Pular para o conteúdo principal

Unicórnio (2018): Clima de suspense e mistério refletem amadurecimento e fases da vida em filme brasileiro que adapta contos da escritora Hilda Hilst





Unicórnio é um filme brasileiro inspirado em dois contos de Hilda Hilst, "Matamoros" e "O Unicórnio", e dirigido por Eduardo Nunes. Maria (Bárbara Luz) e sua mãe (Patrícia Pillar) vivem em um sítio isolado do resto do mundo, depois que a mãe se separou de seu pai (Zé Carlos Machado). No entanto, a chegada de um criador de cabras (Lee Taylor) à região irá transformar a vida delas. O filme ganhou o prêmio Tarkovski 


Unicórnio foi feito em 2018, ano da eleição de Bolsonaro e tem aquele choque de abordar o tema da internação, separação feminina, e a questão do começo da sexualização, amadurecimento, hábito mental e psicológico e no fim é bem trágico e refletimos sobre a morte e as fases da vida, na conversa com o pai, ele diz que a infância é a melhor fase da vida, mas a menininha discorda por ter visto os pais se separarem, então o ethos familiar constituído sem o pai infligiu na menina ditames morais de proibição velado que não são nem explícito, são incidência do hábito e da própria lógica de tragédia na vida. 


O filme ganhou também o prêmio Tarkovski (o cinema tempo paisagem do filme ajudou nisso), tem até cenas que foram pintadas na mão parece para enaltecer as cores. Outra coisa do filme seria essa chegada do forasteiro como o elemento do primeiro amor e a relação dela entender o amor como um conto de fadas que virou pesadelo e por isso o medo do ciclo natural da vida. O próprio diretor Nunes falou em uma entrevista no lançamento do filme sobre esses detalhes. O filme foi produzido pela 3 Tabelas Filmes e distribuído pela Vitrine Filmes


O filme tem a atriz Patrícia Pillar que estava ao ar com a reprise de Rei do Gado na Globo, interpretando a Luana/Marieta na novela, a atriz Patrícia Pillar.  Ela é uma das produtores associadas do filme. Nesse filme, como na novela, Luana é tipo uma heroína do socialismo rural ao estilo "origens do MST". Mas aqui a pobreza da personagem da mãe é mais motivada por ideologia, como na ideia de Hilda Hilst de fugir para o campo, para o "lugar ideal" de felicidade. 




Maria (Bárbara Luz) e sua mãe (Patrícia Pillar) vivem isoladas em uma casa de campo esperando a volta do pai de Maria (Zé Carlos Machado), após os pais se separarem, e depois ele ter sido internado. No entanto, a chegada de um criador de cabras (Lee Taylor) à região irá transformar a vida delas. 



Se seguirmos o título de inspiração do conto, "O Unicórnio" e "Metamoros" foram usadas como referências da importante escritora,  o filme mostra essa metáfora do animal, um cavalo que tem chifres, e é assim que começa o filme, com um unicórnio, que sabemos que não existe na vida real, mostrando a dimensão mitológica do conto de Hilda original.  


Se quisermos explicar o filme pelo título, podemos falar sobre a origem da figura do unicórnio, que começou a circular como ideia no folclore tanto na China, como na Pérsia. Depois foi muito utilizado no imaginário europeu medieval. O animal seria o símbolo da calma e da bonança. 


Tapeçaria 'O unicórnio e a Dama', do séc. XIII, exposta em Paris




Outra questão importante para o filme é mostrar a vida de pessoas que vivem sem energia elétrica, por exemplo, ou que comem de talheres feitos de barro e não de vidro, ou que cozinham com fogo a lenha. Essa realidade distante da tecnologia. Outra parte legal é quando Maria vai visitar seu pai, e lá ele conta uma estória para ela, e nessa hora, o filme vira quadrinho. 


Os contos que inspiram o filme são de autoria da escritora Hilda Hilst, uma importante escritora brasileira descendente de antigos moradores do povoado de Alsácia-Lorena, na Alemanha. O que explica ele ter aparecido na sua première no festival Generation, que é paralelo ao Festival de Berlim. 



Depois que leu Carta a El Greco do escritor Nikos Karantsakis, resolveu se afastar da vida agitada na cidade de São Paulo e passa a viver na fazenda de sua mãe, que era próxima de Campinas, no interior do Estado de São Paulo, construindo a sua "Casa do Sol", que hospedou nomes como os escritores Bruno Tolentino e Caio Fernando Abreu (o cara das frases postadas no facebook), foram hóspedes de sua casa, que possuía segundo dizem centenas de cachorros. Hilda escreveu um 'poema eterno' intitulado "A nova Odisseia". 


A primeira tradução parcial da "Carta a El Greco" de Karantzakis foi feita por Clarice Lispector, a primeira mesmo completa foi feita por Lucília Soares Brandão em 2014. 



Concluiu o curso de Direito em 1952. Depois da leitura do livro Carta a El Greco, do escritor grego Nikos Kazantzakis, Hilda decide afastar-se da vida agitada de São Paulo e, em 1964, passa a viver na sede da fazenda de sua mãe, próximo a Campinas, durante a construção da sua casa numa parte daquela propriedade. 


Em 1966, findos os trabalhos da construção, Hilda muda-se para sua Casa do Sol, casa planejada detalhadamente pela autora para ser um espaço de inspiração e criação artística. Hilda Hilst viveu o resto de sua vida na Casa do Sol e nela hospedou diversos escritores e artistas por vários anos. Os escritores Bruno Tolentino e Caio Fernando Abreu foram também hóspedes da Casa do Sol.



Um filme de poucos diálogos, mas de muita percepção e mensagem e criatividade em termos de planos e formas de filmar originais, passando essa pegada meio Tarkovsky de ênfase na paisagem do campo, quase como um quadro. A trama lança você em uma mensagem dada através do sentimento, no caso da menina, a Maria, que convive entre o pai (que está internado longe dela), e a mãe que quer viver isolada e não acredita em nada e nem ninguém, enquanto a filha duvida da forma como a mãe vive apesar de amar ela. 






Comentários

Em Alta no Momento:

Os Desajustados (The Misfits, 1961): Um faroeste com Marilyn Monroe e Clark Gable sobre imperfeição da obra do artista e o fim fantasmagórico da Era de Ouro do Cinema Americano

Rastros de Ódio (The Searchers, 1956): Clássico de John Ford é o maior faroeste de todos os tempos e eu posso provar

"1883" (2021): Análise e curiosidades da série histórica de western da Paramount

Um Morto Muito Louco (1989): O problema de querer sempre "se dar bem" em uma crítica feroz à meritocracia e ao individualismo no mundo do trabalho



Curta nossa página: