Um pastor de ovelhas chamado Santiago decide embarcar na sua própria lenda e jornada pessoal e decide conhecer o mundo e abandonar suas ovelhas. Depois de chegar a Espanha, na Andaluzia, continua seu caminho, mil mistérios são revelados ao leigo protestante que conheceu um rei, um comerciante, vários ladrões e salteadores, um inglês dos livros, e por fim, conhece o alquimista que lhe guiará por dentre os recantos necessários para enfim chegar até o caminho das pirâmides do Egito, tudo em busca do seu sonhado tesouro.
Paulo Coelho nasceu no Rio de Janeiro em 1947, teve seus livros traduzidos para diversas línguas, e em 1996 foi um dos escritores best sellers do mundo da época. Livro da Editora Rocco, de 2003.
O Alquimista foi publicado em 1988, ano da nova constituinte brasileira, parece como uma mistura de ficção e auto ajuda, um livro que se lê sozinho, você não faz nenhum esforço mesmo. É uma leitura muito positiva e muito sensível a pluralidade religiosa e a ideia de auto conhecimento. Também tem essa dimensão de aconselhamento, essa ideia quase como uma conversa com um estranho ou algo assim. Sempre aprendemos com nossas experiências, mesmo as felizes, mesmo as mais dolorosas. O livro fala desses "sinais" a vida dá, que vem e que vão.
Esse livro faz pera, uva, banana e salada mista de diversas relogiões, seitas, ensinamentos, contos de tradição árabe e islâmicas e provérbios de várias tradições, como referências a ciência esotéricas, como o simbolismo egípcio da ordem Rosa Cruz e algumas referências ao ideário da construção e "ordem perfeita das coisas" da velha maçonaria, essa ideia também da construção do todo no grande mistério da vida e das coisas ter essa ordem quase de tipo científica, algo visto como a secular.
Também é forte essa perspectiva secularização das parábolas cristãs que ensinam moral e convertem.
Outra questão de ordem cristã aqui é o plot, o storyteller, a narrativa do próprio Santiago, nosso heroi protestante, o protestante pastor que vai apredendo lições ao longo dos capítulos, tudo em busca de sua lenda pessoal, conceito tal como protagonismo, ou como com os santos, a "Historia magistra de la vitta": a ideia de que todos são protagonistas, pois todos nós pensamos e agimos de acordo com nossas próprias verdades.
E nós aprendemos muito também com livros e com pessoas novas que conhecemos. Essa mensagem está muito presente no livro. A ideia de aperfeiçoamento pessoal, quase como tomar um banho de ervas (como feito na religião de terra).
Vemos o mundo através dos olhos da cultura e da região que fazemos parte. O Brasil, por exemplo, para muitos um exempo de país ocidental, para outros, tão óbvia a ligação com o oriente, absolutamente inegável, a Bahia e o nordeste, o norte e a região amazônica.
Ás vezes mesmo que por bem pouco tempo, podemos tirar lições desses encontros que temos na vida. E como mensagens em garrafas, passamos os nossos bons sentimentos e não os ruins. Pois toda experiência, mesmo dolorosa pode nos ensinar algo sobre nós mesmos.
Ele é roubado umas 3 vezes ao longo do livro, mas por fim, nem liga mais. Quando consegue por fim ouvir o que deserto lhe falava ao ouvido.
Ele aprende diversas lições, se apaixona duas vezes, a primeira vez de maneira mais platônica por uma bonita moça na Andaluzia, Espanha, depois por Fátima, que conheceu no Oásis no deserto. Ele passa a ter sonhos e revelações e resolve ir embora certo dia antevendo a disputa eterna de guerras entre caravanas no deserto. Nem por todas as tâmaras, nosso heroi desiste de suas revelações e sonhos.
Ao decorrer da jornada, a primeira das grandes lições é o valor das coisas e do dinheiro, e o valor do trabalho e do que seria o empenho protestante aplicado. Ele constroi essa estante para vender melhor os cristais na loja que trabalhava, ele chegou lá querendo trocar trabalho por um prato de comida, mas o velho disse que no alcorão já dizia que precisava dar comida para quem tem fome. Essa parte do livro é bem interessante.
Depois disso, a vontade pessoal dele faz ele pensar em vender chás na loja e isso dá certo e ele arruma ao longo de certo tempo de trabalho a quantia necessária para fazer sua viagem final. Acho que o que mais chama a atenção é essa visão do autor sobre o conhecimento e auto conhecimento. Tudo aquilo que se sabe, tudo aquilo que é aprendido.
O livro aborda essa questão principal da forma como as pessoas procuram pelos "mistérios" das origens mais antigas, uma espécie de encruzilhada fascinante na origem da evolução e da percepção e da construção posterior do conceito geral de ciência.
Por exemplo, o surgimento da química era uma das formas dessa revelação de mistérios. Tem muito essa ideia de questtionamento da jornada do herói tradicional ocidental ao estilo "os 12 passos do heroi" e a tentativa de inserir sabedoria oriental nisso tudo.
A palavra "alquimia" vem da origem árabe al-kīmiyā, que por sua vem vem so grego khēmeía (χημεία), relacionado a palavea Kemet (mome antigo do Egito). A alquimia era então essa mistura de saberes empíricos apreendidos em comunidades e ao longo de gerações, técnicas de cosmologia, medicina e o próprio misticismo do misticismo e das tradições conservavam esses ensinamentos através de provérbios e da oralidade.
O principal conceito da alquimia é a ideia de transformação de uma substância para outra. O livro fala de coisas fantásticas, como a transformação de chumbo em ouro, por exemplo. Depois da ideia grega com a origem dos elementos, no mundo islâmico, nomes como Jabir Ibn Hayyan (Geber) desenvolveram uma ideia mais empírica de alquimia.
Por volta do século VIII–XII, traduzindo posteriormente alguns textos gregos, foram criados laboratórios, instrumentos e classificação dessas novas substâncias descobertas. Também é dessa tradição a ideia da Pedra Filosofal original, também a técnica da transmutação era forte nessa tradição. Outro mistério abordado no livro além da transmutação de substâncias, é o elixir da vida.
Na Idade Média para o renascimento, vários cientistas retomaram essa tradição com Paracelso, Nicolas Flamel e Isaac Newton. Também a alquimia se funde com a cabala e o hermetismo. Por fim, a formação das técnicas de laboratório científicas modernas, como filtragem, sublimação, calcinação e sublimação, coagulação. Acho que posso brincar que toda dona de casa, pessoa que cozinha é um pouco alquimista pois envolve esse processo de transformação dos materiais e substâncias.
No livro, a transmutação dos metais, essa mudança brusca era mais uma metáfoea das transformaçõss da alma. Mas acho que essa comparação histórica é valida se pensamos a ideia de Bachelard da "evolução dos conceitos científicos ao longo da história", mas também como essa forma de genealogia dessa evolução científica como mudanças de entendimento e método, por exemplo, a busca da unidade da matéria e estrutura.
Também vemos essa metáfora no fim do livro, quando ao conhecer o alquimista, este havia salvado sua vida, dizendo aos salteadores que Santiago sabia sumir no vento, o que conseguiu fazer por fim e fugir da morte portanto.
Antes, esse conhecimento da alquimia ou hermêtico, a questão da Tábua da Esmeralda (lembro sempre da música do Jorge Ben, e a figura mitológica de Hermes Trimegisto. Essa corrente esotérica influênciou areás inteiras do pensamento ocidental, a astrologia, a alquimia clássica e mesmo até o cristianismo esotérico.
O texto enigmático da Tábua da Esmeralda envolve essa ideia de que processos químicos e espirituais estariam conectados, o micro e macro em diálogo, e diz parecido com o álbum clássico do Jorge Ben.
"O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima, para realizar os milagres de uma só coisa."
No sentido histórico, o personagem de Santiago é inspirado na lenda do apóstolo Santiago, que é representado em imagens em luta contra os mouros, simbolizando aqui o processo de reconquista da Espanha.
A maneira como eu achei esse livro foi engraçada, eu ia fazer compras, aí vi na lata de lixo ao lado um livrinho de detetive para crianças que parecia lindo, "Gino e o Polaco". Quando fui pegar esse pro meu filho, este outro quase pulou nos meus olhos, vi que tinha vários livros que acho que vieram do Centro Espírita (da tradição da mesa branca),m apesar desse livro não ser exatamente dessa linha, apesar de ser uma extrema jornada espiritual.
Claro que eu sabia quem era Paulo Coelho, vi que esse livro do Paulo Coelho, é de uma edição de 2003, publicado pela primeira vez em 1988 edição com imagens interessantes que ajudam a mergulhar no papo do autor que é profundo e leve ao mesmo tempo. É interessante a metáfora dos saberes e das suas múltiplas formas de entendimento e formas mesmo de escrita sobre o conhecimento diversas e complementares.
Um livro ideal para quem está em busca por mais do que "livros grossos", já que esse livro não tem mais que 200 páginas, você lê em uma semana ou menos com empolgação, dá pra se ler sem nem sentir mesmo, no ônibus, em lugar barulhento.
Um ótimo exemplar para quem também curte esse conforto e desafios mentais através da visita de diversas tradições em embate, uma verdadeira jornada e um entendimento que todos nós podemos ser o protagonistas, já que é mesmo a nossa própria vida.
Chegando ao fim do livro, vemos todo esse aprendizado, vimos o que era efetivamente a tal sorte de principiante e como se perde ela depois do foco e dos objetivos definido.
Como diria no livro na primeira vez que ele interagiu com o comerciante e aprendeu tanta trabalhando para ele, uma delas foi o provérbio árabe , "Maktub" (significa algo como "já estava escrito", ou "escrito nas mãos do destino", essa ideia também da predestinação protestante parece similar. O livro me lembrou muito "Assim Falava Zaratustra", de Friedrich Nietzsche, o teor e a forma escrita.
Paulo Coelho disse que se inspirou em sua viagem de 40 dias no deserto Mojave, na Califórnia. Essa ideia de destino e ação nortea muito o livro que tem tons de romance e aconselhamento. Essa ideia de não se escolher tudo do próprio destino, e de se contentar com a forma que se enxerga a sua vida (sua própria aventura).
Eu gosto muito do Paulo Coelho, acho que ele é um desses autores que louvam o estudo e a procura, e aqui embaixo vai um vídeo de um antigo programa Roda Viva com ele, de muitos anos atrás.
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