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História da Sociologia no Brasil - Parte I: Áreas e Dinâmicas Científicas



        "Para a sociedade continuar a existir, a recordação social é tão importante quanto o esquecimento e a ação a partir do zero.” Karl Mainnheim 


       Nos últimos tempos, desde o governo Temer, e com maior intensidade sob o governo Bolsonaro, houve uma retirada da importância e da obrigatoriedade da sociologia dos espaços de ensino, rompendo assim um contínuo de aprendizado relacionado a consciência social e individual. A política se manteve, e é a política de retirada da sociologia e da filosofia do ensino médio, acabando com a possibilidade de um ensino reflexivo. Como a sociologia em períodos autoritários é mal vista como uma força motriz ideológica, a importância da sociologia é esvaída do ensino e consequentemente, isso faz com que ela acabe dentro dos espaços acadêmicos, por se engendrar em fazer um discurso fechado, já preparado para lidar com o fato de ser um conhecimento fechado e de certos ciclos. Então estudar a história da sociologia é também estudar as escolas de primeiras letras, a evolução de certas metodologias científicas, como também, é claro, o nível de autonomia, relevância pública, como também artística e científica, como também a originalidade das nossas publicações. 

     A história da Sociologia pode ser lida também como a forma de interpretar coesão e integração de classes sociais, pertencimento identitário com certos fenômenos regionais. A própria ditadura militar fornecia uma versão invertida da forma de sociologia aos alunos como carga obrigatória, era a disciplina de moral e cívica, que buscava ensinar preceitos morais e religiosos aos alunos, tais como comportamento, atitude social e certa docilização em relação ao convívio social, ensinada como doutrina. No século XIX, devido a altas agitações sociais e econômicas, a sociologia surgiu fortemente na Europa como uma resposta para as diversas anomias e anomalias, surgiu para analisar aquilo que ninguém achava científico, temas como o divórcio, o direito trabalhista, os movimentos sociais, o suicídio, os nacionalismos e as formas de se educar em cada local. Max Weber, Marx, e principalmente, Durkheim foram esses fundadores, junto com Augusto Comte, pai da doutrina do positivismo, que aliás é o cerne da ideologia republicana e militar aderida pelo exército brasileiro, então sociologia, querendo ou não, já faz parte do que moldou acontecimentos políticos nacionais.

      A terceira república na França prometeu não cometer os graves erros que levaram antes ao jacobinismo, por isso a educação nacional passou a figurar como um pilar de estrutura, principalmente após a derrota para a Alemanha na guerra Franco Prussiana. O uso das armas de fogo e da pólvora trouxe a verdadeira possibilidade de dominação e uma nova corrida entre as Nações. A guerra Franco Prussiana sinalizou na Europa a volta dos conflitos dentro do próprio continente. A vitória Alemã trouxe um orgulho nacional para fortalecer o processo de unificação. Também uma forma de unificação e normatização através de liceus, e educação universal em países como a França. Outra modificação que datava da época da Revolução Francesa foi a formação em toda a Europa dos Exércitos Nacionais e da Guarda Nacional. Esse processo civilizador trouxe ambiguidades na face da Europa. A ascensão do pragmatismo da filosofia e do Direito positivo, na França e na Inglaterra, e também de uma intelligentsia romântica e nacional, em locais como a Alemanha, que conviviam com hábitos como duelos em prol de honra, na mesma época em que alguns países através de práticas reformadoras e utilitaristas começavam a estatizar a educação e investiam na formação das instituições penais, como na França e na Inglaterra.

A Sociologia Jurídica - as Ciências Sociais e Jurídicas:

      Hoje em dia, esse ramo é considerado em muitos ângulos como o enfoque de pós graduações na área e cursos de extensão, é a chamada “Sociologia Jurídica”, com início em autores como Tobias Barreto, ou Clóvis Bevilacqua (Escola de Recife), e basicamente tinham uma influência do direito alemão, que criticava a perspectiva do direito natural e o jusnaturalismo. A primeira forma de sociologia escrita no Brasil foi a sociologia dos grandes “problemas nacionais”, quando ainda era um ramo do direito público, como uma forma de disciplina chamada: “Ciências Sociais e Jurídicas”, era um campo preparado para ensinar esses alunos a serem professores de direito e embaixadores. Vale citar também Silvio Romero e Alberto Salles ou Tavares Bastos. Uma geração inicial de modernistas. A chamada “Geração de 1870”, uma geração conhecida como “liberal”. Uma primeira geração de autores e instituições de ensino superior começam a tomar contorno coma valorização de cursos de Medicina, Direito e Engenharia, que formavam os bacharéis, vindos sobretudo dos filhos da elites nacionais. Esse grupo ideologicamente era alinhado com os liberais, contrários a monarquia e ao direito natural e tinham em sua região uma atmosfera muito iluminista acompanhada de uma terra que sedimentava em revoltas e revoluções, como a Praieira(1848), que ocorreu, coincidentemente, no ano de publicação do Manifesto Comunista.

O "Método Mútuo": Prêmios, Recompensas e Hierarquias entre os alunos

      Também é possível observar o que era a ação de intelectuais como proto sociologia, usando como exemplo metodológico Bourdieu e seu estudo sobre as escolas de pensamento e os sistemas de ensino, e a reflexão de Gramsci sobre sociedade Civil, religião e Estado, evidencia-se uma elaboração dos tipos de intelectuais distintos. Entre aqueles que fazem parte da “classe dominante” (intelectuais da elite) e o “intelectual orgânico” (aquele vindo do povo). O histórico dos métodos educacionais no Império, demonstram desde o século XIX, a tentativa de funcionalidade através de poucos recursos materiais, como no caso do Método Mútuo que utilizava de poucos recursos, como a monitoria(peer tutoring), e era de carácter religioso no começo de sua ideia, inspirado na obra de um quaker chamado Joseph Lancaster, que desenvolveu um sistema de educação para as camadas mais pobres da sociedade Inglesa. No Brasil, já era aplicada enquanto lei de divisão no ensino, promulgada em 1827, envolvia uma forma de entendimento da divisão no manuseio educacional das chamadas “escolas de primeiras letras”, ou seja, era uma política pública referente a lograr as câmaras municipais das responsabilidades financeiras pela educação primária (básica) da população em geral e era uma forma de economizar dinheiro e também de lavar as mãos do orçamento central do império.

Um desenho que demonstra o Método Mútuo e como ele funcionava. 

     Um dos seus principais expoentes formais do campo das ciências jurídicas e sociais foi a figura de Oliveira Vianna, em retrato dado por Luiz de Castro Farias, em “De Saquarema à Alameda São Boaventura. O título do livro é uma referência a casa do autor que ficava em uma alameda diferente da atual.  É um estudo de quem com afinco conhece realmente a obra extensa e polêmica para padrões modernos de Oliveira Vianna. Um defensor da pauta indígena, como visto com sua obra: ”Populações meridionais do Brasil", mas também um racista notório em alguns outros casos, que apostava no argumento que o próprio povo Brasileiro era responsável pelo seu ”atraso”. O autor do livro nos sinaliza para esse carácter dúbio de análise da obra isolada, ou dos entendimentos que podemos ter de gostar ou não de uma obra. Para ele, uma obra não é uma unidade imediata, a obra não é a unidade certa, a obra não é também uma unidade homogênea. Suas interpretações de Brasil sempre foram uma vertente de um certo idealismo constitucional radical, ou uma “ideologia de Estado”, disposta a criticar o utopismo liberal, como também podemos analisar a origem do que poderíamos dizer que é um genuíno pensamento conservador nacional.

Sociologia e a Educação: entre o Ensino Liberal das elites e a profissionalização tecnicista direcionado aos mais pobres

     A centralização em torno do Rio de Janeiro envolve o começo do desenho dos projetos cívicos durante a Primeira República. Intencionava-se a uma centralização, tanto metodológica no que tange as ciências, quanto ideológica em relação a educação. Buscava livrar-se de um certo tradicionalismo insipiente na titulação de bacharel (típica da República Velha) e inclinava-se gradativamente para as doutrinas educacionais psicologistas, financiadas pelo Estado. A mudança desloca a questão educacional para as vias do civilismo, como o que ocorreu através de Rui Barbosa, que buscavam alterar o eixo de poder para fora da exclusividade das oligarquias militares. O âmbito de influência pedagógica de John Dewe, surgirá Anísio Teixeira, ou até mesmo, Lev Vygotsky, mascarando a nova fase “construtivista” das teorias educacionais, com ênfase na mediação como principal fator dos processos cognitivos. Afirma-se uma aspecto estético, moral de disciplinas como a 'ginástica', música e desenho, como também era valorizado o conhecimento de história universal, direito pátrio e também de economia política, era o chamado ginásio nacional, compreendia para a formação no Rio de Janeiro, por exemplo. 

     O Movimento Escola Nova seria o expoente dessa escola de pensamento marcante nos anos de 1930. No campo da cultura e das ideias educacionais: o Movimento Escola Nova, que lançou um Manifesto para comunicar suas ideias em relação ao progresso científico, obtido pela massificação das políticas de alfabetização, com nomes como Cecília Meireles, Anísio Teixeira e Fernando Azevedo, o movimento era visto como uma renovação em relação aos métodos tradicionais de ensino. No ano de 1930, um ano após a crise de 1929, assume Getúlio Vargas. A tentativa política era tentar substituir a dependência econômica advinda da exportação de Café, substituir as importações e criar um mercado interno consumidor. É criado o Ministério da Educação e Saúde. Um ano depois em 1931, é implementada a Reforma Francisco Campos, que organizou o ensino secundário e superior no Brasil. Em 1932, alguns profissionais cansados da influência dos liceus tradicionais da pedagogia católica, lançaram o “Manifesto da Educação Nova”, Já em 1934, com Gustavo Capanema como dirigente, instituía a educação como direito básico, pelo menos na lei.

      Já a Constituição Federal de 1937 determinava a obrigação apenas do ensino primário. Os centros de formação educacionais aumentavam, tanto em número de Profissionais, quanto em estrutura. A política era ao mesmo tempo de atrair com promessas de renda e seguridade aos grandes centros urbanos, e de expulsar aqueles indesejados de usufruir dessa industrialização. O êxodo em direção às cidades eram parte das políticas educacionais que visavam formar um “melhor operário do campo” para frear o intenso êxodo rural da época. Criando-se um recorte entre a divisão educacional das classes superiores, e o uso da alfabetização primária e dos cursos técnicos como de indivíduos para o trabalho braçal provenientes das classes mais pobres. Em 1942 os currículos são uniformizados, há uma nacionalização do ensino, há a criação do SENAI(Serviço Nacional da Indústria) destinada a profissionalizar de maneira técnica trabalhadores setoriais, em uma forma de Escola de Ofício, e também a criação dos centros universitários liberais como a Universidade do Brasil. Também está em pauta a questão do esgotamento das terras e pelo problema agrário da distribuição de terras. Esses centros de formação a distância eram parte de uma política de “Interiorização da metrópole” Para aumentar a autonomia, o civismo entre o povo local, para que assim eles não precisassem abandonar o interior para buscar formação nas cidades.

     Em 1939, o governo federal estabeleceu a obrigatoriedade de indústrias com mais de quinhentos operários instalarem cursos de profissionalização, feitas por uma comissão interministerial, composta de pastas da educação e do trabalho. Cada vez mais era intensa o fluxo de pessoas largando as área rurais e compondo agora as cidades brasileiras. Nesse sentido, a sociologia do trabalho, começa a investigar aquilo que começou com a implementação da CLT e dos direitos trabalhistas diversos e a implementação dos complexos capital-trabalho.  


1930 - As Primeiras Grandes Interpretações de Brasilianistas

  1. Gilberto Freyre e o relativismo oriundo da antropologia cultural
  2. Sérgio Buarque de Holanda e análise de tipos em Raízes do Brasil.
  3. Caio Prado Júnior e o etapismo comunista pela primeira vez no Brasil

     Também data dessa época a formação da primeira faculdade de sociologia brasileira, a chamada Escola Paulista de Sociologia e Política, que formou por exemplo, Florestan Fernandes, que futuramente estudaria questões-chave para o entendimento nacional, como a Revolução Burguesa, a inserção do negro na sociedade de classes, e o debate sobre capitalismo e dependência na América Latina, sendo o principal sociólogo dessa “nova onda”.

     Mas antes dessa explosão, houve as primeiras tentativas, que já foram espetaculares em termos de assumir algo que é difícil para as gerações: o Brasil é bom, o Brasil é foda, quando escrevemos, devemos também além de apenas repetir trejeitos estrangeiros, também assumir que podemos oferecer ao mundo uma escrita e um estudo no mesmo nível, ou melhor ainda do que o dos outros. Seriam três os autores de ouro, de uma fase de crescimento não somente econômico brasileiro(devido as grandes crises do capitalismo mundial e da libertação asiática com a Revolução dos Boxes na China).

1 - Gilberto Freyre e o relativismo oriundo da antropologia cultural

    As reflexões trazidas por autores e professores estrangeiros ajudaram a inserir o Brasil no estilo de pesquisa Francês. Fora da Universidade Brasileira, Gilberto Freyre e a antropologia cultural de Franz Boas ajudavam a inserir os ditos “Estudos culturais” no Brasil (hoje em dia praticamente inexistentes com exceção da vertente pós-colonial e identitária). A data de início da corrida agora é sobre “os retratos de Brasil”.

   O primeiro lançado é Casa Grande e Senzala(1933), lido e relido no mundo inteiro como comprovação de um futuro conceito, ainda não presente nessa obra, mas que seria muito cobrado por pesquisas posteriores patrocinadas por organismos internacionais: “a democracia racial”. Engana-se quem acha que a primeira intenção do livro era de vender uma ideia assim na época. Criticado por ser racista hoje em dia, era visto como um livro proibido e revolucionário na época de publicação. A população negra não era mais passiva e “exótica”, ela era tudo o que tínhamos de cultura própria, era a própria cultura nacional! O que argumentam com certa razão é que o processo não foi pacífico, não creio que o autor quisesse dizer que o era. Apenas que aconteceu, pessoas se miscigenaram e incorporaram hábitos.

     As vestes das baianas, a comida apimentada, as palavras de zelo, como o “cafuné”, ou mesmo, o uso da tapioca dos índios. Tudo isso não era algo exótico ou prejudicial como pensava Oliveira Vianna. O velho Gilberto Freyre que lançou ainda alguns lados B do seu grande clássico: tal como “Sobrados e Mocambos”(1936), começou a ser nos anos 1950, cotado para fazer falas na ONU de pacificação de conflitos. Ele era visto como um propagador de que “a melhor colonização era a portuguesa” e essa é uma crítica não a sua obra, mas como ela foi difundida e com que interesse isso tomou parte. Como uma forma de manter a dominação portuguesa na África. Ou seja, era uma ideologia pró Salazar, também brigou com Caio Prado Júnior ao defender o direito de permanência dos Japoneses no Brasil.

2- Sérgio Buarque de Holanda e a análise de tipos de Raízes do Brasil.
       
      Sérgio Buarque, formado na Faculdade Nacional(UFRJ), cursou o modelo de “Ciências Jurídicas e Sociais”, começou a trabalhar como jornalista no antigo jornal “Jornal do Brasil” e ao longo da vida, sua marca seria sua busca pela perfeição científica e literária dos textos. Muito influenciado por Max Weber, Sérgio entendia que o interesse pela sociedade era dado por certas lógicas padronizadas de sentido. A publicação de "Raízes do Brasil"(1936).

        Na Alemanha, a lógica de capitalismo, economia e utilização da chamada “Ética Protestante” permeava aspectos tanto da cultura religiosa, quanto da cultura financeira. Para analisar o Brasil, Sérgio Buarque validou-se de analisar oque teria de corriqueiros nos tipos ideais do nosso país. Assim nasce a ideia de um “Homem Cordial”, este seria o habitante triunfante e médio(maioria) que formava o todo nacional. O homem cordial poderia ser o malandro do bar, quanto também poderia ser o Português lançado(o primeiro habitante), até chegar ao último homem cordial aquele que seria o tipo predominante nacional. Mas isso todo mundo sabe sobre sua teoria. A tipologia da variança por tipos engloba também aspectos da formação arquitetônica nacional com a diferença da colonização Americana(EUA) ou Espanhola na América Latina, para a colonização Brasileira. No capítulo 4, ele desenvolve uma diferenciação entre a moral do ladrilhador e a moral do semeador. O semeador seria o modelo dos lançados portugueses, já o ladrilhador, esquadrinhador, seria o modelo da colonização Espanhola, que faria uma cidade com o ponto de partida da igreja, com uma praça também e esse contorno seria responsável por uma forma mais burocrática de governo e controle.

3. Caio Prado Júniorprimeiro comunista do Brasil

    A ideia de uma evolução histórica e de inserir a análise do Brasil como um expoente do comércio mundial no século XIX foram inovações trazidas por Caio Prado. Filho de uma abastarda família de cafeicultores de São Paulo, Caio Prado foi o primeiro intérprete marxista no Brasil. Isso diz muito, pela questão da não oferta de livros sobre o tema. Como o manifesto comunista, que apenas chegou ao Brasil traduzido no século XX. Infelizmente, a visão etapista(evolutiva) coincidia com um certo pessimismo de Brasil já visto antes com autores como Oliveira V. Mas a variação aqui é inserir o argumento do capitalismo dependente e da economia como justificadores dessa falta de “consciência nacional”. A ênfase desse livro seria uma leitura do capitalismo e suas relações de metrópole e periferia dentro do comércio mundial do século XIX. Fundou a importante editora Brasiliense. Sendo o pioneiro, focou seu trabalho em ilustrar a interpretação em relação ao “sentido da colonização” e nesse sentido, inaugurou uma forma de análise marxista, mas com intuito em economia política.

Anos 50 – A profissionalização da Sociologia enquanto campo de estudo em uma perspectiva internacional.
     
         A lógica do fazer sociológico durante os "anos dourados" tinha uma perspectiva do idealismo constitucional de autores como Guerreiro Ramos, grupos como o ISEB(Instituto Superior de Estudos Brasileiros), como também é viva a concepção indutora de investimento por parte do Estado, que agora planejava sua estrutura em forma de "planos de metas". Se tornando forte a presença do questionamento sobre a metodologia(Florestan e Guerreiro Ramos), sala de aula(Antônio Cândido) e relações raciais, como o autor estrangeiro e sua equipe Donald Pierson. Também temos o nome de Guerreiro Ramos debatia a fórmula da sociologia revisando o carácter "reducionista" do método clássico funcionalista, com a publicação de Introdução Crítica à Sociologia Brasileira (1957), o debate sadio e muito estimulante com Florestan Fernandes é um marco do período, o sociólogo Luiz da Costa Pinto também foi importante com a publicação de "Lutas de famílias no Brasil (1949)", ou "O negro no Rio de Janeiro" (1953). A crítica por exemplo, de Guerreiro Ramos em termos do que seria produzido enquanto sociologia brasileira é que possuiria uma carga altamente concentrada em integração e exclusão e categorização, de maneira a reduzir os "grandes problemas" em pequenas e identitárias causas, e sim,era uma crítica pesada ao relativismo antropológico. Ao mesmo tempo em que parte do governo,mesmo de esquerda se engajava em um pensamento de "classe média radical". É criado também o CAPES(1951)(companhia nacional de aperfeiçoamento  de pessoal de nível superior), como também o CNPQ(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). É uma década de criação de diversos mecanismos prol ensino e pesquisa, o que é claro, beneficiou diversos campos, como também a própria profissionalização da sociologia. 

           Nos anos de 1950, a ONU(Organização das Nações Unidas) patrocinou uma série de pesquisas sobre as relações raciais no território Brasileiro, envolviam pesquisas regionais, como no nordeste em áreas também do sudeste, para analisar o desenvolvimento tardio capitalista de uma nação em desenvolvimento como o Brasil. A sociologia foi estimulada para um objetivo de inovação e entendimento metodológico, com  publicações como "A função social da guerra na sociedade Tupinambá (1952)", Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1959); A etnologia e a sociologia no Brasil (1958) (resenhas e questionamentos sobre a produção das Ciências Sociais no Brasil. Temas como raça ou classe poderiam ser então banalizadas e mal pensados por isso, era que ele entendia os projetos de análise raciais como parte de uma tentativa de tornar a pessoa negra (a mais típica de ser Brasileira) como um algo exótico e de fora. Seria uma forte crítica ao projeto de análise focado nas distinções raciais, como no Projeto Unesco. 

          O Projeto Unesco foi criado após o holocausto, com objetivo de implementar uma agenda positiva em países com deficiências estruturais como o Brasil, como também é visto na criação da CEPAL(Comissão Econômica para a América Latina e o Caribé. Portanto, vemos que com a retirada do estímulo para com a descoberta sociológica abre caminho para uma falta de entendimento cognitivo sobre importantes temas da civilização e nação e relações raciais. O debate econômico ganhou como se fosse um fôlego novo com a publicação do livro do século para a economia política e a sociologia que é o Formação Econômica do Brasil (1958) de Celso Furtado, o livro do século para o entendimento e pensamento da década, por ser uma abordagem original e nacional e do também que em faz parte do século como um pensamento de história total, uma forma de nova inserção de análise do tipo economia nacional trazendo uma forma de entendimento sobre os principais ciclos econômicos e uma reflexão sobre o legado da escravidão para a economia de mercado de trabalho capitalista, o que seria também de fato uma forma de dominação da Inglaterra no atlântico, que envolveria também o Brasil. Enfim, o livro é um reflexo do  pensamento da época do nacional desenvolvimentismo, em um momento global onde as facções se reorganizavam no pós guerra, com Plano Marshal e alinhamento ocidental, o Brasil vivia a época dos "anos dourados", da bossa nova e da crença em tempos melhores. Nada parecido com o que viria na década de 1960...


Fim da Parte I. 


        

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