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As origens do bipartidarismo americano: Democracia representativa, delegativa e polarização

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A tensão Biden-Trump têm deixado o eleitor americano de cabelo em pé. O duelo entre o Partido do elefantinho (Republicanos), contra o Partido do burrinho (Democratas)  demonstrou certo esgotamento com a política representativa



Quando pensamos em eleição, votos e população, pensamos sobre a vantagem do regime democrático, mas não nos indagamos quais são os mecanismos e estilos de democracia ao qual somos submetidos. 


 A imagem que temos dos Estados Unidos é de uma democracia plena, de bons sistemas de contrapeso. No mesmo caminho, também é observado por diversos setores uma crescente militarização, até mesmo de grupos de esquerda.


O colégio eleitoral dos delegados americanos,  é composto por 538 eleitores, de acordo com a proporção de número de habitantes, incluindo a capital, os eleitores elegem determinado número de habitantes. O que acaba sendo preferível é ganhar os Estados, do que a massa do voto popular. Apesar de ter ganho no número de votos populares avulsos, Hilary Clinton apenas conquistou 20 Estados, ou seja, 228 votos correspondentes no Colégio Eleitoral. Enquanto Donald Trump venceu em 29 Estados e somou 290 votos no Colégio Eleitoral.  Mas hoje em dia, sua reeleição não é certa. Donald Trump já demonstrou que no caso de perder, não aceitaria o resultado do pleito.  


Para entender em sua extensão a eleição americana, é necessária uma discussão sobre metodologia eleitoral. Os EUA se apresentam como uma república federalista. Isso significa que os Estados têm autonomia. Em termos eleitorais, isso demonstra que as eleições americanas funcionam através do modelo dos delegados distritais. Esse sistema americano do “the winner takes it all”, faz com que o candidato que levar a maioria dos delegados de um Estado levar o Estado todo.


Mais uma vez, quem foi eleito só foi com a soma dos delegados e não com votos da maioria. Essa ideia de “falta de opção” para escolher os candidatos é característica do sistema bipartidário. A democracia não é direta. No sistema americano de eleição, o “caucus” (convenção) é mais uma cultura de reafirmação. Os eleitos são escolhidos pelos delegados.


No mundo atual, com a chamada crise das democracias, a ideia de sistemas de “freios”, e “contrapesos”, nasceram com a constituição americana para coibir excessos. A ideia de voto popular contrasta com uma ideia de “democracia sem povo”. É de James Madison, quarto presidente americano, alguns preceitos que ajudaram a fazer parte da constituição americana. É de sua autoria, frases como: 


"O objetivo da Constituição é restringir a capacidade da maioria de prejudicar uma minoria."


Madison também foi secretário de Estado do governo de Thomas Jefferson, seu ponto de vista e de alguns correligionários criaram o primeiro núcleo do Partido Republicano, que pregava o poder do governo central contra a autonomia dos Estados. Também é característica do tipo de pensamento liberal que não via na maioria a razão de governo. 


Possuindo livros como "The Federalist Papers", Jefferson defendia o sistema federalista para frear a "tirania dos Estados". Ele pregava por uma mistura que resultasse em "estabilidade" e "liberdade".  Isso envolve uma ideia de debate em torno do conceito de minoria, ou de maioria nas decisões da democracia, o que não é fácil. Chamava a ideia de democracia direta de "ditadura da maioria". 


 Nas eleições de 1912, por exemplo, houve um terceiro candidato: Theodore Roosevelt, que fundou um partido só para essa eleição: o Bull Moose Party (partido do touro).O partido foi feito apenas para essa eleição. 


Entretanto, muitos anos se passaram e com a eleição de Bush, em 2000, ele já se mostrava esgotado. Bush ganhou Al Gore levando nos delegados. O modelo de dois partidos favoreceu o candidato. Alguns sugerem que o candidato republicano financiou o terceiro candidato Ralph Nader para roubar votos de Al Gore. Da mesma maneira, Ross Perot seria um “apoio” aos Democratas no pleito que elegeu Clinton. Mais uma vez, quem foi eleito o foi com a soma dos delegados e não com votos da maioria. Essa ideia de “falta de opção” para escolher os candidatos é característica do sistema bipartidário. 


Esse esgotamento pode resultar em diversos caminhos depois dessa eleições de 2020, onde parece que o modelo nunca esteve tão esgotado. Essa ideia de "falta de opção" pode ser cara a qualquer pessoa. Isso explica o motivo da perda de Hillary Clinton em 2016, que perdeu mesmo ganhando em 300 mil votos. Ou seja, mesmo ganhando em número de votos, perdeu no número de delegados e assim Trump foi eleito. 


Esse sistema "liberal" de pesos e contrapesos foi o que introduziu esse elemento "coringa" na política contemporânea, trazendo Bolsonaro, Trump e outros ao centro do sistema político por considerar que a democracia só poderia ser legítima pelo quanto aceita ser "ruim" e ainda assim consegue continuar. Uma inversão do princípio lógico original daquilo que seria melhor para todos. Assim, o bipartidarismo americano parece ter se tornado o populismo mais mortal para as democracias. 


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