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História da América do Sul: Tudo que você precisa saber sobre organização político, social e econômica do continente



 A América Latina é um continente tropical, híbrido e ancestral. Desde os povos pré-colombianos até os colonos lançados o continente viu diversas mudanças estruturais. Uma mistura de tradição de processos de dominação e dependência que foi encerrada com seu processo de independência, árduo e sangrento.



Os motivos da queda do sistema colonial antigo,  teve como causa o começo das ideias de autonomia e república, vividas após o fervor da Revolução Francesa, e da Revolução de São Domingos (Haiti), e a independência dos Estados Unidos da América no eixo Norte do continente. Pouco ouvimos falar no Brasil sobre a América Latina e seus feitos. O governo era exercido através do "Conselho da Índias", que regulava as atividades dessas colônias ultramarinas. . 

Em 1823, a promulgação da Doutrina Monroe declarava um hemisfério para si mesma, uma ideia de "américa para americanos",  e que nenhuma nação americana poderia criar colônias próprias, e também incentivo ao processo de independência de nações amigas. Apesar disso, os Estados Unidos nunca parou de investir em uma "marcha para o oeste" em um planejamento de ocupar as terras antigas da Espanha. Em 1819, os EUA comprou a Flórida diretamente da Espanha. Outro território aberto para domínio foi o Texas em 1836, no Tratado Guadalupe Hidalgo ocorreu em 1847 a derrota do México para os Estados Unidos, o maior recuo de território da parte do eixo da América Latina. 2 milhões de km quadrados passaram para as mãos dos vizinhos do norte.  

Parte disso acontece pois enquanto toda a América do Sul vivia processos de formação nacional e republicana, o Brasil entrava no espírito do liberalismo monarquista, que se traduzia em dominação geral a partir de certos territórios específicos. O medo do Brasil se fragmentar era vívido no século XIX.  Não seria fora de contexto contar as alegrias e tristezas de ser latino americano. O processo de colonização e dominação fez a América sangrar de diversas maneiras. Apesar da proibição oficial por parte do governo espanhol da escravidão indígena, ela continuava. 


A vida intelectual na América Espanhola também corria de vento em pomba. A Universidade do México, fundada em 1551, e a de Lima , em 1553. Diferentemente disso, no Brasil vigorava antes da vinda da família real uma imposição de censura que proibia a circulação obras e a produção de livros sem o aval da coroa. Já América Espanhola desenvolvia uma cultura de jornais importantes em circulação, como El Mercurio Peruano,El telégrafo Mercantil da Argentina, La Gaceta, ou El Mercurio Volante, do México,  começaram a pipocar em toda a América. O sentimento da América e do livro era contagiante para uma terra sem leitores.  

"O Novo Mundo nos músculos Sente a seiva do porvir. — Estatuário de colossos — Cansado doutros esboços Disse um dia Jeová: "Vai, Colombo, abre a cortina "Da minha eterna oficina... "Tira a América de lá" Castro Alves

A América teria sido descoberta oficialmente, em 1492, por Cristóvão Colombo, aportando nas Bahamas. Algumas teorias alternativas logram Pinzón como o "verdadeiro" descobridor do Brasil e não Pedro Álvares de Cabral. Há muito debate em torno do tema dos descobrimentos. 

A América é um continente enorme,  cobre 21 173 000 km quadrados, que possui uma população em sua maioria descendente dos ancestrais indígenas. Existe uma América antes, e uma América depois dos "conquistadores". Eles possuíam um carácter personalista e anárquico que não era vantajoso para as coroas que buscavam expandir suas necessidades de cidades e mercantilismo com esse processo de expansão para o "Novo Mundo". A América Hispânica era conhecida como "Nova Espanha", e era mais precisamente a localidade do México. 

A Colonização na América espanhola foi rápida em substituir a ordem e poder dos primeiros descobridores, através da manutenção da estrutura de poder dos curacas, os órgãos reais fizeram a estrutura do "Cabildo" que eram como audiências para decidir as diretrizes de governo das novas terras. Essa estrutura mesclava poderes administrativos com poderes judiciários. Esses tribunais trouxeram a figura dos corregedores e dos alcaides (figuras de autoridade locais). Assim, o conselho das índias  no século XVI nomeava vice-reis, capitães gerais. Já os centros de administração indígena geralmente eram comandados por padres e teciam reinvindicações para os Cabildos centrais dirigidos pela elite branca. 




Assim criou-se a estrutura das capitanias e vice reinados. Havia a Capitania Geral de Nova Granada, criado em 1717, que correspondia ao território atual do Panamá, Colômbia, Equador e Venezuela. 

 Essa estrutura dividia o poder  em uma forma de "self government". As "Haciendas" (fazendas) na área da Argentina e Uruguai no vice reino da Prata eram estratégicas, pela possibilidade de criação de comércio de gado em planícies e exportação do gado para outros países. 

O Cabildo é parecido com a administração municipal, ou um 'city council' americano, como uma espécie de "conselho", ou câmara dos vereadores local. Sendo uma tendência espanhola de  governo  dessas cidades coloniais. No Brasil, a administração era entre as capitanias, a Lei das Sesmarias atraia alguns desses lançados iniciais. Foi em uma reunião de cabildos, e no dia 5 de julho se declara a independência da Venezuela e do Chile, no ano de 1811. No México a proteção nacional de nomes como padre Hidalgo, ou Morelo. moldaram o imaginário Mexicanos durante o processo de independência deles, que foi de1810 a 1821. Usavam como  bandeira a "nossa senhora do Guadalupe", santa muito reverenciada pelo povo mexicano. A junta governativa de Sevilha e da Inglaterra não queriam por nada esses processos de independência. Por exemplo, em 1815, Simon Bolívar assinou a "Carta da Jamaica", que similar a Doutrina Monroe registrava a vontade de independência por parte dos americanos do sul. 



Antes da conquista, a Espanha já ganhara terras com a bula "inter caetera" assinada pelo Papa Alexandre VI em 1493. Mas isso deixou Portugal, que havia sido pioneiro nas navegações com certa raiva dessa "partilha". Assim, o Tratado das Tordesilhas em 1493, veio "sanar" essas preocupações. A primeira bula buscava dividir o mundo traçando uma linha imaginária que passava a 100 léguas da  das ilhas do Cabo Verde. Os costumes e administração imitavam a tradição europeia, como a inquisição e faziam dos tribunais de exceção modelos "modernos". 

A américa antes dos Europeus era um continente com uma história própria.  Os Astecas no México, de 1168 a 1325, quando abandonaram o nomadismo e fundaram as cidades, como Tenochtitlán, depois a consolidação do México Central, que durou de 1325 a 1440, e por fim a fase das conquistas Astecas, de 1440 a 1521. As civilizações pré-colombianas eram complexas, algumas possuíam escrita, saneamento como os Astecas, astronomia e matemática, como os Maias. 



Esse período do povo Asteca demonstra esse carácter peculiar dessas organizações, foram civilizações independentes e extremamente evoluídas em diversos pontos. Essas grandes civilizações  se organizavam em confederações. Os Maias  na atual América Central, Honduras, Guatemala e parte do México, os Incas na América do Sul. Já os Incas ocupavam a faixa do território que correspondia a Colômbia, até o norte da Argentina e do Chile. 

A América teria sido povoada através de difusões e ocupações produzidas na imigração de povos polinésios através de um estreito que já teria derretido chamado de "Estreito de Bering" que ligaria o Alasca com a Sibéria. 



O processo de Independência das Américas Espanholas  foi um movimento gerado pela mudança na política externa propiciada pela ascensão do general imperador Napoleão Bonaparte. Partidário de vencer a "velha Europa", engajou a França em batalhas que ocuparam militarmente os Espanhóis e os Ingleses, e fizeram a família Real Portuguesa mudar a administração central de seu Reino. 


As classe sociais na América Hispânica eram e são formadas por pelos criolos (filhos de espanhóis nascidos na américa), também formada por mestiços e índios  que viviam de trabalho assalariado, ou em regime de peonagem em fazendas e minas, ou empregados em pequenas atividades agrícolas e comerciais. 

Depois da briga pela sucessão do trono da Espanha, que vê a sua dinastia governante ser de origem francesa, é a Espanha dos Bourbon. No século XVIII, a Espanha passou pelo reinado de Carlos III, um reformador considerado um ilustrado. A figura dos Chapetones na eram os criados na Espanha que exerciam altos cargos de administração publica.

Os processos de dominação e exploração fizeram da região atual da Bolívia, o Peru, os Andes, em uma região pobre de onde as potências europeus extraíram riqueza de maneira desequilibrada. Na região de trabalho, as horas trabalhadas eram quase 16 horas diárias nos sistemas de 'mita' ou 'encomienda'.  Esse processo de exploração colonial causou marcas, assim, diversas revoltas regionais ocorreram, entre elas, a revolta do chefe rebelde Tupac Amaru no Peru. 

O contexto de revoltas na América havia começado com a independência da ilha de são domingos, atual Haiti, primeiro território a se declarar independente, no caso deles, da França. Outros processos foram igualmente importantes como a Revolução Americana, as Guerras Napoleônicas e a própria significação geral de liberdade advinda do evento da Revolução Francesa. 

Existe uma diferenciação na forma de ocupação de território, enquanto nos Estados Unidos havia a negligência salutar por parte da metrópole Inglesa, no Brasil o processo de ocupação havia sido feito de maneira desleixada e abandonada, privilegiando ocupações no litoral. 

Assim o primeiro ciclo de ocupação do Brasil foi feito pelos lançados, imitando o modelo de capitanias, fortes e  marinha para ocupar o litoral. Diferente do Brasil, que havia tido uma colonização mais "livre" e sem racionalidade específica por parte dos colonizadores, a América hispânica construía suas cidades com o molde mais estrangeiro. A linha reta e a construção de edifícios altos, como também a construção de casas ao modelo colonial, com arquitetura típicas da "casa grande e senzala", eram as únicas casas brasileiras que possuíam tal arquitetura "alta".  Essa é uma reflexão do livro "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda.

O ciclo dos primeiros colonizadores possuía um carácter diverso. Havia oportunistas de todos tipos, mercadores, piratas, franceses, holandeses. Portugal sempre vivia receoso de invasões em seu território. O território do sul da fronteira foi ocupado por bandeirantes, capitães, pequenos produtores, minerados. 

Toda essa corrida por esse "El Dourado" transformava a Amazônia motivo de muita disputa, principalmente nas regiões de fronteira, como na tríplice fronteira. Houve até mesmo empreendimentos de padres, de jesuítas na região de Sacramento, atual Paraguai, onde segundo um livro francês publicado em 1949 pelo jesuíta Clóvis Lugon, que propunha que a comunidade dos guaranis da república do sacramento era um empreendimento que lembrava os ideais dos primeiros cristãos; , figuras como Antonio Vieira com seus discursos humanistas, ou  Bartolomeu de La Casas, Francisco de Vitoria, eram parte de uma intelectualidade europeia interessada nos exemplos de outras civilizações. Entendiam uma forma de  "guerra justa" por parte dos ameríndios.  


O processo de independência ocorreu em 1810 com a liderança de Antonio Nariño, e do intelectual Camilo Torres. O processo contou com o auxílio de Simon Bolívar, que ajudaram a unificar o antigo Reino da Nova-Granada em uma república de nome "Grã-Colômbia". O plano era unificar para desenvolver uma nação forte e única. Era estratégico por se situar como caminho para a Venezuela. Já a Bolívia possui esse nome como homenagem ao "libertador" das Américas. A Argentina proclamou a independência primeiro de Buenos Aires, dia 25 de maio de 1810, o processo foi chamado de "Revolução de Maio", e foi liderado por Saavedra e Manuel Belgrano.

O processo durou muitos anos, mas o começo das agitações foi graças ao processo de declínio das empresas coloniais. A Europa estava dominada e não podia conter os ventos de primavera vinda de suas "colônias". A ideia da República Centro-americana foi dissolvida em 1838. Hoje seriam os países da Guatemala, Honduras e Nicarágua.  Apenas no Peru era difícil a revolução triunfar, afinal era um território em uma região muito alta e de difícil acesso. O processo foi de 1810 a 1825. Já a América Central, teve seu território sempre muito disputado por liberais americanos que queriam os entrepostos para o "livre comércio". 

A atualidade da América do Sul passa por um entendimento da nossa região como um bloco político único. Inspirado no modelo europeu atual de países enquanto federações exercem certa unicidade jurisprudencial para diversos elementos administrativos e jurídicos. A novidade do Mercosul trouxe essa antiga promessa de união de volta para a região. Basta esperar para saber o que conseguiremos em termos de evolução continental depois de tantas e constantes mudanças políticas no eixo de hegemonia da nossa região. 



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