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O
livro “Tormenta – O governo Bolsonaro: crises, intrigas e
segredos”, da jornalista Thaís Oyama, se propõe a tentar
desvendar o modus operandi do bolsonarismo, ou seja as ideias e a
forma que inspiram o modo de operar do governo.
Qual
foi a primeira vez que você ouviu falar de Bolsonaro? A primeira vez
que vi Bolsonaro foi em entrevista ao Jô Soares, em 2005. Lembro que
as falas e a linguagem corporal de Bolsonaro eram ensaiadas de
maneira a expressar uma “verdade oculta” sobre criminalidade que
não se via, utilizando de casos e fatos absurdos. Era tão peculiar
que Jô e a plateia riam incrédulos, por considerar piada de um
humorista ou por acharem que tais opiniões enterravam sua relevância
política. “Vai me dizer que você é contra a pena de morte
também?!” disse Bolsonaro, ao que Jô responde “É claro, nunca
resolveu nada em lugar nenhum do mundo”, e Bolsonaro lança a frase
“Eu nunca vi um condenado voltar a executar alguém”, despertando
gargalhadas e palmas da plateia pelo nível da incongruência da
fala. Aquela postura média de aceitação e espera por risos foi
onde Bolsonaro se criou, fazendo todos rirem do que não tinha graça.
Se soubessem que ele viraria presidente anos depois, talvez aquelas
falas não despertariam os mesmos risos.
Mas
essa entrevista ficou esquecida na minha mente e na de outros, e a
primeira vez que de fato passei a associar o nome Bolsonaro a pessoa
foi em 2011 no CQC, no quadro “O Povo Quer Saber”, onde pessoas
faziam perguntas a Bolsonaro e ele respondia agressivamente todos.
Depois disso, o momento do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara e
o voto a favor de Bolsonaro citando o militar Brilhante Ustra em seu
discurso foi provavelmente o momento que todo o Brasil passou a saber
quem ele era. Só que todos esses momentos não conseguem explicar de
maneira exata como Bolsonaro conseguiu chegar a presidência e muito
menos o modo de funcionamento de seu pensamento e governo.
O
livro “Tormenta
– O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos”,
da jornalista Thaís Oyama, se propõe a tentar desvendar o modus
operandi do
bolsonarismo, ou seja as ideias e a forma que inspiram o modo de
operar do governo. Ela é a jornalista que Bolsonaro se referiu como
"aquela japonesa" ao ser questionado sobre seu livro por
repórteres. Autora também do livro “A Arte de Entrevistar Bem”
(2008), Oyama não revela em seu livro qual foi o método para chegar
as informações contidas ali, mas em entrevistas afirma que utilizou
da técnica de reportagem e entrevistas com os personagens envolvidos
no governo e pessoas que tem acesso a esses e confrontando as várias
versões. Procedimento rotineiro dentro da verificação
jornalística, é muito questionável. Vários autores complexificam
o formato da entrevista. Cremilda Medina, em seu livro “Entrevista”,
afirma que “o entrevistador deve investir, de imediato, na própria
personalidade para saber atuar numa inter-relação criadora”. Isso
quer dizer que tudo que Oyama afirma no seu livro passa por um filtro
do seu próprio ponto de vista, que nunca é neutro. Entretanto,
o ineditismo e a veracidade são secundários no livro. Se o livro
fosse de comentários das notícias sobre o governo, ele ainda assim
seria interessante por desnaturalizar a agenda e a sucessão de
acontecimentos e declarações de Bolsonaro. Em outras palavras, o
problema não é tanto o que Bolsonaro diz mas sim o que Bolsonaro
faz.
Logo
no prólogo, vemos Bolsonaro em 3 momentos diferentes. O primeiro
ainda em 2015 em uma conversa com Alberto Fraga, dizendo que gostaria
de tentar ser presidente, ao que Fraga respondeu com um "Cê tá
louco?", e Bolsonaro, ainda deputado de pouca relevância da
câmara, retrucou dizendo que ficaria feliz se fizesse 10%. Já o
segundo momento é em 2016, durante a votação do impeachment,
ocasião da homenagem a Brilhante Ustra. Só que a autora narra esse
momento por um ângulo desconhecido, onde Bolsonaro se gaba de seu
discurso mostrando-o a Fraga nos bastidores. Esse ponto de vista
mostra como Bolsonaro gosta de causar com polêmicas, e quando ele
citou Ustra foi menos por ideais radicais do que por querer chamar
atenção. Esse caso é um ótimo exemplo de como o pior não é o
que Bolsonaro diz mas sim o que ele faz, pois o teor de sua fala foi
agendado apenas para instigar. O terceiro já é em 2018 com
Bolsonaro eleito, na ocasião de ser recebido por Temer para
organizar o governo de transição. Os lábios de Bolsonaro tremiam
de nervoso, o que Oyama usa como peripécia quase literária. Na
verdade, varias vezes seu livro possui descrições minuciosas,
parecendo uma peça ou uma novela, com falas e atos teatrais, que não
se sabe se são da descrição da autora ou do caráter caricato e
encenado das ações do presidente.
Já
no primeiro capítulo, somos levados ao pronunciamento de Bolsonaro
em Davos, em 22 de janeiro de 2019. No ano anterior, Temer havia
discursado por 20 minutos, e Bolsonaro, que flertou fortemente com a
possibilidade de não ir ao evento, não falou muito mais do que 5
minutos. Em seu discurso afirmou que queria "resgatar nossos
valores" e "defender a família", ressaltando ainda as
"belezas naturais do país". Não colou. Seu discurso foi
considerado, como afirma Oyama, "anticlimático" e
"provinciano". Já nos primeiros dias, o governo tropeçou
quando Bolsonaro anunciou que poderia reduzir teto da tabela do
Imposto de Renda de 27,5% para 25%, ou seja, aumentar a cobertura do
imposto de renda. Ao que ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni
(DEM), respondeu com um "Ele se equivocou".
Onyx em
entrevista a Band, afirmou que o importante era se acertar com
"meu Deus" e mostrou sua tatuagem
|
A
autora passa então a elencar como os ministros foram indicados a
Bolsonaro. Aqui temos um ponto interessante, que é como funciona o
sistema de indicação de ministros do Brasil. Desde Sarney, passando
por FHC, Lula e até Dilma, os ministros eram indicados através das
coligações, respeitando a proporcionalidade. Se um partido possuía
grande números de filiados e deputados, tem necessariamente mais
tempo de propaganda. Se sedia mais espaço ao candidato da coligação,
logo tinha mais indicações. Bolsonaro e assim como Temer,
inauguraram as indicações livres, onde se indica por relação
ideológica ou pessoa. O resultado já é conhecido.
General
Heleno, Onyx e Gustavo Bebianno vieram da campanha Bebianno foi o
principal articulador da campanha de Bolsonaro, sendo o responsável
por atrair o público de centro para a campanha. Já o astronauta
Marcos Pontes foi indicado para a ciência e tecnologia apenas por
admiração de Bolsonaro. Já Ernesto Araújo só ganhou as Relações
Exteriores por ter publicado o artigo "Trump e o Ocidente",
no caderno de Relações Exteriores do Itamaraty. Segundo ele, Trump
faz “não uma doutrina econômica e
política, mas o anseio por Deus,
o Deus que age na história” contra o
“marxismo cultural globalista”. Tereza Christina e
Mandetta, ambos do DEM, são indicações de Onyx. Já Damares Alves
é um dos segredos de Bolsonaro. Ela só foi indicada por causa de
Magno Malta, do antigo PR atual PL, que foi de possível vice de
Bolsonaro, ao que ele mesmo recusou, indo para não ser nem mesmo
eleito. Seria Magno Malta o ministro, mas como Malta se envolveu em
um caso de adultério que levou a separação com sua esposa,
Michelle Bolsonaro travou a presença de Malta no governo, por achar
que como evangélico ele não poderia fazer aquilo. Já o primeiro
ministro indicado para a Educação, Ricardo Vélez Rodrigues, foi
indicação de Olavo de Carvalho, filósofo que serve de guru a
família Bolsonaro. Mas depois de Vélez pedir para que os
professores das escolas de todos país filmassem seus alunos candando
o Hino Nacional e enviassem ao MEC, fazendo Olavo destilar críticas
a ele no Twitter, Bolsonaro decidiu demiti-lo.
Fora dos
empresários, que ficaram decepcionados com Alckimin e não confiavam
em Lula ou Ciro, Bolsonaro também teve aprovação e apoio
fundamental do General Villas Boas. Durante o clima de disputa em
2018 entorno da prisão de Lula e se ele teria direito a concorrer a
eleição ou não, Villas se reuniu com equipe e outros, no dia 3 de
abril, para postar um comunicado que acabou virando um primeiro
tuíte, que dizia: "Nessa situação que vive o Brasil, resta
perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando
no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado
apenas com interesses pessoais?". Seguindo por um outro
tuíte: "Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga
compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio
à impunidade e
de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem
como se mantém atento às suas missões institucionais". A nota
foi lida por William Bonner no Jornal Nacional, e a parte "repúdio
à impunidade" deixou a mensagem clara: ou deixa prender o Lula
ou vai ter golpe militar. Apenas 4 dias depois Lula foi preso. Mas em
julho de 2018, a candidata a vice-presidente na chapa do PT, Manuela
D'Avilla (PCdoB), tirou foto com Villas Boas e divulgou em suas redes
sociais.
Villas
Boas não tinha intenção clara de apoiar Bolsonaro em seu
pronunciamento, mas sim a Alckimin, pois Bolsonaro não era muito bem
visto pelos generais e o alto comando dos militares. Isso porque por
muitos anos Bolsonaro foi conhecido como o "capitão da bomba".
Em 1987, a revista Veja apresentou um plano liderado por Bolsonaro,
ainda na ativa, de instalar bombas na Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais (ESAO).
Veja,
1987
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Muito afirmam que esse caso é "fake news" pelo fato de o
processo e julgamento perpetrado pelo Exército terem o inocentado.
Mas o caso fez a fama de Bolsonaro entre os praças e soldados. Isso
fez Bolsonaro ser eleito vereador em 1988, com 11 mil votos. E em
1989, devido o processo da bomba, Bolsonaro foi expulso junto com sua
mulher do apartamento funcional do Exército onde habitava na época.
Durante o tempo como vereador, se dedicou a mandar cartas e mais
cartas para viúvas e mulheres de militar que conheciam ou via nos
noticiários. O resultado dessa ação veio em 1992, quando Bolsonaro
organizou uma marcha das esposas dos militares para Brasília, já
que é crime as Forças Armadas se manifestarem. As rusgas com os
superiores, só foram superada em 2011 no contexto da criação da
Comissão da Verdade, que Bolsonaro foi radicalmente contra.
Daí,
Oyama engata em falar sobre a trajetória do General Heleno. Algumas
vezes a sucessão de assuntos não conectam, como nessa parte. Talvez
os assuntos pudessem ser melhor organizados pelos capítulos. Heleno,
conhecido como desbocado, é apresentado em um passado quando ainda
na ditadura se voltou contra Geisel, em apoio a Silvio Frota para que
assumisse a sucessão do regime, ato que o próprio Heleno hoje
considera desmedido. Tanto que estavam ao seu lado na situação o
famoso Brilhante Ustra e o major Curió, que matara militantes do
PCdoB no Pará. General Heleno ganha "fama" ao ser primeiro
comandante da Missão das Nações Unidas no Haiti durante o governo
Lula. Apesar disso, Heleno não gosta do PT, não gosta de Lula, não
gosta de Dilma e nem mesmo de Fernando Henrique Cardoso. Entrou para
o governo Bolsonaro, mas já havia dito que o considerava um
"despreparado", ao que Bolsonaro respondeu "deixa o
velhinho pra lá".
General
Heleno no Haiti
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Os
empresários foram trazidos para a campanha de Bolsonaro através
do empresário Fabio Wajngarten, agora chefe da
Secretaria de Comunicação Social do
governo, que pegou Coronavírus. O encontro foi na sua
cobertura no bairro dos Jardins, em
São Paulo. 62 empresários para ouvir as
propostas de Bolsonaro. Em julho, o
candidato já havia se reunido com
pesos pesados como Candido Bracher
(Itaú Unibanco), David Feffer (Suzano),
José Roberto Ermírio de Moraes
(Votorantim), Pedro Wongtschowski (Grupo Ultra)
e Marcelo Martins (Cosan), Abilio Diniz
(Carrefour), Luciano Hang (Havan), Meyer Nigri
(Tecnisa), Flávio Rocha (Riachuelo),
Sebastião Bomfim (Centauro), Bráulio Bacchi
(Artefacto) e José Salim Mattar (Localiza).
O que os unia a Bolsonaro? Todos serem contra Lula e temerem sua
vitória.
Luciano
Hang, o "Veio da Havan", é empresário que se
beneficiou do crescimento do governo Lula e agora é apoiador
fanático de Bolsonaro
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No
capítulo seguinte, vemos como Bebianno, recentemente falecido,
aderiu a campanha. Essa é uma parte importante pois Bebianno brigou
com o governo, sendo demitido com apenas um mês de governo.
Bolsonaro e seu filho Carlos desconfiaram de uma postagem de Bebianno
e que ele poderia estar vazando informações para a oposição e
para a mídia. Segundo o livro, ao ser demitido, Bebianno "chorou
como criança" nos ombros de um coronel e junto a Villas Boas
que acompanhava a cena, mais uma das peripécias quase hilárias do
livro.
Advogado
formado pela PUC-RIO, Bebianno se aproximou de Bolsonaro como fã.
Começou sua admiração quando viu que Bolsonaro gostava do polêmico
Clodovil, apresentador e ex-deputado já falecido. A demissão
de Bebianno aconteceu pois o clã Bolsonaro havia vazado informações
sobre Queiroz e o esquema de candidatos laranja nas eleições. Como
foi expulso do governo, caiu para cima, se filiando ao PSDB do Rio de
Janeiro, por onde tentaria ser prefeito da cidade do Rio. Entretanto,
Bebianno faleceu aos 56 anos, no dia 14 de Março de 2020, morte que
muitos consideram oportuna pois junto se enterrou todos os segredos
da campanha de Bolsonaro. Tanto que Bebianno seria ouvido na CPI das
Fake News. Seu amigo empresário, Paulo Marinho, foi junto com
Bebianno para o PSDB. Paulo Marinho cedeu sua casa para Bolsonaro
gravar sua campanha em 2018. Mas foi visto conversando com o
colunista do O Globo Lauro Jardim, o que desperta ódio da família
Bolsonaro.
Bebianno
era o canal principal dos segredos bolsonaristas
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Foi
Bebianno que costurou a entrada de Bolsonaro ao PSL. Desde que havia
deixado o PSC por esse coligar com o PCdoB em algumas regiões,
Bolsonaro buscou um partido para disputar a presidência. Como sua
estratégia implicava em fazer uma eleição 90% online, o tempo de
TV e rádio não interessavam, por isso buscava qualquer partido que
pudesse controlar. Primeiro foi o PEN, atual Patriotas. Bolsonaro
quase se filiou ao partido tendo inclusive sugerido a mudança de
nome, mas desistiu após saber que o partido tinha na justiça um
pedido pelo fim da prisão em segunda instância, medida que
beneficiaria Lula que poderia ser solto e concorrer as eleições.
“Tu
sabe o que tu vai fazer? Vai
enterrar a tua candidatura. Esse
partido aí é contra a prisão em
segunda instância, a favor do Lula.” disparou
Magno Malta. Acabou indo para o PSL de Luciano Bivar, figura
conhecida na política de Pernambuco, correndo inclusive a história
de que havia mandado matar uma ex namorada que estava grávida, algo
nunca comprovado. A filiação de Bolsonaro ao PSL gerou uma "onda"
de filiações, e vários candidatos em 2018 só foram eleitos em
cima de serem o "candidato de Bolsonaro". Nessa foram
policiais e delegados, principalmente da policia civil e federal, e
até Hélio Negão, amigo pessoal de Bolsonaro há mais de 20 anos e
que se elegeu com alcunha de "negão do Bolsonaro".
Hélio "Negão"
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Já
Sérgio Moro veio da sua atuação na Lava Jato, principalmente no
contexto da prisão de Lula. Porém, diferente dos demais Moro foi o
único a se arriscar de fato ao ir ao governo, pois abriu para o
questionamento de sua isenção em julgar Lula. Só que quando
presidente, Bolsonaro saiu do PSL em um confronto com Bivar após um
video ser postado na internet onde afirmava que o presidente do PSL
estava "queimado" em seu estado.
Ainda
em 2018, com as afrontas e declarações de Bolsonaro, Bebianno
alertou que alguém poderia tentar matar Bolsonaro. Em uma passeata
em Juiz de Fora, Bebianno recebeu orientações de um policial
federal de que a caminhada poderia ser perigosa. E no dia 6 de
Setembro, Adélio Bispo de Oliveira esfaqueou Bolsonaro durante a
passeada. Adélio era servente de pedreiro e ex filiado do PSOL,
saindo em 2014. Muitos afirmaram que a facada foi falsa, se tratando
de uma ação de marketing. O livro não diz, mas Oyama desconfia do
que muitos de nós também desconfiam: "Teria vencido sem a
facada?". Provavelme não, já que foi ela que diminuiu a
rejeição de Bolsonaro com o centro.
A
escolha do vice também gerou uma trama. Mourão foi apenas a quinta
opção. A primeira, como já dito, era o evangélico Magno Malta. A
segunda opção era General Heleno em um esquema com o PRP.
Mas Heleno não conseguiu se filiar ao PRP. A terceira opção foi
dada por Bebianno, que tentou costurar Janaína Paschoal, autora do
impeachment de Dilma Rousseff. Só que quando Janaína Paschoal falou
que não deveríamos ter um "pensamento único" para não
fazer um "PT ao contrario", esfriou. Então veio o
"príncipe", Luiz Phillipe Orléans. Mas amigos da PF deram
a Bolsonaro um dossiê que dizia que o príncipe fazia "surubas
gays" e tinha um grupo que espancava mendigos nas madrugadas do
Rio de Janeiro. O príncipe negou as surubas gays, mas nada disse
sobre os mendigos.
A
conta @MouraoGal postou: “Saindo um pouco
da política, alguém indica um bom
psiquiatra no RJ? Especialista em vício
em redes sociais, mania de perseguição
comunista, alucinações soviéticas e transtorno
bi-primo-polar? É para o filho de um
amigo meu. Urgente". Referência a Carlos Bolsonaro e a um
suposto caso que ele teria com seu primo, Léo Índio. Uma crise a
que Bolsonaro disse esperar ser "fake news". A conta era
falsa, mas a briga entre Mourão e Carlos Bolsonaro é verdadeira.
Mourão com seu jeito aveludado, diferente do escrachado Bolsonaro,
passou a ser considerado o "Mozão", como é conhecido nos
ciclos de jornalistas. Tanto que quando Mourão foi convidado para um
evento do MIT com Harvard, tirou uma foto com FHC que foi mal vista
nos ciclos bolsonaristas, afinal Bolsonaro já havia dito que o
fuzilaria. A foto fez Marco Feliciano entrar com pedido de
impeachment contra Mourão. A tática é parecida com a utilizada
contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e também Joice
Hasselmann. Primeiro atacam pelas redes sociais para chamar a pessoa
para briga, depois se mata de vez a imagem da pessoa e a afastando do
presidente. No último domingo (15/03), apoiadores de Bolsonaro foram
as ruas manifestar-se pelo fechamento do congresso e do STF, com
cartazes com "Fora Maia".
Mourão
quando assumiu a presidência em viagens de Bolsonaro tentou
agradar a imprensa e parecer "legal"
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A
postura radical das redes bolsonaristas fez o General Santos Cruz
dizer que a comunicação do governo deveria ser "disciplinada".
E então a militância digital bolsonarista começou a pedir o
#ForaSantosCruz. Alguns afirmam que parte dos ataques vieram do
assessor de Bolsonaro, Filipe Martins, que lidera o grupo de social
mídia de Bolsonaro, conhecido como "Gabinete do Ódio".
Martins é seguidor de Olavo de Carvalho, que odeia os militares,
tais como Mourão, Santos Cruz e outros. Olavo é seguidor de Arthur
Schopenhauer, e segue sua filosofia que diz que não se deve trocar
ideias com seu adversário em um debate, mas sim atacá-lo com
sentido de o desmoralizar.
Já o
ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi o motivo dos
principais protestos contra o governo. Em uma entrevista para o
Estado de São Paulo afirmou que 3 universidades federais já tinham
as verbas cortadas em 30% por motivos de "balbúrdia", seu
nome para atividades políticos partidárias nas faculdades. As
faculdades eram: Universidade de Brasília, Universidade Federal da
Bahia e Universidade Federal Fluminense (esta por onde se formou este
humilde blogueiro que vos fala). Pouco depois compartilhou em suas
redes um texto de autoria de um candidato a vereador do Partido Novo,
que dizia que sem os "conchavos tradicionais", o Brasil era
ingovernável. O que foi corroborado por Bolsonaro, que declarou
que "o grande problema do Brasil é a classe política",
como se ele não fosse político.
Um dos
primeiros vídeos de Weintraub no governo, onde afirmava que
estava sendo vítima de uma chuva de fake news
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Esse foi o período mais tenso do
primeiro ano do governo Bolsonaro. Ele e seus filhos começaram a
flertar fortemente com o autoritarismo, dizendo que só teriam poder
para governar com o fechamento do Congresso e STF. Eduardo Bolsonaro
depois falaria em um novo AI-5. Carlos Bolsonaro atacou Maia quando
seu sogro Moreira Franco (PMDB) foi preso. Parte dos militares se
questionava se Bolsonaro não poderia ser substituído. Dias Toffoli,
presidente do Supremo, afirmou que nenhuma tentativa de
derrubar o presidente passaria pelo STF. Isso jogou água fria na
crise. Meses depois, em setembro, Tofolli, afirmou que esteve em
curso um plano de golpe nos meses de Março e Abril. Boatos dizem que
Mourão chegou a se preparar para assumir a presidência. Nessa época
Dias Toffoli também tomou frente no "inquérito das fake news"
para tentar combater o inflamamento das redes sociais, que
inclusive atacavam o STF e o ministro. Só que nessa, censurou a
revista digital Crusoé e o site O Antagonista por reproduzirem uma
matéria onde Marcelo Odebrecht falava de um esquema com um "amigo
do amigo de meu pai", onde o pai seria Lula e Toffoli seria o
amigo, mas a matéria não acusava o ministro. O caso mostrou que as
coisas estavam tensas, e mesmo uma pauta menos relevante como fake
news estavam ganhando proporções de disputa política.
Isso fez com que Maia traçasse um plano
de tocar uma agenda econômica própria, nos modelos de um
primeiro-ministro. Só que isso também implicou na Reforma da
Previdência. As reportagens do site Intercept Brasil, que
demonstraram o juiz Sérgio Moro combinando julgamentos da Lava Jato
com o procurador Deltan Dallagnol, principalmente contra Lula,
ajudaram a frear o modo de operar do bolsonarismo.
Boneco
inflável em apoio a Sérgio Moro vestido como Super Homem
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Já
o ministro Paulo Guedes, é uma figura quase a parte. Ele flutua no
governo com certa independência, tanto que sua luta dentro do
governo é provar um ponto pessoal: que os acadêmicos da PUC e da
FGV do Rio estavam errados em não considerá-lo um bom acadêmico de
economia. Isso faz parecer na narrativa do livro que Guedes
está alheio ao governo, e seu plano econômico não daria certo
mesmo que fosse perfeito. Isso faz com que mesmo que Guedes seja um
personagem neoliberal na linha do PSDB, e como "social-democrata"
deveria ser a favor de pautas humanistas e ecológicas, por exemplo.
Tanto que o assessor especial de Guedes é Guilherme Afif, que foi
ministro no governo Dilma.
Só
que o governo Bolsonaro é uma forma de "Frente Ampla de
Direita", pois reúne tendências que disputam entre si, como a
disputa dos filósofos de direita contra os militares. Tanto que
Olavo de Carvalho já foi chamado de "Trotsky de direita"
pelo general Santos Cruz. Isso faz com que pautas como a Amazônia
sejam alvo de disputa. Por exemplo, o setor de olavista é a favor de
entrar nas tribos e da extração de jóias preciosas e madeiras em
territórios indígenas. Já os militares são contra e acham que as
tribos devem ficar como estão, mas de baixo da tutela dos militares.
Por isso que quando Macron criticou a política de meio ambiente de
Bolsonaro, apresentando inclusive uma foto fake, o tiro saiu pela
culatra e enfraqueceu a esquerda: Bolsonaro ganhou apoio de todos os
setores da direita apesar das oposições e crises internas.
Foto
postada por Macron era de um fotógrafo da National Geographic,
morto em 2003
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Caminhando para o fim, vale analisar o caráter difuso do
próprio Bolsonaro. Sua imagem de chinelo e camiseta de time é muito
utilizado pelo presidente para passar uma boa imagem para o
eleitorado popular. Segundo Oyama é assim que Bolsonaro passa seus
fins de semana, onde ele chega a preparar pipoca para ver o programa
do Chaves. Mas ao mesmo tempo verifica se tem bombas no seu carro,
como um neurótico. Ou seja, ele parece o quê mais odeia: um
comunista velho
Às
vezes ele exagera e fica forçado, fazendo alguns falarem em
"estética bolsonarista". Só que essa ideia é equivocada
e um pouco elitista, pois Bolsonaro se elegeu em um cenário de
crise, onde o impeachment fez a população sentir que votou em um
presidente mas foi governado por outro. O mesmo povo brasileiro que
votou em Lula, votou Bolsonaro. Pois apesar de todos os defeitos e
erros, Bolsonaro não se preocupa em parecer popular mesmo que soe
cafona. Imaginar Bolsonaro e Lula comendo um pastel na feira é mais
crível do que quando Doria e Alckimin tentam fazer o mesmo.
Se
os vídeos, pronunciamentos, live, falas e postagens de Bolsonaro são
consideradas mentiras pela imprensa é porque Bolsonaro é mestre em
pautar a mídia, que vai sedenta morder a isca. Por exemplo, um
levantamento feito pela agência de checagem Lupa nas redes sociais
do presidente, afirma que 64,5% das vezes que ele fala em fake news é
para atacar a imprensa. Só que isso implica que se o contrário
fosse real seria melhor, ou seja se Bolsonaro falasse toda a verdade
e se todos os seus videos e declarações fossem reais seu governo
seria melhor. Isso é uma falácia, pois como vemos desde a campanha,
a escolha dos ministros, as disputas, as crises e tudo mais, mostram
que o problema é o que Bolsonaro faz com a política. Não é por
quebrar os códigos, é por impor códigos demais, procedimentos e
paranoias que vão desde verificar bombas em carros até não querer
ir a um hospital por achar que era um "hospital petista".
Mais autoritário que mentir e atacar a imprensa, o que já se espera
dos populista, é atraí-la para pautas e assuntos movediços,
fazendo a imprensa seguir sua agenda como cachorrinho.
O livro de Thais
Oyama me surpreendeu, pois confesso que comecei a ler de mau gosto e
apenas para passar o tempo. Mas aos poucos gostei da trama por ela se
propor não a falar do que não funciona no bolsonarismo e o torna
cômico e enfadonho, mas sim aquilo que apesar de todo o caos
continua funcionando: técnicas de marketing que emparedam os setores
políticos e institucionais como em uma jogada de xadrez. É
claro, há um descritivismo teatral de falas, ações e situações
que além de não saber se são verdade, soam um pouco ingênuos.
Talvez para atrair tanto petistas como bolsonaristas para ler o
livro. Seu livro não apresenta uma conclusão geral sobre tudo que é
apresentado para além de que antes Bolsonaro hesitava e seus lábios
tremiam, mas agora eles já não tremem. O que fazer? Como resolver?
Quem poderá nos ajudar? O livro não diz. Ficamos apenas com uma
verdade provisória sobre como entender os perigos do bolsonarismo.
Afinal o governo ainda está em curso. Mas o livro é importante para
que toda vez que formos ver um vídeo ou fala de Bolsonaro, não
caiamos na lógica reativa que aceita a primeira verdade apresentada.
Pois Bolsonaro é mestre em agendar a mídia, para que ela critique
aspectos que ele quer e desvie dos que ele não quer. É importante
recuar e saber que como diz a frase "o inferno são os outros",
pois todo esse veneno intoxica não só apoiadores mas toda a
democracia, querendo nós ou não, e por isso é necessário entender
aquilo que o governo faz com nós mesmos.
Live em
mesa de café da manhã de Bolsonaro, que agora afirmam serem
armadas para parecerem mais simples
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