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Vai Trabalhar, Vagabundo! (1973): Clássico do Cinema Nacional baseado em Chico Buarque busca a malandragem carioca perdida


Filme protagonizado e dirigido por Hugo Carvana, que interpreta Secundino Meireles, um malandro carioca que sai da prisão e, sem dinheiro, organiza uma volta dos dias de ouro clássica malandragem carioca. Tentando relembrar os velhos dias de jogatina, com uma revanche entre os dois maiores jogadores de sinuca da época. Mas Russo está internado em um hospício desde sua última derrota, e Babalu agora é um trabalhador controlado de perto pela esposa Vitória


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Que filme engraçado de verdade, com elenco de ouro, duvido você parar de rir com ele e as aventuras de Secundino Meireles. Você ri muito com a sociologia retratada dos personagens, seus nomes e cenas são as típicas do feito de mais nacional possível feito. Dino conhece todo mundo e é ele que agita o mundo subterrâneo da malandragem carioca. 


Ele tem uma amante no primeiro filme que tem um cara que a sustenta, um tipo coronel que no fim acaba com tudo em uma situação ao estilo de tiroteio de ok corral, já que a partida de sinuca entre os amigos valia alto dinheiro nas rodas de aposta. Um jogo épico e que todos estavam interessados em apostar alto na partida entre Babalu e o Russo. 


Foi o primeiro filme de Hugo Carvana (famoso ator de novelas) e aborda as aventuras e desventuras de Secundino Meireles, morador dos subúrbios e que sempre arruma dinheiro quando cobrado trabalhar, de uma maneira ou outra.  A atuação de Hugo Carvana imitando um cara português para roubar um casal rico é extremamente engraçada e muito convincente. O filme também foi parcialmente escrito por Carvana, e por Armando Costa, que também trabalhou em filmes como Bar Esperança (1983), Minha Namorada (1970) e Amante Latino (1979) e na televisão com o seriado clássico da "A Grande Família".


No filme de 1991, ele aparece falando espanhol, também com igual desenvoltura. São muitas cenas clássicas que lembram uma época de cinema nacional que ficou para trás. Havia um experimentalismo no meio da própria experiência televisa de todos que era notável. 


 E esse filme teve ainda uma sequência muito incrível de 1991 (onde voltam alguns personagens e conhecemos outros) que se parece em muito com o filme Um Morto Muito Louco (1989) que veio dois anos antes, esse filme conta com a participação de tanta gente famosa, ainda com a participação de Chico Buarque e de Marieta Severo como Carmem. 


Vale lembrar que em 1991, os editais de cultura foram todos renovados pela nova lei que tinha sido aprovada por Sérgio Paulo Rouanet, mas era inevitável ao mesmo a privatização do cinema nacional. Quando esse filme foi feito, havia toda uma indústria, que pensava com regras próprias, é claro, mas ainda era a indústria antiga de filmes nacionais. 


Ela era a namorada antiga do protagonista (mas isso somente no segundo filme), de quem ela tem um filho, interpretado por Marcos Palmeira, o segundo filme é muito bom, mas o de 1973 é clássico demais, Hugo Carvana está parecendo até o Benito de Paula na figura do 'Dino'. O cara é o típico malandro carioca, do nicho mais tradicionais possível, o do tipo suburbado, pobre, porém imigrante, e além do mais, usa uma touquinha das cores do Fluminense, ou da escola de samba Mangueira.



Na cena do Chico no segundo filme, ele vem para o velório de Secundino, que teria morrido no México, mas era uma farsa para enganar uma viúva. Aparece o "Julinho da Adelaide" carregando uma cachaça para o morto, como foi reconhecido lá, um dos pseudônimos de Chico, esse tirado da música Jorge Maravilha, que parece uma homenagem ao Jorge Ben, por sua vez. Uma das músicas mais rock que o Chico já fez.  


Ele encontra várias mulheres diferentes, uma delas tem um amante que a banca e ele faz ela atender a porta sem roupa para não pagar a pizza. As estórias lembram além das músicas do Chico, como  Vai Trabalhar, Vagabundo, também a peça e música "O Malandro" dentro do "Ópera do Malandro" uma peça clássica de Chico, e um pouco no arquétipo clássico da ópera Carmen inspirado no romance homônimo, cujo a ideia é de que ser malandro se transforma em cultura na medida que todos na sociedade brasileiro reclamam do malandro mas tiram vantagem igual em cada parte da "cadeia de produção" da sociedade patriarcal e capitalista.


 

Mostra a questão dos jogos de várias maneiras, ao encontrar o amigo dele na corrida de cavalo, ele recebe o dinheiro do amigo para apostar mas acaba pegando esse dinheiro para sair com uma moça que ele estava flertando, no caso, Zezé Motta. Gastando todo dinheiro que seu amigo Tainha tinha dado para ele apostar nos cavalos no Jockey Club. 


Os dois partem para casa de seus patrões que estavam fora, e no dia seguinte, ele escuta eles falando de um terreno em Angra da esposa, depois ele fica sabendo que o cara quer usar esse terreno para tirar um dinheiro, já que seu apartamento ia ao leilão por conta de dívidas. Ao saber disso, nosso Secundino se disfarça perfeitamente de português rico e tenta roubar o terreno do casal de loiros, a esposa Heloisa,  interpretada pela atriz Odete Lara. 


A música de Chico Buarque "Vai Trabalhar, Vagabundo" reflete não o que parece, uma frase motivacional , reflete algo que é muito dito como forma de "estímulo" para alguém querer exercer essa "rotina" sentimental e ideológica que o mundo do trabalho é forjado. Sempre achei as músicas dele muito cinematográficas com diversos cenários e situações abordadas e esse filme descreve essa ideia de obrigação social idealista mesclada com o cenário de festas e bares (onde teria toda uma cultura própria de ganho de dinheiro e consolidação de reputações). 


Acaba que a ideia de dizer que se está trabalhando apenas vira uma desculpa para alguma entrada de dinheiro, uma desculpa pedida em meio de uma sociedade onde apenas o trambique é possível. O filme é uma comédia pastelão que quer um pouco rir da condição ou falta dela, da própria sociedade carioca e suas contradições.  



 Babalu e Russo (os atores super famosos Paulo César Peréio e Nelson Xavier). Eles disputavam o amor de Vitoria, que escolheu Babalu, mas as noites de disputa entre os dois foi um pedido do dono do bar que pediu para o nosso malandro organizar uma noite de casa cheia para relembrar os velhos tempos de jogatina.  



O estilo de atuação e direção de Hugo Carvana são ímpar. Com experiência de sobra da época das chanchadas nacionais da Atlantida, a antiga companhia do cinema nacional, sabia como ninguém dirigir e fazer rir.

Fazem parte de seu estilo um certo dinamismo entre o ator e a câmera, e é através dos olhos de seu personagem que somos levados a justificar e aceitar as enroladas de seu personagem, um mestre da manipulação, mas deixar de ser um coração no fim das contas com sua malandragem pensada com ares de Robin Wood carioca, através de suas incontáveis aventuras. 


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