São Francisco de Assis era filho de um rico e respeitado comerciante de tecidos. Não queria ficar atrás de um balcão, então desenvolveu uma doutrina de vida semi nômade, ele queria propagar sua fé pelo mundo, ou seja possuía ideias apostólicas. Nessa época, muitos grupos e movimentos foram considerados como heresia pela igreja, como os Valdenses (Pobres de Lião) no século XII, ou os Cátaros (albigenses), no sul da França e no norte da Itália.
Desde o início da tradição católica, iniciada por Pedro após a morte de Jesus, o cristianismo sofreu várias influências para ajustar uma doutrina padrão única. A devotio (fé) moderna é feita cada vez mais em prol de novas ordens quando estas pudessem ajudar a propagação da igreja. São Francisco de Assis foi escolhido pelo Papa Inocêncio III para renovar a vida de Cristo no mundo(ad introducendam et renovandam Christi vitam in mundo). Em 1215, o Concílio de Latrão reconhece a Ordem dos irmãos Menores de Assis.
O autor Giorgio Agamben esmiúça as distinções históricas dentro do direito canônico para levantar as origens, evoluções, e contradições sobre o começo dessas novas ordens que poderiam incorporar na igreja com perdão do anacronismo: "as massas", ou seja, o povo, São Francisco de Assis foi a maneira da igreja inseriu em seus quadros a ordem mendicante.
Para Agamben, um grupo de indivíduos não são simplesmente narrações históricas neutras por si só, embora ás vezes parece que transmitem apenas uma ideia, hábitos ou modo de vida. Não são hagiografias (biografia dos santos), mas podem se confundir com santos ou padres fundadores que se apresentam em registro na forma de "exemplum", modelo. Como a vida de Antonio, escrita por Atanásio era uma forma de "legislação narrativa".
Existia muitos debates sobre a natureza da forma como propagar a fé enquanto missões apostólicas. Havia muitos debates sobre a natureza humana ou não de Jesus Cristo. A igreja católica após o período carolíngio(link),unificou a Europa e gerou uma centralidade dos modos de pensar, e principalmente na forma de vida das pessoas, como também na forma de vida dos monges, que é a própria essência do que são.
Depois da inicial perseguição as cristãos em Roma, e depois do processo de hegemonia da igreja católica apostólica romana no século XII começam a surgir grupos, certos movimentos de carácter de redenção, pobreza. Os anabatistas, por exemplo, surgiram como uma comunidade que não acreditava no batismo ao nascimento. Os cátaros possuíam um modo de vida que acabou condenado pela igreja. São Francisco de Assis é responsável pela introjecção, ou a "retroinjecção" de valores ligados ao que chamam de "cristianismo primitivo".
Segundo a regra de Santa Clara, aprovada por Inocência IV em 1253, a sintagma forma de vida se constituía não como um código de regras, mas parece ser mais o que Francisco pregava e chama de "vida", ou "regra e vida", ou literalmente: "viver segundo a forma do santo evangélico". Para Francisco, não era preciso expor os maus sacerdotes, apenas viver a própria vida. Dentro dessas regras que não seriam regras normativas, estaria o voto de pobreza, que antes era mal visto na igreja católica.
Quando perguntado sobre os desvios dos membros da ordem, a resposta de Francisco era que a responsabilidade crítica de alguém não pode ocorrer a você que está na ordem. Uma bonita lição que demonstra que não é uma disputa por quem está seguindo ou não as regras, a questão aqui é que nesse caso, nãoé necessário a crítica, pois a própria essência das regras é o torna um homem um monge. Ou seja, uma crítica de um monge ao outro significa que o que critica está abandonando sua responsabilidade, sua "forma de vida" e seu ofício, correspondentemente.
Em primeiro lugar, é nítido que vida e forma de vida dentro da doutrina franciscana corresponde ao termo foram vitae. Sendo assim, em primeiro lugar nos perguntaremos se com os próprios termos “vida”, “forma de vida” (forma vitae) e “forma do viver” (forma vivendi)
Depois de quase um século da morte do fundador da ordem, a ideia se manteve como uma forma que introdução o elemento novitas, que para os membros da ordem dos menores significava uma forma de vida fora do campo normativo do direito, tanto civil, quanto canônico.A altíssima pobreza é uma regra bulada que dá nome para essas práticas. O termo técnico define o uso pobre, usus, usus facti, usus pauper (uso simples, ou uso de fato, uso pobre)
No tratado sobre regras de propriedade, escrito por Hugo de Digne “De Finibus Paupertatis”, tem como objetivo definir a pobreza segundo a propriedade. Nela que se define a forma de renúncia: “spontanea propter Dominum proprietatis abdicado proprietatis”, renúncia espontânea à propriedade por causa do Senhor”. Já a propriedade é definida como: “ius dominii, quo quis
rei dominus dicitur esse, quo iure res ipsa dicitur , id est domini (direito de domínio, pelo qual se diz que alguém é senhor da coisa, pelo qual se diz que a coisa mesma é sua, ou seja, própria do senhor).
Os padres e monges da ordem não poderiam ter propriedades, mas dentro da ideia de “uso corpóreo”, o membro da ordem poderia, por exemplo, viver em uma casa de propriedade da igreja. O “dominus sui actus” era a própria forma vivendi dos frades menores. A ideia está na própria recusa de uma vontade própria, o que difere dos historiadores do direito, que buscam no franciscanismo a fundação de uma espécie de direito subjetivo.
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