos nos sistemas orgânicos de ecologia. Mas o tipo de super exploração de solo, de território ou, ligadas com a questão ambiental, essas alterações produzidas pela influência dos seres humanos não afetam apenas aquilo que é considerado verde. O "buraco é mais embaixo".


A modernização e o processo de industrialização exerceu um poder de alteração profunda na tradicional estrutura das classes sociais. A sociedade que vive da evolução da tecnologia que se modifica infinitamente. O arado, a tecnologia á vapor, o uso de microchips e inteligência artificial nos dias de hoje. Muitas são as modificações na rotina humana. Essa modernização traria consequência para os humanos de certa "fonte de certeza"  que se nutriria a vida.


O texto é uma sociologia sobre cidades e problemas ligados aos recursos naturais e da gestão desses recursos. Uma cidade pode possuir uma bacia hidrográfica, e por conta de problemas de saneamento básico, não ter para o morador dessa cidade recursos sanitários ligados ao abastecimento. 


As alterações geradas pela humanidade são de carácter mais permanente do que percebemos. Basta pensar Chernobyl, que entendemos o medo de excessos de protocolos e abafamentos e corporativismo que pode acontecer. Seria isso que seria para além dos perigos apenas da miséria e do desabastecimento. A questão abordada colocaria uma ideia de subjulgar a natureza em um jogo que misturaria ignorar e controlar. A questão desencaixe da sociologia de Anthony Giddens possui um carácter de integração maior do que a ideia de Beck. Para ele, o risco seria a tendência dessa sociedade pós "qualificação"(século XIX). Teria uma bifurcação da teoria em relação a uma ideia de sociedade moderna mais radicalizada do que o começo dessa sociedade "baby boomer". 


 O assoreamento do solo provocado pelo corte de árvores dentro da estrutura urbana, encarece a administração pública, o calor pode destruir postes, inutilizar áreas e gerar problemas de mobilidade dos mais diversos. 


Dentro do que a sociologia de Antony Giddens, entendemos como uma sociedade que está em uma modernidade radicalizada, podemos ver fenômenos como o "fim dos outros", uma ideia de sociologia  cosmopolita. Esse existir na metrópole ou em cidades médias, os conflitos urbanos são entendidos como  manchas. 


O argumento reformista é que precisamos reformar esses sistemas peritos para coibir o risco. Por exemplo, o problema da segurança alimentar pode ser uma faca de dois gumes. Os países de "primeiro mundo", como os EUA, sofrem com problema de dieta alimentar e epidemia de obesidade. Enquanto o problema da segurança alimentar atinge pela falta e por bolsões de pobreza na América Latina, por exemplo. Os processos de papeis sociais estão a abertos para novas definições.


Essa arquitetura social e dinâmica política, corresponde a uma argumentação em cinco teses onde o risco é manifestado: 


1)Riscos, ou invisíveis, ou por vezes, considerados irrelevantes, são produzidos por causa da maneira como estão inseridos na nova estrutura social, na forma do desenvolvimento das forças produtivas. 

2) Com o agravamento dos riscos, esse efeito bumerangue  que explode o esquema de classes. Essas "desapropriações ecológicas" 

3)A materialidade da democracia, da expansão das cidades, demonstra um barril de necessidades sem fundo, autoproduzido. De acordo com Luhmann, assim, a economia se tornaria aos poucos "auto referencial", e aos poucos também, artificial.  

4)Riquezas podem ser possuídas. A consciência determinaria a existência, e surgiria uma teoria do surgimento e da disseminação  

5)Pela primeira vez o tema do desmatamento é politizado. O que há pouco tempo era tido por apolítico, aos poucos vai se tornando político. O combate as "causas" no próprio processo de industrialização. Podemos observar atentamente o carácter político que tragédias ambientais podem produzir em forma de reorganização do poder e na forma do apontamento de culpas e responsabilidades. 


Conclusão:

A peculiaridade da modernidade é o desenvolvimento que gera a própria pobreza pela superprodução. A questão é diferente do tipo de risco de sempre, como uma espécie de "produto serializado", como o risco e sociedades feudais. O efeito bumerangue é característico do tipo de evento fenomenológico da modernidade. Assim que superamos antigos paradigmas, novos arranjos geram novas estruturas de poder, novos "desníveis internacionais". 


Riscos, assim como riquezas, são objeto de distribuição de posições de ameaça, ou de posições de classe. No caso de riquezas sociais trata-se de  te ruma perspectiva que engloba certa relativização do hábito de ter bens de consumo, renda, oportunidades educacionais. Contextos de crises econômicas, crises sanitárias, crises ambientais. Ou mesmo o exemplo da pandemia de covid-19 em 2020, evidencia a atualidade do texto alemão.  


Ainda mais pois é por lá que a "onda verde" das últimas eleições deixou maior marca. A política na Alemanha fez perder a representação das esquerdas e direitas tradicionais, para o surgimento dos "verdes". Assim como também recentemente, os liberais democratas (lib dems) partido fortemente ligado com as políticas de privatização, e totalmente favoráveis a União Europeia perderam espaço nas últimas eleições também para os "verdes". 


A ciência e a disseminação de um tipo de conhecimento útil e instrumentalizado, serve para demonstrar com pesquisas e experimentos e instrumentos de medição essas formas de ameaças, como as ameaças ambientais. Tudo isso é importante como carácter argumentativo, para que se torne evidente os riscos, ameaças das estruturas de produção não sustentáveis. 


É preciso que se coloque essas situações como riscos e causas de uma responsabilidade específica. Ou seja, é necessário que se faça uma constatação de relação causa x efeito, para que o risco de um algum desastre tenha uma faceta que seja explicável.  A consciência do cidadão modelo que observa aquilo que para todos é invisível é o que está se aprimorando com toda atividade científica. Logo, a ciência explica os riscos, tenta prevê-los com seus pesquisas, os riscos assim, se tornam uma espécie de "horizonte normativo", de "imagens negativas" que temos ao observar honestamente da produção e a gestão de recursos na modernidade. Assim, a questão da aceitação ou não desses padrões éticos questionáveis se torna uma ponderação necessária. Seria então uma velha pergunta filosófica que envolve como queremos viver, ou como é o ser humano? 


Essas são lições que vão dos campos da ciência, para o campo da política, mas que são sentidas, na verdade, dentro do cotidiano das pessoas que maneira evidente ou não, dependendo de onde você mora, da sua classe social, da sua ideologia política e se, de certa maneira, você é afetado ou não por esses "riscos e ameaças sociais". O aumento da produção alimentícia vem junto com o aumento de pesticidas, que não sabemos até que ponto pode envenenar a comida. São diversos esses riscos. 


 Todos sabemos perfeitamente que o risco pode ser distribuído, mas ele pode ser mensurado e adaptado. Por exemplo, um terreno que alaga não vai ser um terreno afetado pela especulação financeira.   Então, o local que alaga vai ser a moradia de famílias mais pobres, isso vai ser "negociado" pelo preço da moradia de acordo com quem é mais rico ou mais pobre. Um exemplo dessa radicalização dos processos é feito pelo filme "O Parasita", onde a realidade de disparidade educacional e de classe social, e a questão dos riscos ambientais que afetam os mais pobres está presente no filme de maneira bem crítica. 


O livro dá um exemplo de um município do Brasil, a Vila Parisi, seria "o município mais sujo do Brasil". O município sofre com esgoto á céu aberto. Com mais de 15 mil moradores,  eles trocam os azulejos todo ano por sofrerem com a corrosão causada pela chuva ácida. A maioria das crianças sofre com asma, bronquite e outros problemas respiratórios causados pela poluição.  

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