É preciso sentir a necessidade da experiência, da observação, ou seja, a necessidade de sair de nós próprios para aceder à escola das coisas, se as queremos conhecer e compreender." Émile Durkheim.
Anos
60 - Um debate econômico pairando no meio da guerra fria. Entre a
dependência e o desenvolvimentismo.
A
movimentada época dos anos 1960 parecia chegar em um país como o
Brasil como um tempo de mudanças radicais. Em meio ao conflito
internacional da guerra fria, era importante pra certa elite mais
alinhada aos Estados Unidos um posicionamento que fosse tanto anti
União Soviética, quanto anti-China. Começamos já a década com a
crise institucional gerada pela sucessão de Jânio Quadros, que
governou apenas 7 meses. Esse fato fez de João Goulart presidente,
gerando uma cisão que aos poucos culminaria no golpe militar de
1964. Jânio, que mesmo obtendo alguns apoios em comum com parte
da esquerda, era extremamente moralista em algumas quesitos
específicos e não sabia exatamente onde se situar no debate ultra
moderno da guerra fria. Ficando internacionalmente com Cuba e China,
mas em casa, prometendo “varrer” a corrupção dos antigos
governos JK e Getúlio. Então foi eleito em uma certa medida com um
discurso anti-corrupção e anti-PTB.
Faço
essa reflexão para lembrar do contexto ímpar da ditadura, pois a
inserção do Brasil nesse conflito era pelo fato do medo de uma
“outra China”, completamente possível na visão dos Americanos
pela nossa grande capacidade de autonomia. Mais do que o debate sobre
a ditadura, é merecido um debate sobre zona de influência em termos
de política externa. Foi então devido ao pessimismo e a observância
de certa estagnação econômica em nações em desenvolvimento, que
fomentou-se uma visão de um abrangente campo envolvendo a teoria da
dependência. Dentro do espanhol, dependência e desenvolvimento
podem ser lidos como “desarrolos”; os dois lados da mesma moeda.
Já no Inglês, é apenas restrito ao que se chama de 'development theory', havendo uma diferença no significado e mudanças também na interpretação dessas teorias. A visão sobre como nos mantemos dependentes era feita em duas vias, em uma espécie de dualismo. As teorias desenvolvimentistas envolviam uma visão de desenvolvimento heterodoxo, com vias na economia nacional, no estilo de Keynes, Vargas e Rooselvelt. Já as teorias da dependência variavam entre a crítica ao populismo, visão apologista prol setores privados, e uma parcela de teoria marxista genuína e latina americana.
Já no Inglês, é apenas restrito ao que se chama de 'development theory', havendo uma diferença no significado e mudanças também na interpretação dessas teorias. A visão sobre como nos mantemos dependentes era feita em duas vias, em uma espécie de dualismo. As teorias desenvolvimentistas envolviam uma visão de desenvolvimento heterodoxo, com vias na economia nacional, no estilo de Keynes, Vargas e Rooselvelt. Já as teorias da dependência variavam entre a crítica ao populismo, visão apologista prol setores privados, e uma parcela de teoria marxista genuína e latina americana.
Assim
surge a importância do antigo sociólogo e presidente Fernando
Henrique Cardoso. Misteriosamente, o que seria uma área de
entendimento marxista, se revelaria como uma admissão da
impossibilidade de combater o sistema mundo (economia de
mercado), comandada pelo dólar e pela influência direta dos
EUA. Isso é parte do debate sobre se foi golpe ou
não. Uma polêmica que envolve como esse período seria ensinado nas
escolas, e também qual seria a abordagem desse fato.
A cisão civil do regime pode parecer ao ouvido alheio como uma justificativa pró mudança de regime. Mas muito mais do que isso, é uma visão gramsciniana da estrutura das mudanças dos eixos de poder. No livro de René Dreyfuss 1964 – A Conquista do Estado, resultado de uma pesquisa realizada entre 1976 e 1980, o que podemos pensar dessa pesquisa é o fator de influência ideológica de alguns institutos como o IPES e o IBAD, que trabalhavam para disseminar uma opinião anti esquerda. Em termos de sociologia, esses institutos pareciam combater a ideia de integração e desenvolvimento do Projeto Unesco e de projetos como o ISEB(Instituto Superior de Estudos Brasileiro), que era vinculado ao ministério da Educação e Cultura. Era considerado órgão ideológico pela direita, ou uma “fábrica de ideologias”, e projetos como o IPES e IBAD, fomentados com patrocínio estrangeiros, buscavam acabar com as influências desenvolvimentistas de locais como o ISEB.
A cisão civil do regime pode parecer ao ouvido alheio como uma justificativa pró mudança de regime. Mas muito mais do que isso, é uma visão gramsciniana da estrutura das mudanças dos eixos de poder. No livro de René Dreyfuss 1964 – A Conquista do Estado, resultado de uma pesquisa realizada entre 1976 e 1980, o que podemos pensar dessa pesquisa é o fator de influência ideológica de alguns institutos como o IPES e o IBAD, que trabalhavam para disseminar uma opinião anti esquerda. Em termos de sociologia, esses institutos pareciam combater a ideia de integração e desenvolvimento do Projeto Unesco e de projetos como o ISEB(Instituto Superior de Estudos Brasileiro), que era vinculado ao ministério da Educação e Cultura. Era considerado órgão ideológico pela direita, ou uma “fábrica de ideologias”, e projetos como o IPES e IBAD, fomentados com patrocínio estrangeiros, buscavam acabar com as influências desenvolvimentistas de locais como o ISEB.
Já
no cenário da sociologia, os primeiros governos de esquerda geraram
alguns avanços, como a criação de universidades mais modernas, por
exemplo. Por outro lado, fenômenos como 'a marcha da família com
deus' reagiam a mudanças recentes ocorridas ainda com JK e Getúlio
Vargas e ainda não digeriam essas mudanças, o que dirá mais alguma
coisa. Foi assim que nasceu a conspiração que gerou no golpe de
1964. Também o senado, a mídia, e outros setores institucionais se
juntaram em campanhas para depor o presidente da república,
justificando tudo ao final com o medo de novas reformas de base,
invasão fundiária e é claro, tudo isso girando em meio a paranoia
anti-comunista.
Outro
grupo interessante dessa década com um pensamento mais crítico e
afiado, foi o grupo de Florestan Fernandes. A publicação de
“Revolução Burguesa no Brasil”(1966), também fruto de
compilações de debates e de aulas de Florestan, teve intuito de
debater o conceito alargado de Revolução no Brasil sob uma
chave weberiana e política, que fazia questionar o papel de
servilismo da elite local, que em busca de tomar o poder dentro
do Brasil, se tornava subserviente a potências estrangeiras, sendo
uma característica do autoritarismo Brasileiro. Nesse sentido,
surge um contexto entre 1958 até 1964 de sessões de estudo na USP,
chamado de “Seminário Marx”, que combinava um interesse recente
pelo marxismo por parte dos alunos e ao mesmo uma certa
distância na sua utilização. Esse seminário introduziu uma
extensa leitura de “O Capital” de Karl Marx.
Anos 1970: O “milagre econômico”, crise do Petróleo, e a segunda
fase da resistência a ditadura
A tradição
do CEBRAP, embora tida como resistência em alguns sentidos, buscava
também prezar por um certo formalismo e pragmatismo das análises,
como por exemplo, em Wanderley Guilherme dos Santos, ou em
Guerreiro Ramos, se configuraria como uma versão moderna da crítica
saquarema ao utopismo liberal. Mas é inegável que as
aproximações dessa escola envolveram um afinamento metodológico
dos instrumentos de lógica das ciências sociais no
Brasil. O seminário de Marx foi considerado por muitos
como a semente do CEBRAP(Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento), criado em 1969 para reunir o pensamento de alguns
intelectuais perseguidos pelo regime, que após o AL-5(ato
institucional 5), esse centro virou um local de resistência por isso
principalmente, segundo o que eles próprios dizem, primeiro
“negociaram” e depois “se engajaram”. Daí surgiram nomes
enquanto pesquisadores de pautas sociais vigentes, Octávio Ianni,
Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Ruth Cardoso,
Fernando Novais. É da década de 1970 a publicação dos
“Cadernos Cebrap”(1971-1997). No
campo econômico, o Brasil vivia o tempo da Copa do Mundo, “milagre
econômico”, que se converteu em uma crise inflacionária sem fim e
o começo de um arrocho salarial, que se traduzia em diminuição da
renda dos mais pobres, o brasil aí veria uma volta do movimento
sindical.
A
sociologia se desvincula da função de intérprete culturalista
do Brasil e incorpora em sua análise elementos da economia política.
Antônio Cândido, que falava sobre um radicalismo da classe médio
paulista, argumentava que durante os anos de 1940/1950(parecido com a
ideologia do ISEB), surgiu uma versão de nacionalismo, mesclada
com o que se poderia chamar de socialismo e comunismo, que era
orientada pelo catolicismo, visão de progresso nacional e que se
cristalizou na Universidade de São Paulo(USP). O que significa
em termos práticos, dizer que essa sobrevida de CEBRAP, também
havia uma certa “afinidade eletiva” entre certos aspectos da
ideologia conservadora nacional através de um idealismo
constitucional. A base do argumento autoritário, que justifica
ditaduras e intervenções reside em um discurso que relativiza os
vínculos solidários genuínos da população e que busca dizer que
o Estado sozinho é incapacitado de resolver as disparidades e o
“atraso do Brasil”. Também
vale destacar o lugar dos estudos de apropriação e literatura como
uma vertente nova das ciências sociais como em Antônio Cândido,
que publica nessa década, Formação
da literatura brasileira,
1975.
Datam dessa época o começo da reflexão sobre as classes sociais, em
obras como as de Octávio Ianni, aqui dentro engajadas em refletir
sobre o papel das classes sociais nas mudanças e
o avanço da internacionalização através do processo progressivo
de globalização. Não podemos terminar o texto sem a
polêmica mais debatida lá de lá fora para cá, sobre ideologia
política e estabilidade institucional, que envolve assim as
análises sobre o populismo. Em uma vertente já sinalizando um
envolvimento internacional, como no livro de Octávio Ianni, Gino
Germani e Torcuato Di Tella, Populism
e Contradicciones de Clase em Latinoamérica. Assim,
os estudos sobre populismo recebem uma resposta histórica e
pertinente aos movimentos culturais e sociais latinoamericanos,
com a dimensão e inserção da comparação de fenômenos
internacionais, evitando a taxação desse ou aquele governo
específico, do século XX como “esse é populista”, ou de
“direita ou de esquerda” e buscando em uma visão mais semiótica
entender uma comparação com os fenômenos americanos, como o
surgimento do People's Party nos EUA, a Revolução Mexicana
e o estabelecimento na América Latina de repúblicas
federalistas, oligárquicas e altamente militarizadas que satelizaram
o poder e assim criaram o primeiro
ciclo
histórico do populismo, já no século XIX, evidenciadona resposta
disso, com os movimentos como os indigenistas, ou com a tomada de
poder do partido institucional no México, diferente do que ocorreu
no Brasil e na Argentina. Então, da crise do modelo oligárquico,
surge o discurso do “populismo”, enquanto uma qualificação
também estética da automatização e inserção de novas classes no
jogo político.
Nessa época, veio também o estudo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, na linha de hipótese teórica que teve grande repercussão e muitos adeptos: a Teoria da Dependência. Possuindo autores também importantes para o pensamento social, como Theotonio dos Santos e Ruy Mauro Marini, a chamada teoria da dependência foi desenvolvida no âmbito da Comissão Economia para América Latina e Caribe, da ONU. Era uma ideia de cunho marxista, mas não dogmática como a desenvolvida pela leitura dos partidos comunistas da época. Buscava estabelecer uma visão crítica a reprodução de ideais e costumes do capitalismo mundial, que depois da Segunda Guerra Mundial, passaram a operar através da divisão entre países "centrais" e países "periféricos". Entendendo o fluxo capitalista como não só o fluxo financeiro e de mercado, mas também fluxo de ideias como a ciência e a informação, a teoria da dependência busca ver como o desenvolvimento dos países periféricos perante tal sistema, estimula o "desenvolvimento autoritário". As regiões "periféricas" são vista como "subdesenvolvidas", onde esse fluxo econômico e de ideia se dá com menos intensidade, tendo que se adequar aos cânones da evolução dos centros, seja na área econômica ou intelectual.
Posterior aos governos de desenvolvimento nacional na América Latina, como Getúlio Vargas e o PTB no Brasil e Perón na Argentina, e na esteira dos golpes militares que aconteciam nos países latinos durante a década de 60; a teoria da dependência buscava dar explicação aos processo de radicalização e autoritarismo da época. Enxergando como uma limitação dos governos progressistas em seus projetos de modernização o fato de estarem em países periféricos, esses teóricos acreditavam que a única forma de romper com tal sistema de hierarquia imposta era uma ruptura total com os ditames do desenvolvimentismo e modernização, e por isso tantos autores de pensamento comunista eram adeptos de tal teoria. Fernando Henrique era marxista e seguia essa vertente na época, mas seu pensamento se acentuou ao longo do tempo, até o FHC presidente que conhecemos, por acreditar em uma "interdependência", ou seja, um processo dependente mútuo.
Seu primeiro livro a gerar repercussão no cenário da sociologia nacional, "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", foi escrito entre 1966 e 1967 em Santiago do Chile, durante o exílio de Fernando Henrique Cardoso. FHC havia sido perseguido pelo regime militar brasileiro, implementado em 1964, e isso explica muito das ideias apresentadas em seu texto. Escrito junto com o intelectual chileno da teoria da dependência, Enzo Faletto, Fernando Henrique defendia a tese difusa perante as teorias sociais e econômicas da época, que visavam enxergar que toda forma de desenvolvimento deveria se dar através da "absorção de uma tecnologia capaz de promover a diversificação de estrutura produtiva e de aumento da produtividade" e da "definição de uma política de inversões que através do Estado, criasse a infra-estrutura requerida por essa diversificação".
A tese de FHC defendia que essas ideias tinham como pressuposto a concepção do desenvolvimento sustentado através da estrutura macroeconômica, baseada em exportações do setor agrário e um sistema de "substituições de importações" que trazem tecnologia e inovação para o Brasil, e assim assumem como pressuposto a estrutura industrial e desenvolvimento do capitalismo como dados, quando na verdade estes podem estar, pelo sistema de substituição de produtos agrários por tecnologia, sustentados em estruturas de origem rurais do inicio do capitalismo brasileiro e seu sistema de dominação patriarcal e paternalista sustentados historicamente no capitalismo de mão-de-obra escrava. Logo, a ideia de "inovação" e "avanço tecnológico" no Brasil se confundem com ideias ruralistas de conservação de paradigmas e estruturais adjacentes, tal como filhos de fazendeiros donos de terra e gado irem para a cidade e se tornarem jornalistas, por exemplo. Para Fernando Henrique as condições econômicas dos países mais prósperos da América Latina, até metade dos anos 1950, apontavam para esse clima de progresso e desenvolvimento, mas faltaram as condições institucionais e sociais que haveriam de permitir que as condições econômicas favoráveis se traduzissem em um movimento capaz de garantir uma política de desenvolvimento constante em momento posterior.
Anos 1980: A redemocratização e da “década perdida”.
Durante
o período de 1980, a economia brasileira experimentou uma grave
crise de implementação
de moedas e planos econômicos. A ditadura militar sofria de grave
crise e a sociedade civil apelava para uma “abertura”. Depois do
movimento da Assembleia Constituinte de 1988, o brasil sofreu uma
mudança em um sentido de constituição mais garantista de direitos
diversos. Em termos de governo e economia, o Brasil sofreu com
tentativas de conter a inflação, com planos como o Bresser (1987),
o Plano Verão (1989), e já na década de 1990, depois da eleição
de Collor, com o Plano Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991). Dentro dos
paradigmas da sociologia, Florestan Fernandes se elegeu como um
deputado constituintes, algumas LDBs foram implementadas e alguns
objetivos em comum, de objetivos gerais de desenvolvimento, como
por exemplo, demarcações de terras indígenas.
Como destino do parcela do PIB para a educação e saúde e algumas
outras inovações foram aplicadas.
As pós graduações começaram a se especializar na época dos anos
de 1980. Um livro importante para a época é o de Octávio Ianni; A
sociologia da sociologia(1989),
que aborda questões sobre as três teorias distintas de modernização
e desenvolvimento.
Os anos de 1980 e principalmente,
1990, experimentaram um aumento do interesse em internacionalização
e teorias da globalização em geral, como em Milton Santos, Renato
Ortiz e A Moderna Tradição Brasileira (1988)publicação e o
próprio Octávio Ianni. A publicação de Darci Ribeiro(ativo
participante da política nacional e Estadual do Rio de Janeiro), “O
Povo brasileiro”(1995) foi uma organização de seu entendimento
teórico de que o Brasil convivia com uma mistura de povos exigente e
peculiar. Este é seu último e mais importante livro.
Sociologia
Contemporânea:
Os
estudos empíricos e de caso começaram a valer como uma forma de
cientificidade própria. As pesquisas sobre cultura e cotidiano como
vistos em Maria Odila Leite da Silva, que refletia sobre a estranheza
da rua para as senhoras da elite, ou mesmo a antológica obra de
Gilda de Melo e Souza: “Do
Tupi ao Alaúde”,uma
espécie de morfologia de macunaíma. Vale
destacar o papel de Zuleika Alambert, que atuou como Deputada
Estadual pelo
PCB
em São Paulo em 1945 e na Constituinte de 1946, também
lutou pelos direitos femininos e pela Lei da Diretrizes e Bases na
educação.
Entre seus
livros,
Uma jovem brasileira na URSS", "Estudantes fazem história",
"Feminismo: O Ponto de Vista Marxista”.
Os
estudos sobre política e ciências sociais específicos da área
como visto na associação da ANPOCS (Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais)
são
muito bem elaborados na
área de ciência política/sociologia,
por nomes Maria
Hermínia Tavares de Almeida, ou Angela Alonso. Maria Hermínia é
uma socióloga que escreve sobre questões relacionadas a pobreza e
desenvolvimento social, ou sociedade e política no Brasil desde o
final dos anos de 1970. Estudou também o sindicalismo nos anos de
1980 Crise
Econômica e Interesses Sociais Organizados, lançado
em 1996. Mas seus estudos em 1990 verticalizaram, por sua vez em
análise da metodologia dentro das ciências sociais.
Também
o campo da História da Sociologia e Ciência Política acaba
bifurcando na área de pensamento social. Hoje em dia, é uma
disciplina crucial na formação do sociólogo, sendo um dos campos
mais definidos da disciplina, onde se estuda a história da
sociologia enquanto evolução e temática de análise. Elide Rugai
Bastos, por exemplo, faz uma análise de categorias que ficaram
evidentes a posteriori da publicação do autor, no caso, de Gilberto
Freyre. Seu comentário é pertinente ao pensamento social porque
aborda uma questão que ficou conhecida depois da publicação das
principais obras do autor, além de observar uma certa linha
argumentativa em torno da miscigenação e a ligação disso com o
pano de fundo de sua obra a longo prazo. Ou seja, é uma análise das
categorias frutos da obra, como também é uma análise do
significado político como um todo do autor. Sua referência aqui é
abordar o fortalecimento do discurso internacional da “democracia
racial” no Brasil, que foi construído como fruto do que Freyre
chamava de introdução a história da sociedade patriarcal no
Brasil.
Certamente,
os estudos de Jessé de Souza seriam uma retomada da tradição de
tipos de Sérgio Buarque e Weber e
da análise de uma forma de ideologia mental que constitui não o
povo(discurso de populismo), mas sim a própria elite.
Com suas obras como A
Modernização Seletiva: Uma Reinterpretação do Dilema
Brasileiro(2000), ou Max
Weber e a ideologia do atraso brasileiro. Revista Brasileira de
Ciências Sociais(1998), como
também a publicação de temáticas relacionadas a cidadania.
Há também uma vertente da sociologia interessada nas apropriações,
inserções e trajetórias intelectuais que formam uma análise de
mentalidades em torno da área da sociologia intelectual, como, por
exemplo, feito por Bourdieu na França, e Sérgio Miceli no Brasil,
ou
mesmo Dominichi Miranda de Sá, com enfoque no estudo das vocações
profissionais relacionadas ao ensino superior.
A antiga tradição masculina,
antológica, ensaísta da sociologia é substituída por novos campos e áreas e novas formas de pensar o nacional. O tema das ciências jurídicas, por exemplo, se
desmembra em diversas outras categorias culturais, como no moderno
exemplo de Sergio Cavaliere Filho e seu livro: Sociologia Jurídica.
Esse livro indica que a sua sociologia jurídica possui uma
importância para vida prática(bacharel), e é um esquema de
entendimento onde a sociologia jurídica indica um Fato e sua
Eficácia, logo o é(ser), sendo isso mais um estilo de abordagem do
direito penal. Já na ciência do direito puro, há uma ligação
entre Norma, Vigência(dever ser), já o campo da filosofia do
direito, Valor é igual a Fundamento, (Poder ser), esses campos
últimos mais ligados direito constitucional, como legislações
garantistas de direito da população.
A perspectiva de estudo e
pesquisa foi mudando com o tempo, e a sociologia desabrochou se
tornando sob a influência cada vez maior da antropologia e da
história social, um campo de incursão de novos debates, como também
é marcante a virada em torno de temas como o desenvolvimento,
subdesenvolvimento e marginalidade, na área da sociologia do
desenvolvimento, sociologia da comunicação, sociologia da
sociologia, sociologia dos movimentos sociais, sociologia da
violência, ou mesmo a (teoria social, temporalidades)como em Alba Zaluar ou Michel Misse ou mesmo
Rubem César Fernandes. Vale lembrar do campo da “antropologia
política”, como muito bem explorada enquanto teoria, com nomes
como Roberto Kant Lima e Mariza Peirano(formada em ciências sociais,
mas atuante na antropologia). A sociologia das emoções, sociologia
digital, sociologia da burocracia e da administração
pública(temáticas como de corrupção e poder), e finalmente, a
histórica e antiga sociologia da educação. Enfim, a sociologia se
tornou um assunto muito importante, mas infelizmente, desconectada do
ensino básico e da realidade de tantos, o que é uma contradição,
pois a sociologia, nasceu da análise detalhada e observação do mundo e também dos métodos educacionais ao longo da história.
O aumento das
privatizações, terceirizações no mundo todo, com exemplo, de
países como EUA, México e França nos anos de 1990 e as diversas desregulações trabalhistas, trouxe uma ideologia do
neoliberalismo e o começo de
na sociologia dos
cursos lidarem com monografias mais flexíveis e com enfoque
interdisciplinares e mais abertos, fez com que a sociologia se
abrisse para os fenômenos da modernidade, pós modernidade e análise
de fenômenos como a imigração e identidade, como também pode-se
discutir sobre mundialização, hibridização e também de
cultural global. Como também
podemos observar
uma volta de um estilo de análise tipológica que engloba alguns
totens que podem ter passado despercebido pela maior parte da
sociologia, como a análise sobre a escravidão, elites, atraso,
corrupção, o discurso sobre corrupção e o patrimonialismo em que
se envolvem tais questões.
O
que podemos pensar é que da
sociologia hoje é que ela
amadureceu e se tornou um
instrumento de inspiração de diversos outros campos que se
bifurcam. Essa forma de
interdisciplinariedade é a
evidência da
atualidade e da importância
do campo sociológico, tanto enquanto carreira e pesquisa, como
também como uma forma de ensinar uma metodologia de pesquisa
própria, que é desenvolvida de maneira singular pela sociologia
desde o século XIX.
Sem
deixar de lado a história, o método sociológico, envolve
a escolha de
um objeto
específico, mais a hipótese
provável,
e depois
uma forma de analisar um “certo problema” de
contraste entre o sujeito e o objeto. Essa metodologia, embora
simples, virou regra em
quase todos os cursos e
monografias das ciências humanas,
fornecendo uma possibilidade de inserção dessa realidade e do giro
de movimentação científica que atualiza algumas ideias e deixa de
lado algumas outras, ou seja, o giro das opiniões e estudos da
chamada “verdade científica” e como ela se articula entre a
ciência(que não pode ser apenas uma forma de senso comum erudito) e
a vida real composta por trabalhadores, mulheres, imigrantes,
diversos outros atores políticos e sociais que discordam desse
“sendo comum erudito” e pensam o estudo e a pesquisa como uma tentativa, uma
hipótese, não como a imutável verdade absoluta, de todos os tempos
e espaços.
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