Lançado em dezembro de 2019, álbum traz temática nostálgica e geracional desde a capa. Nela, vemos celebridades como Muhammad Ali, Chuck Berry; e imagens icônicas como a bandeira do Reino Unido, Batman e Robin, pinball, e o famoso ônibus britânico de dois andares.
Novo álbum do The Who é melhor coisa que você vai ouvir nos últimos tempos. Sem lançar disco desde 2006, a banda lançou um novo disco no final do ano passado pela gravadora Polydor.
Gravado em Londres em 2019, em uma Inglaterra em clima de Brexit, o álbum trás uma temática nostálgica e geracional desde a capa. Nela, vemos celebridades como Muhammad Ali e Chuck Berry; tal como imagens icônicas como a bandeira do Reino Unido, Batman e Robin, pinball, uma vespa e o famoso ônibus britânico de dois andares.
A ideia do disco parece querer desde os primeiros momentos lançar o debate geracional por saber da sua condição de banda clássica de rock. Há uma preocupação de alguns acharem que a banda pode estar defasada ou antiguada, o quê pode ser visto logo na primeira música, "All this music must fade", que em seus primeiros versos já trás as frases:
"eu sei que você vai odiar essa música(...)
Nós nunca nos demos bem.
Não é novo, não é diverso.
Não vai iluminar seu desfile.
É apenas um verso simples".
Nós nunca nos demos bem.
Não é novo, não é diverso.
Não vai iluminar seu desfile.
É apenas um verso simples".
E o refrão saudosista:
"Toda essa música vai desaparecer".
A provocação geracional é sensacional, pois não sabemos se a música que vai desaparecer são as bandas e artistas da atualidade ou se estão falando do próprio The Who e suas influências de rock clássico, como o próprio Chuck Berry. O tempo todo a banda parece estar querendo falar com o ouvinte de outras gerações, aqueles que vão ouvir The Who através apenas desse novo álbum, por exemplo. Por isso, o clima de nostalgia tomou conta do álbum, onde a sonoridade faz lembrar dos primeiros sucessos do clássico The Who dos anos 70.
Para quem gosta mais da fase hard rock do The Who, temos a segunda faixa e single do disco, Ball and Chain, música que trás um break de piano que lembra muito o de Baba O'Realy, música clássica da banda. Com um baixo pesado, pegada de country e blues, a faixa tem letra politizada, falando de Guantánamo e Cuba, referência da prisão da Baia de Guantánamo, como uma dívida com os direitos humanos que a sociedade ainda carrega como uma bola de ferro acorrentada no pé. Verdadeiramente a grande canção do álbum.
Mas o disco trás também as baladas melódicas, com uma pegada mais pop, que os novos tempos e ouvintes pedem. Desde pelo menos Who's Next, a banda sempre apresentou canções melódicas com uma energia que lembram hinos. Isso pode ser visto em músicas como Beads On One String, Hero Ground Zero e I'll Be Back. Também em Break The News, que em tradução quer dizer Dar as notícias, balada que brinca com o poder e a responsabilidade de ser o mensageiro de boas e más notícias em tempos de mídia sensacionalista e fake news, mostrando que a banda está antenada com os acontecimentos do mundo, sendo a música que mais gostei do disco.
Rockin' In Rage lembra o experimentalismo com música clássicas e épicas de Tommy, clássico álbum do Who que chegou a virar um filme que conta a vida e a história do garoto campeão de pinball. Got Nothing to Prove parece ter sido tirada direto dos anos 60, dos primeiros discos do ainda jovem The Who. This Gun Will Misfire é mais uma canção politizada do disco, em mensagem antiarmamentista e critica ás guerras travadas no Ocidente por causa do desejo pelo poder, falando em comunistas, Afeganistão, e trazendo os versos:
"Você deve ter algo melhor para fazer
Do que aprender a atirar nessa arma
Você pode ler um pouco da história
Veja como o Ocidente foi realmente vencido"
O novo disco do The Who é um clássico instantâneo. Com músicas lindas e emocionantes, temáticas atuais, retratando as sensações e incertezas dos nossos tempos, mas ao mesmo tempo que as associa a toda a cultura pop e de massa que existe desde os anos 50. Passando a ideia de que por mais que as coisas pareçam ruins no momento, elas ainda pode melhorar. Talvez o disco possa não agradar quem está mais acostumado com um The Who mais hard rock, com instrumentais pesados. Keith Moon faz bastante falta na banda. Mas a pegada pop inovou, fazendo o disco ser acessível e agradável para novos públicos, e cumprindo assim a difícil missão dos nossos tempos: não deixar o Rock morrer.
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