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Quelé do Pajeú (1969): História do interior de Pernambuco, cangaço e ilegalismos marcam faroeste de Anselmo Duarte



Clemente Celidônio (Tarcísio Meira), mais conhecido como Quelemente, toca a boiada rumo à sua casa, em Pajeú das Flores, Pernambuco. Ao chegar, encontra a tragédia na família: Marizolina, sua irmã, fora violentada por um desconhecido. Sedento de vingança, Quelemente, o Quelé, sai em busca do homem de quem Marizolina guardara dois detalhes: uma cicatriz no rosto e a falta de um dedo. Para esta busca, uma longa jornada, durante a qual viverá Quelemente muitas aventuras e conhecerá Maria do Carmo, que por ele se apaixona. Logo depois de realizado, o filme foi considerado perdido. A única cópia do faroeste foi encontrada em um acervo pessoal na Itália, e por isso o filme está legendado em italiano


Quando do Carmo já esperava criança sua, aparece Cesídio, o homem com as características do malfeitor. Na luta para deter Cesídio, Quelemente mata um soldado, o que o torna um perseguido pela justiça. Em dramática caminhada, Quelemente leva Cesídio e o Padre para sua casa, onde obrigará o sedutor a casar-se com Marizolina e ele próprio com do Carmo, iniciando logo após com o primeiro, uma luta de morte, interrompida pela chegada da polícia, que vem ao seu encalço. Quando as esperanças de sobrevivência são poucas frente ao cerco da volante, chega o Bando de Lampião, que dispara os policiais. Quelemente ingressa no Bando, batizado por Lampião como Quelé do Pajeú, um bravo. Do Carmo morre de vítima das balas da volante e Quelé, movido pela fúria de vingança, se integra definitivamente no cangaço.


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História da produção do filme 


 "O Pagador de Promessas" fez com que Anselmo Duarte ganhasse o maior prêmio já dado até então ao cinema brasileiro: a Palma de Ouro no Festival de Cannes, na França, em 22 de maio de 1962. Porém, boa parte da obra do ator e diretor hoje se encontra praticamente esquecida. "É um filme bem feito, que tem uma dramaturgia forte, com uma base teatral atrás, mas gerou um certo ressentimento por ter vencido grandes filmes no Festival de Cannes, de realizadores como Luis Buñuel e Michelangelo Antonioni, e o Anselmo carregou isso pelo resto da vida", afirma o jornalista Sérgio Augusto, autor de "Este Mundo É um Pandeiro", livro que retrata o universo das chanchadas. "Virou um prêmio meio maldito. Ao mesmo tempo, sem 'O Pagador de Promessas", nós estaríamos relembrando o Anselmo Duarte como galã das chanchadas e, mesmo assim, a obra dele se encontra arquivada e pouco na memória." 




Não é tão perceptível também a influência direta de Duarte em jovens cineastas brasileiros, mesmo que comédias genéricas produzidas pela Globo hoje em dia, herdem elementos das chanchadas estreladas por ele. 




"Ele era a coqueluche das plateias femininas. Foi o número um na Atlântida e depois na Vera Cruz. Nenhum dos atuais ídolos da televisão teve êxito semelhante ao de Anselmo, num tempo em que televisão era coisa remotíssima", afirma Oséas Singh Júnior, autor da biografia "Adeus Cinema" e criador do cineclube Anselmo Duarte, na cidade-natal do cineasta, Salto, em São Paulo. 


O primeiro filme estrelado por Duarte foi "Querida Suzana", dirigido por Alberto Pieralisi em 1947, que marcou a estreia de Nicette Bruno, então com 12 anos. "Eu o conheci durante as filmagens, mas quase não tivemos contato e nunca fui apresentada a ele, que acompanhava um amigo no teste para o filme e acabou ficando com o papel. Depois, nos encontrávamos em eventos e ele me cumprimentava com grande alegria", conta a atriz. Em seguida, Duarte se tornou um dos maiores galãs da Atlântida, ao contracenar com a atriz Eliana, na chanchada "Carnaval no Fogo", filme de Watson Macedo lançado em 1949. 




"Ele foi o ator mais bonito que conheci e, se tivesse um bom agente e estudado inglês, poderia ter parado no cinema americano. Ele tinha todo um tipo tradicional na linha do Tyrone Power", diz Sérgio Augusto. Duarte repetiria o sucesso em "Aviso aos Navegantes", de 1950, e "Carnaval em Marte", de 1955, com a atriz Ilka Soares, então sua mulher. Numa das mais badaladas negociações da época, Duarte foi contratado a peso de ouro pela companhia Vera Cruz, de São Paulo. Ali, ele estrelou "Tico-Tico no Fubá", que conta a história do compositor Zequinha de Abreu. 




Porém, a grande vontade era a de realizar os próprios filmes, o que fez com maestria na comédia com ares de chanchada "Absolutamente Certo!". O passo seguinte foi "O Pagador de Promessas", de 1962, a adaptação da peça de Dias Gomes estrelada por Leonardo Vilar e Glória Menezes. "O Anselmo queria e se preparou para ser vencedor. Ele foi a Cannes estudar os meandros do festival e voltou convicto de que com uma boa história ganharia o prêmio", conta o gerente de produção do filme, Roberto Ribeiro. 




"Anselmo Duarte estava muito contente por fazer o filme na Bahia e por ser muito bem recebido pelo povo do lugar. Ele era muito simpático e tinha uma segurança muito grande na direção. Era um bom companheiro e contador de causos", conta o ator Othon Bastos, que, no filme, interpreta um repórter. Dois anos depois, Bastos seria Corisco, de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, que acompanhou as filmagens de "O Pagador de Promessas" e depois fez duras críticas a Duarte e ao filme. 




"Ele foi um dos primeiros a fazer um cinema um pouco parecido com o que se fez na Itália, do neorrealismo, de ir para locação. O filme traz uma versão urbana do Nordeste que até então não se tinha", afirma o cineasta Guilherme Fiuza, diretor de documentário sobre de Duarte. Depois de ganhar a Palma de Ouro, Duarte foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e recebeu vários prêmios ao redor do mundo. No entanto, no Brasil, os cinéfilos e a classe cinematográfica não receberam a vitória deviam. 




"Como não podiam criticar o filme mundialmente premiado, os jovens do cinema novo acusaram Anselmo de ser de direita. Anselmo, que não percebeu a inveja cultural por trás dos ataques, fez um filme que ele considerava o melhor que dirigiu, "Vereda da Salvação" (1964) adaptação do texto de Jorge Andrade, a respeito dos sem-terra. Foi censurado. Disseram que ele tinha tendências de esquerda. Mas a única ideologia dele era a cinematográfica", diz Singh Júnior. "Numa entrevista, ele disse o que achava do cinema novo. 'Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e uma merda na tela.' As coisas complicaram ainda mais", acrescenta o filho, Anselmo Duarte Júnior. 




Anselmo então dirigiu filmes como "Quelé de Pajeú", de 1969, estrelado por Tarcísio Meira. Já como ator interpretou um tenente de polícia em "O Caso dos Irmãos Naves" , filme de Luís Sérgio Person, de 1967. Morreu em 7 de novembro de 2009, solitário e praticamente esquecido. Onze anos depois, seu centenário passa praticamente despercebido, com poucas homenagens, com exceção de um portal criado pela família e levado no ar nesta semana. - Destaques de Anselmo Duarte como ator "Carnaval no Fogo" (1949) "Aviso aos Navegantes" (1950) "Tico-Tico no Fubá" (1952) "Carnaval em Marte" (1955) "Absolutamente Certo" (1957) "O Caso dos Irmãos Naves" (1967) Destaques de Anselmo Duarte como diretor "Absolutamente Certo" (1957) "O Pagador de Promessas" (1962) "Vereda da Salvação" (1965) "Quelé do Pajeú" (1969) "Um Certo Capitão Rodrigo" (1971) "Os Trombadinhas" (1979).




Em 1969, ano do filme, o Brasil passava pela ditadura militar. O candidato da Arena Emílio Garrastazu Médici foi eleito presidente por uma sessão conjunta do Congresso, especialmente reaberto pelo AI-16, e como filme bem demonstra, era um país sem lei.


Leitura do filme 


Segundo artigo de Jorge Mattar Vilella, "Clementino Quelé: Banditismo rural e administração da segurança no Brasil da Primeira República", sobre o período retratado no filme, afirma que no sertão de Pernambuco da época e em menor intensidade hoje, as relações familiares eram bem reconhecidas em vários níveis. Saber o parentesco e recitar e a genealogia eram capacidades bem difundidas e prestigiosas entre os habitantes da zona rural e da cidade. A profundidade do conhecimento genealógico era maior entre as famílias ricas autodesignadas como tradicionais, pois confundiam-se com as respectivas histórias municipais (Marques 2013). Consequentemente, o sangue, substância transmitida entre as gerações e por via do parentesco de afinidade, comportava certas características que redundavam no modo de viver, pensar e reagir de cada indivíduo. Daí  a noção  de  fama. Sabendo-se  a história  de ancestrais matri ou patrilineares de um indivíduo,  adivinhava-se ou esperava-se dele uma reação específica diante dos desafios cotidianos que a vida dos sertanejos lhes apresentada.


A  família era o  fundamento da administração pública da ordem e da segurança no sertão de Pernambuco. Mas não precisamente como efeito de sua ordem patriarcal. 




A história do real Quelé foge muito da trama do filme. Tudo começou de uma forma muito modesta, num lugar remoto: as margens do Riacho do Navio, vale do Pajeú, sertão de Pernambuco. De seu local de nascimento, Quelé migrou para Alagoas por motivos de conflitos entre famílias e de lá regressou para Pernambuco, desta vez para o município de Triunfo, em 1919. Ali se estabeleceu no sítio Santa Luzia, no então distrito de Santa Cruz. Isto segundo a versão de Mello (1985). Os arquivos da Comarca de Triunfo permitem avançar um pouco mais profundamente no tempo.




Manoel Clementino Furtado, pai de Quelé, fora membro da Guarda Municipal de Triunfo durante a sedição daquele município em 1892 comandada pelo Padre Duette e pelo coronel Correia da Cruz (Melo 1944; Villela 2004; Barbosa Lima 1893). Manoel fora pronunciado pela morte de um soldado  e  de  um  tangerino  durante  uma  emboscada  (Processo sobre a Sedição, Arquivo do Fórum de Triunfo, pasta 1892). Pode-se supor que a migração da família para Alagoas se tenha devido a isso. Muitas das migrações de famílias inteiras neste período deveram-se a evasões resultantes de conflitos armados, as célebres  questões de família  (Villela  id. e Marques 2003). As alternativas a que se expunha alguém responsabilizado pela morte de outra pessoa eram poucas. Podia-se entregar à justiça e aguardar o seu julgamento; podia migrar para outra região ou estado; era-lhe facultada ainda a possibilidade de cair na clandestinidade e ingressar em algum bando de cangaceiros; era-lhe, enfim, possível mudar de nome e alistar-se nas forças policiais do seu ou de outro estado. Quelé da vida real aderiu a todas essas possibilidades.



Depois de se aperrear com um outro local, Quelé se junta as fileiras de Lampião. Mas ele arruma uma intriga com seus superiores no cangaço e decide deixar as forças e virar policial, algo que diverge do filme.




Nessa história em que política, parentesco e violência formam um só corpo, sem que uma seja um apêndice dispensável da outra, Quelé retorna em grande estilo, conquistando as manchetes de várias edições do Jornal do Commercio  de Recife em plenas eleições presidenciais. Como policial, estava ao lado da “chapa minoritária” e contra os interesses dos Pessoa de Queiroz, perrepistas que apoiavam a chapa Júlio Prestes/Vital Soares na substituição de Washington Luiz.




A delinquência aparece então sob diversas formas, empregada para vários fins, entre os quais podermos enumerar algumas:  1. como forma de produzir um sujeito submisso; 2. como forma de justificar a repressão, de dar livre curso à violência e, assim, impor a autoridade livre e justificadamente; 3. como forma de produzir mais delinquência; 4. como forma de tomar os delinquentes a seu cargo,  como  agentes  da  ordem pública  e  da  segurança  individual, trazendo-os assim paras hostes da repressão; 5. como forma de produzir uma região bárbara – o sertão – diante dos olhos dos litorâneos: região cuja população, igualmente  bárbara, podia ser martirizada à vontade pelas forças policiais de repressão; 6. como plataforma política – a “vassourada” de João Pessoa.




A existência de um aparelho jurídico, a permanente ameaça de ver-se diante da barra dos tribunais, a ação constante de uma polícia  enérgica, para usar o vocabulário oficial da época, a criação, enfim, de um clima social hostil e perigoso funciona como a colocação de argolas nos corpos dos homens e mulheres que formavam a sociedade sertaneja desta época. Tema  tão lamentavelmente  atual  para uma  parcela  importante da população brasileira contemporânea, seja ela urbana ou rural. Essas argolas esperam que nelas se prendam os ganchos daqueles que dispõem da possibilidade de defesa e de proteção, com as armas  da influência  política,  da riqueza, da  amizade ou,  em certos casos, da violência.




Clementino Quelé, um nome atualmente esquecido pela grande história,  mas parte relevante  dos rumos históricos do Brasil do século XX é apenas um exemplo de um esquema de exercício de distribuição das relações de dominação e resistência. O banditismo rural brasileiro dos séculos XIX e XX, ao menos no tocante  ao  sertão  de Pernambuco,  foi o  efeito  da  administração pública da  política e da  justiça. É,  igualmente,  porém, o efeito das relações familiares e de vizinhança capazes de produzir  a cada momento avatares do povo em armas, de fazer da família um vetor de bando por meio das solidariedades passiva e ativa da vingança de sangue, das  intrigas  de das  questões, da  fama  e da expectativa das respostas dos homens  dispostos, que “não aguentam nada”. As brigas de família, por seu turno, capturaram as  estruturas  e instituições  administrativas  da  justiça  e da  política para manter-se em movimento. Como espero ter deixado claro, alistar-se nas forças policiais volantes era um dos meios de manter viva a agressividade contra os seus inimigos por meio da logística estatal. O escândalo provocado pela presença do Sargento Clementino José Furtado nas forças legalistas do governador João Pessoa foi apenas sublinhado pelo uso que a imprensa pernambucana deu ao caso, como hoje em dia isolam-se escândalos  de  corrupção  como  se  fossem os  primeiros  e  únicos na história.



De modo que para Jorge Vilella, a história modesta e esquecida de Clementino José Furtado fornece pistas de como se deu a gestão dos ilegalismos no Brasil durante a Primeira República quando se tratou de lidar com o problema do banditismo rural que assolou inicialmente o sertão de Pernambuco por mais de 70 anos.




Em termos cinematográficos, está bem claro a superioridade estética e artística do filme Quelé do Pajeú perante muitos westerns. Seu estilo cru, realista e uma trama catanha entre cabras, tipicamente brasileira dão ao filme um ar pulp de se estar vendo uma coisa rara. 


Primeiro, por explorar as características da fama, honra e vingança, dando um caráter etnográfico ao mostrar valores e práticas que eram de fato aplicadas no interior do Brasil, mas também em outras sociedades. Por exemplo, na Itália existia o mesmo costume de obrigar a casar o estuprador com a mulher violentada. Era uma forma de "humilhar" o abusador, mas que para muitos servia para manter a fama da família, mesmo que causasse por sua vez a humilhação das mulheres violentadas. Porém, leis nesses países, principalmente na Itália, foram criadas para proibir essa prática arcaica por ela obrigar a mulher a aceitar seu abusador. Alias, de maneira mais ampla, o filme discute as forma de poder e a cultura do estupro, criticando o hábito do estupro por parte dos cangaceiros. Entretanto, relativiza culturalmente o cangaço por eles pelo menos respeitarem alguma honra ou cultura local, traço evidenciado na cena do confronto de Quelé contra Lampião ou pela cena onde os cangaceiros espalham pão na rua da cidade para atrair mulheres que estão passando fome, evidenciando assim a condição de pobreza extrema e desespero ao qual vivem na cidade, mesmo sem a presença diária do cangaço.




Entretanto, o filme demonstra certa genialidade ao mostrar que essa é uma relação sem futuro já que o estuprador é assassinado. 




Numa leitura psicológica ainda podemos refletir as questões éticas que envolvem a trama. O estupro da irmã é uma catástrofe, mas chama Quelé para a aventura e o tira do ostracismo. Ele vai para a cidade, conhece mulheres, conhece o cangaço, arruma emprego se apaixona, transa e gera um filho. Durante sua aventura, que como em Rastros de Ódio, parece ter levado anos, ele vive mais do que ele nunca viveu. Por certa hora, nos questionamos se Quelé quer de fato encontrar seus algoz ou se só a busca já o motiva. 




Nessa altura é que ele encontra a procissão mosaica dos fiéis carregando pedras. Quando ele acredita, pelas características, que encontrou seu rival, carregando uma cruz, ele o para e isso faz com que ele quase seja linchado pela multidão: Ele não entendia que estava desrespeitando a tradição. 




Posteriormente, ele entende e finalmente passa a ele mesmo a imitar a cristo: viver entre os pobres, humilhados, trabalhando duro, carregando uma chaga e buscando fazer valer as lei de Deus. Quando ele consegue, é como se automaticamente ele rompesse com a justiça dos homens, e isso faz a polícia o perseguir.




Nesse momento, onde Quelé está com a mulher, o estuprador para casar com a irmã e o padre para abençoar a cerimônia, um diálogo enigmático acontece. Nele o estuprador se compara ao herói: os dois são pobres, sem fama e bens. Nesse momento, me questionei se eles não poderiam representar um duplo psicológico e na relação etnográfica que isso implicaria: seria possível que Quelé abusasse da própria irmã? Era algo que acontecia na época, e em uma outra vida talvez, em uma realidade de abandono e mandonismo não é difícil imaginar. O que explicaria até a cena final do tiroteio na casinha cercada pela polícia que persegue Quelé pela morte de um guarda.




Os elementos técnicos reforçam o impacto da narrativa. A luz, a fotografia, os sons e a música constroem o cenário do western perfeito. Somando a brilhante atuação do genial Tarcísio Meira, com seu jeito humilde e calado de bom rapaz, mas com uma ferocidade que impacta, dá um show de interpretação no filme, fazendo desse, para mim, seu melhor papel. A cena do tiroteio na cabana com os soldados, é uma das melhores cenas de tiro que já vi em faroestes. Os movimentos de câmera, a tensão no ar, os tiros nas paredes e tudo mais, formam uma cena maravilhosa e complexa em sua linguagem.




No final do filme, Quelé ao fazer a justiça de Deus, se vê obrigado a se juntar ao cangaço. O final é duro, realista e verdadeiro. No Brasil, naquela época em Ditadura Militar e hoje em dia de novo com Bolsonaro, o Brasil se tornou um país sem Estado, principalmente em termos de trabalho e renda. Tudo que sobrou ou ainda é garantido o é por consensos culturais que ultrapassam os polos políticos. Porém como mostra o filme, no Brasil é muito mais fácil se tornar fora da lei do que assalariado pela CLT. A sociedade é mobilizada por fama, algo associado geralmente ao patrimônio. A igreja, um engodo cerimonial que não de fato ajuda os necessitados. O Estado nem existe. Ninguém nunca nem ofereceu ajuda a Quelé. Mas se fizer algo errado, não faltaram iniciativas sociais e estatais para te punir. E ao se juntar ao cangaço no final, é como se Quelé cuspisse de volta na cara da sociedade, dos políticas e da justiça. Um inferno que só sentimos uma vontade: de mandar tudo ir à merda!






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