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Micheque: Detonautas critica esposa de Bolsonaro e ela aciona justiça: machismo ou liberdade de expressão?

 


Nova canção do grupo pegou o caso Queiroz como referencial cultural, atacando diretamente o possível recebimento da esposa do presidente de 89 mil reais de esquema de "rachadinhas"



De cara, quero reiterar uma opinião que já apresentei neste blog sobre o caso Queiroz ser por onde a mídia hegemônica escolheu atacar Bolsonaro, e assim retirar o apoio dado nas eleições de 2018. Muito provavelmente por saberem que o esquema dificilmente complicara Bolsonaro e seus filhos e muito menos levaria a um impeachment.

Indo para a música, ela apresenta um estilo diferente do que o Detonautas apresentava originalmente, flertando mais com o punk 77 do que com o hardcore melódico que faziam antes, o quê é interessante. O lyric video é bem engraçado também.

Eu quase gostei da música, mas aí eu ouvi uma segunda vez e reparei em uma coisa: a música pega leve com o próprio Bolsonaro, para focar sua crítica em Michelle, que até onde sabemos, só é culpada de fato por achar normal seu marido. 

E agora a patrulha ideológica da esquerda já prepara a crítica a mim por estar fazendo uma defesa identitária de alguém que não se importaria com ninguém da esquerda. Não é bem isso...

Se repararmos bem no verso, ele diz: "01 é Willy Wonka, 02 é o bananinha e 03 é Tonho da Lua que comanda a turminha", em referência aos filhos de Bolsonaro. Bom, será que a melhor estratégia de lidar com nossos opositores é os tornando fofos e palatáveis? 

E continua o verso falando em conspiração, mas concluindo com "tudo gente boa, gente de bom coração". 

Que tipo de crítica punk é essa que no final do verso tem que pensar no senso comum para que a crítica não soe muito pesada? Por quê a ironia se ninguém está rindo? É no mínimo estranho você ter uma canção abertamente panfletária em ser contrária ao presidente, que no seu centro e no seu cerne contém um elogio a Bolsonaro e sua família, que não soa irônico, mas sim pelo simples fato de ter. 

Um historiador chamado Robert Darnton apontou um perigo do caráter panfletário das disputas políticas. Durante a Revolução Francesa, foi comum a disseminação de panfletos difamatórios, os libelos, que faziam escárnio de figuras da realeza francesa. 

Muitos eram contra o rei, mas os mais populares, principalmente entre os mais pobres da época, eram os contra a rainha, Maria Antonieta. Muitos deles continham conteúdo de cunho sexual e que buscavam figurar Maria Antonieta, com muito eufemismo, como uma prostituta. 

Vários deles representavam partes íntimas da rainha e a encenavam traindo o rei, para afirmar que o mesmo seria, como dizem, "corno" e logo não poderia ser um líder verdadeiro. 

O grande problema é que como aponta Darnton esses panfletos não eram populares entre os mais pobres por fazer crítica a elite, ou não apenas por isso. Mas sim pois, como aponta o historiador, muitos usavam as imagens dos libelos para se masturbar, contendo traços de DNA em vários dos mesmos. 

 Ou seja, o maior problema da crítica desmesurada e que denigre, é que ela escondem uma profunda inveja e uma vontade de ser. Bolsonaro se tornou secretamente admirado por vários setores da política, até mesmo de esquerda, por demonstrar que é possível ganhar uma eleição e ter admiradores mesmo que você seja demonizado.

Os crimes do caso Queiroz dizem respeito a atos realizados antes dos atuais mandatos de Jair e Flávio Bolsonaro. Em outras palavras, mesmo que considerados culpados, eles possuem foro privilegiado de uma nova eleição. Por isso, considero um erro de estratégia de vários campos de esquerda que encabeçam a luta contra Bolsonaro com temas como "laranjal" ou "cade queiroz" e "micheque". Legal, são brincadeiras engraçadas, mas elas vão realmente levar a algum lugar? 

Por isso, acredito que o clipe dos Detonautas na verdade faz um elogio a favor de Bolsonaro. Primeiro, por ser a oportunidade perfeita para ela Bolsonaro e sua família se fazerem de vítimas, e foi isso que Michelle fez acionando a justiça contra a banda. Segundo, por achar a criticar vazia e que não leva a lugar nenhum, parecem na verdade uma campanha a favor de Bolsonaro, tornando-o em cultura, expandindo sua imagem, e não negando-a. Vale lembrar que "Casseta e Planeta" zoava toda classe política, mas serviu de palco para Bolsonaro várias vezes quando ele ainda era deputado. 

É possível fazer um álbum de rock contra o governo e sem flertar com a crítica estética, como no último álbum do Dead Fish, "Ponto Cego", que através de uma pegada mais hardcore criticou todo o governo, associou aos planos do mercado e a Guerra Híbrida. Sem judicialização e punição que aí já seria algo a favor do presidente. Mas sei lá... só é sem graça a música, entende?!

Odeio Bolsonaro e seu governo, por isso mesmo não quero ceder a nenhuma razão ou justificativa em suas críticas ao campo de esquerda. Isso implica em não cede a baixaria, justamente para o debate não se tornar quem tem mais etiqueta ou não, mas sim quem tem mais projeto nacional para o país ou não.  


Veja o lyric vídeo da música:




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